quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A ditadura odiosa

                            
        A descida do regime Maduro para a ditadura sem disfarce caminha a passos rápidos. A Assembleia Constituinte da Venezuela formada integralmente por militantes do regime aprovou nessa 4ª feira lei que permite ao regime prender adversários, proibir partidos e punir meios de comunicação que o contrariem.
         Não se vá dizer que no tempo de Chávez a tevê fosse livre, mas a forma tosca que reveste a leizinha dessa Constituinte de fancaria mostra a pata ditatorial do regime Maduro, e o que vai pela frente.
         Com o pomposo título de "Lei Constitucional contra o Ódio, pela Convivência Pacífica e a Tolerância" prevê de dez a vinte anos de prisão a pessoas que "fomentem o ódio, a discriminação ou a violência motivada pelo apartenência, real ou suposta, a determinado grupo social, étnico, religioso, político, de orientação sexual, de identidade de gênero ou qualquer outro motivo discriminatório."
           A legislação determina também que sejam cassadas as organizações políticas que tenham cometido esses delitos ou que mantenham em suas filas quem a violou.
           Após a aprovação ritual,  a presidente da Constituinte, e colaboradora-mor do pútrido regime do ditador Maduro, i.e., Delcy Rodriguez, disse que a iniciativa "estabelece a natureza e o espírito da  Revolução Bolivariana,  que é a igualdade e condenar qualquer forma de discriminação".
             A chavista afirma, outrossim, que a nova lei "vai prevenir o fascismo",  que para essa senhora nasceu na Quarta República (1958-1999) - em alusão ao período em que a Venezuela era governada pelos partidos da atual oposição ao chavismo.

           A ironia que escapa aos cortesões e cortesãs desse pútrido regime Maduro é que naquela época a Venezuela era uma das pouquíssimas nações sul-americanas que tinham um regime autenticamente democrático, e cercada (com a Colômbia) pelas ditaduras militares forneciam as duas a única luz democrática da América do Sul. Foi um momento de solitária grandeza, visto com respeito e admiração pelos cidadãos sul-americanos que não tinham na época sorte igual.
               Mas voltemos a tosca e brutal realidade presente na Venezuela. 
             Além de não refletir o sentimento e a vontade do Povo Venezuelano, eis que essa Assembléia não passa de um conglomerado de integrantes do regime, "eleitos" por procedimentos espúrios, e por isso viabiliza um dos principais desejos do ditador. Em diversas ocasiões Maduro tem declarado que usaria a medida contra seus adversários, a quem acusa de serem mandantes da violência nas manifestações contra o regime.
                   Tais declarações constituem ameaça nua e crua contra os que presidem a Assembleia Nacional, que ao contrário dessa Constituinte sem representação,  estão lá pela voto popular e não pela fraude.  São eles Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, e Henry Ramos Allup, que presidiu o Legislativo tão logo a Oposição, pela votação popular, passou a ser nele maioria, em janeiro de 2016.
                    A violência ditatorial  do regime Maduro forçou Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia Nacional, a pedir asilo  ao Chile no sábado dia  quatro, após a "Justiça" chavista retirar-lhe a imunidade para ser investigado por incitação à violência.
                     O tosco e autoritário Maduro pode também instrumentalizar a Lei contra o Ódio, para colocar em prática o desejo (externado no dia 2) de cassar as siglas que "convocaram à sabotagem das eleições e se ausentaram do processo político."
                      As principais agremiações que boicotaram as eleições municipais de dezembro são também as mais ligadas aos protestos - o Primeiro Justiça(centro-direita) de Borges, Vontade Popular (direita) de Guevara, e o Ação Democrática (centro) de Ramos Allup.
                        Como se tal não bastasse em termos de ameaça e violência contra  a imprensa, escrita e televisada,  a tal Lei prevê também outras punições à imprensa  e às redes sociais. TVs e rádios que difundam mensagens "a favor da guerra ou apologia ao ódio" terão a concessão cassada.  Já meios de comunicação que se recusem a publicar informes estatais contra o ódio e a intolerância com multa que equivalha a 4% do faturamento bruto anual das empresas.
                         Por sua vez, quem publique o que o chavismo considerar discurso de ódio na internet será multado até 45 milhões de bolívares, se a mensagem não for retirada.  Graças à publicação do total das multas o regime mostra o abismo em que está,  sob a hiper-inflação galopante...
                          No final, a irrequieta Rodríguez nos dá nota cômica, ao dizer que "a lei é exemplo para o mundo." E termina dessa forma:"Não exportamos somente petróleo, queremos exportar paz (sic), amor, tolerância em um mundo gravemente ameaçado pelos poderes imperiais."


( Fonte: Folha de S. Paulo )  

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