terça-feira, 14 de novembro de 2017

Venezuela: o Calote inexorável

                              

       Venezuela: dívida total US$ 150 bilhões
           Reservas internacionais:  US$ 9,7 bilhões                                       
Como previsto, a reunião realizada a treze de novembro entre o governo venezuelano e credores para discutir plano de renegociação da dívida externa terminou sem acordo. Essa reunião de 25 minutos de duração foi presidida pelo vice-presidente Tarek El Aissami. Este leu comunicado responsabilizando as sanções impostas pelo Governo estadunidense de Donald Trump pelos atrasos nos pagamentos pela Venezuela. Sem embargo El Aissami não apresentou nenhuma proposta para renegociação.
 Em suma, os venezuelanos afirmaram que os últimos atrasos em pagamentos da dívida eram devidos a problemas operacionais, e atribuíram tal às sanções dos Estados Unidos, impostas pelo Governo Trump.
Cerca de trezentos credores ou seus representantes participaram do encontro realizado a portas fechadas, no Palacio Blanco, em frente à Casa de Gobierno. Analistas não acreditam na possibilidade de acordo, pois as sanções estadunidenses contra a Venezuela proíbem seus investidores de negociar a dívida venezuelana. Quase 70% dos donos de títulos são americanos e canadenses. Ou seja, não seria possível trocar esses títulos por outros de prazo mais longo.
Consequências para o Brasil. Em New York, a Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA), que reúne portadores de títulos da dívida, fez saber na segunda, 13 de novembro,  ter verificado informações "sobre se ocorreu uma interrupção de pagamento de um bônus da PDVSA, a estatal do petróleo, no montante de US$1,161 bilhão. O Governo garante que já transferiu os recursos, mas os credores não haviam recebido nada até sexta-feira, dia dez de novembro.
Depois de instalado o estado de emergência(2016) na Venezuela, cresceu muito a dificuldade de os exportadores receberem por suas vendas. Por isso, muitas empresas brasileiras reduzirem as exportações, e até mesmo, em certos casos,  encerrarem o fluxo comercial.
O setor de aves chegou a ter na Venezuela o quinto maior mercado comprador (há sete anos atrás). Desde 2014, no entanto,  o total embarcado em toneladas caíu aproximadamente oito vezes. Dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) mostram que entre janeiro e setembro de 2017 foram embarcadas 20,5 mil tons de aves para a Venezuela. Já em 2014, o volume dessas exportações montou a 160,5 mil toneladas.Desde 2015, empresas do setor de aves começaram a registrar atrasos nos pagamentos dos produtos. O maior comprador é o Ministério da Alimentação, mas nem ele tem a garantia do governo para pagar por tais produtos. E acrescenta Francisco Turra, presidente da ABPA: hoje quem continua vendendo para a Venezuela só faz negócios à vista.
Por isso, abunda o atraso nos pagamentos. Grandes companhias que vendiam regularmente para a Venezuela chegaram a ter mais de US$ 50 milhões em pagamentos atrasados. Companhias aéreas como a Gol e a Latam suspenderam seus vôos para esse país desde 2016, por causa dessas dificuldades de pagamento.
Segundo Oliver Stuenkel, coordenador do MBA de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, a Venezuela já vinha deixando de pagar credores menores, como as empresas brasileiras. Agora, com a possibilidade de default de títulos da dívida soberana ou da PDVSA, a crise agrava, já que muitos desses papéis estão nas mãos de fundos de investimento que vêm financiando o país. Ainda segundo Stuenkel,  se não receberem os fundos podem acionar cortes internacionais. Em tese, eles poderiam reter como garantia de recebimento navios com petróleo venezuelano que chegam aos seus destinos. Acredito que Caracas vai tentar postergar ao máximo a decretação do default para evitar problemas com a venda de petróleo.
Ainda segundo ele, é difícil determinar o tamanho do calote do governo venezuelano e de exportadores privados com empresas brasileiras.  No entanto, é bom lembrar que as companhias nacionais já tinham pelo menos seis bilhões de dólares a receber em contratos firmados em 2015 para os próximos anos, antes da entrada em vigor do estado de emergência.
Segundo informa o consultor Welber Barral, entre seus clientes, exportadores de alimentos e produtos de linha branca, eles deixaram de vender para a Venezuela nos últimos anos, por causa do risco de calote. A esse propósito, Barral assinala que a Venezuela chegou a importar mais de US$ 5 bilhões anuais de produtos do Brasil. No entanto, a partir de 2013, quando a situação econômico-financeira começou a agravar-se, com a queda das cotações do barril de petróleo, e a redução das reservas internacionais de Caracas, a venda se tem resumido a produtos alimentícios.
Nesse contexto, o Ministerio da Fazenda do Brasil enviou correspondência à Embaixada da Venezuela para informar sobre o atraso no pagamento de US$ 262.5 milhões.
Além das sanções financeiras, recentemente aplicadas pelos Estados Unidos, por iniciativa direta do Presidente Trump, há outras sanções que cáem sobre os empobrecidos territórios de Nicolás Maduro. Dessarte, os ministros de relações exteriores da União Européia aprovaram sanções econômicas contra a Venezuela (embargo de armas, proibição de viagens e congelamento de ativos de alguns integrantes do Governo. Também estão previstas pela UE sanções contra "responsáveis por graves violações dos direitos humanos." Além dos 125 mortos causados pelas demonstrações dos quatro meses do início do ano, muitos políticos e militantes estão encerrados em calabouços e outros cárceres do gênero.

                                                                                                  (a continuar)

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