Venezuela: dívida
total US$ 150 bilhões
Como previsto, a reunião realizada a treze de novembro entre o
governo venezuelano e credores para discutir plano de renegociação da dívida
externa terminou sem acordo. Essa reunião de 25 minutos de duração foi
presidida pelo vice-presidente Tarek El Aissami. Este leu comunicado
responsabilizando as sanções impostas pelo Governo estadunidense de Donald
Trump pelos atrasos nos pagamentos pela Venezuela. Sem embargo El Aissami não
apresentou nenhuma proposta para renegociação.
Em suma, os venezuelanos
afirmaram que os últimos atrasos em pagamentos da dívida eram devidos a
problemas operacionais, e atribuíram tal às sanções dos Estados Unidos, impostas
pelo Governo Trump.
Cerca de trezentos credores ou seus representantes
participaram do encontro realizado a portas fechadas, no Palacio Blanco, em
frente à Casa de Gobierno. Analistas não acreditam na possibilidade de acordo,
pois as sanções estadunidenses contra a Venezuela proíbem seus investidores de
negociar a dívida venezuelana. Quase 70% dos donos de títulos são americanos e
canadenses. Ou seja, não seria possível trocar esses títulos por outros de
prazo mais longo.
Consequências
para o Brasil. Em New York, a Associação Internacional de Swaps e Derivativos
(ISDA), que reúne portadores de títulos da dívida, fez saber na segunda, 13 de
novembro, ter verificado informações
"sobre se ocorreu uma interrupção de pagamento de um bônus da PDVSA, a
estatal do petróleo, no montante de US$1,161 bilhão. O Governo garante
que já transferiu os recursos, mas os credores não haviam recebido nada até
sexta-feira, dia dez de novembro.
Depois de instalado o estado de emergência(2016) na Venezuela,
cresceu muito a dificuldade de os exportadores receberem por suas vendas. Por
isso, muitas empresas brasileiras reduzirem as exportações, e até mesmo, em
certos casos, encerrarem o fluxo
comercial.
O setor de aves chegou a ter na Venezuela o quinto maior mercado
comprador (há sete anos atrás). Desde 2014, no entanto, o total embarcado em toneladas caíu
aproximadamente oito vezes. Dados da ABPA
(Associação Brasileira de Proteína Animal) mostram que entre janeiro e
setembro de 2017 foram embarcadas 20,5 mil tons de aves para a Venezuela. Já em
2014, o volume dessas exportações montou a 160,5 mil toneladas.Desde 2015,
empresas do setor de aves começaram a registrar atrasos nos pagamentos dos
produtos. O maior comprador é o Ministério da Alimentação, mas nem ele tem a
garantia do governo para pagar por tais produtos. E acrescenta Francisco Turra, presidente da ABPA: hoje
quem continua vendendo para a Venezuela só faz negócios à vista.
Por isso, abunda o atraso nos pagamentos. Grandes companhias que
vendiam regularmente para a Venezuela chegaram a ter mais de US$ 50 milhões
em pagamentos atrasados. Companhias aéreas como a Gol e a Latam suspenderam
seus vôos para esse país desde 2016, por causa dessas dificuldades de
pagamento.
Segundo Oliver Stuenkel, coordenador do MBA de Relações
Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, a Venezuela já vinha deixando de
pagar credores menores, como as empresas brasileiras. Agora, com a
possibilidade de default de
títulos da dívida soberana ou da PDVSA, a crise agrava, já que muitos
desses papéis estão nas mãos de fundos de investimento que vêm financiando o
país. Ainda segundo Stuenkel, se não
receberem os fundos podem acionar cortes internacionais. Em tese, eles poderiam
reter como garantia de recebimento navios com petróleo venezuelano que chegam
aos seus destinos. Acredito que Caracas vai tentar postergar ao máximo a decretação
do default para evitar problemas com a venda de petróleo.
Ainda segundo ele, é difícil determinar o tamanho do calote do
governo venezuelano e de exportadores privados com empresas brasileiras. No entanto, é bom lembrar que as companhias
nacionais já tinham pelo menos seis bilhões de dólares a receber em
contratos firmados em 2015 para os próximos anos, antes da entrada em vigor do
estado de emergência.
Segundo informa o consultor Welber Barral, entre seus clientes,
exportadores de alimentos e produtos de linha branca, eles deixaram de vender
para a Venezuela nos últimos anos, por causa do risco de calote. A esse
propósito, Barral assinala que a Venezuela chegou a importar mais de US$ 5
bilhões anuais de produtos do Brasil. No entanto, a partir de 2013, quando a
situação econômico-financeira começou a agravar-se, com a queda das cotações do
barril de petróleo, e a redução das reservas internacionais de Caracas, a venda
se tem resumido a produtos alimentícios.
Nesse contexto, o Ministerio da Fazenda do Brasil enviou
correspondência à Embaixada da Venezuela para informar sobre o atraso no
pagamento de US$ 262.5 milhões.
Além das sanções financeiras, recentemente aplicadas pelos Estados
Unidos, por iniciativa direta do Presidente Trump, há outras sanções que cáem
sobre os empobrecidos territórios de Nicolás Maduro. Dessarte, os ministros de
relações exteriores da União Européia aprovaram sanções econômicas contra a
Venezuela (embargo de armas, proibição de viagens e congelamento de ativos de
alguns integrantes do Governo. Também estão previstas pela UE sanções contra
"responsáveis por graves violações dos direitos humanos." Além dos
125 mortos causados pelas demonstrações dos quatro meses do início do ano,
muitos políticos e militantes estão encerrados em calabouços e outros cárceres
do gênero.
(a continuar)
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