Velhas revistas teimam amiúde em pregar-nos surpresas, sobretudo
quando elas nos pegam com um título provocativo. À primeira vista, elas podem até parecer-nos fazer jus ao
respectivo afastamento no tempo, pela cor um tanto amarelada do papel de capa.
Mas logo nos damos conta que a data tende a ser enganosa, se a tomarmos por
indicar temas superados.
O papel de rostro da capa estará até
amarelecido por um trinca de anos, mas logo nos apercebemos que a tal realidade
permanece.
Faz tempo li interessante artigo da
politóloga Elizabeth Drew que se
reporta ao encabulado escândalo americano das eleições trucadas.
Os Estados Unidos ainda convivem com
esse tipo de eleição.
Então ouço perguntar-me: por que uma tal
prática, tão abjeta e nociva, permanece?
Se o amigo leitor deseja uma resposta
rápida, como alguém que quer livrar-se logo de um aborrecido estafermo,
poderíamos responder que há um grande partido que não sente maiores problemas
em coexistir com essa abstrusa realidade. Por cultivar uma minoria, essa
organização tem medo da liberdade de escolha e de incentivar a que o todo o
Povo - e aqui a palavra é utilizada com a sua acepção constitucional - We the
People - abrindo de porta em porta o acesso a que todos que façam parte desse
Povo votem sem outro impedimento que os da maioridade civil, e da inexistência
de eventuais restrições penais.
Mas tais restrições não bastam a esse
partido. Por ter medo dos pobres, de oriundos de nacionalidades que enfrentam
barreiras culturais ou étnicas para alcançarem efetiva participação na política
do próprio país, tal partido prefere dificultar-lhes o acesso às seções de
voto, criando para tanto todo tipo de embaraço burocrático que vede o acesso à urna, ou os constranja de tal
modo a tornar a prática política um exercício de Sisifo, de maneira a
burocraticamente - sem a aparente violência da boçal e sanhuda negativa desse
sacratíssimo direito cívico - a inviabilizar para todos os cínicos efeitos, de
forma a que o pobre, o negro, o latino, o velho
sintam-se mais do que embaraçados
pelos solertes, ainda que desprezíveis, "truques cívicos" se me
permitem desvendar essa prática que não pode ser mais desonesta, embora se
mostre insolente e desavergonhada nas
seções eleitorais que têm a má sorte de estarem inseridas em antros de cívica
desonestidade, pois são manipuladas por gente sem caráter e sem princípios -
a menos que se ofenda o espírito da Constituição, consentindo em prostituir o sagrado direito
do voto às práticas chulas e inconfessáveis da façanhuda negação do sufrágio a
todo aquele que é suposto apoiar o candidato antagônico, que no caso, a própria
hipocrisia do Partido Adverso nos ajuda a qualificá-lo com os piores apodos que
imaginar-se possa.
Dessarte, não é só importante, é
fundamental que se assegure a verdade no sufrágio do Povo. Basta de truques
sórdidos e intrinsecamente covardes para desvirtuar o voto. A maneira com que
Estados se atrevem a praticar essa suma e abjeta negação do mais lídimo direito
de toda a democracia - que é o de criar cínicos empecilhos para que as eleições
não sejam o espelho da verdade, mas sim imagem torpe e distorcida de uma
situação antidemocrática - tal na verdade não só desmerece os sicários desse
crime que por ora e em geral dispensa armas, mas também a choldra que se
congrega, não para fazer triunfar o interesse da maioria, assim como da promoção
do bem, geral e indiviso da comunidade, mas para, disfarçados de sacerdotes do
culto democrático, espezinhá-lo e deformá-lo de modo que o interesse da maioria
não prevaleça e sim aquele das minorias, com os propósitos inconfessáveis de
através de uma farsa - a arremedação da democracia - se perseguem objetivos obnóxios e
inconfessáveis, fundados na negação do
Povo como soberano.
(Fonte:
Our rigged elections, de Elizabeth Drew (New York Review of Books, May 21, 2015)
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