sábado, 11 de novembro de 2017

A Reforma da Previdência

                 
      Segundo se apregoa - e não há razão para denegá-lo - a aprovação da reforma da Previdência constitui um ponto fundamental na construção de um Brasil novo, não sobrecarregado por gastos inúteis e por vantagens desmedidas.
      Por isso, impressionou muito mal o mercado a aparente acomodação do Chefe do Poder Executivo sobre a possibilidade de uma eventual derrota na aprovação da reforma da Previdência.
      É mais do que sabido que como a previdência está hoje estruturada não haveria possibilidade de crescimento econômico futuro,  ficando o Brasil sobrecarregado pelo peso da demagogia. Se o Governo falhasse nessa travessia, as consequências para o crescimento futuro estariam prejudicadas.
       Ao contrário de seu suposto correto desempenho com relação às demais reformas, como indica o longo artigo que transcrevi nesse blog, teve o infeliz efeito de um balde de água fria sobre o mercado a placidez presidencial, como que já acomodada ou resignada ao resultado adverso em termos da reforma da previdência.
        É nesse capítulo que cintila a eventual liderança e a capacidade de arrancar do poder Legislativo a aprovação de um instrumento legal que constitui uma chave para o futuro da economia brasileira.                                       
         Diante da repercussão negativa do discurso de Temer, admitindo a possibilidade da derrota - apesar da relevância da medida a ser aprovada - e, ainda pior, assumindo um tom resignado, que reflete a aceitação de uma situação manifestamente contrária ao interesse nacional, tudo isso deu impressão de muita fraqueza, fraqueza incompatível com o interesse nacional.
           Não bastaram, portanto, os discursos dos ministros, que soavam a voz da confiança e da necessidade da reforma - e não o tom resignado, e, por conseguinte, fraco de quem deveria difundir força e confiança.
            Por isso, a Bolsa - que é o termômetro do mercado - encerrou o dia com a queda de 2,55%. Foi a primeira vez, desde o dia cinco de setembro, que ela ficou abaixo dos 73 mil pontos. Por isso, as ações de empresas com controle estatal, como Petrobrás e Banco do Brasil, despencaram.  O mercado não desconhecia o risco de derrota do Projeto da Previdência. Foi a falta de espírito de luta, a resignação que marcou o seu discurso a parlamentares, que levaram ao compreensível mau humor do mercado, diante de um comandante que já aparentava estar conformado com essa derrota.
               Diante da repercussão ultra-negativa de suas palavras - que transmitiam fraqueza diante de uma resistência, e não disposição de lutar para superar esse obstáculo - o presidente Michel Temer acordou e divulgou vídeo  nas redes sociais em que afirma ter cumprido seu dever ao propor uma reforma ao Congresso que corta privilégios. "Quero transmitir minha ideia de que toda minha energia está voltada para concluir a reforma da Previdência", afirmou  Michel Temer.
                Há por trás dessa estratégia, uma postura arriscada.  Ao invés de estar jogando incongruamente a toalha, existiria uma determinação do Palácio do Planalto de dividir com a cúpula do Congresso e transferir sobretudo para Rodrigo Maia, presidente da Câmara, a responsabilidade da aprovação da proposta.
                Nesse contexto, é interessante a reação do Presidente da Câmara. Maia disse não ter visto a declaração de Temer "de modo pessimista".  "Tem que aprovar a reforma. Agora esse não é um projeto só do Legislativo. O Governo precisa ajudar a organizar essa votação."
                Na avaliação de integrantes do Governo, muito pior de o que ser derrotado na votação seria desistir da reforma, que é essencial para diminuir os gastos obrigatórios e o rombo das contas públicas. Na mesma reunião em que Temer falou da possibilidade de a proposta não avançar, o Ministro da Fazenda adotou um outro tom, que deveria ser o de Temer:  Meirelles foi taxativo ao afirmar aos líderes da Câmara dos Deputados que abandonar a Previdência dará uma sinalização negativa ao mercado e pode prejudicar a retomada do crescimento.
                 O Presidente, como máxima autoridade do Estado brasileiro, não pode estar pensando em empurrar responsabilidades a autoridades de menor hierarquia, como é o Presidente da Câmara.  Tendo na mente exemplos do passado,  zelando pelo interesse nacional, ele não pode sequer entreter pensamentos derrotistas em uma hora decisiva como esta.
                 Será baseado nessa argumentação simples porém veraz, que o Presidente da República deve deixar a outrem imaginar que o projeto nacional vá fracassar. Se a máxima autoridade defende o interesse nacional, ele não pode estar pedindo autorização a este ou aquele.  Nem pensar em dividir com outrem o ônus dos percalços a serem arrostados. Apenas a vitória interessa.


(Fonte:  O Estado de S. Paulo)

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