Segundo se apregoa - e não há razão para
denegá-lo - a aprovação da reforma da Previdência constitui um ponto
fundamental na construção de um Brasil novo, não sobrecarregado por gastos
inúteis e por vantagens desmedidas.
Por isso, impressionou muito mal o
mercado a aparente acomodação do Chefe do Poder Executivo sobre a possibilidade
de uma eventual derrota na aprovação da reforma da Previdência.
É mais do que sabido que como a previdência
está hoje estruturada não haveria possibilidade de crescimento econômico
futuro, ficando o Brasil sobrecarregado
pelo peso da demagogia. Se o Governo falhasse nessa travessia, as consequências
para o crescimento futuro estariam prejudicadas.
Ao contrário de seu suposto correto
desempenho com relação às demais reformas, como indica o longo artigo que
transcrevi nesse blog, teve o infeliz efeito de um balde de água fria sobre o
mercado a placidez presidencial, como que já acomodada ou resignada ao
resultado adverso em termos da reforma da previdência.
É nesse capítulo que cintila a eventual
liderança e a capacidade de arrancar do poder Legislativo a aprovação de um
instrumento legal que constitui uma chave para o futuro da economia brasileira.
Diante da repercussão negativa do discurso de
Temer, admitindo a possibilidade da derrota - apesar da relevância da medida a
ser aprovada - e, ainda pior, assumindo um tom
resignado, que reflete a aceitação de uma situação manifestamente contrária
ao interesse nacional, tudo isso deu impressão de muita fraqueza, fraqueza
incompatível com o interesse nacional.
Não bastaram, portanto, os discursos
dos ministros, que soavam a voz da confiança e da necessidade da reforma - e
não o tom resignado, e, por conseguinte, fraco de quem deveria difundir força e
confiança.
Por isso, a Bolsa - que é o
termômetro do mercado - encerrou o dia com a queda de 2,55%. Foi a primeira
vez, desde o dia cinco de setembro, que ela ficou abaixo dos 73 mil pontos. Por
isso, as ações de empresas com controle estatal, como Petrobrás e Banco do
Brasil, despencaram. O mercado não
desconhecia o risco de derrota do Projeto da Previdência. Foi a falta de
espírito de luta, a resignação que marcou o seu discurso a parlamentares, que
levaram ao compreensível mau humor do mercado, diante de um comandante que já
aparentava estar conformado com essa derrota.
Diante da repercussão
ultra-negativa de suas palavras - que transmitiam fraqueza diante de uma resistência,
e não disposição de lutar para superar esse obstáculo - o presidente Michel
Temer acordou e divulgou vídeo nas redes
sociais em que afirma ter cumprido seu dever ao propor uma reforma ao Congresso
que corta privilégios. "Quero transmitir minha ideia de que toda minha
energia está voltada para concluir a reforma da Previdência", afirmou Michel Temer.
Há por trás dessa estratégia,
uma postura arriscada. Ao invés de estar
jogando incongruamente a toalha, existiria uma determinação do Palácio do
Planalto de dividir com a cúpula do Congresso e transferir sobretudo para
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, a responsabilidade da aprovação da
proposta.
Nesse contexto, é interessante
a reação do Presidente da Câmara. Maia disse não ter visto a declaração de
Temer "de modo pessimista".
"Tem que aprovar a reforma. Agora esse não é um projeto só do
Legislativo. O Governo precisa ajudar a organizar essa votação."
Na avaliação de integrantes do
Governo, muito pior de o que ser derrotado na votação seria desistir da
reforma, que é essencial para diminuir os gastos obrigatórios e o rombo das
contas públicas. Na mesma reunião em que Temer falou da possibilidade de a
proposta não avançar, o Ministro da Fazenda adotou um outro tom, que deveria
ser o de Temer: Meirelles foi taxativo
ao afirmar aos líderes da Câmara dos Deputados que abandonar a Previdência dará
uma sinalização negativa ao mercado e pode prejudicar a retomada do
crescimento.
O Presidente, como máxima
autoridade do Estado brasileiro, não pode estar pensando em empurrar
responsabilidades a autoridades de menor hierarquia, como é o Presidente da
Câmara. Tendo na mente exemplos do
passado, zelando pelo interesse
nacional, ele não pode sequer entreter pensamentos derrotistas em uma hora
decisiva como esta.
Será baseado nessa
argumentação simples porém veraz, que o Presidente da República deve deixar a
outrem imaginar que o projeto nacional vá fracassar. Se a máxima autoridade defende
o interesse nacional, ele não pode estar pedindo autorização a este ou
aquele. Nem pensar em dividir com outrem
o ônus dos percalços a serem
arrostados. Apenas a vitória interessa.
(Fonte: O Estado de S.
Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário