Por
fim a Lava-Jato ataca o problema da corrupção no Rio de
Janeiro. Por muito tempo, via-se nos jornais que tal ou tal obra para o mundial
passado (aquele do sete a um sofrido
da Alemanha) que, de acordo com as exigências da FIFA - e alguém terá alguma
dúvida que toda aquela profusão de estádios nos lugares os mais excêntricos se
fundavam na mega-corrupção da época
Joseph Blatter na Fifa, e José Maria Marin
na CBD ?
E que
os benefícios da Copa - e, depois, das Olimpíadas - eram muita vez jogadas com compadres já
escolhidos ? Ontem, apareceu - creio que
por primeira vez - que a Globo também participara das
propinas (não estão ainda esclarecidos
os pormenores) mas logo vieram os disclaimers,
as negações do clã Marinho, ditas pelo meio-busto William Bonner...
Recordo-me das notícias e observações sobre as obras do Maracanã, que
sofreram (e é este o verbo adequado) muitas modificações de seu projeto inicial
por imposição da suposta modernidade. O
que havia, no entanto, era a imposição pela Fifa (e o assentimento
automático da CBF ) de ulteriores obras
de modificação. O mais interessante é que nas páginas de O Globo - que agora, na prática, é o único grande jornal no Rio -
vinha no topo a indicação de propinas cobradas pelo então governador Sérgio Cabral. Para isso, me surpreendia a desfaçatez,
anotando supostas propinas do governo do Estado, como se nada fora ...
Ontem, estourou no noticiário da tevê
Globo. de acordo com acusação de Alejandro Buzarco, ex-executivo da empresa
Torneos y Competencias, que grupos da mídia como a Tevê Globo, Televisa
(Mexico) e Fox Sports pagaram propinas a dirigentes de confederações. Já na primeira página e no próprio noticiário, se reportou tal acusação, junto com as
negativas da empresa Globo (entre outras).
Também ontem se viu a Polícia Federal prendendo, no aeroporto, Jorge Picciani, presidente da Alerj, que
comandaria uma 'caixinha' no setor de transportes. O esquemão da Fetranspor também apanhou o
ex-presidente da Alerj, Paulo Melo. Foram todos delatados por Jonas Lopes,
ex-presidente do TCE, ex-líder do esquemão da corrupção e agora, virando
delator, ei-lo com a chave da cadeia.
Conduzido coercitivamente - o novo formato de interrogatório forçado, que
tanto irritara Lula da Silva, quando o
juiz Moro o obrigou a tanto - além do herdeiro do ex-governador Sergio Cabral (ora na prisão com penas que
somam 72 anos e réu em 16 outras ações!) o Senhor Jorge Picciani, que já tem
grande cabedal de propriedades na área rural, investidas à medida que os cofres
da dita Alerj o ensejavam.
Também foram para a cadeia os empresários de ônibus Jacob Barata Filho e
Lélis Teixeira, além de Felipe Picciani,
filho do presidente da chamada
ALERJ. No que apareceu
estratégica retirada, Edson Albertassi, o líder do governo na Alerj, desistiu de ser nomeado conselheiro do TCE. O governador Luiz Fernando Pezão, que foi
ex-secretário e sucessor do ex-governador Sérgio Cabral, defendera a tal
indicação de Albertassi para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, a
pretexto de não haver "nada que o desabonasse". Como se
viu das propriedades rurais da família Picciani, nelas o que aparenta ser o dinheiro da corrupção semelha investido
muito criteriosamente. Pena que isso é à
custa do contribuinte, e ainda por cima,
dos infelizes funcionários e aposentados que dependem das pouco confiáveis remessas dos cofres do Estado.
Por fim, o que antes aparecia a gregos e troianos como hones-to homem
público, agora lhe chega a vez de explicar-se.
Ex-secretário e sucessor de Cabral, crescem os temores - malgrado o
próprio jeito bonachão - de que tal
cercania lhe tenha afetado a conduta, a
ponto de que o governador ora seja investigado por suspeita de corrupção
passiva.
Com perdão ao grande poeta e gênio da Idade Média Dante Alighieri, pela
circunstância de que certas
características da corrupção no Rio de Janeiro, ora surjam com o epíteto
"dantesco" , parece-me, SMJ, que a frase do procurador Carlos Alberto
Aguiar - um dos responsáveis pelas
investigações - é uma apropriada descrição desse abismo ético e moral:
"enquanto o Rio definha, eles se empapuçam com o dinheiro da
corrupção."
(
Fonte: O
Globo )
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