quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A Podridão Carioca

                               
        Por fim a Lava-Jato  ataca o problema da corrupção no Rio de Janeiro. Por muito tempo, via-se nos jornais que tal ou tal obra para o mundial passado (aquele do sete a um sofrido da Alemanha) que, de acordo com as exigências da FIFA - e alguém terá alguma dúvida que toda aquela profusão de estádios nos lugares os mais excêntricos se fundavam na mega-corrupção  da época Joseph Blatter na Fifa, e José Maria Marin  na CBD ?
         E que os benefícios da Copa - e, depois, das Olimpíadas  - eram muita vez jogadas com compadres já escolhidos ?  Ontem, apareceu - creio que por primeira vez - que a Globo também participara das propinas  (não estão ainda esclarecidos os pormenores) mas logo vieram os disclaimers, as negações do clã Marinho, ditas pelo meio-busto  William Bonner...
        Recordo-me das notícias e observações sobre as obras do Maracanã, que sofreram (e é este o verbo adequado) muitas modificações de seu projeto inicial por imposição da suposta modernidade.  O que havia, no entanto, era a imposição pela Fifa (e o assentimento automático  da CBF ) de ulteriores obras de modificação. O mais interessante é que nas páginas de O Globo - que agora, na prática, é o único grande jornal no Rio - vinha no topo a indicação de propinas cobradas pelo então governador  Sérgio Cabral.  Para isso, me surpreendia a desfaçatez, anotando supostas propinas do governo do Estado, como se nada fora ...
         Ontem, estourou no noticiário da tevê Globo. de acordo com acusação de Alejandro Buzarco, ex-executivo da empresa Torneos y Competencias, que grupos da mídia como a Tevê Globo, Televisa (Mexico) e Fox Sports pagaram propinas a dirigentes de confederações.  Já na primeira página e no próprio noticiário,  se reportou tal acusação, junto com as negativas da empresa Globo (entre outras).
            Também ontem se viu a Polícia Federal prendendo, no aeroporto,  Jorge Picciani, presidente da Alerj, que comandaria uma 'caixinha' no setor de transportes.  O esquemão da Fetranspor também apanhou o ex-presidente da Alerj, Paulo Melo. Foram todos delatados por Jonas Lopes, ex-presidente do TCE, ex-líder do esquemão da corrupção e agora, virando delator, ei-lo com a chave da cadeia.
              Conduzido coercitivamente - o novo formato de interrogatório forçado, que tanto irritara  Lula da Silva, quando o juiz Moro o obrigou a tanto - além do herdeiro do ex-governador  Sergio Cabral (ora na prisão com penas que somam 72 anos e réu em 16 outras ações!) o Senhor Jorge Picciani, que já tem grande cabedal de propriedades na área rural, investidas à medida que os cofres da dita Alerj o ensejavam.
                Também foram para a cadeia os empresários de ônibus Jacob Barata Filho e Lélis Teixeira, além de  Felipe Picciani, filho do presidente da chamada  ALERJ.  No que apareceu estratégica retirada, Edson Albertassi, o líder do governo na Alerj,  desistiu de ser nomeado conselheiro do TCE.  O governador Luiz Fernando Pezão, que foi ex-secretário e sucessor do ex-governador Sérgio Cabral, defendera a tal indicação de Albertassi para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, a pretexto de não haver "nada que o desabonasse".   Como se viu das propriedades rurais da família Picciani, nelas o que  aparenta ser o dinheiro da corrupção semelha investido muito criteriosamente.  Pena que isso é à custa do contribuinte,  e ainda por cima, dos infelizes funcionários e aposentados que dependem  das pouco confiáveis  remessas dos cofres do Estado.
                     Por fim, o que antes aparecia a gregos e troianos como hones-to homem público, agora lhe chega a vez de explicar-se.  Ex-secretário e sucessor de Cabral, crescem os temores - malgrado o próprio jeito bonachão -  de que tal cercania lhe tenha afetado  a conduta, a ponto de que o governador ora seja investigado por suspeita de corrupção passiva.
                     Com perdão ao grande poeta e gênio da Idade Média Dante Alighieri, pela circunstância  de que certas características da corrupção no Rio de Janeiro, ora surjam com o epíteto "dantesco" , parece-me, SMJ, que a frase do procurador Carlos Alberto Aguiar - um dos responsáveis  pelas investigações - é uma apropriada descrição desse abismo ético e moral: "enquanto o Rio definha, eles se empapuçam com o dinheiro da corrupção."


( Fonte:  O  Globo )   

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