sábado, 4 de novembro de 2017

O con man Maduro

                             

        A foto na página internacional do jornal agride o leitor.  Lá está em quatro colunas a face risonha de Francisco I. Maduro, envergando a camisa vermelha que desonra fé e empenho à que está associada.
        A mobilidade desse personagem espanta e não só aos incautos. Nessa semana o vimos ao lado da esfinge Vladimir V. Putin, a olhá-lo, com boa razão, de viés, enquanto o venezuelano defende a difícil causa da débacle da pobre pátria de Simon Bolívar. Estava sentado em sala do Kremlin, sob as vistas que se querem matreiras do atual Senhor de todas as Rússias.  Pois ora, como toda a ave esquerda no próprio poleiro, a exibir segurança, arrimado nos complacentes olhares dos infelizes que estão sob suas ordens.
          Sabemos que a Venezuela é um país pobre, paupérrimo na verdade, mas como sói acontecer, às desgraças da população contempla seleto bando de canalhas, a que o sábio Maduro confiou aos cuidados das Forças Armadas, a quem promete outras benesses.
           Sob a delirante inflação da pobre Venezuela, o governo Maduro tenta dar início à renegociação de sua dívida externa, em reunião com credores convocada para o vindouro dia treze, em Caracas.
           A mula sem cabeça também galopa na Venezuela, e papalvo será aquele que acreditar nas suas patranhas. De moeda que promete bater todos os recordes de desvalorização (Bolívar não merece decerto tal humilhação) - inclusive os do marco alemão da República de Weimar, talvez caiba a pergunta de qual foi a infausta guerra que abateu o dinheiro venezuelano.
             Mas o impávido canalha Nicolás Maduro não perde o sorriso matreiro do Confidence Man que associamos ao personagem imortalizado pelo Western americano.
             Quem se habilita a crer no amplo, enganoso riso deste indivíduo, responsável decerto pela desgraçada catástrofe da Venezuela, que se apresta a transformar-se em exemplo a ser evitado, e a constar dos dicionários futuros com aquelas trampas de que nos falava outro personagem, que também se nos atravessou o destino, i.e., Jânio da Silva Quadros.
               Vejam só quem será o anfitrião da reunião com os credores, marcada para o próximo dia treze, em Caracas. 
              As coisas começam a desandar com a escolha do vice-presidente Tarik El-Aissami para representar a Venezuela nas conversações. Ignoro de onde saem esses senhores com nome árabe no governo de Caracas. Não é bom augúrio, eis que empresas e indivíduos estadunidenses estão proibidos de participar de qualquer transação em que esse senhor esteja envolvido. O pobre el-Aissami é investigado sob acusação de tráfico de drogas nos Estados Unidos!  Por isso, o dignitário de Maduro é alvo de sanções impostas pela Washington do severo  Trump. E não é que no início do ano da graça de 2017  o Departamento do Tesouro  bloqueou ativos de US$ 500 milhões atribuídos a ele e a seus testas de ferro.
                 Na verdade, o presidente Maduro não carece de decoração para a sua reunião de renegociação da dívida.  Há já muitos obstáculos presentes na sala e todos eles levantam o espectro do chamado default.  É verdade que o hábil Maduro o tem evitado até agora. O que atrapalha é a crescente e pasmosa situação da dívida soberana da Venezuela, que é filha da incompetência e otras cositas más da clique de Maduro.
                    As perspectivas de default estão ai, para apimentar as negociações, e para quem se delicie em enriquecer-se perigosamente. Será que os credores farão confiança em negociação conduzida por um êmulo de Burt Lancaster, o con man  clássico dos filmes de Hollywood?

                     Para resumir, a dívida venezuelana anda pelos baixios de US$ 140 bilhões  e US$ 150 bilhões.  Para evitar eventuais confiscos motivados pela dívida - como ocorreu no caso argentino - a Venezuela vem recorrendo crescentemente às águas túrbidas de Beijing  e de Moscou. O problema é se os credores se interessam em yuan e rublos... 


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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