Mais um grupo internacional toca o
alarme sobre a crise venezuelana. Desta vez é a Associação Internacional de
Swaps e Derivados, a Isda (da sigla
em inglês). Em reunião na capital das
finanças, New York, comunicou que sofreu calote do governo Maduro e da estatal PDVSA (petróleo).
Entre os membros do comitê da Isda acham-se bancos e firmas de investimento como JPMorgan,Goldman Sachs, Elliott
Management, Citadel e Alliance Bernstein.
A decisão que revelou o calote da Venezuela
foi tomada por una - nimidade - 15 votos a zero. Essa postura deve acionar o
pagamento do seguro conhecido como CDS (Credit
Default Swaps), que remunera o segurado quando ocorre o calote, e tende a
agravar ainda mais a crise econômica da Venezuela, que já passa por
compreensível severa restrição de créditos internacionais. Os detalhes sobre como o mecanismo em apreço
irá funcionar serão anunciados pelo
Comitê da Isda, que se reunirá nesta
segunda-feira. 20 de novembro.
Os
títulos da estatal petrolífera (PDVSA)
representam 30% do total da dívida da
Venezuela, que monta a US$ 150 bilhões.
Embora já me tenha ocupado do tema,
voltarei a desenvolvê-lo de forma ainda mais explícita. A culpa da presente situação creditícia da venezuela
está bastante com Nicolás Maduro, o
inepto presidente (hoje virtual ditador ) da infeliz terra de Simón Bolivar. Mas não sejamos injustos com o atual
presidente. Parte substancial do problema da Ve-nezuela foi provocada por Hugo
Chávez, que encontrando o principal produto de seu país fruindo de altos níveis
de comercialização, cometeu dois erros básicos: pensou que iriam perdurar os
altos níveis de cotação do petróleo no mercado internacional e - o que é mais
grave - pensou em transformar os ganhos excedentes daqueles aureos tempos em instrumento político de afirmação de
poder. Por isso, forneceu petróleo subsidiado a Cuba, valeu-se dos ulteriores
ganhos para a criação de uma união chavista
internacional, congregando países então satélites (Nicarágua, Honduras, Bolívia,
Equador, etc.), e tudo o mais que lhe parecesse oportuno para fortalecer politicamente a Venezuela. Sequer cuidou da
manutenção dos equipamentos da PDVSA. Se Chávez houvesse lido fábulas, inclusive as
de Esopo, talvez mostrasse mais juízo e senso de oportunidade.
Maduro, o sucessor, não é decerto
nenhum gênio, e também terá a sua quota
na atual situação falimentar da Venezuela, mas tampouco se deve esquecer o
escrito acima.
Por isso, a produção petrolífera
venezuelana se tem ressentido de problemas atinentes à manutenção deficiente
dos equipamentos da PDVSA. O bom senso tería contribuído para que o equipamento
dessa virtual monocultura fosse
atendido com mais atenção. Se a produção petrolífera constitui a virtual única
fonte de moeda forte para Caracas - o país produz cerca de três milhões de barris
diários e comercializa cerca de 2,5 milhões
(em especial para EUA e a China).
A monocultura venezuelana é espelhada pela circunstância de que tal
matéria prima constitua 95% das receitas
de exportação.
Compreende-se, por conseguinte
(a aí temos outra fábula a mostrar para o governo venezuelano quanto ele
esbanjou em termos de prudência) que a brutal queda nas cotações internacionais
do petróleo não estava decerto nos cálculos e nas ruminações de seus
dirigentes. Como poderiam esses senhores prever a louca guerra de preços
ativada pelos dirigentes da Arábia Saudita?
As monoculturas, por mais pujantes que pareçam, estão justamente
sujeitas à sua paradigmática falta de opções.
Caindo as rendas do petróleo,
se segue a diminuição da ca-pacidade de investimento do país (é uma problema
das monoculturas: se não há reservas, não há alternativa). O problema econômico-financeiro da Venezuela
agravou-se. Os bolívares que as máquinas estatais passaram a imprimir
em maior número por uma lei pétrea econômica foram perdendo o valor, e aí temos
a hiper-inflação venezuelana. Por outro
lado, o governo Maduro pensou que
deveria priorizar o pagamento da dívida, e por isso deixou de ofertar dólares
para produtores de alimentos e para a importação de remédios. Com isso, se
agravou a escassez de produtos de
primeira necessidade no país, e se entende melhor o porquê das prateleiras
vazias nos supermercados e o que é ainda pior, nas drogarias e farmácias. A
penúria de alimentos pode encontrar substitutos, ainda que pobres. Mas e os
remédios? Sem indústria farmacêutica, essa não-produção equivale a mais doenças
e ao anacrônico ressurgimento de panorama de doenças da primeira metade do
século passado que, primeiro a penicilina, e depois os seus derivados e os antibióticos podem hoje enfrentar, controlar e debelar.
Sem querer tirar as
responsabilidades do regime chavista no desastre venezuelano, uma recente
intervenção determinada pelo Presidente Donald Trump, terá carregado na dose. As sanções impostas
por Trump tornarão muito mais longo o processo de reestruturação da dívida da
PDVSA. As próprias agências financeiras, como a Fitch afirmam: "o processo
de reestruturação da dívida da PDVSA será longo em razão das sanções impostas
pelos Estados Unidos. Nesta semana, a Venezuela parecia haver conseguido um
respiro, ao anunciar acordo para refinanciar sua dívida com a Rússia, um de
seus principais credores. Delegação chefiada pelo ministro das Finanças, Simon
Zerpa, acertou com autoridades russas a reestruturação de dívida de US$ 3
bilhões, contraída em 2011 para a aquisição de armamento. Por oportuno, deve
assinalar-se que essa missão Zerpa foi precedida por visita de Nicolas Maduro a
gospodin Vladimir Putin,
que terá determinado a concessão da reestruturação da aludida dívida.
Conquanto as autoridades venezuelanas se
esforcem em mostrar um horizonte menos
enfarruscado do que o presente, o nível
de ceticismo do mundo ocidental - em que grande parte da dívida venezuelana se
concentra - é grande. As duas agências -
a Fitch e a Standard & Poor's - afirmam que dificilmente Caracas terá
condições de pagar o que deve em razão das baixas reservas internacionais do
país, do alto valor dos próximos compromissos devidos e das sanções impostas
pelos Estados Unidos (leia-se Trump) que impedem instituições financeiras de
realizar transações com os venezuelanos,
entre as quais, empréstimos e refinanciamentos de títulos já existentes.
Não será decerto prova de
fraqueza ou de tibieza que, dentro de um esquema severo, mas factível, se criem
meios para a Venezuela - o que grande
parte dos respectivos credores não desaprovaria - disponha de condições mínimas para poder atender a seus
credores.
(Fonte:
O Estado de S. Paulo )
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