sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Agrava-se Crise Venezuelana

                                 
      
        Mais um grupo internacional toca o alarme sobre a crise venezuelana. Desta vez é a Associação Internacional de Swaps e Derivados, a Isda (da sigla em inglês).  Em reunião na capital das finanças, New York, comunicou que sofreu calote do governo Maduro e da estatal PDVSA (petróleo).
         Entre os membros do comitê da Isda acham-se bancos e firmas de investimento como JPMorgan,Goldman Sachs, Elliott Management, Citadel e Alliance Bernstein.
         A decisão que revelou o calote da Venezuela foi tomada por una - nimidade - 15 votos a zero. Essa postura deve acionar o pagamento do seguro conhecido como CDS (Credit Default Swaps), que remunera o segurado quando ocorre o calote, e tende a agravar ainda mais a crise econômica da Venezuela, que já passa por compreensível severa restrição de créditos internacionais.  Os detalhes sobre como o mecanismo em apreço irá funcionar  serão anunciados pelo Comitê da Isda, que se reunirá nesta segunda-feira. 20 de novembro.
            Os títulos da estatal petrolífera (PDVSA) representam  30% do total da dívida da Venezuela, que monta a US$ 150 bilhões.
            Embora já me tenha ocupado do tema, voltarei a desenvolvê-lo de forma ainda mais explícita.  A culpa da presente situação creditícia da venezuela está bastante com Nicolás Maduro, o inepto presidente (hoje virtual ditador ) da infeliz terra de Simón Bolivar.  Mas não sejamos injustos com o atual presidente. Parte substancial do problema da Ve-nezuela foi provocada por Hugo Chávez, que encontrando o principal produto de seu país fruindo de altos níveis de comercialização, cometeu dois erros básicos: pensou que iriam perdurar os altos níveis de cotação do petróleo no mercado internacional e - o que é mais grave - pensou em transformar os ganhos excedentes daqueles aureos tempos  em instrumento político de afirmação de poder. Por isso, forneceu petróleo subsidiado a Cuba, valeu-se dos ulteriores ganhos para a criação de uma união chavista internacional, congregando países então satélites (Nicarágua, Honduras, Bolívia, Equador, etc.), e tudo o mais que lhe parecesse oportuno para fortalecer politicamente a Venezuela. Sequer cuidou da manutenção dos equipamentos da PDVSA.  Se Chávez houvesse lido fábulas, inclusive as de Esopo, talvez mostrasse mais juízo e senso de oportunidade.
            Maduro, o sucessor, não é decerto nenhum gênio,  e também terá a sua quota na atual situação falimentar da Venezuela, mas tampouco se deve esquecer o escrito acima.
              Por isso, a produção petrolífera venezuelana se tem ressentido de problemas atinentes à manutenção deficiente dos equipamentos da PDVSA. O bom senso tería contribuído para que o equipamento dessa virtual monocultura fosse atendido com mais atenção. Se a produção petrolífera constitui a virtual única fonte de moeda forte para Caracas - o país produz cerca de três milhões de barris diários e comercializa cerca de 2,5 milhões  (em especial para EUA e a China).  A monocultura venezuelana é espelhada pela circunstância de que tal matéria prima constitua  95% das receitas de exportação.
                Compreende-se, por conseguinte (a aí temos outra fábula a mostrar para o governo venezuelano quanto ele esbanjou em termos de prudência) que a brutal queda nas cotações internacionais do petróleo não estava decerto nos cálculos e nas ruminações de seus dirigentes. Como poderiam esses senhores prever a louca guerra de preços ativada pelos dirigentes da Arábia Saudita?  As monoculturas, por mais pujantes que pareçam, estão justamente sujeitas à sua paradigmática falta de opções.
                  Caindo as rendas do petróleo, se segue a diminuição da ca-pacidade de investimento do país (é uma problema das monoculturas: se não há reservas, não há alternativa).  O problema econômico-financeiro da Venezuela agravou-se.  Os bolívares  que as máquinas estatais passaram a imprimir em maior número por uma lei pétrea econômica foram perdendo o valor, e aí temos a hiper-inflação venezuelana.  Por outro lado,  o governo Maduro pensou que deveria priorizar o pagamento da dívida, e por isso deixou de ofertar dólares para produtores de alimentos e para a importação de remédios. Com isso, se agravou a escassez de produtos de primeira necessidade no país, e se entende melhor o porquê das prateleiras vazias nos supermercados e o que é ainda pior, nas drogarias e farmácias. A penúria de alimentos pode encontrar substitutos, ainda que pobres. Mas e os remédios? Sem indústria farmacêutica, essa não-produção equivale a mais doenças e ao anacrônico ressurgimento de panorama de doenças da primeira metade do século passado que, primeiro a penicilina, e depois  os seus derivados  e os antibióticos podem  hoje enfrentar, controlar e debelar. 
            Sem querer tirar as responsabilidades do regime chavista no desastre venezuelano, uma recente intervenção determinada pelo Presidente Donald Trump,  terá carregado na dose. As sanções impostas por Trump tornarão muito mais longo o processo de reestruturação da dívida da PDVSA. As próprias agências financeiras, como a Fitch afirmam: "o processo de reestruturação da dívida da PDVSA será longo em razão das sanções impostas pelos Estados Unidos. Nesta semana, a Venezuela parecia haver conseguido um respiro, ao anunciar acordo para refinanciar sua dívida com a Rússia, um de seus principais credores. Delegação chefiada pelo ministro das Finanças, Simon Zerpa, acertou com autoridades russas a reestruturação de dívida de US$ 3 bilhões, contraída em 2011 para a aquisição de armamento. Por oportuno, deve assinalar-se que essa missão Zerpa foi precedida por visita de Nicolas Maduro a gospodin Vladimir Putin, que terá determinado a concessão da reestruturação da aludida dívida.
               Conquanto as autoridades venezuelanas se esforcem  em mostrar um horizonte menos enfarruscado do que o presente,  o nível de ceticismo do mundo ocidental - em que grande parte da dívida venezuelana se concentra -  é grande. As duas agências - a Fitch e a Standard & Poor's - afirmam que dificilmente Caracas terá condições de pagar o que deve em razão das baixas reservas internacionais do país, do alto valor dos próximos compromissos devidos e das sanções impostas pelos Estados Unidos (leia-se Trump) que impedem instituições financeiras de realizar transações com os venezuelanos,  entre as quais, empréstimos e refinanciamentos de títulos já existentes.
                Não será decerto prova de fraqueza ou de tibieza que, dentro de um esquema severo, mas factível, se criem meios para a Venezuela  - o que grande parte dos respectivos credores não desaprovaria - disponha de  condições mínimas para poder atender a seus credores.


(Fonte: O Estado de S. Paulo ) 

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