quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Franz Krajsberg

                                                     

        Há muito tempo que não via o pintor Krajsberg. Sabia que morava parte do ano na Bahia, em uma cabana em propriedade campestre,  que nunca vi, mas imagino tão austera e simples quanto ele gostava seja dos quadros, seja das suas esculturas telúricas, feitas com a singeleza dos cascalhos e das plantas recurvadas do semiárido.
        Hoje me chegou pelo Jornal Nacional a má nova de sua morte. Com o físico hirto e magro testado pelo desafio da adversidade,  o polonês Krajsberg amava o Brasil e os campos abertos do selvagem  semiárido.
         E, no entanto, quando o conheci, vivia em Paris e tinha uma namorada francesa.  Aliás, estávamos em 1964,  e havia muita gente das artes vinda do Brasil que se congregara naquela cidade  que acolhe os artistas sem fazer perguntas.
          Tecemos uma amizade sem maiores compromissos, mas quando o encontrava não nos faltava assunto. Naquele tempo, as artes brasileiras, sobretudo pintores  e Krajsberg o era também, apesar de sua evolução para a escultura sui-generis feita de pedras e de raízes. Nas festas, que em geral dava Bandeira, conversávamos.  Até que ele voou e os abraços rarearam.
           Ouvia falar dele (sempre bem), e só me apenou a hora ruim que passou, no seu sítio, quando gente ruim o maltratou. Mas graças a Deus escapou.

             Chegou a tua hora de descanso.  Que tenha pedras, madeira rugosa, o ar livre da natureza.  Senão, sei que darás um jeito, para fazê-la à tua feição.  Arte tens e muita.              

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