Como já referi neste blog, o fim da guerra civil na Síria ainda não ocorreu. No entanto,
há um Sim e um Não que determinaram a
involução da luta dos democratas sírios contra o ditador Bashal al-Assad.
O não
de Barack Obama ao plano que lhe foi apresentado pela então Secretária de
Estado Hillary Clinton, juntamente com os demais Secretários americanos com responsabilidades
na guerra civil síria (Pentágono, CIA)
tornaria possível a viagem de al-Assad ao Kremlin, para implorar a ajuda de
Putin. A vassalagem do ditador sírio ao russo iria preparar-lhe a recuperação territorial de Aleppo e outras
áreas, em que o ingresso russo permiti-ria a difícil reviravolta.
Na sua ida a Sochi, Assad limita a sua resistência a compor-se
com os adversários sírios, cujas reivindicações políticas estão na raiz do
longo conflito, iniciado no Sul em Dera e em passeatas reivindicatórias na capital Damasco. Depois de haver destruído
- com a determinante ajuda russa - os centros rebeldes de resistência, além de
ver esboroar-se em grande parte o outro
Estado que tentou apossar-se da terra da passagem, chegando até a instalar no solo sírio a própria capital Raqqa e
surripiar o que restava de Palmyra, também o Estado Islâmico se acha
prestes a ser escorraçado do espaço sírio.
Obama deve a sua primeira eleição ao
seu discurso premonitório contrário à desastrosa guerra no Iraque (contra
Saddam Hussein) e às centenas de bilhões de dólares que a Superpotência aí esbanjou,
com pesadas consequências que se refletem no declínio americano, de que
os galpões abandonados e as ermas Main Street do interior estadunidense são as feridas provocadas pelo estulto
desperdício da chamada Mission
accomplished (Missão cumprida), o
mais sarcástico comentário que visitaria a aérea palhaçada da aterrissagem no
portão-aviões Abraham Lincoln por um George Bush fantasiado de piloto militar.
Ao
preferir mandar suas legiões para
o Afeganistão, notório monstro especializado em deglutir, através de suas
montanhas e suas ariscas guerrilhas, potências, como a Inglaterra, que se atrevam em pensar poder dominá-lo,
Obama se deixou convencer por uma missão
que acreditou preparada para o exército americano. Por isso, enjeitou a
proposta de Hillary, preferindo atolar-se em terreno a que o exército americano pensava poder
dominar.
Por sua vez, abandonado à própria sorte, o povo sírio será
por ora o maior perdedor de uma guerra que não precisava ter ocorrido, se acaso
Assad tivesse sabido pactuar com uma população que desejava alguma democracia.
Como isso vai terminar não é tão difícil de prognosticar. Há feridas profundas, antigas enfermidades
trazidas de volta pela guerra civil, muita pobreza e reconstrução pela frente,
e uma população órfã de interminável luta intestina, com a queda do nível de
vida subjacente a todas as empresas, e a cercá-los por toda a parte o rosto de
quem pela maldade, intransigência,
e vocação para a tirania pagará
em pequenas e grandes porções, pelas hordas humanas que forçou ao
exílio, pelas doenças, velhas e novas, que trouxe de volta à própria terra, e
pela mesma empáfia dos Assad, que jamais trepidaram em arrasar cidades e
povoações. Terá tranquilidade quem, pela própria maldade, vê em cada esquina a sombra esguia de um fuzil,
e por toda a parte o mal que, por um misto de vaidade e estupidez, trouxe de
volta para a Terra da Passagem?
( Fonte: The New York Times )
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