sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Novo encontro Putin-Assad

                         
       Como já referi neste blog, o fim da guerra civil na Síria ainda não ocorreu. No entanto, há um Sim e um Não que determinaram  a involução da luta dos democratas sírios contra o ditador Bashal al-Assad.  
       O não de Barack Obama ao plano que lhe foi apresentado pela então Secretária de Estado Hillary Clinton, juntamente com os demais Secretários americanos com responsabilidades na guerra civil síria  (Pentágono, CIA) tornaria possível a viagem de al-Assad ao Kremlin, para implorar a ajuda de Putin. A vassalagem do ditador sírio ao russo iria preparar-lhe  a recuperação territorial de Aleppo e outras áreas, em que o ingresso russo permiti-ria a difícil reviravolta.
        Na sua ida a Sochi,  Assad limita a sua resistência a compor-se com os adversários sírios, cujas reivindicações políticas estão na raiz do longo conflito, iniciado no Sul em Dera e em passeatas reivindicatórias  na capital Damasco. Depois de haver destruído - com a determinante ajuda russa - os centros rebeldes de resistência, além de ver esboroar-se em grande parte  o outro Estado  que tentou apossar-se  da terra da passagem, chegando até  a instalar no solo sírio  a própria capital Raqqa  e  surripiar o que restava de Palmyra, também o Estado Islâmico se acha prestes a ser escorraçado do espaço sírio.
           Obama deve a sua primeira eleição ao seu discurso premonitório contrário à desastrosa guerra no Iraque (contra Saddam Hussein) e às centenas de bilhões de dólares que a Superpotência aí esbanjou, com pesadas consequências que se refletem no declínio americano,  de que os galpões abandonados e as ermas Main Street do interior estadunidense  são as feridas provocadas pelo estulto desperdício  da chamada  Mission accomplished (Missão cumprida), o mais sarcástico comentário que visitaria a aérea palhaçada da aterrissagem no portão-aviões Abraham Lincoln por um George Bush fantasiado de piloto militar.  
            Ao  preferir  mandar suas legiões para o Afeganistão, notório monstro especializado em deglutir, através de suas montanhas e suas ariscas guerrilhas, potências, como a Inglaterra,  que se atrevam em pensar poder dominá-lo, Obama se deixou convencer  por uma missão que acreditou preparada para o exército americano. Por isso, enjeitou a proposta de Hillary, preferindo atolar-se em terreno  a que o exército americano pensava poder dominar.
              Por sua vez,  abandonado à própria sorte, o povo sírio será por ora o maior perdedor de uma guerra que não precisava ter ocorrido, se acaso Assad tivesse sabido pactuar com uma população que desejava alguma democracia. Como isso vai terminar não é tão difícil de prognosticar.  Há feridas profundas, antigas enfermidades trazidas de volta pela guerra civil, muita pobreza e reconstrução pela frente, e uma população órfã de interminável luta intestina, com a queda do nível de vida subjacente a todas as empresas, e a cercá-los por toda a parte o rosto de quem pela maldade, intransigência,  e  vocação para a tirania  pagará  em pequenas e grandes porções, pelas hordas humanas que forçou ao exílio, pelas doenças, velhas e novas, que trouxe de volta à própria terra, e pela mesma empáfia dos Assad, que jamais trepidaram em arrasar cidades e povoações. Terá tranquilidade quem, pela própria maldade,  vê em cada esquina a sombra esguia de um fuzil, e por toda a parte o mal que, por um misto de vaidade e estupidez, trouxe de volta para a Terra da Passagem?




( Fonte:  The New York Times )

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