Concordo com o intróito do artigo de Andrew Rosenthal no Times de hoje. Tampouco os meus leitores desconhecem
minha postura crítica diante da atual
Primeiro Ministro inglesa. Theresa May,
talvez mais à conta de inexperiência do
que por política, cometeu sérios erros na costura de seu apoio para o gabinete.
E tampouco discordo da impropriedade do Brexit, estapafúrdia idéia do último
verão passado, que está na contracorrente
das posições britânicas cimentadas no século passado, que nunca foram
carne para ser jogada às mediocres dificuldades dos tampouco brilhantes chefes
de gabinete de fins do século XX e princípios do XXIº.
Uma vez colocados tais pressupostos,
ninguém tampouco me há de crer como fã de carteirinha de gospodin Vladimir
V. Putin. A sua relação com o novo presidente
estadunidense - que, na verdade, imita a velha expressão do poeta Drummond de Andrade - o claro Enigma - para mim, com o otimismo
daqueles que não descrêem da
possibilidade de a história vir a ter, pelo menos em algumas vezes, um final
moderadamente feliz - é tão óbvia que dispensa maiores interpretações.
E é por isso que a tranquilidade do
atual morador da Casa Branca é uma condição tão lábil quanto as rituais
previsões para as estradas que afrontam as alturas, os desfiladeiros e os montes nevados.
A importância das palavras de Theresa
May em seu discurso desta segunda-feira,treze de novembro, não pode ser
ignorada, pelo simples fato de que o posto de líder do mundo livre está por ora
vazio: " São as ações da Rússia que ameaçam a ordem internacional da qual
todos dependemos. Quero ser clara acerca da escala e natureza dessas ações. A
ilegal anexação da Criméia pela Rússia marcou a primeira vez desde a Segunda
Guerra Mundial em que uma nação soberana tenha tomado território pela força de
outra nação na Europa. Desde então, a Rússia tem fomentado a violência na bacia
do Don, violado repetidamente o espaço aéreo de várias nações européias e
realizado uma sustentada campanha de espionagem cibernética e de
desestruturação da informação. Isso incluiu intrometer-se em eleições, no
hacking do Ministério da Defesa dinamarquês e no Bundestag, dentre muitos
outros. Está procurando tornar a informação arma de guerra, valendo-se de sua
mídia estatal para plantar estórias falsas e imagens fotograficas adulteradas
em tentativa de semear a discórdia no Ocidente e sabotar as nossas
instituições."
Em resposta, Theresa May pareceu churchiliana
na sua mensagem para o Kremlin: "Nós sabemos o que você está fazendo e que
não terá êxito, porque V. subestima a
capacidade de recuperação de nossas democracias, a permanente atração das
sociedades abertas e livres, e o compromisso das nações do Ocidente com as
alianças que nos unem."
Não está errado o articulista quando
define como simples a mensagem de Trump para o Kremlin (em verdade, para
Vladimir Putin): faça o que quiser.
Quanto ao fato de que Trump acredita
na sinceridade de Putin ao negar tentativas russas de intrometer-se nas
eleições americanas, e que estaria cansado de interrogá-lo sobre isso (se ele o
terá feito algum dia). Tampouco levantará a questão dos direitos humanos com
Putin, e quer trabalhar com ele na Síria, malgrado a circunstância de que o
presidente russo tem por escopo consolidar o poder de um sangrento ditador.
É de notar-se também que a
Administração Trump ignorou um prazo colocado pelo Congresso para explicitar
como serão implementadas as sanções contra a Federação Russa por seu ataque
cibernético à democracia americana. Ao invés disso, Trump gastou seu tempo
tentando sabotar as investigações russas, que ele chama de caça às feiticeiras,
não obstante a lista de contatos entre os assistentes de Trump e os russos
continue a crescer.
Na verdade, não é essa a trilha a seguir. Uma criatura não costuma nunca voltar-se
contra o seu criador. Se alguém ainda tem dúvidas quanto às motivações de
Donald Trump, é aconselhável que espere a corrente investigação pelo Special
Counsel Robert Mueller III.
( Fonte:
The New York Times, artigo por Andrew Rosenthal )
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