segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A Marinha argentina e o Ara San Juan



       O comando da Marinha argentina sabia  da gravidade dos problemas do submarino, mas recusou mudança de rumo requisitada pelo capitão Pedro Fernández.  Às seis horas de 4ª feira, dia quinze,  o comandante Fernández - que no dia anterior informara que uma das baterias sofrera curto-circuito por vazamento no snorkel - requisitou uma mudança de rumo.
      Naquele momento, o submarino estaria a pouco mais de 300 km de Comodoro Rivadavia.  Com a velocidade - entre quinze e vinte km/h - a embarcação teria chegado com segurança em terra.  A ordem, no entanto, fora a de seguir na rota de Mar del Plata.
       Com as dificuldades causadas pelo vazamento,  o San Juan tinha de emergir para se comunicar com a base. Com o mar muito agitado e ondas em torno de oito metros, o submarino era bastante golpeado na superfície.  Por isso, o capitão Fernández  teria tomado a decisão de navegar submerso, com isso perdendo a capacidade de propulsão a diesel e com metade das baterias inutilizada.
       Três horas depois da última comunicação com a base em Mar del Plata, o submarino explodiu, segundo informações enviadas pela Orga- nização do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares, com sede em Viena - que tem sensores para monitorar detonações ao redor do mundo.
        Talvez enganados pela rotina, em Mar del Plata os subcomandantes não consideraram a situação grave. Tanto que o chefe da Marinha, o almirante Marcelo Stur, foi informado  apenas na tarde de quinta-feira, dia dezesseis - mais de vinte e quatro horas depois do acidente. O Ministro da Defesa, Oscar Aguad, e o presidente Mauricio Macri só souberam da tragédia à noite e pela imprensa - o que enfureceu a Casa Rosada.
          A deputada governista Elisa Carrió disse ontem que o acidente "é um acontecimento irreversível" e a tripulação "está morta". "O Estado não pode dizer até que tenha certeza absoluta. Mas eu posso", afirmou Carrió em entrevista ao Canal 13. "Tenho de dizer: estão mortos."
             Onze dias após o acidente, a Marinha argentina ainda não reconheceu a morte dos 44 tripulantes do ARA San Juan. Ontem em Buenos Aires, o porta-voz Enrique Balbi levantou a hipótese de que os marinheiros estejam "em condições extremas de sobrevivência". "Nin- guém pode dizer que o acontecimento é irreversível, porque ainda não conseguimos encontrá-los", disse.
            Segundo edição de ontem do jornal La Nación, investigação do Ministério da Defesa encontrou "irregularidades" na compra das baterias do San Juan. Especialistas descobriram que, entre 2015 e 2016, a Marinha violou padrões regulatórios e operacionais para o reparo de meia-vida e substituição de baterias. Ao que tudo indica, houve interesse em beneficiar determinados fornecedores e, no processo, foram adquiridos equipamentos com garantias vencidas.
             Enquanto isso, as operações de resgate seguiram ontem em Comodoro Rivadavia, onde equipes de catorze países participam das buscas. O navio norueguês Sophie Siem finalmente partiu  para a área onde o submarino desapareceu. O minissubmarino que buscará a embarcação no fundo do mar se juntará a 7 navios que vasculham a região.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )













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