Se considerarmos a maneira com que o
Rio de Janeiro trata os seus funcionários e os aposentados, será dificil que
eles entendam por que o Rio no passado foi considerada a Cidade Maravilhosa ( a
marchinha de Carnaval é dos anos trinta, quando Getúlio Vargas ia a pé para o
Palácio Laranjeiras, aonde residia).
Como já disse em outro blog, vim para cá depois da morte de meu
pai, vitimado por um desastre de aviação. O posto seis em que vivíamos, minha
mãe e eu, tem hoje apenas longínquas semelhanças em termos de moradia, pois ao
lado dos edifícios Igrejinha e o dos irmãos Roberto, havia muitas casas, tanto
que a minha genitora cuidava da sacada do apartamento em que morávamos (e de
que pagava as prestações para a compra definitiva) dos jogos e brincadeiras de
seu filho na praia (Posto Seis).
Aos poucos, é claro as coisas foram
mudando, a qualidade de Copacabana como
bairro foi caindo lentamente, mas o
processo não foi muito rápido. As coisas decerto começaram a piorar à vera com a nova Capital, e a partida,
no começo da década de sessenta do governo federal. De repente, o Rio virou
província.
Ficaria talvez mais rápido, com a
já não tão lenta regressão da Princesinha do Mar, a hiper-povoação de Copacabana, e a consequente
queda da qualidade de vida e de nível de renda.
O Rio de hoje é apenas cópia meio
apagada de um belo retrato que o aumento demográfico, o terrível progresso e a especulação
imobiliária, além de desastrosas governanças que, por sorte minha, não mais presenciaria,
dele fizeram o que ele é agora, o somatório da demagogia alucinante de
alguns governadores, a improvidência de uns tantos, a desonestidade de outros e
sobretudo a circunstância de que o Poder Federal não mais demora na velha
Cidade Maravilhosa.
Como as desgraças do Rio são
muitas,descrevê-las é quase um exercício de sado-masoquismo.
Poderíamos ter piores governantes
do que o inteligente, quase patético Sérgio Cabral ? E o ramo legislativo - nunca uma abreviatura
poderia ser mais veraz e impiedosa: ALERJ... Lendo isso, fica
mais fácil entender o porquê de termos tais representantes no que foi o Palácio
da Câmara dos Deputados, o velho Palácio Tiradentes das grandes e das pequenas
crises, sem falar no Palácio Monroe, um dos crimes do Regime Militar.
Tampouco no governo do Rio, a
visão é confortadora. Se desfiasse os nomes, é de crer-se que o ataque de
nervos pode espalhar-se por esse grande
centro, em que Walt Disney se jogou nas areias de Copacabana. A falar nisso, por onde anda a Princesinha do
Mar?
Será que peca por saudosismo
aquele que não consegue vislumbrar a qualidade de vida de outrora, hoje
consumida pelo medo e o que é pior do que ele, a sensação de que deve haver
algo de muito errado se conseguimos passear pelas calçadas de o que foi o Rio
de Janeiro, e que nada nos aconteça...
A qualidade dos governantes
é um espelho cruel e deformado da situação do Rio de Janeiro. O atual prefeito, talvez possuído de certa fobia da Cidade Maravilhosa, busca
a cada mês, ou até mesmo quinzena, pretextos para viajar para longe da terra
carioca... Chamam-no de embromador ou coisa parecida. Uma velha senhora chegou perto dele e começou
a gritar: Fora Crivella! Talvez não saiba, mas é o que a grande
maioria deseja.
Se continuar assim, o Rio
não mais será a terra do samba, mas a das nênias, elegias e dos epicédios...
( Fontes:Lira Neto, Getúlio Vargas; Olavo Bilac e Guimarães Passos- Tratado de Versificação; Manuel Bandeira; Olavo Bilac; Tom Jobim )
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