quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A Crise do Rio de Janeiro

                                     

        Se considerarmos a maneira com que o Rio de Janeiro trata os seus funcionários e os aposentados, será dificil que eles entendam por que o Rio no passado foi considerada a Cidade Maravilhosa ( a marchinha de Carnaval é dos anos trinta, quando Getúlio Vargas ia a pé para o Palácio Laranjeiras,  aonde residia).
        Como já disse em outro blog, vim para cá depois da morte de meu pai, vitimado por um desastre de aviação. O posto seis em que vivíamos, minha mãe e eu, tem hoje apenas longínquas semelhanças em termos de moradia, pois ao lado dos edifícios Igrejinha e o dos irmãos Roberto, havia muitas casas, tanto que a minha genitora cuidava da sacada do apartamento em que morávamos (e de que pagava as prestações para a compra definitiva) dos jogos e brincadeiras de seu filho na praia (Posto Seis).
           Aos poucos, é claro as coisas foram mudando,  a qualidade de Copacabana como bairro foi caindo lentamente,  mas o processo não foi muito rápido. As coisas decerto começaram a piorar à vera com a nova Capital, e a partida, no começo da década de sessenta do governo federal. De repente, o Rio virou província.
            Ficaria talvez mais rápido, com a já não tão lenta regressão da Princesinha do Mar,  a hiper-povoação de Copacabana, e a consequente queda da qualidade de vida e de nível de renda.
            O Rio de hoje é apenas cópia meio apagada de um belo retrato que o aumento demográfico,  o terrível progresso e a especulação imobiliária, além de desastrosas governanças que, por sorte minha, não mais  presenciaria,  dele fizeram o que ele é agora, o somatório da demagogia alucinante de alguns governadores, a improvidência de uns tantos, a desonestidade de outros e sobretudo a circunstância de que o Poder Federal não mais demora na velha Cidade Maravilhosa.
             Como as desgraças do Rio são muitas,descrevê-las é quase um exercício de sado-masoquismo.
              Poderíamos ter piores governantes do que o inteligente, quase patético Sérgio Cabral ?  E o ramo legislativo - nunca uma abreviatura poderia ser mais veraz  e  impiedosa: ALERJ...  Lendo isso, fica mais fácil entender o porquê de termos tais representantes no que foi o Palácio da Câmara dos Deputados, o velho Palácio Tiradentes das grandes e das pequenas crises, sem falar no Palácio Monroe, um dos crimes do Regime Militar.
                 Tampouco no governo do Rio, a visão é confortadora. Se desfiasse os nomes, é de crer-se que o ataque de nervos pode espalhar-se  por esse grande centro, em que Walt Disney se jogou nas areias de Copacabana.  A falar nisso, por onde anda a Princesinha do Mar?
                   Será que peca por saudosismo aquele que não consegue vislumbrar a qualidade de vida de outrora, hoje consumida pelo medo e o que é pior do que ele, a sensação de que deve haver algo de muito errado se conseguimos passear pelas calçadas de o que foi o Rio de Janeiro, e que nada nos aconteça...
                    A qualidade dos governantes é um espelho cruel e deformado da situação do Rio de Janeiro.  O atual prefeito, talvez possuído de  certa fobia da Cidade Maravilhosa,  busca a cada mês, ou até mesmo quinzena, pretextos para viajar para longe da terra carioca... Chamam-no de embromador ou coisa parecida.  Uma velha senhora chegou perto dele e começou a gritar: Fora Crivella!  Talvez não saiba, mas é o que a grande maioria deseja.

                      Se continuar assim, o Rio não mais será a terra do samba, mas a das nênias, elegias e dos epicédios... 

( Fontes:Lira Neto, Getúlio Vargas; Olavo Bilac e Guimarães Passos- Tratado de Versificação; Manuel Bandeira; Olavo Bilac; Tom Jobim )

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