sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Continua o recuo do ISIS

                              
        Depois da queda de Raqqa e de outros territórios na Síria, prossegue o avanço do exército sírio e de forças iraquianas que vão desalojando os destacamentos militantes do Exército islâmico.
        O avanço militar das forças sírias, com o apoio de bombardeios russos e de milícias iranianas, logrou por fim expulsar os militantes do E.I. das ultimas áreas de vizinhança por ele ocupadas ao redor da capital oriental de Deir al-Zour.
        Através da fronteira, o exército iraquiano e as aliadas milícias iranianas se apossaram de importante área de travessia, depois de dominarem a maior parte da cidade de Qaim, no Iraque, antes sob controle do E.I.
         A importância estratégica do avanço da ofensiva do exército do Iraque está na consequente fragmentação das áreas antes dominadas pelo ISIS. Agora, o território sob controle do 'califa' Abu bakr al-baghdadi  - do que era antes território contínuo que se estendia do centro da Síria até os arrabaldes de Baghdad - se transformou em área fragmentada e, por conseguinte, desunida, o que lhe dificulta a obtenção de recursos em uma luta que vai se tornando cada vez mais desigual.
            Ainda na posse do E.I. existem poucos bolsões de resistência na província ocidental de Anbar, no Iraque, e algumas extensões maiores de terra na Síria - província de Deir al-Zour, inclusive um cordão de pequenos vilarejos, e, o que semelharia mais importante, um último campo de petróleo.
            Com a iniciativa agora com os grupos armados sírios e iraquianos, se vai montando o cenário  para a provável batalha decisiva, em torno da cidade fronteiriça síria de Bukamal, que controla a estrada estratégica de Baghdad, no Iraque, para Damasco, na Síria.
             A tomada de Deir al-Zour sinaliza a mudança de fortuna na guerra que o presidente Assad logrou em mais de seis anos de conflito. Há dois anos atrás, parecia remota a possibilidade de que o governo de Assad viesse a conseguir recuperar esta posição estratégica.
               Em 2011 o conflito na Síria se tornara mais violento, e a moral das forças de Assad  estava muito baixa, com inúmeras defecções. Mudaria  a situação,  no entanto, a favor do tirano sírio, dada a timidez de Obama que se recusou a aprovar plano dos quatro departamentos americanos (com responsabilidades externas) que pensavam estruturar um apoio mais sustentado aos rebeldes sírios favoráveis ao Ocidente.
               Em 2015, al-Assad empreende a sua viagem a Canossa, indo a Moscou para pedir o apoio militar de Vladimir Putin, o que lhe é concedido, tornando-se, na prática, o presidente sírio subordinado a gospodin Putin. Tendo a Rússia já um porto de águas quentes no Mediterrâneo oriental (cedido por Damasco), Putin decerto tinha bons motivos para manter a sua aliança com a Síria. O dispêndio seria considerável, mas sob o frio ponto de vista do presidente russo valeria a pena, por reforçar a posição de Moscou naquela área estratégica para a saída da frota russa na direção das águas quentes do Mediterrâneo.
                Abandonando os Estados Unidos as forças democráticas da Síria (que tinham apoio da Liga Árabe), a luta se torna desigual para a aliança de guerrilhas antes próximas do Ocidente, e a sorte do ditador sírio, ainda que ora caudatário de Moscou, começa a mostrar sinais de recuperação, devida sobretudo ao apoio material da Federação Russa.
                  A longa guerra civil síria, começada ao sul em Deraa, que a princípio poderia ter sido resolvida com concessões tópicas de parte do ditador Bashar al-Assad, se caracteriza por uma curva - que a princípio indica a vitória das forças democráticas (com substancial apoio de diversos paises árabes) e com o governo de  Damasco sofrendo relevantes defecções que semelhavam indicar a inelutável retirada (a caminho do tribunal penal internacional de al-Assad, como a fuga de alguns familiares seus já o sinalizava). Se ao Ocidente faltou vontade e determinação de seguir a posição dos diversos chefes dos departamentos com missões no exterior, a começar pelo Departamento de Estado, então sob a direção de Hillary Clinton,  essa corrente do bem infelizmente se quebra, pela falta de resolução e, ao cabo, o lamentável recuo do então presidente Barack Obama, que rejeita a proposta dos chefes dos Departamentos Governamentais, a começar pelo de Estado, sob a referida responsabilidade da Senhora Clinton.
                    Ao que falta em termos de resolução e clara visão estratégica da situação, sobra para o lado contrário. O ditador  al Assad não foi a Canossa e sim a Moscou, e gospodin Vladimir V. Putin, à frente de um Estado que Obama chamara de "poder continental", mas com uma férrea determinação, salvou o tirano Assad da derrota certa, entrementes obtendo mais dádivas do potentado meio-oriental em termos de bases, além de uma reviravolta no terreno que reforçaria a posição de Moscou na região.
                     Mais tarde, Obama se uniria à luta contra o Estado Islâmico, importante para a recuperação do Iraque, a par da destruição de núcleo de poder extremamente perigoso como parecia ser o "califado de Abu Bakr al-Baghdaadi".
                     Nessa batalha, no entanto, quem parece encaminhado para obter as maiores vantagens não é o Ocidente, mas agora Moscou. O próprio vencedor da eleição de 2016 - Mr Donald John Trump - tem uma permanência no poder sob o signo de um nevoeiro londrino daqueles a cercar as histórias britânicas do século XIX.
                      De uma forma até irônica, os Estados Unidos passaram a participar de modo mais incisivo no combate ao E.I., com ganhos consideráveis na retomada de Mossul, seguida por outras, na Síria e no Iraque, o que vem criando as condições para o desmantelamento final das  bases do ISIS no Oriente Médio.
                     É cedo para pronunciar-lhe o epitáfio, como até mesmo a recente tragédia em ciclovia próxima às antigas Torres Gêmeas o demonstra. A força facinorosa desse terrorismo à distância não deverá    desaparecer do dia para a noite, pois o preconceito e o poder do dito califa al-Baghdaadi tende a perdurar por um espaço indefinido, como os últimos episódios desse terrorismo sob encomenda e à distância tem lamentavelmente afastado a hipótese de uma pronta extinção desses focos de fanatismo.

(Fontes:  The New York Times; Hillary Clinton; Edward W.Said, Orientalism;Putin's Kleptocracy, de Karen Dawisha.)              

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