Depois da queda de Raqqa e de outros
territórios na Síria, prossegue o avanço do exército sírio e de forças
iraquianas que vão desalojando os destacamentos militantes do Exército islâmico.
O avanço militar das forças sírias, com
o apoio de bombardeios russos e de milícias iranianas, logrou por fim expulsar
os militantes do E.I. das ultimas áreas de vizinhança por ele ocupadas ao redor
da capital oriental de Deir al-Zour.
Através da fronteira, o exército
iraquiano e as aliadas milícias iranianas se apossaram de importante área de
travessia, depois de dominarem a maior parte da cidade de Qaim, no Iraque,
antes sob controle do E.I.
A importância estratégica do avanço da
ofensiva do exército do Iraque está
na consequente fragmentação das áreas antes dominadas pelo ISIS. Agora, o
território sob controle do 'califa' Abu bakr al-baghdadi - do que era antes território contínuo que se
estendia do centro da Síria até os arrabaldes de Baghdad - se transformou em
área fragmentada e, por conseguinte, desunida, o que lhe dificulta a obtenção
de recursos em uma luta que vai se tornando cada vez mais desigual.
Ainda na posse do E.I. existem
poucos bolsões de resistência na província ocidental de Anbar, no Iraque, e
algumas extensões maiores de terra na Síria - província de Deir al-Zour,
inclusive um cordão de pequenos vilarejos, e, o que semelharia mais importante,
um último campo de petróleo.
Com a iniciativa agora com os
grupos armados sírios e iraquianos, se vai montando o cenário para a provável batalha decisiva, em torno da
cidade fronteiriça síria de Bukamal,
que controla a estrada estratégica de Baghdad, no Iraque, para Damasco, na
Síria.
A tomada de Deir al-Zour sinaliza a
mudança de fortuna na guerra que o presidente Assad logrou em mais de seis anos
de conflito. Há dois anos atrás, parecia remota a possibilidade de que o
governo de Assad viesse a conseguir recuperar esta posição estratégica.
Em 2011 o conflito na Síria se
tornara mais violento, e a moral das forças de Assad estava muito baixa, com inúmeras defecções. Mudaria a situação,
no entanto, a favor do tirano sírio, dada a timidez de Obama que se
recusou a aprovar plano dos quatro departamentos americanos (com
responsabilidades externas) que pensavam estruturar um apoio mais sustentado
aos rebeldes sírios favoráveis ao Ocidente.
Em 2015, al-Assad empreende a sua
viagem a Canossa, indo a Moscou para pedir o apoio militar de Vladimir Putin, o que lhe é concedido,
tornando-se, na prática, o presidente sírio subordinado a gospodin Putin. Tendo a
Rússia já um porto de águas quentes no Mediterrâneo oriental (cedido por
Damasco), Putin decerto tinha bons motivos para manter a sua aliança com a
Síria. O dispêndio seria considerável, mas sob o frio ponto de vista do
presidente russo valeria a pena, por reforçar a posição de Moscou naquela área
estratégica para a saída da frota russa na direção das águas quentes do
Mediterrâneo.
Abandonando os Estados Unidos
as forças democráticas da Síria (que tinham apoio da Liga Árabe), a luta se
torna desigual para a aliança de guerrilhas antes próximas do Ocidente, e a
sorte do ditador sírio, ainda que ora caudatário de Moscou, começa a mostrar
sinais de recuperação, devida sobretudo ao apoio material da Federação Russa.
A longa guerra civil síria,
começada ao sul em Deraa, que a
princípio poderia ter sido resolvida com concessões tópicas de parte do ditador
Bashar al-Assad, se caracteriza por
uma curva - que a princípio indica a vitória das forças democráticas (com
substancial apoio de diversos paises árabes) e com o governo de Damasco sofrendo relevantes defecções que
semelhavam indicar a inelutável retirada (a caminho do tribunal penal
internacional de al-Assad, como a fuga de alguns familiares seus já o
sinalizava). Se ao Ocidente faltou vontade e determinação de seguir a posição dos
diversos chefes dos departamentos com missões no exterior, a começar pelo Departamento de Estado, então sob a
direção de Hillary Clinton, essa corrente do bem infelizmente se quebra,
pela falta de resolução e, ao cabo, o lamentável recuo do então presidente
Barack Obama, que rejeita a proposta dos chefes dos Departamentos
Governamentais, a começar pelo de Estado, sob a referida responsabilidade da
Senhora Clinton.
Ao que falta em termos de resolução
e clara visão estratégica da situação, sobra para o lado contrário. O
ditador al Assad não foi a Canossa e sim
a Moscou, e gospodin Vladimir V.
Putin, à frente de um Estado que Obama chamara de "poder continental", mas com uma férrea determinação, salvou o
tirano Assad da derrota certa, entrementes obtendo mais dádivas do potentado
meio-oriental em termos de bases, além de uma reviravolta no terreno que
reforçaria a posição de Moscou na região.
Mais tarde, Obama se
uniria à luta contra o Estado Islâmico, importante para a recuperação do
Iraque, a par da destruição de núcleo de poder extremamente perigoso como
parecia ser o "califado de Abu Bakr al-Baghdaadi".
Nessa batalha, no entanto,
quem parece encaminhado para obter as maiores vantagens não é o Ocidente, mas
agora Moscou. O próprio vencedor da eleição de 2016 - Mr Donald John Trump -
tem uma permanência no poder sob o signo de um nevoeiro londrino daqueles a cercar
as histórias britânicas do século XIX.
De uma forma até irônica, os
Estados Unidos passaram a participar de modo mais incisivo no combate ao E.I.,
com ganhos consideráveis na retomada de Mossul, seguida por outras, na Síria e
no Iraque, o que vem criando as condições para o desmantelamento final das bases do ISIS no Oriente Médio.
É cedo para pronunciar-lhe
o epitáfio, como até mesmo a recente tragédia em ciclovia próxima às antigas
Torres Gêmeas o demonstra. A força facinorosa desse terrorismo à distância não deverá
desaparecer do dia para a noite, pois o
preconceito e o poder do dito califa al-Baghdaadi tende a perdurar por um
espaço indefinido, como os últimos episódios desse terrorismo sob encomenda e à
distância tem lamentavelmente afastado a hipótese de uma pronta extinção desses
focos de fanatismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário