quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Fórmula do GOP: atazanar os pobres e bajular os ricos

             
       Qual é o objetivo central  do Pacote republicano de drástica redução de impostos? Foi divulgado como se fosse enorme corte tributário para o povão, gigantesco pacote de $ 1.5 trilhão que incluiria cortes fiscais  para incentivar o emprego e o crescimento econômico.
          No entanto, esse magno projeto salvador  se caracteriza pela pressa com que é suposto passar pelas comissões legislativas. Dada a alegada urgência do procedimento, ele as cruza com grande rapidez, o que lhe nega o necessário tempo para o debate e o consequente aprofundamento.
         A pressa não é só inimiga da perfeição, mas também da capacidade de apreender a realidade e de nela focalizar quais são os reais propósitos  desse magno plano legis-lativo, que vem coberto de louvores .
         Por isso, não é só indispensável, mas mandatório que o Povo americano  tenha desse suposto presente natalino aguda , penetrante consciência de o que essa alegada dádiva da atual maioria no Congresso americano em essência represente.

         Aqui cabe a frase do poeta Virgílio na Eneida : Timeo Danaos et dona ferentes (Temo os gregos, em especial quando nos dão presentes).
  
        O episódio é, de resto, célebre ,  e  as verdades que ele abraça  são muitas. Não creio, por isso,  que o Povo americano, sobretudo os seus extratos com menos recursos, possa ficar satisfeito com tal dádiva deste pacote legislativo de fim de ano
           As principais determinações brotam do tradicional manual republicano  para esse campo. Lembram a filosofia do Presidente Ronald Reagan de como as vantagens para as classes mais afortunadas gotejariam  sobre os extratos mais pobres da população. O chamado trickle down, um embuste econômico onde a má-fé dá as mãos à ignorância.
            Tampouco se poderia subestimar o poder dos projetos da Câmara de Representantes e do Senado em afetar e limitar a capacidade dos Estados e dos governos locais em estabelecer os seus próprios tributos, com vistas a pressioná-los a restringir as respectivas despesas  em assistência sanitária, educação,  transporte público e serviços sociais.  Na sua interminável batalha para encolher o governo, os republicanos encontraram no projeto fiscal um vetor para alargar a sua luta, além dos confins do anel estradal de Washington.

               Resulta, dessarte,  monstruosa legislação, que  pode alargar a desigualdade econômica,  na medida em que diminui o poder de comunidades locais para arregi-mentar recursos para grupos vulneráveis de sua população.  Não será decerto, por acaso,  que essas esdrúxulas regras atingiriam os estados da Califórnia e de New York, que,e não por coincidência, tendem a votar nos democratas.
                Escusado assinalar que todas essas disposições, cujos efeitos não podem ser minimizados, nem afastados com gestos de impaciência, não só abrangem, senão atingem , e por consequente significam, determinam e a  quem afetam,  seja  favorecendo, seja atingindo de forma negativa esse gigantesco pacote.
              Tenha-se desde logo presente que quem o prepara não deseja beneficiar o Povão.                  
               Dada a suposta falta de tempo, e a consequente sentida urgência - no caso, para o privilégio das faixas mais abastadas da população - e não exatamente para o bem da grande maioria do povo - não sobra tempo para as habituais análises e sessões públicas,  a ponto de que nem mesmo os mais expertos lobistas possam dominar todas as implicações.
              Essa nova legislação fiscal constitui para Trump e os líderes republicanos no Congresso  uma resposta para a sua falta de realizações legislativas, assim como malogro na campanha contra a Lei (democrata) do Tratamento da Saúde Custeável (ACA).
              Tal gênero de lei - que não corresponde a um setor específico da sociedade - tende a ter aspecto de árvore de Natal.  Essa observação de Eugene Steuerle - funcionário no Tesouro durante a administração Reagan - aponta cláusulas no projeto da Câmara  que visam à direita religiosa.
              Dadas as características da feitura dos projetos de Câmara e Senado,  há grande ceticismo de parte de economistas e expertos fiscais, de que os dois projetos possam gerar sensível crescimento do emprego e expansão econômica. Nesse sentido, muitos vêem essa legislação não como um produto de projeto de geração de riqueza na sociedade, mas como transferência de riqueza para sociedades anônimas e milionários - ambos generosos fornecedores de contribuições de campanha.
                 Se o projeto for aprovado, em 2027, os indivíduos que ganham entre US$ 40 mil e US$ 50 mil, pagariam uma soma conjunta de US$ 5,3 bilhões a mais em impostos, enquanto o grupo que ganha um milhão de dólares ou mais, teria um corte nos tributos de US$ 5.8 , de acordo com o Comitê Conjunto sobre a Taxação e o Escritório Orçamentário do Congresso.
                  Segundo a Universidade de Chicago, as perspectivas fiscais dessa distribuição às carreiras do dinheiro público não são decerto brilhantes. Esse favorecimento dos ricos não resultará no anunciado substancial crescimento econômico. Ao invés disso, aumentará  a divida fiscal a longo prazo, que hoje é estimado em torno de vinte trilhões de dólares.
                  A volta da chamada economia do trickle-down, lançada por Reagan e imitada por George W. Bush (com enormes reduções na taxação para os ricos) não produziu - alem de aumentar a riqueza dos milionários - nenhum outro benefício para o restante do povo: o pagamento da maioria dos operários americanos está estagnado desde meados dos anos setenta.
                  A despeito do fracasso dessa "filosofia" econômica,  os republicanos tentam mais um retorno do trickle-down. O economista e prêmio Nobel Joseph E. Stiglitz disse a respeito: "Ou é uma crença religiosa, uma crença que persistirá, não importa as provas em contrário, ou então estão usando cinicamente essa argumentação, por querem entesourar mais dinheiro para eles próprios."
                    Há muitas outras disposições dessa "reforma fiscal". A parte mais forte do pacote fiscal está na redução permanente da taxa corporativa, que passa de 35% para 20% (é um pleito de longo prazo dos líderes de empresas).
                     O projeto do Senado prevê o corte da dedução federal para taxas estaduais e municipais.  Em estados caracterizados por alta tributação como Califórnia, New York, New Jersey e Connecticut esta medida pode mudar a repercussão política. Aumentando os custos líquidos para os pagadores de imposto, vai pressionar os Estados a diminuir os seus impostos ou incorrer no risco da revolta dos contribuintes.

                    "Este é um repúdio do Contrato Social anunciado por Franklin Roosevelt no New Deal", disse Joseph J. Ellis, um historiador Prêmio Pulitzer, i.e., cortar os benefícios para as famílias de baixa  renda e remediada,  para financiar novos benefícios para os ricos. A cobertura de saúde vai baixar de acordo com o Plano Republicano, enquanto fortunas no montante de vários milhões de dólares não pagarão um centavo em impostos.
                 Haverá repercussões também em termos de cortes nos serviços de Medicare (o programa para idosos). Além disso, cerca de 13 milhões de pessoas perderão a ajuda sanitária, por causa da eliminação de uma categoria do Obamacare.
                      As propostas do Plano Republicano quebram sete décadas em termos de maiores facilidades de acesso para a educação superior. As ameaças maiores caem sobre grupos de alunos de baixa renda.  Estabelecendo um imposto sobre essas doações ameaça a capacidade dos alunos de baixa renda cursar estudos universitários e de graduação.
                     Com o novo Congresso sob Donald Trump, salve os donativos e os inúmeros bônus para quem não precisa (os ricos e milionários), e os inúmeros gastos extraídos dos grupos de menor renda,  que vêem dificultada por cruéis caprichos de legisladores ignotos a própria dura ascensão na sociedade.

                    É o caso na verdade de dar um viva à cruel e cínica política tributária do Partido Republicano: sobrecarregar os pobres e criar mais facilidades para os ricos!

( Fonte:  The New York Times )
    



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