sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Juíza rejeita denúncia


                   

       A juíza Simone Barbisan Fortes, da 1ª Vara Federal de Florianópolis, rejeitou a 30 de agosto de 2018, a denúncia do Ministério Público Federal contra o Reitor da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar, e o chefe de gabinete da Reitoria, Áureo Mafra de Moraes, por suposta injúria contra a delegada da Polícia Federal Érika Marena.

        O reitor e o chefe de gabinete eram acusados de ofender "a honra funcional" da delegada federal.
          Como é do conhecimento público, Érika é responsável pela Operação Ouvidos Moucos, que apura suspeita de desvios na UFSC. Em setembro do ano passado, a investigação resultou na prisão do então Reitor da universidade, Luiz Carlos Cancellier. Ele foi preso, segundo a PF, por supostamente ter tentado barrar investigações internas sobre o caso e deixado de tomar medidas para coibir problemas na fiscalização de recursos.
           Em outubro, Cancellier se suicidou em Florianópolis. Em seu bolso,  havia um bilhete com a frase: "Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade." Desde então, houve diversas manifestações na UFSC contra a atuação da PF na Operação Ouvidos Moucos.
            De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, uma faixa confeccio- nada  por "manifestantes não identificados" e exibida em uma cerimônia em dezembro de  2017 atingiu a "honra funcional" da delegada da PF. O evento celebrava a fixação de  um quadro com a foto de Cancellier na galeria dos ex-reitores da Universidade. Na faixa havia uma foto da delegada e o título "As faces do abuso de poder", além dos dizeres "Agentes públicos que praticaram abuso de poder e que levou ao suicídio do reitor".
            A magistrada, no entanto, considerou que "a manifestação indicada na denúncia estaria dentro do exercício da liberdade de expressão, expondo sentimentos de revolta em um momento traumático para a comunidade universitária, sem que tenha havido ofensa à honra da delegada."

Acusação. O Reitor Ubaldo Cesar Balthazar presidiu a cerimônia realizada no ano passado, e foi acusado de ter-se omitido diante da manifestação. O Ministério Público disse, na denúncia, que era responsabilidade do reitor ter coibido o protesto, exercendo "poder de polícia administrativo", e pedido a retirada da faixa.  Já o professor Áureo foi denunciado por ter consentido em deixar-se fotografar  e filmar em frente à faixa. O Ministério Público entendeu que os protestos ganharam "caráter oficial" ao aparecer em um vídeo da TV UFSC, na qual o professor aparece falando em frente a um microfone. Áureo foi chefe de gabinete de Cancellier.

        A respeito, a Juiza Simone Fortes escreveu: "É da essência das atribuições dos agentes públicos atuantes nas mais diversas esferas de alguma forma ligadas à Justiça, aqui incluídas aquelas afeitas à investigação criminal, que suas práticas (ressalto, mesmo que absolutamente legais e corretas) muitas das vezes não sejam aplaudidas pelas maiorias e, em sendo seu papel contramajoritário,é esperado que por vezes uma  ou mais pessoas - muitas vezes um coletivo - insurjam-se contra suas opiniões,pareceres, relatórios, investigações ou decisões." A juíza também afastou a possibilidade de reconhecimento do crime de calúnia.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo ) 

Lula: divisão interna TSE


                              
        A imprensa especula sobre uma possível divisão interna no tribunal eleitoral, v.g. entre a Presidente  Rosa Weber e o relator do caso, Luiz Roberto Barroso.
         A diferença entre as duas posições se cinge a que Rosa Weber defende o respeito a ritos e prazos  no processo de tramitação do registro de Lula, enquanto Barroso busca uma resposta rápida para a situação do ex-presidente, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, após ser condenado em segunda instância a doze anos e um mês de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
          Em meio à divergência, o Ministro Edson Fachin tenta costurar um consenso, servindo como uma espécie de conselheiro da presidente do TSE na busca de uma saída institucional.  
          A expectativa no TSE é de que o caso Lula seja levado ao plenário hoje, durante a  sessão extraordinária a partir das 14:30hs.  Segundo a reportagem do Estado apurou, Barroso deve aguardar a manifestação da defesa de Lula para decidir se leva ao plenário o pedido de medida liminar para barrar a presença do petista no horário eleitoral ou se já discute o mérito do registro da candidatura.
          
( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

O Papa e os ultra-conservadores


                         

         Não surpreende que Papa Francisco venha a ser atacado por gente da ala ultra-conservadora da Igreja. Que o Arcebispo Carlo Maria Viganò chegue a pedir-lhe a renúncia poderia defini-lo como contratempo, um acidente menor no caminho, que decerto não merece a atenção que esse gesto terá provocado.
         A velhos fantasmas dos tempos dos pontífices Borgia eles podem até tentar reviver, como eventuais tempi bui (tempos tenebrosos) na história da Igreja, a que o oportunismo barato busca recorrer.
          Assim, como a um seu grande antecessor,  Papa Francisco sói incomodar a vieille garde,  e por isso as figuras que saem das sombras, pensando valer-se de antigas querelas ou, pior ainda, passados ressentimentos para tentar incomodar quem, à maneira de Papa Giovanni, prefere abrir janelas por muito tempo fechadas nos palácios vaticanos, do que mantê-las cerradas, a exemplo de outros pontificados que se aferram à linha conservadora.
            Recordo-me do longo itinerário do bom Papa (il Papa buono), cuja santidade, manifesta para tantos fiéis, incomodava os adeptos de um sucessor seu, vindo do Norte, que trouxera, no dizer de teólogo de nomeada, o inverno para a Igreja. Mas a Cúria pontifícia sói ser demasiado humana, e, por conseguinte, condicionada às mudanças dos tempos.
             Para um fiel que, em momentos difíceis, costumasse recorrer às grutas vaticanas, na tumba de Pontífice que morrera em aura de santidade, surpreenderia acaso que amiúde aparecessem freirinhas que lhe despojassem o seu então pétreo leito das muitas flores que lhe trazia a devoção de caudais de fiéis?
             Naquele tempo em que reinava um sucessor de Pedro vindo do Norte, a demasiada devoção que, no silêncio das Grutas vaticanas, continuara a trazer flores que falavam de esperanças nutridas por altri tempi, aquele cristão, na sua anônima e silente devoção, contemplava, com alguma ocasional tristeza, os intentos vãos de sufocar culto que contrariava os ares do Papado reinante. Pois as flores, malgrado as silentes freirinhas, continuavam a chegar, imémores dos tempos oficialistas. Pois as devoções verdadeiras, muita vez sóem ser mais fortes e duradouras do que aquelas do gosto do Papa reinante e de sua entourage.
               Eram tempos diversos aqueles então experimentados. De um lado, a flor solitária colocada em vaso de cristal esguio no preito silencioso, por uma discreta freirinha. Mas por mais bem cuidada que fosse aquela tumba, lhe faltava dos fiéis o indefinível calor. Mais além, demorava o então pétreo leito de er Papa Buono, a que o rio da devoção como que despejava flores de um culto que não carecia das atenções da hierarquia, porque vinha nas múltiplas mãos de anônimos populares.  E o espectador, que atravessa horas difíceis, se abebera naquelas visões, para muitos inaferráveis. Ali chegar e orar, era uma lição de quão vão pode ser o poder, se ousa contrariar vontade e fé de um Povo.
              Naquelas silentes, porque espirituais audiências, ele via quão volúvel pode ser a expressão do poder. Delegado por vezes, ele então reflete circunstâncias aleatórias. A suprema ironia de que a devoção tem a ver amiúde com vontades temporais, que sóem ser breves, posto que carreguem a ambição de uma força que se crê eterna enquanto dure.
               E lá ficava a meditar sobre as contingências humanas que nos espreitam por trás daqueles rituais.
               Assim, como consolo pensava na precariedade das humanas situações. Tinha muito presente que, mais cedo ou mais tarde,  a vontade oficialista seria varrida com a mesma naturalidade que ora preside às correntes da negação. Que importa se na obstinação do império negavam-lhe a crescente presença da fé?
               E, não obstante, ele via aquele estranho ritual com muita tristeza. Pois lhe assaltava a dúvida de que não mais lá estaria, quando todo aquele exercício contra a fé seguisse o seu curso, e os diligentes instrumentos da vontade temporal desaparecessem por fim, tangidos pelos ventos da circunstância que lhes estavam acima, muito acima do que então poderia imaginar.    

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Colcha de Retalhos G - 2


                              

Mãe guatemalteca processa centro de imigração

                A imigrante guatemalteca Yazmin Juárez vai processar a cidade de Eloy, no Arizona, pela morte de sua filha, em maio último.  A menina, que completaria dois anos, adoeceu quando ambas estavam com centenas de outras famílias em um centro de detenção para imigrantes.
                  Yazmin alega que houve negligência de parte das autoridades da cidade, de quem ela exige reparação no montante de US$ 40 milhões.
                   A mãe, que tem apenas vinte anos, também planeja processar  a agência de imigração do governo americano (ICE, na sigla em inglês).


Putin recua de reforma

                 O presidente Vladimir Putin fez ontem rara aparição na televisão russa para anunciar recuo na impopular  reforma da Previdência proposta por seu governo durante a Copa da Rússia.
                   O projeto em tela provocou protestos em massa pelo país, principalmente de mulheres, que teriam de trabalhar  oito anos a mais para se aposentar.  Essa proposta causou uma queda de quase dezesseis pontos em sua popularidade.

                   A nova proposta do governo russo prevê que a idade de aposentadoria  para as mulheres suba de 55 para sessenta anos, não para 63, como havia sido anunciado anteriormente. A idade dos homens, contudo, permanece 65 anos (cinco a mais que a vigente).
                      No raro discurso na Tevê, Putin defendeu a necessidade de reforma. Segundo o presidente, a população em idade ativa no país está encolhendo, o que torna a mudança essencial, "O  desenvolvimento demográfico e tendências do mercado de trabalho e uma análise objetiva da situação mostram que não podemos mais adiar isso," disse gospodin Putin.
                       Mesmo a tentativa do Governo de escamotear a reforma na Previdência ao ensejo da Copa do Mundo não funcionou.  O índice de aprovação de Putin, que até a semana passada batia os 80%, segundo o Instituto de pesquisa, caíu para 64 % nesta semana. São os piores níveis da popularidade do Presidente Putin em quatro anos.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Fecha-se Cerco a Chavistas


                              

          A Justiça dos Estados Unidos confisca imóveis de luxo de chavistas acusados de corrupção. Esses que lograram apossar-se de apartamentos sómente acessíveis a grandes fortunas, agora devem estar lamentando a falta de juízo em adquirir imóveis  que estão apenas ao acesso dos miliardários.
             Como nas fábulas, a perda de alguém está condicionada a uma ambição que vai muito além da sua posição. Nesse sentido, está a Porsche Design Tower, em Miami, que oferece não só acesso direto à praia, mas também outros privilégios que são em geral destinados aos ultra-miliardários.
               Pois nesta semana, esse edifício passou a fazer parte de uma lista dos que possuem imóveis bloqueados pelas investigações relativas ao desvio  de US$ 1,2 bilhão da PDVSA e de recursos venezuelanos  por parte de ex-funcionários da estatal, enquanto empresários próximos ao governo do presidente Nicolás Maduro.
                Na semana passada, a Justiça americana anunciou que investigações em colaboração com a Suiça resultaram na prisão de um ex-banqueiro suiço, Matthias Krull. Ele fechou um acordo de delação premiada e admitiu a existência do esquema, mormente na promoção de desvios dos fundos da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela, que nos últimos meses, vem registrando colapso sem precedentes de sua economia.
                Tais investigações também apontam suspeitas de que a "elite" chavista e enteados de Maduro ganharam ilegalmente milhões de dólares com esquema de lavagem  de dinheiro que usava o mercado negro do câmbio venezuelano e a PDVSA para acumular fortunas no exterior.
                  A propósito, o apartamento 2205 do luxuoso prédio em Miami está na lista dos dezessete imóveis que a Justiça americana congelou na mesma investigação. Ao terminar o processo, seus donos não podem vender ou alugar o imóvel. Se eventualmente forem condenados, os americanos podem pedir o confisco definitivo dos apartamentos.
                    Esse local de extremo luxo em Miami está em nome de ex-assessor legal do Ministério de Petróleo e Mineração da Venezuela, Carlos Urdaneta Aqui, indiciado nos Estados Unidos por corrupção. Urdaneta nega irregularidades.
                     Com serviço de portaria 24 horas por dia, pronto para atender aos desejos de seus clientes, até mesmo para alugar um jato de última hora, o prédio do chavista conta com piscinas privativas aquecidas e até cofres especialmente desenhados para vinhos raros, além de uma vista sem par do Oceano Atlântico. Outra atração entre os serviços disponibilizados, é o sistema de elevadores que permite ao morador levar o próprio carro para o andar de seu apartamento...
                        A suspeita é que, além de transferir rendimentos para contas no exterior, o esquema envolvia a compra de imóveis de luxo, de modo a lavar o dinheiro da corrupção.
                          Apenas o apê na avenida Collins teria valor de US$ 5,3 milhões. No total, os dezessete imóveis são estimados em US$ 35 milhões.
                            Outros quatro imóveis no condomínio fechado de Cocoplum, em Coral Gables, estão em nome de Mario Enrique Bonilla Vallera, um empresário venezuelano, suspeito de ser a pessoa que movimenta recursos para os enteados de Maduro. Bonilla também, como é consueto, nega irregularidades.
                              Na área de Wellington, conhecida pelos haras,  dois terrenos, que juntos totalizam nove mil metros quadrados, perto de Palm Beach, também foram bloqueados. Ainda que os nomes dos donos não hajam sido divulgados, só a residencia em um dos terrenos teria mais de seiscentos metros quadrados, com valor total de mais de US$ 3 milhões.
                                Por fim, seis apartamentos foram também retidos pela Justiça em um prédio da Rua 27 de Miami Beach, uma apreensão avaliada em US$ 3,1 milhões.  A lista também inclui casa de quatrocentos metros quadrados na Alameda  Hibiscus, também em Miami, avaliada em US$ 2,7 milhões.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Dos interrogatórios políticos na Rede Globo


                         
         A Tv Globo, por força de seu virtual monopólio, tem procedido à interrogação dos candidatos à presidência da república.
           Já participaram do exercício Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin. Os candidatos respondem a cerca de 27 minutos de perguntas.
            Talvez pelo nervosismo, os interrogadores assumem um papel em extremo adversarial com relação aos candidatos.  Não são, em geral, questões que a dupla de mezzo busti (meio bustos, como vemos os locutores televisivos) coloca, mas não sei por que cargas d'água o espaço televisivo a dupla de apresentadores, em geral nervosos, os  constrange a apresentar questionamentos e, em geral, censuras aos candidatos que atendem ao convite.
             Esse viés inquisitorial surge não se sabe a propósito de quê,  pois com todas as restrições que se possa fazer aos senhores candidatos, todos eles têm um perfil e uma posição conhecidas. Não são réprobos, nem personagens sobre os quais se acumulam censuras.
            Por mais negativa que seja a opinião do telespectador sobre o candidato submetido a questionamentos - e põe submetido nisso! - temos de convir que mesmo o Jair Bolsonaro construíu o seu caminho até a candidatura, e deve, por conseguinte, ter um mínimo de respeito.
               Quero crer que a atitude de Bonner e de Renata tem mais a ver com a inexperiência e o nervosismo que lhes investe, por não se sentirem à altura dos personagens candidatos à Presidência da República.
             Ao invés de uma conversa, que pode ser elucidativa para o eleitor, tem montado interrogatórios, em geral salgados, e marcados por clima adversarial.
                Posso atribuir à hiper-reação dos questionadores da Rede Globo a dois motivos: a sua inconsciente inferioridade psicológica diante dos candidatos e o consequente nervosismo de Bonner & Renata, que devem pensar que a situação os colocaria em verdadeiro interrogatório policiesco, e que é tal o que eleitor enquanto telexpectador está esperando...

                      Será mesmo ?...    


( Fonte:  Rede Globo )


Do gesto extremo do Reitor Cancellier


                          
          Faz dias procuro na imprensa registro sobre a reação extrema do Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, aproximando-se a data de dois de outubro, que marca o gesto sem volta de lançar-se naquela data do sétimo andar de um shopping de Florianópolis.
           A Folha de S. Paulo não me falha na expectativa. Aí deparo  entrevista de Acioli Antônio de Olivo a Walter Nunes. Pesquisador aposentado do INPE  (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ele deixa sua casa em São José dos Campos para passar uns dias com o irmão em Florianópolis.
             Na verdade, não são dias quaisquer. Luiz Carlos Cancellier apresenta sinais de depressão, e tal se verifica desde a prisão por um dia na Ouvidos Moucos. Nesta operação, a Polícia Federal diz desmantelar esquema milionário de desvios de verbas de educação.
             Embora não o soubesse, Acioli seria a companhia do irmão nos seus últimos   dias. Pois, a dois de outubro, em desespero, Cancellier se joga para a morte. Leva no bolso a mensagem derra-deira,  em que culpa a operação policial.        
              A propósito, assim se manifesta o irmão Acioli Antonio: "Minha opinião de leigo é que quem matou meu irmão foi a falsa  acusação de ter desviado  R$ 80 milhões. O resto tudo ele poderia suportar." E completa: "Se ele fosse inocentado juridicamente, nunca seria  inocentado de uma mácula que jogaram contra ele."
               Na quarta-feira, dia quinze, Acioli encontrou Raul Jungmann, Ministro da Segurança Pública, e narrou sua versão do episódio e como a investigação atingira sua família.
                Assinale-se que o relatório final da Polícia Federal, segundo consta no artigo de Walter Nunes,  não apresenta provas de que Cancellier ter-se-ia beneficiado de um suposto esquema milionário de desvio de verbas da universidade.
                  Também nesse sentido, o irmão do ex-reitor faz críticas aos dois inquéritos da Polícia Federal que chamaram professores a dar explicações  após manifestações sobre a operação policial e a morte de Cancellier.
                   O Reitor da UFSC, Ubaldo Balthazar, e o chefe de gabinete da reitoria, Aureo Mafra de Moraes, acabaram denunciados à Justiça pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ofenderem a "honra funcional" da delegada da P.F.  responsável pela Ouvidos Moucos e de terem sido omissos diante de protestos na instituição contra a ação policial.
                    A propósito, o articulista assinala: "O ministro Gilmar Mendes falou algo muito claro recentemente. Que eles (policiais federais)  não têm nenhum cuidado com a honra alheia e são tão cuidadosos quando criticamos os seus."
                     A Polícia Federal disse, em nota, que os inquéritos foram instaurados "após representação  encaminhada por servidores públicos federais que se sentiram vítimas de possíveis  crimes contra a honra diante da exposição de faixas com dizeres tidos como ofensivos nas dependências da UFSC".
                     Perguntado como surgira a conversa com o Ministro Raul Jungmann, o pesquisador Acioli Antonio de Olivo disse que participara de um evento sobre fake news em que estava também o ministro Gilmar Mendes, do STF. O ministro falou que estava muito descontente com os rumos, não só do caso do meu irmão, mas também com as questões das operações da PF. Disse que seria interessante o Ministro Jungmann  se manifestar sobre o caso da UFSC. Depois, ligou e disse que tinha falado com Jungmann e que era para que entrasse em contato com ele.
                       Indagado acerca de como tinha sido a conversa, o irmão de Cancellier disse que a conversa com Jungmann foi muito boa no aspecto que ele se solidarizou com a dor da família. Ele até disse que não tinha se inteirado completamente. Fiz um relato de como eu vi a questão da prisão, de como a imprensa e autoridades têm descrito esta questão. 
                         Acioli de Olivo reconhece não ter nenhum conhecimento jurídico, tendo feita carreira na área tecnológica. Portanto, ele reconhece não ter condições de avaliar juridicamente se o operação que prendeu seu irmão tem erros ou não."O que tenho certeza muito grande é que meu irmão morreu por não poder suportar uma acusação caluniosa de ele ser líder de uma organização criminosa que desviou R$ 80 milhões.
                          Perguntado pelo repórter sobre o que dissera a respeito o Ministro Jungmann,  Olivo respondeu que o ministro disse  que gostaria de se inteirar mais sobre tudo aquilo que falei e me pediu que eu encaminhasse um documento sobre todos os temas que tinha apresentado.
                           Indagado pelo repórter  acerca do fato de haver privado da companhia do irmão nos dias anteriores ao suicídio,  Olivo afirmou que apesar de não ser próximo do irmão - "ele morava em Santa Catarina e eu moro em São Paulo - quis o destino que eu fosse a companhia dele nos últimos sete dias de vida. Eu estava em São José dos Campos e meu irmão caçula falou: "O Cau (apelido de Cancellier) não está bem. Você pode vir e fazer companhia a ele?" Eu estava aposentado e fui para lá e fiquei na casa dele, conversei muito com ele."
                              "Senti que ele estava num processo que - obviamente que não identifiquei que era tão grave - de tristeza muito grande no sentido de toda a vida acadêmica que ele construíu tinha ido pelo ralo. Tudo que ele fez ao longo da vida, desde aluno, professor, chefe de departamento, diretor da faculdade de direito e reitor tinha sido jogado no lixo por uma acusação falsa."
                               Perguntado como se manifestava essa depressão, respondeu Olivo: "Quando cheguei lá, conversei um pouco com ele e a partir do dia seguinte fui acompanhá-lo em várias coisas. Ele precisava de documentos, ir ao médico - tinha feito uma cirurgia cardíaca seis meses antes.
                               "No primeiro dia, quando fomos pegar um táxi, senti que ao sair do apartamento ele olhava para todos os lados para ver se não era reconhecido. Então alugamos um carro para ter maior privacidade. E cada vez que eu saía com ele, ele saía do carro  e olhava para a frente e para trás. Conversamos a respeito disso. Ele sabia que isso não tinha retorno. Se ele fosse inocentado juridicamente, nunca seria inocentado de uma mácula que jogaram contra ele."
                                O jornal insere nesse contexto a seguinte observação: "A PF incriminou seu irmão por manter ou nomear professores que fariam parte de uma quadrilha." Olivo responde a respeito: "Não sei como funciona a burocracia da universidade, então contestar seria leviano de minha parte. O que eu sei e é claro no inquérito inicial é que, aos olhos de um leigo, não existe nexo causal entre as provas e evidências coletadas e as acusações. No entanto, eu devo ser muito ignorante, tendo em vista que uma juíza - qualificada que deve ser, todo juiz deve ser qualificado - acatou as acusações. Por isso eu me atenho a algo que eu entendo, que é a dor. E a dor me diz que meu irmão foi morto porque a dor dele por uma falsa acusação era maior do que tudo. O resto eu deixo para a Justiça, para os juristas, para os professores da universidade.
                                O repórter Walter Nunes então pondera:" Houve uma sindicância sobre a conduta da delegada Erika Marena, responsável pela prisão de seu irmão, e ela foi absolvida."  Responde então o irmão Acioli A. de Olivo: "Não sei se houve uma sindicância. Para ter uma sindicância deve haver uma série de formalidades. Eles se autoinvestigaram.O fato é que me pareceu que eles fizeram algo muito apressa-do, porque eles precisavam rapidamente eximir a delegada, tendo em vista que ela era nomeada para a Superintendência da PF em Sergipe."
                                 Informado de que "o caso agora está com a Procuradoria", ele  perguntou ao irmão do Reitor  "o que o sr. espera?"  "O que eu espero é que isso sirva para que as pessoas possam andar livremente, que não tenham medo de serem presos sem direito ao contraditório. O que eu quero é que o autoritarismo e as manifestações que às vezes podem ser caracterizadas como perseguição da PF aos gestores da universidade e a outras autoridades e outras pessoas acabem.
                                "Eu lembro o seguinte: e os outros professores que foram presos com o Cau? Eles estão impedidos de entrar na universidade, continuam execrados pela opinião pública. Eu espero que a universidade apóie essas pessoas no seu retorno e que toda a comunidade universitária e a sociedade tenham certeza de que foi uma injustiça que fizeram com meu irmão e com todos eles. Legalmente, eu não sei o que esperar. Eu não sou ingênuo de acreditar que o estado reconheça que eles (investigadores) erraram, mas eu espero que em vida eu possa ver os outros professores volta-rem para a universidade."

Fonte: transcrição da entrevista de Acioli A. de Olivo, dada ao reporter Walter Nunes, da Folha, referente ao irmão do Reitor da Universidade Federal  de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Brasileira deportada da Nicarágua


                              

           A documentarista Emília Mello, brasileira, foi presa por trinta horas na Nicarágua.  Ela tentava filmar protestos contra o ditador Ortega. Interrogada por sete horas, e impedida de entrar em contato com a família, foi deportada para os Estados Unidos (ela tem dupla nacionalidade). Ela ficou presa algemada, antes de ser conduzida, para ser deportada por via aérea.
             Acompanhada por várias outras pessoas, tentara filmar manifestação em Granada, onde se realizaria protesto contra Daniel Ortega.
              Por causa da violenta repressão dos protestos - as demonstrações contra Ortega já registram número que ultrapassa as trezentas mortes (inclusive uma brasileira) - a ditadura trata de dificultar a ação da mídia estrangeira.

( Fonte:  O  Globo )  

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Previsões sombrias de Dieterich sobre Venezuela


                            

      Conforme assinalado Heinz Dieterich, pensador de esquerda que cunhou o socialismo para o século XXI, foi inspirador de Hugo Chávez e agora faz prenúncios trágicos para a Venezuela de Nicolás Maduro :
         Como seria previsível, não vê possibilidades de êxito para as tentativas desesperadas de Maduro. Além de adiantar o óbvio - a retirada dos zeros da moeda não vai trazer solução - o estado falimentar da Venezuela é manifesto, eis que "todo o sistema de produção, monetário e fiscal não está funcionando. Fontes financeiras externas estão bloqueadas. A produtora central de divisas, a PDVSA está estruturalmente destruída e seus ativos nos EUA e Canadá foram praticamente confiscados. Só 20% dos venezuelanos ainda apoia Maduro".
          Que saídas existem? "Não há mais saídas pacíficas para a situação.(...) Hoje só há três futuros para a Venezuela: uma intervenção de fora, um golpe militar ou uma insurreição de massas."O regime de Maduro vai terminar de qualquer forma. Cenários mais prováveis:  golpe militar ou insurreição de massas, terminando em guerra civil."A crise foi cem por cento produzida endogenamente. O dinheiro arrecadado deveria ter sido usado na modernização da indústria. Quando o preço do petróleo caíu, a economia desabou. Ao contrário de Chávez, Maduro é dogmático e incapaz de reconhecer quando algo está errado. Quanto à contaminação, a crise na Venezuela já é geopolítica. (...) Ela envolve a logística dos países limítrofes, que tem uma capacidade limitada de receber e de integrar os venezuelanos.(...) Ela liquida factualmente a ideia do socialismo de Chávez. É também ideológica porque a ideia bolivariana da Pátria Grande deixa de ter boas perspectivas futuras."  
(Síntese das previsões do pensador alemão, autor, entre outros, de Socialismo do século XXI)


( Fonte:  O Globo )

Do eleitorado evangélico


                                    

        Não se discerne, pelo menos à vista d'olhos, uma reação perceptível da Igreja Católica, diante do crescente desafio colocado pelas religiões evangélicas.
         Há quatro anos atrás, um em cada cinco eleitores era evangélico, segundo reporta o Estado de S. Paulo.
         Hoje, às portas das próximas eleições, um em cada quatro eleitores é evangélico.
       Por quanto tempo, a reação da religião católica, que por tanto séculos é maioria neste país, continuará a mesma, vale dizer a apatia de seu corpo episcopal e dos respectivos sacerdotes, como se tal crescimento inelutável fosse?
          Deixar-se-á que uma religião que está presente desde o início dos tempos da nação se vá aos poucos esfarelando, como se devêssemos importar modelos estrangeiros, a exemplo de o que hoje se contempla, com visões trazidas de fora?
          Não será recolhendo-se à própria toca que se responderá de forma positiva a este desafio. Religiões que se confundem com a própria nacionalidade não poderiam ser passivas diante de desafios de tal natureza.
           Caso contrário, estaremos destinados a deparar no futuro  como monumentos os nossos templos, enquanto crescem os credos alienígenas, como se melhor atendessem aos desafios da modernidade.

( Fonte:  O Estado de  S. Paulo )

Por quanto tempo se reabre Gaza?


                        
         O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, ordenou,  a 26 do corrente mês, que seja reaberta hoje, segunda, dia 27 de agosto, a passagem de Erez, a única destinada ao trânsito de pessoas com a Faixa de Gaza. Ela se acha fechada há mais de semana, em razão dos distúrbios fronteiriços.

          Não obstante, os incidentes nesse território continuam a manifestar-se,  apesar das tentativas pacificadoras de Egito e Nações Unidas de conseguir estabelecer  trégua de longo prazo entre Israel e o Hamas, grupo islâmico que controla o enclave.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

John McCain


                                

       O Senador pelo Arizona John McCain, em época de carência de grandes vultos, sai de cena, com a discrição e a nobreza que não lhe vieram por acréscimo, mas que faziam parte da própria natureza.
        Alguém por um breve momento terá acaso trepidado diante das palavras de quem jamais lhe esteve à altura, quando ousou insinuar que bons soldados não caem prisioneiros?
         Acaso terá passado pela mente de tal pessoa que o bom soldado é aquele que está acima das contingências da sorte, e que, em qualquer circunstância, pela própria têmpera e coragem, está acima dos desafios da fortuna?
         E que em tais ocasiões confia ao silêncio a resposta devida ao falastrão?
          John McCain fará falta e muita. Não ao Partido Republicano, nem ao Democrata, embora fosse por ambos respeitado.  A sua presença cresce, como sói ocorrer aos grandes vultos. Ao invés da demagogia, ele não carece de muitas palavras para que se lhe sinta a própria falta, eis que a sua presença é feita de serena afirmação, corroborada por um passado que McCain soube trazer consigo, não carecendo nem de lisonja, nem de gratuitos louvores.
             Em momento em que muitos julgam mais oportuno recuar ou silenciar, McCain deu aos Estados Unidos o exemplo de  dedicação que se estendeu à cabeceira da própria soez enfermidade. Enquanto tantos recuam, ele optou por dar nesta hora o próprio testemunho, e como aqueles que não carecem de palavras, optou pela discrição, ao invés de túrgidas frases.
               Republicano que foi, a sua presença era grande demais para negar-se ao diálogo com os democratas.  Seria, por isso, respeitado já em vida, fenômeno raro em época em que o bipartidismo semelha algo do passado, como se a concordância nos grande temas nacionais fosse tabu aos integrantes dos dois grandes partidos.
                 Preside aos Estados Unidos alguém que tentou ofendê-lo em vida. Ledo engano! Como pode essa pessoa tentar rebaixá-lo, ele que é a própria negação deste  gigante americano?
                  Pelas suas características, pelo seu brilho, pela coragem e capacidade de transcender  às mofinas cercas das contraposições sectárias, John  McCain é personagem que os Estados Unidos devem assumir na sua luzente qualidade de unir ao invés de cindir, de enfrentar quando é preciso, e de reconhecer o que é justo, malgrado os eventuais rótulos, pois ele na sua coragem, na sua firmeza, e na respectiva e inerente justiça simboliza valores e princípios que as contingências da política jamais lograrão fazer esquecer e, pior ainda, menosprezar.

( Fonte: The New York Times )

domingo, 26 de agosto de 2018

Depoimento do Rei dos ônibus


                                

       Em seu primeiro processo da Lava-Jato, do Rio de Janeiro, o empresário Jacob Barata Filho, que controla grande parte das linhas de ônibus do Rio, admitiu que as empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), "repassaram a políticos do Estado dinheiro de Caixa 2.
      Em depoimento ontem, na 7ª Vara Federal Criminal, Barata disse que esse caixa chegou a gerar até R$ 6 milhões por mês. Ele citou como beneficiados deputados da chamada Alerj, como Jorge Picciani (MDB) e Paulo Melo (também MDB), ambos quando presidiram a chamada Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).
        Consoante Barata, conhecido como "rei dos ônibus" no Rio de Janeiro, o objetivo do pagamento da "caixinha" era facilitar que projetos que beneficiassem a federação fossem aprovados, e as propostas que prejudicavam a entidade não passassem. 
         Não se pejou, outrossim, o chamado "rei dos ônibus" em afirmar que tal acordo tinha o intúito também de 'beneficiar' o usuário, já que os serviços dos ônibus era feito para gerar conforto, rapidez e o "menor custo possível na passagem" (sic).
           Um dos processos que passaram pela Casa e foi citado por Barata como de interesse da federação, estabelecia a obrigatoriedade de ter cobradores de passagens nos ônibus. Segundo ele, a proposta, se aprovada, poderia representar aumento de tarifa e era desnecessária.
              Segundo Barata, a "contribuição" a agentes públicos começou com recursos para campanhas e, depois, evoluíu para "outras contribuições".  "Não posso detalhar essas  contribuições porque não era eu que fazia esse trato com agentes públicos. Sabia do caixa (2) e concordava com a utilização desse dinheiro", disse, respondendo ao juiz federal Marcelo Bretas (o encarregado da Lava-Jato no Rio de Janeiro).
               Barata afirmou que a Fetranspor resolveu colaborar com as campanhas de políticos porque "o custo de campanha hoje é maior  do que um deputado vai ganhar durante todo o mandato dele."
                 A assessoria de imprensa de Picciani afirmou que "o depoimento do empresário levanta apenas conjecturas, uma vez que ele diz que seria outra pessoa que faria os pagamentos e não informou o tipo de ajuda o deputado teria dado a ele e ao setor". Já a defesa de Melo não se manifestou até o fechamento da edição.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Colcha de Retalhos G 1


                              

Crescimento do Desmatamento na Amazônia


Após apresentar queda no ano passado, tudo indica que o desmatamento haja crescido neste ano de 2018.
Por ser feito com metodologia diversa daquela empregada pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão responsável pelo Prodes, o sistema que fornece os dados oficiais do desmate na Amazônia - o monitoramento do   Imazon não costuma ser comentado pelo Governo.  Mas o importante é notar  que ele aponta uma tendência de o que está acontecendo no campo.

        De acordo com o sistema, que monitora uma área bem menor da Amazônia Legal de o que faz o INPE, houve o corte raso (quando a terra é desmatada totalmente) de 3949km2 de agosto do ano passado a julho de 2018, ante 2.834km2 no período anterior.
     
       Três regiões, segundo Souza Júnior, têm chamado a atenção nos últimos anos: a do sudoeste do Amazonas, na divisa com Acre e Rondônia, onde está sendo feito o asfaltamento da BR-319; na divisa do Amazonas com Mato Grosso, perto de Apuí; e no entorno da terra do Meio, no Pará.


Dados  sobre Intervenção Militar no Rio


      O Presidente da República, Michel Temer, determinou a ação militar no Rio em 16 de fevereiro, e nomeou o general Walter Braga Netto como Interventor

       O saldo das operações parece controverso. Essa discrepância, como se verifica, é que, enquanto os militares apontam para a queda na criminalidade, as ONG por sua vez se reportam ao aumento da letalidade policial.
   
       Como se verifica, se trata de questões diversas.  Falar de aumento da letalidade policial é referir à maior eficiência do combate à criminalidade.  Por sua vez, se a criminalidade está baixando, não se pode mascarar o fato de que a intervenção está surtindo êxito.


( Fonte: O Estado de S. Paulo  )          

Da Intervenção Militar no Rio


                                    

         Não há negar a amplitude do desafio apresentado para a intervenção militar no Rio. Tampouco teria havido, segundo o Comandante do Exército, algum engajamento da população carioca que fosse comparável à dedicação  dos militares ao problema da criminalidade na cidade do Rio de Janeiro.
           Na verdade, porém, o povo do Rio - refiro-me, sobretudo, àquele que vive nos seus bairros residenciais - tanto a Zona Norte, quanto a Zona Sul, e que terá aguardado com confiante esperança dos efeitos pacificadores da vinda do exército para cá, por que não terá reagido diante de tal  repto, e dado a esse comando uma resposta mais interativa, e mais integrada à missão de confrontar esse desafio, que é o crescimento da criminalidade em níveis que ultrapassam qualquer expectativa?
           De uma parte, se compreende, na verdade, a insatisfação do general Eduardo Villas Bôas, pela falta de integração de outros setores da administração pública e da sociedade civil no combate à criminalidade no Rio.
           De outra, porém, não se pode dizer que o carioca não ansiasse pela vinda da força militar, com o número e o armamento necessários, para arrostar o desafio do crime na antiga Cidade Maravilhosa. Quero crer que a falta de entrosagem entre o governo do estado do Rio de Janeiro, as Forças Armadas e a população carioca veio a existir pela falta de liderança não só do poder civil, mas também do segmento castrense.
             Além da morna resistência da governança do estado, tampouco surgiu no estamento civil uma associação e até mesmo uma liderança que verbalizasse o quanto o estado do Rio de Janeiro carecia da presença militar, para que a oportunidade da intervenção pudesse sair do espaço burocrático e refletir-se como devera na realidade desta Cidade que já passou por muitos desafios - a começar pelo ataque francês no seu próprio nascimento - e durante a Colônia, após receber a governança da Bahia, atravessar esses séculos, por vezes sacudida por visitas indesejáveis de corsários e piratas, para afinal afirmar-se como sede da Corte de dois imperadores, até desembocar no evento, para alguns melancólico, de presidir ao desaparecimento da única república - leia-se democracia - como pranteou o quinze de novembro um estadista argentino - e,  não obstante seguindo através de metade do século XX ainda como capital do Brasil.
               A chamada decadência do Rio de Janeiro não é atribuível ao grande presidente Juscelino Kubitschek - pois não eram apenas frades os que clamavam pela interiorização do poder no Brasil - mas ela constitui um fator inegável, que nem uma Olimpíada será suscetível de mascarar.
                A crise do Rio de Janeiro, ela não se reflete apenas nesta cidade - e tal fato não é tão paradoxal quanto parece. O problema social no Brasil tem crescido bastante, e a Folha de S. Paulo tratou ultimamente da questão da criminalidade, e o quanto ela tem inchado no tempo recente. Para minha geração, que hoje se encaminha para outros campos, é difícil entender o veio da criminalidade e da consequente insegurança com que se torna, por vezes, uma componente intratável da sociedade. Nos dias que correm, a segurança e a tranquilidade social não mais constituem fator permanente do dia-a-dia do cidadão. Estão aí os problemas surgidos no Rio Grande do Norte, no Amazonas, e em outras paragens desses vastos Brasis, para que se tenha de abandonar, ainda que com pesar, a antiga visão idílica dos passeios públicos.
                   Mas me releve o Senhor Comandante cuja vontade de realizar plenamente a missão que lhe foi confiada pelo Senhor Presidente é clara e irrefutável.  O Rio de Janeiro, o antigo município da Corte, talvez tenha oferecido no passado uma visão idílica, quase ingênua, que vemos até hoje na marchinha de André Filho. Hoje, este sonho na realidade se transforma numa espécie de pesadelo, aumentado pelo crescimento sem controle, e também por uma infeliz governança de quem tinha muito para ter êxito, mas terá esquecido do pai as lições do trabalho sério e da honradez.
                    O seu lugar-tenente, que tampouco logrou dominar a contento o desafio da mala-vita, não terá compreendido o alcance de sua missão, General Villas-Bôas.  Da intervenção no Rio de Janeiro e das suas dificuldades, surge por último a incrível e irresponsável votação pela Assembleia Legislativa de mais vantagens para uma categoria, que, sobretudo dadas as suas consequências legais, devem ser de pronto desfeitas, pela sua manifesta ilegalidade e desrespeito tanto com o Povo do Rio de Janeiro, quanto com o grupamento militar que nos honra com sua presença.
                      Nenhum combate está perdido se o seu Comandante tem presente o próprio desafio, e a necessidade imperiosa de levá-lo a termo com o apoio de uma população que,não por acaso, já foi alcunhada de mui leal e heróica.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )