sexta-feira, 30 de junho de 2017

Aproxima-se o fim do Exército Islâmico?

                              
      Depois dos enormes aumentos territoriais conseguidos militarmente pelo Exército Islâmico, a partir de 2014, o E.I. tem ultimamente  sofrido pesadas perdas. Para que se tenha ideia do tamanho da queda, neste ano de  2014, o grupo controlava ativos de US$ 2 trilhões e tinha renda anual de US$ 2,9 bilhões. Parte desse dinheiro vinha de impostos sobre a população de seus territórios. Tais tributos incidiam sobre transportes, merces e salá-rios. Exemplos disso eram a cobrança de US$ 800 por caminhão que en-trasse no Iraque, vindo da Jordânia e da Síria, uma taxa de 5% coletada para a seguridade social e salário,   e US$ 200 cobrados de motoristas no norte iraquiano.
      A par disso, para permitir o saque a sítios arqueológicos, os terroristas levavam 50% em Raqqa e 20% em Alepo.  Para que se tenha ideia, da dispersão da memória arqueológica da região, só o contrabando de artefatos históricos de áreas controladas pelo grupo na Síria rendeu US$ cem milhões nos últimos dois anos.  Esse total terá sido muito maior nos anos anteriores, quando o domínio do E.I. sobre o território dessa área era muito maior.
       Em consequência da reação estadunidense e do apoio de outros países na área, milícias apoiadas pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria lograram ontem duas relevantes vitórias contra o E.I., nas cidades de Mossul e Raqqa. Nesse mesmo período, o Exército Islâmico já perdeu 60% do seu território e 80% de sua receita, nos últimos dois anos.
        Recordam-se da foto no balcão da mesquita em que o líder do E.I., Abu Bakr al-Baghdaadi proclamou seu fugaz "califado", em julho de 2014? Pois soldados iraquianos retomaram a mesquita Al-Nuri, de onde o líder do Exército Islâmico proclamara seu "califado", em julho de 2014.
        Por outro lado, se a capital religiosa  do EI foi reconquistada no Iraque a sua capital administrativa Raqqa, na Síria, está atualmente cercada por milícias curdas apoiadas pelos Estados Unidos.
         O desmoronamento do E.I. se deve notadamente a perdas financeiras e territoriais.  Dessarte, entre o segundo trimestre de 2015 e o segundo tri-mestre de 2017, a receita obtida pelo Estado Islâmico com tributos arrecadados em locais sob seu domínio e com o contrabando do petróleo e antiguidades caíram em 80% - de US$ 81 milhões para US$ 16 milhões. Só a renda mensal da venda de petróleo do EI teve um corte de 88%. Por sua vez, os ganhos com impostos e contrabando de antiguidades recuaram 79%
           Como é óbvio, são as "perdas territoriais o princípal fator por trás do colapso financeiro do E.I.".  A assertiva é de Ludovico Carlino, analista da IHS Markit. Nessa linha, "perder o controle de Mossul, uma cidade populosa, e de áreas petrolíferas em Raqqa e Homs(na Síria) teve impacto crucial nisso."
            Foi essencial para a preponderância e, por fim, a eventual derrota do E.I. o apoio dado pelo Ocidente, notadamente os Estados Unidos, através de intervenções aéreas e de comandos militares. Dentre as forças locais, os aguerridos curdos tem dado boa parte da infantaria para levar a cabo desmantelamento das forças do E.I.
             Sob o viés da arqueologia, a preponderância do E.I. terá sido ruinosa para área tão rica em tesouros e construções arqueológicas. Infelizmente, não foi das menores a incidência criminosa do E.I. sob o patrimônio da área, com a consequente perda de inúmeros tesouros de valor inestimável.  Também o centro de Palmira terá sido muito afetado tanto pelo vandalismo do E.I., quanto pelo saqueamento irresponsável de tesouros da Humanidade.Infelizmente, inexiste, em termos práticos, na UNESCO nada que se possa comparar ao mecanismo do tombamento.  É lógico que os vândalos do E.I. e os seus mentores, muito ávidos para o ganho, não se deteriam diante de disposições desse gênero. Contudo, um levantamento topográfico e fotográfico realizado de forma abrangente e conscienciosa tenderia a contribuir para u'a maior preservação desses tesouros da Humanidade. Todos nós temos presente a boçal destruição dos monumentais Grandes Budas do Afeganistão.
              O mal produzido pelo E.I., ainda que vestido de um caráter de extrema intolerância religiosa, na verdade se devia sobretudo à cínica postura mercantilista. A ganância dos filisteus e seu consequente desapreço pela arte nas suas diversas formas não é uma atitude que seja unicamente própria desses grupos dominados pelo fanatismo e a referida intolerância..



( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )

Redução da Meta da Inflação

                              
      O Governo federal resolve reduzir a meta da inflação. Depois de catorze anos mirando uma inflação de 4,5%, o Banco Central vai passar a perseguir meta menor a partir de 2018. Nesse sentido, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu ontem meta de 4,25% para a inflação de 2019 e de 4% para 2020. Nos dois casos, haverá margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
      É óbvio que uma coisa é fixar uma meta. Outra bem diversa, é implementá-la.
       A relevância dessa atitude do Governo está na circunstância de que será a primeira vez em catorze anos que o Governo federal reduz a meta de inflação.


( Fonte:  O Estado de S.Paulo )

Real significado do Trumpcare

                            
       Os republicanos deblateraram  por seis anos contra o que chamam de Obamacare, isto é, o Programa de atendimento médico custeável para o Povo americano  (ACA).
       Nesse contexto, é muito interessante e esclarecedor  ler o artigo do Prêmio Nobel Paul Krugman cujo título é : Entendendo a Crueldade Republicana.
       Em resumo, o que vai provocar o chamado Trumpcare? Perder a cobertura sanitária, mormente se a pessoa é mais velha, tem problemas de saúde e/ou não dispõe dos recursos financeiros necessários para tratar da enfermidade.  Atendido o fato de que os Americanos com tais características são precisamente as pessoas visadas pela legislação do GOP, dezenas de milhares terão de enfrentar tal pesadelo.
        Entrementes, no jogo cruel da legislação republicana - beneficiar os ricos e onerar os pobres - os impostos sobre a minoria rica serão ou cortados, ou zerados. Dentro do imundo programa de fazer os pobres pagarem pela isenção dos ricos, se acresce a certeza de que a renda para os ricos aumentará por cerca de 2% apenas.
         Temos, portanto, pela frente a cínica imposição de muito sofrimento - haverá cerca de duzentas mil mortes, que o ACA de Obama impediria - e tudo isso para dar aos ricaços o que, em fim de contas, não passará de um pouco mais de dólares nos seus bolsos já bem forrados.
         As pesquisas de opinião mostram enorme oposição popular, mesmo na ignorância do nível de crueldade da lei.
          Diante da estupidez da legislação do GOP,  e dos anos passados vituperando contra o Obamacare,  quando surge para a bancada republicana a oportunidade de derrogar a detestada legislação, agora, no poder, como justificar essa derrogação se o Obamacare tem sido um grande sucesso em termos de apoio médico e hospitalar ao povo americano?
          E Krugman chega à sua conclusão: os republicanos, graças ao próprio oportunismo político e desonestidade, se meteram pela iniciativa de se posicionarem em um viés que os faz parecer cruéis e imorais - e tal porque justamente eles o são na verdade...
           E na realidade temos de volta a velha estória contada por Mitt Romney, então candidato republicano em 2012, contra Barack Obama, para os grandes financiadores de campanha. Na seleta reunião, o barman era democrata, e passou adiante a visão de Romney, quanto à circunstância de que maciça maioria dos eleitores democratas receberiam subsídios de tio Sam...
           A divulgação desta mentira republicana serviria para reforçar a conscientização do Povo americano, e a derrotar Mitt Romney...
            Nesse sentido, Paul Krugman é bastante explícito: os republicanos partem de uma linha básica de crueldade contra os menos afortunados, de hostilidade contra qualquer plano que proteja as famílias contra as catástrofes da vida.
            Por isso, não há nada de novo acerca deste Plano do GOP. O que ele faz é punir os pobres e a classe trabalhadora, cortar os impostos sobre os ricos. Segundo Krugman esta é a direção básica de qualquer proposta republicana.
            A única diferença desta vez é que, por força das circunstâncias e da necessidade de revogarem uma boa lei, que atende aos propósitos da sociedade em geral, os republicanos não mais podem se esconder em uma linguagem técnica e enganosa. Agora, pelas circunstâncias, de mostrar o monstro  que devem impingir à sociedade americana.


(Fontes:  The New York Times,  coluna de Paul Krugman)    

Fim de Junho

                         
      Junho foi um mês que não me trouxe boas novas.  Transcorridos tantos anos, continuo a encará-lo com a desconfiança que reservamos às horas ruins, que atravessamos todos,  a quem os deuses lá do alto costumam chamar de mortais.
      A palavra é simples, e nós a gravamos na tábua de cera da memória. Dizem que os eventos na infância, nós os marcamos no córtex cerebral. Pelo menos, era assim que me diziam quando tais informações chegavam até nós.
      A remembrança  nós a podemos assemelhar àquelas tábuas - na verdade, tabuletas (pínax) - em que os antigos escreviam mensagens  na cera espalhada sobre a madeira.  
       Toda a metáfora é transposição de o que padecemos, fruímos ou assistimos. Como imagem do discurso, ela não tem função que se diferencie por completo de o que vi na Atenas moderna. Se lá o caminhão de mudanças é chamado de metafora, é porque transporta móveis, utensílios e a bagagem de quem encomenda os seus serviços para outros lugares.
        Por sua vez, a metáfora gramatical constitui outra espécie de transporte, pelo simples fato de o escritor se servir de determinado sentido vocabular e  aplicá-lo em outro campo semiológico em que certos traços da ideia inicial estejam preservados.
         Para a criança que vem de longe e chega à casa dos avós tangida pelas notícias ruins, não houve espaço mais longo do que o piso de azulejos do vestíbulo da casa da Fernandes Vieira. À pesada porta da entrada precedia um hall, que antes sempre atravessara às carreiras.
         Desta feita, não. Ouvia-se estranho burburinho, que avançava sobre o jardim fronteiro, e dos vitrais das janelas se entrevia a aglomeração e o tom sombrio dos sobretudos, casacos e vestidos que se mexiam no que era a sala de visitas, e se transformara em visão horrenda da pesada presença da  morte.
         Diante do negro abraço do abafado ambiente, nessa atmosfera de longos, esbranquiçados círios, os sons que formavam aquele tétrico burburinho carregavam tristezas várias, da vincada fisionomia de minha avó, das transtornadas faces e do olhar fundo que consigo trazia o imenso, raivoso sentimento de meu avô Romualdo, com o endurecido rosto do paternal sofrimento, que por vezes se arrasta pela beleza hedionda do esquife.
          Assim, a sorte madrasta determinara a minha entrada na orfandade. Lá dentro, em câmara adrede arranjada, minha mãe se debatia. Como um tapete que bruscamente se arranca, sem aviso e sem propósito, de esposa alegre e feliz, eis que a fatalidade a afasta de seus cuidados e projetos. Baixa o luto, negro, pesado e horrendo,  prenhe de todo o sofrimento que lhe traz a memória do casamento feliz, enquanto vão baixando os vultos horríficos da solidão, da partida da esperança, e da existência de repente desfigurada pela tragédia e seu sinistro acompanhamento. 



(Fonte: Infantis memórias do enterro de meu pai,  José Raphael de Azeredo.)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Confusões entre aliados ?

                              

        Apesar da relação recomposta - como Trump é agora o presidente, e muy amigo de Putin, Rússia e Estados Unidos seriam formalmente aliados contra o Estado Islâmico - a confusão de um bombardeio na Síria, causando trinta morte entre cívis, e a suspeita de que o ataque químico anterior iria repetir-se, tudo isso junto e misturado não pode dar em boa coisa.
        De um lado, os elogios à sabedoria de Donald Trump, que teria identificado a possibilidade de reedição de novo ataque químico pela Síria, e ameaçado Damasco de retaliação se tal se repetisse. Como passou um dia e nada ocorreu, o coro dos próximos do presidente, dentro do clima existente de louvações a Trump - a quem caberiam os louros de evitar mais uma desgraça química  - não contribuíu decerto para que Moscou ficasse satisfeita.
        Por outro lado, é forçoso reconhecer que a tal "aliança" entre a Federação Russa, de um lado,  e os Estados Unidos, de outro, com vários países que contribuem com suas forças aéreas, tudo isso, como inexiste um comando único, "esta aliança" pode ser responsável por muita confusão, dada a inexistência de Estado Maior que coordene as diversas missões.
          Além disso, não é de hoje que Bashar al-Assad virou vassalo de Putin, e nesse sentido já cedeu mais de uma base aos navios e as aeronaves da Rússia.
           Assim, a campanha contra o Estado Islâmico, mal organizada, tem o potencial de provocar fricções entre esses aliados ocasionais...


( Fonte: Folha de S. Paulo )  

Acosso à Procuradora Ortega

                             

        Um dos principais servos da ditadura de Nicolás Maduro, o chamado Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) proibiu nesta 4ª feira 28 de junho a Procuradora-Geral Luisa Ortega Díaz de deixar o país e congelou suas contas e bens.
         Tais draconianas medidas são consequência da convocação de Ortega Díaz a comparecer em quatro de julho a uma audiência no dito TSJ, a qual foi aprazada para decidir  se irá levá-la a juízo.
          Ninguém é perfeito. A Sra.Luisa Ortega Díaz foi, no passado, aliada do chavismo e do madurismo. Diante, no entanto, de o que está acontecendo na Venezuela, a Sra. Ortega se tornou nos últimos meses crítica ferrenha do presidente Nicolás Maduro.
         Nesse sentido, a Procuradora-Geral enviou três ações ao TSJ para impedir a Assembleia Constituinte convocada por Maduro de escrever uma nova - e peculiar - Constituição.  Para a Procuradora - e há sobejas motivações jurídicas para tanto - o presidente viola a  lei ao não submeter a convocação a referendo popular, assim como por fazer a eleição da assembléia  sem sufrágio universal.
          Note-se, a propósito, que a atuação do TSJ se realiza no mesmo dia que Ortega Díaz afirmou que o governo de Nicolás Maduro impôs "terrorismo de estado", por meio dos militares e do dito Tribunal.
          A Procuradora-Geral sublinhou a respeito: "Aqui parece que todo o país é terrorista (...), creio que temos um terrorismo de Estado", afirmou a Procuradora à imprensa. Reiterando que a Venezuela vive ruptura da ordem constitucional, a Sra. Luísa Ortega Díaz pediu  que o país mantenha o respeito à Lei.
          Ainda nessa ocasião, a Procuradora-Geral contestou também decisão da Suprema Corte da Venezuela de restringir-lhe os poderes, afirmando que não irá reconhecê-lo.
          A propósito, na terça-feira 27 de junho, o TSJ emitiu decreto que fortalece o defensor-público Tarek William Saab. Permite, inclusive, que ele realize investigações criminais, tarefa antes da exclusiva competência de Ortega Díaz.
             Para a Procuradora, essa medida tem  "clara intenção de anular o Ministério Público".


( Fonte:  Folha de S. Paulo )

As manobras de Renan

                          
      Renan Calheiros teria várias razões para sair do governo Temer. A principal é a situação política do clã Calheiros nas Alagoas. Nesse contexto, tudo será feito para alcançar a anelada salvação politica. E para atingi-la,  Renan não duvida que tal salvação ele a empolgará em aliança de conveniência com Lula da Silva.
       Os seus ataques, cada vez mais virulentos contra o Presidente Michel Temer, na verdade miram a própria sobrevivência na política do estado natal dele como chefe político. Neste momento, Lula para ele é a salvação.         
       Assim, segundo Vera Magalhães,  por trás daquele sinistro sorrisinho, Renan selou tácita aliança com o ex-presidente Lula da Silva e o PT. Eis o escopo: minar o governo de seu correligionário, apostando na volta do petista em eleições diretas antecipadas, ou na chance de que ele seja candidato forte em 2018.
        Embora enfrentando enorme rejeição pelos inúmeros processos a que responde na Lava-Jato, Lula é ainda cabo eleitoral forte no Nordeste, base eleitoral do clã Calheiros.
        Dessarte, a presença do ex-presidente no palanque de Renan - pai e filho - e já negociada nos bastidores e por isso já motivando  o pacote de ataques a Temer, seria vista com importante, não fora para assegurar a sobrevivência da família no condomínio político do Estado, um dos mais pobres da República.
         Assim, os acontecimentos se amontoaram. De um lado, o Planalto, de olho na aliança Renan-PT, resolveu sair da passividade diante dos ataques de Renan, e autorizou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) a coletar assinaturas para destituir o antigo aliado da aliança do partido.
         Como a política, sobremodo nesse tempo de crise anda depresa, e é mutável na aparência como as nuvens (V.o Senador Magalhães Pinto, de augusta memória) Renan já resolveu deixar a liderança, e sem maior constrangimento ataca Temer (enquanto recebe abraços de Lindbergh Farias (PT-RJ)...


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Temer quebra tradição de 14 anos

                        
       O Presidente Michel Temer escolheu a substituta procuradora Raquel Dodge, para substituir o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cujo mandato termina em setembro p.f.
       Ao contrário de seus antecessores na Presidência, o Presidente Temer  quebrou tradição de catorze anos e nomeou, ao invés do primeiro da lista, a segunda colocada, que não é alinhada a Janot.
        Raquel Dodge é a primeira mulher a ser nomeada para a Procuradoria Geral da Repúblic.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A Constituinte de Maduro

                         
       É enorme a rejeição da maioria da população venezuelana ao governo de Nicolás Maduro. Os protestos, em escala nacional, surgiram já no início de abril, têm paralisado o país, e a repressão pelo governo chavista já causou, pelo menos, 75 mortes de manifestantes e mais de mil e quinhentos feridos.
       Essas manifestações de repúdio ao governo corrupto e ineficiente de Maduro só vem aumentando, apesar da dura repressão. Os meganhas, os chamados 'coletivos' (individuos armados pelo regime chavista, em geral saídos da mala vita) tem claramente assinalado que a ordem do governo chavista é a de reprimir e, mesmo, matar, como se verifica pela cruel e cínica atitude desses bandidos armados.
       A ditadura está em pleno processo de implantação, como se vê nas determinações abstrusas e orwelianas de encarregar a Corte Suprema de Justiça de assumir as funções - ou então de impedir as funções - da Assembléia Legislativa, dada a incômoda circunstância de que a maioria é da Oposição.
        Para 'resolver' tal problema, Maduro na prática fechou a Assembléia Legislativa. Por outro lado, como determinara à autoridade competente de não realizar o recall - que é o direito constitucional da população de votar sobre a interrupção de mandato da autoridade presidencial - como, no caso, Nicolás Maduro - que não mais goze do apoio do povo venezuelano.  Maduro não trepidou em ignorar o exemplo de Hugo Chávez que se submetera ao recall e vencera.  Como, enquanto herdeiro de Chávez, Maduro não tenha nem a têmpera nem as qualidades de Chávez - terá apenas talvez a veia ditatorial - o presidente Maduro 'resolveu' o problema do 'recall' cancelando-lhe a realização, eis que se fosse posto em prática o atual presidente hoje estaria - para felicidade geral da Nação Venezuelana - na rua...
         Além da corrupção e da marcha batida para a ditadura, Nicolas Maduro pensa em manter-se indefinidade no poder, não dando importância não só à rejeição da população, mas também à situação calamitosa de seu desgoverno (hiper-inflação, desabastecimento, falta total de segurança, negação à cidadania nos seus aspectos mais elementares, e last but not least, deslavada corrupção). A contribuição de Maduro se assinala pelo caos jurídico - um Supremo de picaretas partidários, a repressão deslavada, a corrupção sem limites - e ele agora a completa com essa estranhíssima Constituinte municipal,  escolhida  por grupo de atividades. Como o Povo não apóia esta nova "idéia" de Maduro, que se dane o Povo! Os membros que a integrarão serão escolhidos em listas especiais, adrede preparadas para que reflitam uma sólida presença dos irredutíveis, dos maduristas e - é claro - das Forças Armadas que o homem forte Maduro busca desesperadamente cooptar para que a sua Ditadura democrata possa estabelecer-se com a aprovação desse novo Engonço que será a fina flor da rafuagem chavista (545 membros, "eleitos" por setores da sociedade e não pelo voto universal).
          Maduro parece sinceramente acreditar na estupidez de que possa substituir um Povo e uma Assembléia eleita pelo voto secreto e por toda a população, por esse engonço chavista, que não possui uma fímbria de representatividade. Sería ridículo se não fosse trágico, por todo o sofrimento e as injustiças que esse anti-governo (que também tem os seus porões de tortura) parece querer implantar com o apoio das Forças Armadas.


( Fonte subsidiária:  Folha de S. Paulo )

A Estranhíssima decisão do TRF 4º

                       

       Estaria a Lava-Jato ameaçada pela sentença do TRF-4, em Porto Alegre? Essa absolvição do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto por dois juízes - Leandro Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus - contrariou o voto do relator, João Pedro Gebran Neto, que pedira pela condenação do réu.
       Esta é a primeira discrepância da Segunda Instância em relação à primeira, que está a cargo do Juiz Sérgio Moro, que condenara o ex-tesoureiro do PT, a quinze anos e quatro meses de prisão, por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção.
       Por outro lado, a perplexidade tende a aumentar com a duplicação da pena de Renato Duque, ex-Diretor de Serviços da Petrobrás: passou de vinte anos e oito meses para 43 anos e nove meses de reclusão.
       Como se sabe, Renato Duque havia concordado em colaborar com a justiça, através da delação.  Nesse contexto, o advogado da defesa, Antônio Augusto Figueiredo Basto - especialista em delações premiadas - afirmou que a pena é desproporcional e irá recorrer.  Assinale-se que Figueiredo Basto assumiu a defesa de Duque neste mês.


( Fonte: Folha de S. Paulo )  

Começa a batalha

                                      

          Os três principais jornais brasileiros - O Globo, a Folha de S. Paulo, e o  Estado de S. Paulo - como seria de prever, dedicam boa parte de suas primeiras páginas ao embate entre o Presidente Michel Temer e o seu acusador, o Procurador-Geral da República,  Rodrigo Janot.

          O Globo é talvez o mais incisivo, inclusive na área dos colaboradores, alinhados na segunda metade da primeira página. A Folha tem igualmente um viés de ataque, embora se possa discernir que, se o avanço é feito contra o fortim do Palácio do Planalto, ele abre um pouco mais de espaço à contestação de Temer. Por fim, o quadro muda bastante com O Estado de S. Paulo.  No seu editorial afirma: "a única coisa sobre a qual não resta dúvida é que a denúncia de Rodrigo Janot contra Michel  Temer, de tão rasa, só serve a interesses políticos, e não jurídicos."  A par disso, o Estadão não hesita em asseverar: "Diante disso, cabe ao presidente Michel Temer lutar para reunir maioria no Congresso não apenas para rejeitar a denúncia, mas para seguir adiante com as reformas. O País não pode continuar refém de irresponsabilidades."   

terça-feira, 27 de junho de 2017

A 'Bondade' do PCC

                    
       Liu Xiaobo, como muitos se hão de lembrar, é Prêmio Nobel da Paz, que foi concedido pelo comitê da pequena Noruega por ter sido o principal inspirador da Carta 08, um manifesto que defendia a adoção da demo-cracia na China.
       Pela 'ousadia' da proposta, Liu pagou muito caro. Detido no ano anterior - o Nobel lhe foi concedido em 2010 - fora condenado por sub- versão já em 2009 à pena de onze anos de prisão firme em enxovia interiorana.
       Faltavam ainda três anos para que cumprisse a pena - a sua esposa Liu Xia se acha na prática em cárcere privado, e o isolamento forçado em que vive lhe trouxe depressão e problemas cardíacos.  No entanto, o padecimento de Liu Xiaobo aumenta. Acha-se  sob tratamento em hospital de Shenyang (província de Liaoning), e o câncer no fígado é diagnosticado como terminal.   
          O apavoramento da ditadura do PCC  diante de qualquer propósito de lenta reforma política e constitucional causa esse tipo de reação, que lembra os tempos do ancien régime, e do próprio Marquês de Beccaria - Cesare Bonesana (1738 - 1794). Ele trouxe o iluminismo jurídico para Milão e a Itália, com o seu magistral livro Dei Delitti e delle Penne.
         O mais estranho é que a última imperatriz chinesa Ci Xi (1835 -  1908) introduziu o embrião de regime constitucional na China imperial. Pena é que estava em fim de reinado (começos do século XX) e a China iria virar outra coisa nos séculos XX e XXI.
          O comitê da Noruega, que concedera a Liu o Nobel da Paz, sofreria muitas pressões das autoridades chinesas. Essas ficaram tão nervosas que, além de não haver permitido qualquer tradição do prêmio, a única maneira de celebrá-lo pelos organizadores foi através da cadeira vazia, e de uma bandeirinha chinesa. 
          

(Fontes: Marquês de Beccaria, Dei Delitti e delle Penne; Chang Jung - Empress Dowager Ci Xi) 

A 'Maioria' Conservadora de May

                    
        Theresa May com sorriso forçado cumprimenta a liderança do DUP (Partido Unionista Democrático). É um pequeno partido da Irlanda do Norte, linha duríssima, cujos dez deputados são vitais para assegurar a maioria que por uma eleição antecipada, convocada em temerária manobra por Theresa May, lhe arrancou a maioria anterior e pode até criar-lhe ulteriores problemas que acabem por afastá-la da liderança, e por conseguinte do governo.
         Houve protestos na oposição. Gerry Adams que lidera o Sinn Fein irlandês, criticou o acordo que, segundo ele, tende a criar condições para o retorno de uma fronteira física entre  a Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido, e a República da Irlanda, independente.
          Também o trabalhista Jeremy Corbyn, cujo prestígio cresceu muito, afirmou inegável verdade: o acordo entre a May e o DUP "não vai no sentido nacional". Além da conveniência de momento, nada liga o DUP ao Partido Conservador.
            Como não é uma coalizão - o DUP não terá cargos no gabinete - a fidelidade desse pequeno partido será cimentada com grandes obras em infraestrutura (um bilhão de libras), que muitos ingleses julgam preço demasiado caro para pagar pelo colossal erro da May.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Colcha de Retalhos E 23

                                          

O veto de Trump a viajantes islâmicos

         A Corte Suprema, de maioria republicana, destoa do restante das sentenças dadas pela Justiça Americana, sob o impacto dos decretos de  Trump sem apoio na Constituição.
         Dessarte, o genérico decreto de Donald Trump, que tinha sido derru-bado pela justiça, é restabelecido em parte pelo Supremo, ao validá-lo para nacionais de seis países islâmicos sem laço comprovado nos Estados Unidos.
         Esses países são: Síria, Líbia, Iêmen, Irã, Somália e Sudão. A determinação do famigerado decreto aplica-se apenas aos nacionais que não conseguirem  provar "nenhuma relação autêntica com uma pessoa ou entidade nos Estados Unidos". Dentro da mesma linha, a regra será usada, ainda que estranhamente, contra refugiados.


Moro dá incentivo para Renato Duque delatar


           A Folha de S. Paulo, dentro de sua linha peculiar, censura o Juiz Moro, por dar incentivo para ex-diretor delatar.  Após sentenciar o ex-Ministro Antonio Palocci,  o juiz Sérgio Moro concedera  benefício ao ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque.
            O benefício a Duque fora concedido fundado na lei de lavagem de dinheiro, que dá liberdade  ao juiz para conceder redução de pena a réus confessos ou que colaborem com a Justiça.
             O Juiz Moro determinou, no entanto, que o Acordo em tela pode ser revogado, caso o entendimento com a Procuradoria naufrague ou se ficar comprovado que Renato Duque mentiu.
             Moro ainda determinou que Duque apresente, no prazo de dez dias, uma declaração de próprio punho em que abrirá mão do saldo das contas no exterior. Duque se comprometeu a devolver vinte milhões de euros (cerca de R$ 75 milhões) que se acham em contas secretas no exterior.


Declaração do Ministro Gilmar Mendes
         

                O ministro Gilmar Mendes pode ser, por vezes, voz que fala no deserto, mas as suas frases devem ser ouvidas e, em muitos aspectos, examinadas com a necessária atenção.
                Nesse contexto, Gilmar Mendes - que, se não me engano,  foi indicado ao STF pelo Presidente Fernando Henrique e provêm do Mato Grosso -  criticou nesta segunda, 26 de junho, o que chamou de possibilidade de haver  uma "república de juízes e promotores" no Brasil. Segundo o ministro, "não há salvação fora da política".

                  Em palestra em São Paulo, o Ministro Gilmar disse que o país deve fugir de "aventuras que podem levar a operações tenebrosas", citando a respeito a ditadura militar.
                   Nesse contexto, Gilmar Mendes relembrou que políticos reconstruíram a democracia e que, agora, são eles que devem aperfeiçoá-la. "Alguém pode imaginar que pode agora ter uma república de promotores ou de juízes, temo que ficarão 
também decepcionados com o resultado", afirmou o Ministro Mendes. E assinalou: "Até como gestores nós, juízes e promotores, não somos muito bons".




( Fonte: Folha de S. Paulo )               

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Obama, por que abandonaste Hillary?

                              
        Com o passar do tempo, a verdade vai aparecendo, como sói ocorrer. No entanto, essa tarda presença grita por Justiça, e se torna um cruel deboche quando o favorecido se atreve a atacar quem, por estranhos, quiçá insondáveis motivos, nada fez para impedir que o mal lograsse o próprio inconfessável propósito.
        Vladimir V. Putin pode ser um político desonesto - como o livro da professora universitária Karen Dawisha[1] o mostra com profusão de dados e indicações. Outra corajosa americana - Masha Gessen - escreveu obra sobre o presidente russo "O Homem sem Face" (que descreve o surgimento dessa figura em Leningrado)[2]. Assinale-se que essas duas mulheres - a segunda vive em New York e em Moscou - traçam retrato sem retoques desse antigo agente do KGB, que por operação realizada por expoentes do círculo do Presidente Boris Ieltsin, já então gravemente enfermo, fora cooptado para tornar-se espécie de salvador in extremis da clique do então presidente russo. Como os fatos ulteriores o demonstrariam amplamente, Vladimir Vladimirovich Putin era realmente um político capaz - na verdade, capaz de tudo - pois ele açambarcaria o esquema de Boris Ieltsin, livrando-se, de resto, do oligarca Boris Berezovsky,  que  o trouxera para encarregar-se da operação salvação do grupo do entorno de Ieltsin.
         Mas não é decerto o escopo deste artigo descrever a ascensão de Putin, e dos erros que cometeram aqueles que acreditaram - de resto, como a História tende a demonstrar com repetitiva ênfase em um sem número de casos - na possibilidade de manipular esse natural de Leningrado (hoje de novo São Petersburgo).
          O intúito é bem diverso. Fala-se muito no decline (declínio) dos Estados Unidos, e George Packer é um dos escritores que tem dado a atenção devida ao tema.  Existem diversos sintomas desse processo, com partes do interior americano esvaziadas, e tudo seria decorrência da estúpida empresa de George W. Bush, com seus bilhões de US dollars torrados na guerra contra Iraque e Saddam Hussein. Além de não descobrir o esconderijo das WMD (armas de destruição em massa), o que os artífices dessa expedição insana lograram foi dar início a processo que já acometera outras grandes potências no passado, como o Reich alemão[3].
        A menção ao eventual declínio estadunidense é introduzida com o fim de melhor entender a postura do presidente Barack H. Obama, e a sua alegada ojeriza a aventuras militares, conquanto haja permanecido por toda a sua presidência (2008 - 2016) a expedição no Afeganistão, além de outras operações militares de menor alcance.
        O que é decerto difícil de compreender foi o estranho modo com que o 44º presidente dos Estados Unidos reagiu às diversas indicações colhidas pelos seus serviços de segurança a princípio, da intenção de Vladimir Putin de intervir de alguma forma no processo eleitoral americano, ao ensejo da eleição presidencial de 2016.
       O rancor de Putin contra Hillary Clinton surgira há cinco anos atrás a propósito dos protestos anti-Kremlin na praça Bolotnaya. Segundo ele, a então Secretária de Estado teria dado o sinal para tais protestos. Esse antigo rancor contra a suposta intervenção da Chefe do Departamento de Estado alimentaria a raiva do presidente russo. A própria Hillary atribuiria a sua ordem de intervir na campanha presidencial americana ao "old beef" a que Putin ainda nutriria.
         Assinale-se que Putin detesta Obama, que aplicara sanções econômicas e financeiras a sua curriola , depois da anexação da Criméia e a invasão da Ucrânia oriental. Para a tevê estatal russa, q  ue gospodin Prezident domina por completo, Obama é descrito como "fraco", não-civilizado e um "eunuco". Para Putin, contudo, Hillary seria pior - a encarnação do traço liberal-intervencionista na política externa americana, mais "falcão" do que o próprio Obama, e um obstáculo para terminar as sanções e ao reestabelecimento da influência geopolítica russa.
           Ao mesmo tempo, Putin habilmente lisongeava Trump, que por sua vez era extremamente positivo nas suas asserções acerca da força de Putin e sua eficácia como líder. Em 2013, antes de visitar Moscou para o desfile de Miss Universo, Trump se perguntou, através do twitter, se ele "seria recebido por Putin" e "então se ele se  tornaria o meu novo melhor amigo?" Na campanha presidencial, Trump gostava de repetir que Putin era um líder superior, que havia tornado a Administração Obama um "motivo de risadas".
          Para quem estivesse interessado em medidas concretas, a era digital criara oportunidades que eram muito mais tentadoras do que, por exemplo, o que estaria disponível nos tempos de Andropov. Nesse sentido, tanto o Comitê Nacional Democrata quanto o Republicano ofereciam o que os expertos cibernéticos chamam de grande "superfície de ataque". No entanto, apesar de estarem conectados à política no seu mais alto nível, não dispunham das defesas rotineiramente oferecidas a instituições estatais que lidem com temas de alta sensitividade.
           Nesse sentido, John Podesta, que chefiava a campanha de Hillary e era antigo chefe do gabinete de Bill Clinton, dispunha de muito conhecimento acerca da frágil natureza das comunicações modernas. Como conselheiro sênior da Casa Branca de Obama, conhecia bem os requisitos da política digital. Mesmo com toda essa bagagem, não cuidou de utilizar o instrumento de defesa mais elementar, a verificação de dois graus, para a sua conta de e-mail.
          O  próprio Chefe reconhece que tanto a equipe do Comitê de Hillary, quanto Podesta esbajavam confiança no que escreviam ou clicavam. Recebeu até um e-mail de phishing  (que é fraudulento), originário supostamente do "time do Gmail", que lhe recomendava "mudar a sua senha imediatamente". O nível técnico era tão baixo que o encarregado assegurou "tratar-se de e-mail legítimo".
          A situação americana em termos políticos estava aberta para a chamada dezinformatsiya, que é informação falsa que visa a desacreditar a versão oficial dos eventos. Como os americanos, de acordo com o Centro Pew de pesquisa se achavam mais divididos em termos ideológicos num espaço de duas décadas, essa atmosfera favorecia  a criação de teorias de conspiração: lugar de nascimento de Obama - supostamente o Quênia; origens da mudança climática (fraude chinesa). É de notar-se que Trump, ao lançar a sua identidade política, promovia essas teorias.
              Um general da antiga KGB, Oleg Kalugin, que fugiu em 1995  para os Estados Unidos, acentua a circunstância de que as pessoas em sociedade livre têm as suas próprias opiniões. Segundo ele, é disso que as agências de inteligência procuram tirar vantagem.  Tal estratégia é mais vantajosa para a Rússia, que hoje é muito mais fraca do que a antiga URSS, para entrar em luta geopolítica com uma entidade muito mais forte.
             Em princípios de janeiro, duas semanas antes da posse, James Clapper, o diretor da Informação (Intelligence) nacional, em relatório ostensivo, afirmou que Putin havia ordenado campanha de informação para prejudicar as perspectivas de Hillary ser eleita, fortalecer Donald Trump  e "enfraquecer a fé pública no processo democrático americano"
             Os críticos desse relatório aludiram aos erros das agências de inteligência nos meses que precederam a guerra contra o Iraque, e endossaram avaliações errôneas sobre armas de destruição em massa. Nessa época, no entanto, havia muitas dúvidas sobre o grau de progresso do Iraque em termos de WMD. Tal não ocorreu agora, em que dezessete agências de inteligência concordaram em que a Rússia era responsável pelo hacking.       
             James Clapper, no seu testemunho para o Senado, descreveu um esforço russo sem precedente para interferir no processo eleitoral americano. Além do hacking de e-mails de Democratas, a sua divulgação do conteudo furtado através de WikiLeaks, e através da manipulação da mídia social para espalhar notícias falsas e mensagens em favor de Trump.
              Trump tentou apresentar as críticas ao hacking como "uma caça às feiticeiras". Por outro lado, Yevgenia Albats, autora do livro "Um Estado dentro do Estado", que é a respeito da KGB, disse que Putin provavelmente não acreditava na possibilidade de alterar os resultados da eleição, mas por causa de sua antipatia contra Obama e Hillary, ele fez o que pôde para ajudar a causa de Trump e minar a confiança americana no seu sistema político. Na respectiva intervenção, ele queria que ela reforçasse o seu poder de imiscuir-se nos assuntos americanos. Queria mostrar que, apesar de tudo, os russos podiam entrar na sua casa e fazer o que bem quisessem."

A  Incrível  Cautela  de Obama               
               No que pode ser interpretado como displicência da Administração Obama, Hillary só veio a saber da operação de hacking no começo do verão - nove meses depois que o F.B.I. contactasse o Comitê Nacional do Partido Democrata acerca da intrusão, e desde logo se mostrou relutante, alegando que não queria aparecer como agindo de forma muito forte (sic), pois temia aparecer como muito engajado.
              A série das fraquezas do círculo de Obama e do próprio Presidente começa aí. Na hora em que a candidata do Partido Democrata sofria um inaudito ataque do Presidente russo, nada foi feito de forma pública e ostensiva, como eram as afrontas de Putin.
             Aparecia por primeira vez uma atitude dúbia, fraca, que só pode assemelhar-se àquela do avestruz que enterra a cabeça na areia para fingir que não é com ele. Compreende-se, por conseguinte a amargura e a raiva do círculo da candidata presidencial.
              Um outro presidente - segundo um assessor sênior de Hillary  - teria ido para o gabinete oval e dito: 'Estou falando para vocês nesta noite para dizer que os Estados Unidos está sendo atacados. O Governo Russo no seu mais alto nível tenta influenciar o nosso bem mais precioso, nossa democracia, e eu não vou deixar isso acontecer.'  Segundo tal cenário, uma grande maioria de americanos teria assistido e tomado ciência. De acordo com minha opinião (a do assessor de Hillary) não temos o direito de colocar a culpa do resultado dessa eleição nos pés de ninguém, mas de certa forma gera perplexidade e é mesmo dificil de entender que não tenha soado o alarme máximo na Casa Branca.'
                O jogo de empurra dos assessores presidenciais mais próximos transmite claro desconforto, eis que fica a impressão de que o Presidente Obama não teve a coragem para contrapor-se de forma ostensiva àquela desfaçatez de  Putin, que passara para a afronta pública aos Estados Unidos e seu processo político.
                 Assim, parece chocha a advertência que Obama fez a Putin, em  cimeira do G-20, na China. Para Putin, o calejado agente do KGB, que Obama lhe tenha dito "acabe com isso", e "deixe de se intrometer com a eleição em novembro", senão haverá "sérias consequências".  É difícil saber se isso é timidez, que prefere uma ameaça cara a cara, mas sempre pessoal, do que a responder nos mesmos termos públicos que Vladimir Putin utilizara.
          O caráter ôco das respostas de Obama continuaria depois de Beijing.  Aumentando as evidências da intromissão russa, sob as ordens de Putin,  voltou-se a estudar uma retorsão séria  (informações negativas sobre autoridades russas, inclusive acerca de suas contas bancárias, ou operação cibernética que visasse Moscou). Lá estava, no entanto, o Secretário de Estado John Kerry que ponderou que tais planos poderiam sabotar os esforços diplomáticos para lograr que a Rússia cooperasse com o Ocidente na questão da Síria - tudo isso falharia a seu tempo.
    
          Causas da Vitória de Trump     
                 
            Decerto há outras causas para a derrota de Hillary Clinton. Como se fora uma orquestração inimiga, o Diretor do F.B.I., primo com a sua postura agressiva, quando na primeira apresentação perante a Câmara de Representantes, secondo, com a observação grosseira da alegada desordem nos papéis  do tal canal privado do computador de Hillary, terzo com o inesperado e ominoso anúncio de possíveis novas revelações vindas de outro computador, a do marido separado da Secretária de Hillary, Huma Abedin, feito - estranho acaso! - justamente na data da votação antecipada.
             Quando a expectativa de que alguma revelação surgiria  não se confirmou, o jogo irresponsável de Mr James Comey já tinha produzido  os seus resultados.  Influíu, pesadamente, no período de votação antecipada, e ao fim de contas, nada havia contra a pobre Hillary.
              Sem ser supersticioso, quem não pode duvidar que a deusa Fortuna tudo dispusera para reduzir artificialmente os votos para Hillary, seja na ousada, atrevida mesma intervenção da Rússia por um arrogante Putin, seja no estranhíssimo vedetismo do diretor do FBI, James Comey, máxime no anúncio estouvado de revelações no computador do ex-marido de H.Abedin, revelações que bastaram para influenciar contrariamente na votação antecipada (todas as infrações de Comey ficaram impunes, apesar de irem contra as regras do Departamento de Justiça, a que está subordinado o FBI), e por fim surge a figura ambígua de Barack Obama, que cuidaria de tornar chochas todas as questões que um pouco de energia e sobretudo de empenho certamente trariam mais firmeza e menos timidez para auxiliar a sua leal Secretária de Estado, que esperara talvez um dia obtivesse do cometa Obama que surgira em 2008 para negar-lhe a presidência, mostrasse em 2016 um pouco de esprit de corps, retribuindo com um mínimo de empenho para contrabalançar tantos imponderáveis que favoreceram o incrível candidato  de  Vladimir Putin, que hoje mostra o avesso de o que seria a administração de Hillary Clinton.


( Fontes: Karen Dawisha, Masha Gessen; The New Yorker (Evan Osnos, David Remnick e Joshua Yaffa); Oswald Spengler - Der Untergand des Abendlandes )        



[1] "Putin's Kleptocracy - who owns Russia", New York, Simon & Schuster, 2014.
[2] " The Man without a Face", London- New York, Riverhead Books, 2012.
[3] V. A Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, em 2 volumes.

Campanha contra o EI perto do fim?

                              

        A campanha dos EUA contra o exército islâmico se aproxima do fim? Como se depreende dos despachos dessa guerra, ela se aproxima do final, eis que perduram sob domínio do califa Abu Bakr al-Baghdadi apenas três centros urbanos cercados pelas tropas aliadas, Raqqa e Mayadeen na Síria, e Mossul  no Iraque.  
         A luta fica mais árdua pela resistência desesperada das guarnições, nesses antigos centros urbanos, que são objeto de bombardeios incessantes. Aumentam por conseguinte os túneis e abrigos anti-aereos, dentro do fanatismo dos soldados, que preferem morrer a entregar-se.

         A tática das tropas aliadas e, notadamente, dos Estados Unidos levou a uma campanha de operações orientadas por informações colhidas das mais diversas fontes. É uma guerra de comandos, que, pela maior mobilidade e flexibilidade, se servem de helicópteros Black Hawk e Ospreys V-22, que partem de bases no Iraque, e seguindo informes confidenciais colhidos das mais diversas fontes, alvejam os membros das equipes que atuam junto ao califa Abu Bakr e outros altos comissários de uma hierarquia em processo de aniquilação.
           Este foi o caso de Uzbeki, natural do Tajikistão, que era próximo do chefe do ISIS al-Baghdadi.  O escopo da missão era por isso apanhar vivo  Uzbeki, que saíra de Mayadeen, cidade no sudeste da Síria, que é um enclave do ISIS, e estava regressando para Raqqa, quando foi emboscado pelos comandos.  Uzbeki, no entanto, não foi apanhado vivo, pois ele tentou resistir à captura e, por isso, foi abatido.
          O material que esses elementos trazem consigo (celulares, anotações, laptops) pode ser, por vezes, de grande utilidade para os grupos de operações especiais.

           A campanha contra o exército islâmico não deverá ser breve. E, sob a crescente pressão colocada sobre os centros de Mosul e Raqqa, aumenta o número de elementos do E.I. que buscam refugiar-se no vale do rio Eufrates. Tudo isso tende a indicar que as chamadas operações de limpeza territorial se tornarão mais amiudados, dado o número de militantes do ISIS que tentam formar outros núcleos de resistência.



( Fonte:  The New York Times )

domingo, 25 de junho de 2017

A delação de mão beijada

                                            

         Creio importante a pesquisa do Datafolha sobre a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Não é, decerto,  um bom exemplo que os donos da JBS tenham escapado da cadeia. E o Povo brasileiro não engoliu as desculpas: para 81% dos entrevistados, Joesley deveria ter sido preso (assim como o irmão).
         Tampouco caiu bem que a multa (pagamento de R$ 110 milhões para cada um dos irmãos) substituísse a prisão (que tem sido aplicada até hoje para todos os delatores premiados).
         Assim, sem denúncia formal, os delatores não correm risco de serem submetidos a medidas impostas a outros delatores da Lava Jato, como, v.g., ir para a prisão ou serem forçados a usar tornozeleira eletrônica.
         E as gentilezas não param por aí:  aos irmãos Batista foi permitido que viajassem aos Estados Unidos e pudessem manter o controle das empresas do grupo. Omito outros detalhes próprios de grão-duques russos, quando viajavam para fora dos limites do czar.
          Além disso - e já no regime da pára-legalidade - uma operação cambial bem-sucedida da empresa na seqüência da revelação dos áudios do Jaburu despertou ulteriores acerbas críticas.
          Grave é também julgado pelo colunista Demétrio Magnoli o referendo pelo Supremo do acordo de delação que o atual encarregado da Lava Jato, o ministro Edson Fachin, homologou, apesar das flagrantes ilegalidades de que Joesley antes de delatar oficialmente tenha sido instruído por um procurador e um delegado da Polícia Federal.
           Para o crítico Demétrio Magnoli prevaleceu o esprit de corps, eis que os ministros do Supremo (sete deles) resolveram não desautorizar o Ministro Fachin, assim como antes não desautorizaram a Lewandowski, que jogou a Constituição pela janela ao concordar com o truque do "fatiamento" para preservar os direitos políticos de Dilma.
             Magnoli aponta outras desenvolturas do Supremo. Com efeito, os ministros do Supremo parecem esquecidos que a Constituição de 1988 não admite a cassação judicial de mandatos parlamentares: só os eleitos podem cassar os eleitos. No caso de Eduardo Cunha, o princípio da independência e da harmonia entre si  dos três Poderes da União é validado pelo artigo 2º.
              Já é difícil de aceitar um processo inconstitucional como a "excepcionalidade" invocada por Teori Zavaschi, com as consequências que possa ter no futuro se admitida a supremacia do poder judicial. Nesse contexto, o Ministro Fachin acolhe recomendação do Procurador Geral da República, para determinar a suspensão do mandato de Aécio.
               Se se começar a mexer em cláusulas pétreas da Constituição, a pretexto de emergências, quem poderá negar o cenário dantesco em que "a exceção se converterá em norma, destruindo a independência dos Poderes"?
               O Brasil vive um momento difícil em que a anomia (falta de regras) ameaça o equilíbrio dos poderes. A citação do fatiamento da Constituição com a preservação dos "direitos políticos" da ex-Presidente Dilma Rousseff já mostrara o perigo do desrespeito à Constituição - que passara em brancas nuvens.
                Passou por aqui não faz muito Mads Jon Damgaard Andersen, cientista social e especialista dinamarquês no combate à corrupção. Ao partir, disse ele que "em dez anos, talvez a ideia de jeitinho mude". Não será acaso pouco tempo?




( Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo )