sábado, 24 de junho de 2017

A Ditadura na Venezuela

                                 

       Por demasiado tempo, a O E A se abstém de rotular o regime venezuelano de ditadura. Enquanto isso, as forças militares que o Governo Maduro emprega para combater os protestos e as manifestações populares utilizam armas mortíferas.
      Demonstrar contra o regime Maduro constitui, no entendimento das forças militares que o apóiam, um ato perigoso e passível de pena de morte.
       Não será David Jose Vallenilla, de 22 anos, o primeiro manifestante a cair fulminado pelas balas assassinas das tropas repressoras. O pai de Vallenilla, que foi chefe do motorista de ônibus Nicolás Maduro, assim se dirigiu ao atual presidente: "Nicolás, você conheceu meu filho, quando ele era criança."      
        Desde muito a Venezuela deixou de ser uma democracia. E, no entanto, continua a ser tratada como tal, no seio da Organização dos Estados Americanos.
        Não será pela hipocrisia que a OEA  preserva a democracia em país onde o direito de demonstrar oposição a um regime sanguinário é passível de pena de morte, administrada de modo fulminante por uma guarda pretoriana, para quem todo manifestante representa grave perigo para a ordem estabelecida, e por isso deve morrer?
        A OEA poderia, decerto, utilizar o avestruz como símbolo de sua postura de fingir que a Venezuela de Maduro continua a ser democracia. O próprio presidente, horas antes da invasão do apartamento no bairro de Altamira, gritou pela televisão, que haveria uma operação em um "local clandestino" onde estariam ocorrendo encontros "subversivos".
        Em entrevista à imprensa a corajosa líder opositora Maria Corina Machado - que disse ter sido agredida na invasão - qualificou a operação  de "um sequestro de cidadãos em sua própria residência, atitude própria de uma ditadura." E continuou ela: "por volta das vinte horas, ficamos sabendo que havia uma operação de busca em uma residência em Altamira. Descobrimos que se tratava da casa de Aristides Moreno, onde vários membros de diferentes partidos da Unidade (oposição)  haviam feito algumas reuniões nos últimos dias  para coordenar as ações em favor da democracia".
        Continuando em seu relato, Maria Corina reportou que foi com um grupo de opositores ao local. "Ficamos diante de uma barreira de funcionários do Sebin (serviço secreto), que eram mais de cinquenta com vários veículos. Ao nos aproximarmos, pudemos ver que estavam levando detidos o sr. Aristides Moreno e Roberto Picón, o diretor técnico da MUD".
         Até ontem à noite, o paradeiro dos dois era desconhecido.
         Desde o início de abril, protestos vem ocorrendo diuturnamente em diversas cidades da Venezuela. Dentro da legalidade ditatorial,  entrou em ação o Judiciário - que é ligado ao chavismo - e reduziu (sic) a competência da Assembleia Nacional, por essa haver passado ao controle da Oposição.
         No relato de Maria Corina, se vê o caráter ditatorial dos órgãos instrumentalizados pelo regime de Maduro. Assim, para Corina "os líderes dos partidos democráticos estão exercendo o direito à reunião, que é um direito constitucional e um direito humano (sic). Na Venezuela - sempre de acordo com Maria Corina - as garantias não foram suspensas, portanto temos pleno direito a nos reunir como dirigentes de diferentes partidos políticos.
          É de assinalar-se o tom defensivo adotado pela deputada Maria Corina. Não há, contrario sensu, indicação mais forte da índole autoritária e golpista do governo Maduro, e também da relativa fraqueza da oposição.
           Por outro lado, o Sebin (serviço secreto do governo Maduro) prendeu em bairro próximo quinze jovens que organizavam protestos contra o regime  para a manhã do dia seguinte.  Três desses jovens foram detidos na invasão de apartamento no bairro de Los Palos e mais outros doze  em uma praça próxima, onde armazenavam alimentos e remédios (material decerto subversivo na Venezuela da escassez da atualidade), os quais seriam distribuídos nos protestos do dia seguinte.

            Enquanto a OEA continuar na sua política de maneirosos protestos, fingindo que a Venezuela de Maduro não é  ditadura, nem some com opositores, como é o caso de Leopoldo López, torturado e detido em uma cadeia de criminosos comuns, o combate a esse narco-regime será fraco e em nada tenderá a criar condições para que o processo do recall seja ativado - de forma a pôr fim a essa ditadura criminosa e corrupta.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: