domingo, 11 de junho de 2017

Trinta e nove degraus (1)

                                              

        A decisão da sexta-feira do Tribunal Superior Eleitoral de absolver a chapa Dilma Rousseff - Michel Temer levantou debate sobre a necessidade de uma Justiça Eleitoral a título permanente.
2.     O órgão tem orçamento para este ano de R$ 2 bilhões, custa R$ 5,4 milhões ao dia para os cofres públicos (V.ONG Contas Abertas). Como seria de prever, a maior parte se destina ao pagamento de pessoal (permanente).
 3.       "Em nenhuma democracia importante do mundo, tem Justiça Eleitoral", assinala o deputado Roberto Freire,  para quem o ambiente para discutir a extinção da Corte está posto. "A discussão era isolada, mas agora vai ganhar adeptos
4.        O ministro Aloysio Nunes fará uma defesa enfática, na reunião de segunda, pela permanência do PSDB no governo Temer.
5.         A expectativa para a reunião do PSDB é de que o ex-presidente FHC atue como um conciliador para impedir que o racha no partido se aprofunde.
6.     O PSDB deve antecipar eleições para tirar, em definitivo, Aécio Neves do comando tucano. O governador  de Goiás, Marconi Perillo, poderá ser o indicado.     
7.           Sobre a decisão de não responder  às perguntas enviadas pela Polícia Federal para o Presidente Michel Temer,  "O questionário é um acinte a sua dignidade pessoal e ao cargo que ocupa", assim se manifestou o advogado de defesa do Presidente, Antônio Mariz Oliveira. 
8.            A Federação das Associações dos Advogados do Estado de S. Paulo (Fadesp) questionou a decisão do Ministro Edson Fachin, na petição 7003, que homologou acordo de delação premiada firmado entre executivos do grupo empresarial J&F e o Ministério Público. Segundo o decano Celso de Mello, o habeas corpus não pode ser utilizado para tal finalidade, uma vez que este instrumento processual visa a tutela da liberdade individual.  Nesse contexto, o decano ressaltou outra inviabilidade do habeas corpus: ter sido formulado em favor de um grupo indeterminado de pessoas, "o povo brasileiro".
9.               Assinale-se que a FADESP buscava invalidar a decisão do Ministro Fachin e, por conseguinte, que se autorizasse a continuidade de ações penais e oferecimento de novas denúncias contra os delatores, assim como eventual prisão processual. Para a Fadesp, o acordo foi firmado fora dos termos legais e, por isso, não deveria ter sido homologado.
10.               É de frisar-se que a homologação da delação da JBS ocorreu no dia dezoito de maio e deu validade jurídica ao Acordo, permitindo à Procuradoria-Geral da República pedir novas investigações.
11.              Esta delação mergulhou o Governo Michel Temer em sua mais grave crise. O Presidente é alvo  de inquérito na P.F.  que o põe sob suspeita de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça.
12.                   Acionistas e executivos do grupo dos irmãos Batista gravaram diálogos com Michel Temer, com o Senador Aécio Neves (PSDB-MG) e com o ex-deputado federal e ex-assessor  do Presidente da República Rodrigo da Rocha Loures (PMDB-PR), atualmente preso no presídio da Papuda em Brasília.
13.             Como é de amplo conhecimento, o Presidente Michel Temer não respondeu às 82 perguntas que lhe foram enviadas pela Polícia Federal, no inquérito da Operação Lava Jato, em que é investigado por corrupção passiva, organização criminosa,  e obstrução de Justiça. Nesse sentido, a defesa pediu ontem, nove de julho, o arquivamento do inquérito.
14.                   Em petição entregue ao Ministro Edson Fachin, Temer ataca em catorze páginas as perguntas que lhe foram dirigidas nos autos do inquérito da Operação Patmos. Na aludida peça, o causídico Antonio Cláudio Mariz de Oliveira as classifica como "verdadeiras bisbilhotices". Diz a propósito o advogado que Temer foi "coadjuvante (sic) de uma comédia bufa, encenada por um empresário e criminoso confesso".
15.                          Note-se que uma das estratégias da defesa a cargo do Dr. Mariz de Oliveira é ganhar tempo:  com efeito, pediu um prazo de resposta maior  do que as vinte e quatros horas iniciais dadas na Segunda-feira.
16.                          Com efeito, o Palácio do Planalto já espera o agravamento da crise política nos próximos dias, com a provável apresentação de denúncia contra o Presidente da República, por parte do Ministério Público.
17.                         Se o Ministro Fachin negar o pedido protocolado pelo Dr. Antonio Mariz de Oliveira, e resolver prosseguir com a investigação, o Presidente Michel Temer recorrerá e buscará valer-se de todas as medidas cabíveis para permanecer no poder.
18.                          Em 48 tópicos encaminhados ao Supremo Tribunal Federal,  o Dr. Mariz de Oliveira sustenta que o Presidente Michel Temer é alvo de "rol de abusos e de agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de mandatário da Nação que colocam em risco a prevalência do ordenamento jurídico e do próprio Estado Democrático de Direito".
19.                         Nesse sentido, o defensor Mariz de Oliveira destaca que o Presidente Temer "agora está sendo objeto de uma inquirição invasiva, arrogante, desprovida de respeito e do mínimo de civilidade."
20.                               Dessarte, em uma sucessão de blocos, o defensor do Presidente da República explica porque o Presidente não responderia às aludidas perguntas.
21.                              Sobre as relacionadas com o áudio,  o Advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira disse que por conta da "ilegitimidade" da gravação não poderia respondê-las.
22.                        Sem embargo, mesmo sem responder, Mariz diz  que "o interesse do Presidente, declarado desde o início, é de que haja uma investigação que coloque às claras a verdade dos fatos". Entretanto, para ele, "é inadmissível que se faça uma avaliação desses fatos precipitada e maculada por paixões políticas ou ideológicas ou por partidarismos de quaisquer espécies."
23.                         Sobre a delação dos executivos do grupo J&F, "empresários confessadamente delinquentes", a defesa afirmou que se baseou em "gravação clandestina " .
24.                                E, dessarte, completou o Dr. Antonio Cláudio Mariz de Oliveira a defesa do Presidente Michel Temer: " O questionário demonstra que os trabalhos investigativos, diante da ausência de elementos incriminadores, perderam-se no caminho."
25.                                No que concerne à outra figura alegadamente chave neste processo, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) escolheu de início o silêncio como estratégia de defesa. Nesse sentido, o ex-deputado e ex-assessor especial do Presidente Michel Temer, resolveu não responder a nenhuma pergunta dos delegados federais no inquérito da Operação Patmos.
26.                                  Assinale-se, por oportuno,  que o ex-deputado Rocha Loures foi preso no sábado passado, por ordem do Ministro  Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Com efeito, em ação controlada pela Polícia Federal (PF), foi ele flagrado na noite de 28 de abril p.p., correndo por uma rua no bairro dos Jardins, em São Paulo, carregando  mala com R$ 500 mil em dinheiro - que, de acordo com a Polícia Federal, seria propina da JBS.
27.                                 A partir de interceptações telefônicas e de outros dados, a tese dos investigadores é que esta soma teria o Presidente Michel Temer como destino, o que o tornaria alvo de inquérito por suspeita de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de justiça.
28.                                          De acordo com o inquérito, a propina da JBS, que teria sido paga em troca de apoio a demandas do interesse do grupo em órgãos do Governo, seria semanal e se estenderia por até vinte e cinco anos. Ainda de acordo com que teria sido dito pela voz de Rocha Loures, no grampo da Polícia Federal, assim ficaria garantida a "aposentadoria" de Michel Temer.
29.                                       Segundo terá transpirado, o ex-deputado e ex-Assessor do Presidente Michel Temer na Presidência, Rodrigo Rocha Loures, estaria disposto  a fazer a delação premiada.
30.                                        É de notar-se, outrossim, que o ex-deputado e ex-assessor presidencial, encontra-se na Prisão da Papuda, no Distrito Federal. Ali teve o cabelo cortado, segundo uns, por determinação carcereira, segundo outros por causa do calor. Consoante a respectiva esposa, o corte lhe teria feito bem.
31.                                        Dada a manifesta relevância da eventual delação premiada do ex-assessor presidencial, e qual será a respectiva implicação para o futuro, pairam no ar - como diria o velho Aporelli - não só os aviões de carreira, dada a manifesta relevância para o caso,  no que tange às perspectivas do mandato de Michel Temer.
32.                             Por outro lado, o Palácio do Planalto já trabalha com a possibilidade de que o ex-Ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) venha a ser o próximo alvo da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal, em investigações.
33.                                        Segundo interlocutores do Presidente Michel Temer, ele vem sendo "atacado" com o objetivo de desestabilizar o Governo. Nesse sentido, nesta semana, o ex-ministro foi intimado a depor como testemunha no inquérito ligado a Michel Temer.
34.                                        Qual o objetivo da nova investigação?  Geddel estaria sendo investigado pelo suposto recebimento de "vantagens não-contabilizadas" de parte da construtora Odebrecht, no que tange a campanhas eleitorais em 2006 e 2014. Tais pagamentos, consoante o Ministério Público Federal (MPF) tinham sido contabilizados como contrapartida ao apoio de Geddel à aprovação de Medida Provisória e em contratos relativos  ao Transporte Moderno de Salvador II (TMS II).
35.                                 Segundo consta, a investigação foi aberta com base em delações premiadas de três ex-executivos da Odebrecht: Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo, Cláudio Melo Filho e João Antônio Pacífico Ferreira. O caso foi encaminhado em abril, para a Justiça Federal, na Bahia, com cópia para a Procuradoria da República no Estado, porque o ex-Ministro não tem mais foro privilegiado. Com efeito, Geddel deixou o governo em novembro de 2016, após denúncias de que teria pressionado o ex-Ministro da Cultura Marcelo Calero a liberar a construção  de um prédio nos arredores de área tombada em Salvador.
36.                                  Questionado pelo Estado de S. Paulo em fins de maio, o ex-Ministro Geddel Vieira Lima assim se expressou acerca da hipótese de fazer delação: "Isso é uma canalhice, um desrespeito, uma indignidade", declarou ele à época. Agora o ex-Ministro afirma que não comentaria.  Já o advogado de Geddel não foi encontrado.
37.                                          Apesar da alegada má-fama deste novo instituto penal, vale dizer a delação premiada, as reações das personalidades porventura envolvidas por sua capacidade de aliciamento tendem a seguir os parâmetros indicados pelo quadro abaixo descrito.
38.                                           A princípio, desenha-se a rejeição, que semelha ser firme e resoluta. Mas, lenta e gradualmente, as vantagens da delação, por mais calhorda que ela pareça, tem o condão de insinuar-se no pensamento, pois, não é que aliviam do cárcere a pesada carga, e, em certos casos, até a fazem dissipar-se no ar, como nas folhas madidas pelo orvalho? 
39.                                          Chegamos afinal aos trinta e nove degraus  do filme de Hitchcock. Para uns, travessia breve e fatal.  Para outros, o condão da surpresa.                        



[1] Primeiro grande filme de A.Hitchcock

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