quarta-feira, 21 de junho de 2017

Theresa May se salvará ?

                              

         Terá acaso a Primeira Ministra Theresa May pensado que Margaret Thatcher seria o seu fanal? Comparar a experiência havida em cuidar dos pobres imigrantes por um largo período não é indicação suficiente, nem comparável para o lidar com pulso firme, e por longos anos, na torre de comando da velha nave britânica.
          Como ressalta o editorial do New York Times, nada mais inútil do que a sua convocação de eleição de todo desnecessária, para ela e o próprio partido Conservador, que já dispunha de confortável maioria.
          Ela agira pensando talvez iniciar o triunfal caminho de seu ídolo, com grande imprudência, esquecendo a pequena visão de quem adentra picadeiro de leões e hienas enfurecidas.
          Sem embargo, ela ainda se agarra aos farrapos da própria húbris, ao mal receber os flagelados da tragédia do high rise, em que as mortes sobem a pelo menos 79 infelizes, vitimados pela indiferença do Estado, albergados que estavam em disfarçado cortiço de pouca segurança, demasiado distante do controle do Estado e de singelos instrumentos, como os sprinklers que decerto salvariam muitas vidas.
           Ela talvez seja a Primeira Ministra adequada para a Inglaterra do brexit, arrotando arrogância e aquele rijo, insensível lábio superior diante dos continentais de Bruxelas. A medida do poder é, no entanto, terrível, quando quem se crê acima dos pobres mortais e dos continentais de Bruxelas, se vê, num repente, pendurada no frágil ramo das passadas ilusões, que ora se voltam contra ela, com os risos nem tão disfarçados diante da peripeteia que ela, tola que foi (como diria Homero) estupidamente criou.
             Agora ela tem pela frente a negociação com um partido protestante da Irlanda do Norte, que vai vender-lhe muito caro os votos de que precisa para remendar o apoio que antes desdenhava. De altiva e arrogante, mandando a torto e a direito, agora mede as palavras, e se curva até diante de personagens menores, mas que dispõe de votos de que ela carece e muito.
              Mas não pensem que ela é uma boa aluna. Não é que ainda tratou mal os flagelados do incêndio do high rise?
             Quem pensava ditar as cartas, deixou-se embair por maus conselheiros, que lhe recomendaram o hard brexit, de quem estultamente rejeita todo um mercado. Agora, não lhe faltarão as rugas nem o ar tristonho para pedir por uma nova situação, a quem antes pensava desfazer-se num gesto largo e inconsequente de tudo o que haviam construído os seus longínquos antecessores, que tão logo se viram livres do velho general de Gaulle, que lhes barrava a porta do então Mercado Comum, trataram de rápido negociar acordo com a gente de Bruxelas.
            O predecessor imediato da May, David Cameron, parecia igualmente tratar a presença no Mercado Comum, como algo de somenos relevância, e por isso cometeu a estultície de utilizar o referendo sobre a permanência em Bruxelas como se fosse problema menor, com que se retardaria algum ítem mais espinhoso da agenda interna.
             Zeus não costuma tolerar os tolos, máxime aqueles que chegam a altos postos por insondáveis caminhos.
             Mas quem olhar hoje para a face enrugada de Theresa May, aí verá, com os rasgados riscos da divindade, as ruínas do orgulho das mentes pequenas que foram longe demais.


( Fontes:  The New York Times, Homero )

Nenhum comentário: