terça-feira, 7 de novembro de 2017

Por que tantas ruas desertas de noite ?

                        

         Você tem saído à noite, ultimamente? Acaso não terá ficado inquieto em ver tantas ruas, antes movimentadas,  agora desertas, às vezes sem vivalma?
          Taxistas me dizem que não mais costumam sair com o carro de noite, o que faziam antes, ora enjeitando as boas corridas da tabela 2.

           Não é necessária muita pesquisa para que alguém se dê conta de que muitos 
restaurantes e até  bares estejam às moscas ou mesmo fechados.
            Será por falta de público que tantos estabelecimentos se encolhem e se fecham?

           Onde andam os notívagos, os boêmios,  os alegres amigos da noite,  que sempre foi o regaço dos casos e  dos namoros e a oportunidade de fruir das suaves  atmosferas que, marcadas pelos contrastes de luzes e de sombras, facilitam  romances e as chamadas amizades coloridas ?

            O Rio é a cidade dos muitos táxis.  Mas segundo me contam,  isso é coisa de antes. 
            À noite aqui trafegam as enormes carcassas de ônibus, umas  reluzentes,  outras não. Mas se prestares atenção,  não são tantas assim.         
         
          Paris é conhecida como a Cidade Luz.  Como os raios de Thomas Edison trazem a sensação do conforto e da segurança.  Segurança?  Se faltam taxis e outras conduções,  por que tantos se escondem?
          
       Nas lôbregas calçadas,  nas adensadas sombras em que o vento agita de leve  as copas das árvores que ainda restam,  passam os estreitos olhares de transeuntes que não passeiam, mas na verdade correm, quiçá temerosos desse vazio que se espalha na noite.
         Se deparas à tua frente  uma longa, comprida e deserta calçada,  será que alguém se habilita a flanar sob a leve carícia de ramos embalados por um vento que por vezes se encana nos desertos logradouros e nas descarnadas praças em que os bancos estão reservados para mendicantes,  craqueiros e a ocasional  falante figura, que breve se vê escorraçada  por um estranho amplexo de folhagens, temores e aquele vazio, diante do qual até o valentão de plantão decide partir em retirada ?

    
         Não será a censura que riscará das páginas da vida e do estranho costume de passear ao leu o ocasional boêmio.  Não, pois a democracia tratou de escorraçar os vultos de antanho,  que andavam por aí, sem inquietudes nem temores, respirando fundo o úmido ar da noite pressaga, em que mergulhavam os próprios pensamentos e quem sabe a idéia travessa de algum conto ou até mesmo esboço de escrito com o vagar de antanho, as próprias ilusões de redescobertas paragens no submundo das letras,  daquele que enjeita os táxis de tabela dois e se ouve acaso um repentino miar ou arisco latido,  dirá, sem sequer os olhos levantar, 
            
            'olhe só, seu Joca, já estou chegando perto da toca...'                              

Um comentário:

Mauro disse...

Bela crônica, Pai. Capta com perfeição a tristeza que só quem conheceu outro Rio ora experimenta.
Pergunta: de onde vem a citação Joca/toca?