quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Discurso de Theresa May

                                                

       Concordo com o intróito do artigo de Andrew Rosenthal no Times de hoje. Tampouco os meus leitores desconhecem  minha postura crítica diante da atual Primeiro Ministro inglesa. Theresa May, talvez mais à conta de  inexperiência do que por política, cometeu sérios erros na costura de seu apoio para o gabinete. E tampouco discordo da impropriedade do Brexit, estapafúrdia idéia do último verão passado, que está na contracorrente  das posições britânicas cimentadas no século passado, que nunca foram carne para ser jogada às mediocres dificuldades dos tampouco brilhantes chefes de gabinete de fins do século XX e princípios do XXIº.
         Uma vez colocados tais pressupostos, ninguém tampouco me há de crer como fã de carteirinha de gospodin  Vladimir  V.  Putin.  A sua relação com o novo presidente estadunidense - que, na verdade, imita a velha expressão do poeta Drummond de Andrade - o claro Enigma - para mim, com o otimismo daqueles que não descrêem  da possibilidade de a história vir a ter, pelo menos em algumas vezes, um final moderadamente feliz - é tão óbvia que dispensa maiores interpretações.
          E é por isso que a tranquilidade do atual morador da Casa Branca é uma condição tão lábil quanto as rituais previsões para as estradas que afrontam as alturas, os desfiladeiros  e os montes nevados.
          A importância das palavras de Theresa May em seu discurso desta segunda-feira,treze de novembro, não pode ser ignorada, pelo simples fato de que o posto de líder do mundo livre está por ora vazio: " São as ações da Rússia que ameaçam a ordem internacional da qual todos dependemos. Quero ser clara acerca da escala e natureza dessas ações. A ilegal anexação da Criméia pela Rússia marcou a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial em que uma nação soberana tenha tomado território pela força de outra nação na Europa. Desde então, a Rússia tem fomentado a violência na bacia do Don, violado repetidamente o espaço aéreo de várias nações européias e realizado uma sustentada campanha de espionagem cibernética e de desestruturação da informação. Isso incluiu intrometer-se em eleições, no hacking do Ministério da Defesa dinamarquês e no Bundestag, dentre muitos outros. Está procurando tornar a informação arma de guerra, valendo-se de sua mídia estatal para plantar estórias falsas e imagens fotograficas adulteradas em tentativa de semear a discórdia no Ocidente e sabotar as nossas instituições."
          Em resposta, Theresa May pareceu churchiliana na sua mensagem para o Kremlin: "Nós sabemos o que você está fazendo e que não terá êxito,  porque V. subestima a capacidade de recuperação de nossas democracias, a permanente atração das sociedades abertas e livres, e o compromisso das nações do Ocidente com as alianças que nos unem."
           Não está errado o articulista quando define como simples a mensagem de Trump para o Kremlin (em verdade, para Vladimir Putin): faça o que quiser.
           Quanto ao fato de que Trump acredita na sinceridade de Putin ao negar tentativas russas de intrometer-se nas eleições americanas, e que estaria cansado de interrogá-lo sobre isso (se ele o terá feito algum dia). Tampouco levantará a questão dos direitos humanos com Putin, e quer trabalhar com ele na Síria, malgrado a circunstância de que o presidente russo tem por escopo consolidar o poder de um sangrento ditador.
            É de notar-se também que a Administração Trump ignorou um prazo colocado pelo Congresso para explicitar como serão implementadas as sanções contra a Federação Russa por seu ataque cibernético à democracia americana. Ao invés disso, Trump gastou seu tempo tentando sabotar as investigações russas, que ele chama de caça às feiticeiras, não obstante a lista de contatos entre os assistentes de Trump e os russos continue a crescer.
              Na verdade, não é essa a trilha a seguir.  Uma criatura não costuma nunca voltar-se contra o seu criador. Se alguém ainda tem dúvidas quanto às motivações de Donald Trump, é aconselhável que espere a corrente investigação pelo Special Counsel Robert Mueller III.


( Fonte:  The New York Times, artigo por Andrew Rosenthal )      

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