Para quem estivesse desinformado
sobre como avaliar as reações respectivas nos cortes de pessoal
diplomático da Federação Russa e dos
Estados Unidos da América, e além disso ignorasse a importância respectiva na política
mundial, e somente dispusesse dos
indicadores das medidas e contra-medidas, não haveria qualquer dúvida de que os
EUA seriam, para tais observadores, a
potência menor e a Federação Russa a
nação mais forte, aparecendo como intimidadora, avultando sobre a fraca reação
estadunidense.
O Embaixador Michael A. McFaul[1],
referindo-se ao entrevero, diz notadamente: a expulsão de 755 funcionários tem
impacto muito maior em nossas relações diplomáticas com a Rússia, do que a ação
de resposta tem nas operações russas nos Estados Unidos.
A diferença é gritante, e se diria
própria de potência menor, diante da ordem de Vladimir Putir de retirada dos tais 755 funcioná-rios americanos de seu pessoal em Moscou. A resposta
estadunidense é daquelas que dá uma dor no pescoço dos diplomatas americanos,
eis que manda Moscou fechar o Consulado
em São Francisco e dois anexos diplomáticos, em Washington e New York.
Mas quem parece controlar a
iniciativa não dá a impressão de estar satisfeito com a débil resposta
americana. Gospodin Lavrov, que é o
Ministro dos Negócios Estrangeiros do Kremlin,
deplorou a escalada (sic) de tensão nas relações bilaterais e, não satisfeito,
disse ainda que o Governo russo estudará a medida antes de decidir sobre como irá responder.
Sem embargo, o clima de apaziguamento - a
palavra em inglês é appeasement e me parece desnecessário recordar o que esse
vocábulo traz à superfície em termos de política internacional.
Mas as diferenças nas respostas das
duas potências não param aí. Enquanto Vladimir Putin anunciou o corte ao vivo,
em horário de ponta na tevê russa, o Presidente Trump preferiu delegar a
resposta ao Secretário de Estado Tillerson, cabendo a explicação da medida a um
funcionário de nível médio no Departamento de Estado.
Como se deveria explicar, no
entanto, a postura do Presidente Trump, quando perguntado sobre a ação russa de
reduzir o pessoal americano na missão em Moscou?
Trump chegou a expressar a gratidão
(sic) ao invés de irritação (anger)
para com o Sr. Putin, quando perguntado sobre a ação russa de reduzir o pessoal
diplomático americano na embaixada em Moscou.
Se interpretada à risca, não é
decerto página das mais edificantes para a imagem americana: "Quero
agradecer (a Putin), porque estamos tentando reduzir a folha de pagamento, e na
medida em que isso me diz respeito, estou muito agradecido de que ele haja
retirado um número grande de pessoas, porque a nossa folha de pagameneto ficou
menor".
Pelo exagero na deferência, mais parece tentativa
de ironia, ou até mesmo de sarcasmo, de parte do Presidente Trump, ao
apresentar dessa forma faceciosa o corte determinado pelo ukase[2]
de Putin. De toda maneira, o presidente americano anda em terreno perigoso, ao
debochar do trabalho dos quadros diplomáticos americanos, num enfoque de
resposta muito diverso da tardia reação de Obama, que castigara Putin pelo
inaudito êxito em influenciar as eleições estadunidenses.
Não me parece demasiado reportar,
como já referi alhures, que Barack Obama deixara de intervir no processo
eleitoral americano, quando ainda seria possível revertê-lo em favor da
candidata Hillary Clinton.
Mas isso seria chorar sobre
leite derramado, quando por razões ainda não de todo avaliadas - como o
assinalou artigo da revista New Yorker - Obama preferiu manter-se à
parte, em termos de uma ajuda mais incisiva para Hillary. São temas que a
História - essa velha senhora que só costuma entrar em capítulo quando não só
as paixões, senão as motivações se tornaram mais afastadas, mas também menos
determinantes para o geral interesse - tende a olhar com o enfado que só a
distância confere...
( Fontes: New Yorker, The New York Times )
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