sábado, 5 de agosto de 2017

O mesquinho como base

                    
       A política de Donald J. Trump e de seu governo me provoca estranheza. No entanto, por mais torpes que sejam as respectivas forças motivantes de posições determinadas, elas terão a sua coerência, por negativas e mesmo repugnantes que, em essência, sejam tais motivações.
        Não sei se algum dia se apontará, com alguma certeza, as reais causas da 'vitória' nas urnas - ou no que delas foi apurado - deste senhor que pareceria ter sido ejetado de algum sistema desde muito desativado.
        Mas a verdade - essa incômoda componente da realidade que a direita abomina - tem a perversa tendência de repontar sempre, tarde às vezes, eis que leva tempo para a poeira cair e o tumulto e a gritaria,seja em torno dos muros de Tróia, seja na realidade hodierna, em que tais muralhas revestem formatos diversos, que na aparência enganam, mas na realidade pecam por abrir-se à análise e desmontar as desculpas de turno.
         Se por meios confessáveis, ou não - e a coalizão que derrotou Hillary teve como força imantadora a temível pujança da velha direita, que abomina o novo e o generoso na esquerda, pelas perigosas possibilidades de barrar o poder do egoismo e de seu avatar, o chamado conservadorismo, no comando da política.
         Se Trump, pelas suas posturas pode lembrar um bufão, engana-se muito quem menospreza os seus planos e projetos.
        Vejam amigos todos, meus ilustres passageiros desse etéreo bonde que leva anúncios do passado, como as louvaminhas do rhum creosotado, como o grande Donald Trump abomina tudo (ou quase tudo) que do estrangeiro venha.
         Os seus projetos de legislação para imigrantes e assemelhados - que ele pelo visto detesta - muito cedo se assinalaram pelos próprios erros e preconceitos, merecendo ser jogados à poeira dos ínvios caminhos. E também a contrario sensu  a que nos lembrássemos que há justiça neste mundo, vasto mundo, e de seus dignos representantes os há ainda muitos e valerosos  na terra de Tio Sam.
          Agora, mais uma vez se desvela o preconceito desse presidente, republicano e não de arribação, de poucas luzes talvez mas concentradas, e dispondo de pilhas de boa potência, adquiridas em grandes lojas.
          Das cortinas que cercam as estranhas disposições de Mr Trump, não é que principiem a abrir-se?  A sua renovada investida contra os temíveis imigrantes nos ajuda em desvelar um falso mistério.
         Por que tanta mofina prevenção contra essas hordas pacíficas do presente, que buscam na terra supostamente aberta e generosa da América do Norte a perspectiva e a sorte que lhes negam o futuro nos seus torrões natais?
         Pois não é que se verifica que as repetidas negativas de Mr Trump enquanto a imigração diga respeito, respondem a um comando da direita, daquela empedernida, que como único distintivo porta a cor da pele, como se fora bastante para garantir-lhe posses e futuro ?  Por isso essa gente mofina teme qualquer concorrência, mesmo a dos infelizes e perseguidos da Terra!
           Com tal atitude de empedernido e sórdido egoismo negam a postura de seus antepassados, que vieram para a América do Norte tangidos pelos ventos da esperança e da oportunidade, que a Velha Europa, pelo visto, lhes negava.
           Como inglório procurador dos expoentes do egoismo e de mais sentimentos que por tão hediondos em geral são acobertados pelos panos do silêncio - que é a estranha homenagem prestada pela inveja à inteligência e à cultura - não é que Mr Trump se erija em triste monumento ao atraso e às pulsões inconfessáveis. Ele conseguiu eleger-se - pelas proezas de Mr Comey e sabe-se lá quem mais - para ser o representante da gente que se abraça no preconceito e nas pulsões inconfessáveis como a própria modesta chama a mostrar-lhe um caminho que lá dentro deles sabe não merece trilhar,  seja à custa da mesquinharia, do preconceito e da podridão de alma.
             E esta a América (do Norte) que brilhou na mente de George Washington e do punhado de pioneiros que cresceram à sombra desse grande fanal da Humanidade?



( Fontes: The New York Times, Washington Post, Homero e Carlos Drummond de Andrade )

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