A
política de Donald J. Trump e de seu governo me provoca estranheza. No
entanto, por mais torpes que sejam as respectivas forças motivantes de posições
determinadas, elas terão a sua coerência, por negativas e mesmo repugnantes
que, em essência, sejam tais motivações.
Não sei se algum dia se apontará, com alguma
certeza, as reais causas da 'vitória' nas urnas - ou no que delas foi apurado -
deste senhor que pareceria ter sido ejetado de algum sistema desde muito
desativado.
Mas a verdade - essa incômoda
componente da realidade que a direita abomina - tem a perversa tendência de repontar
sempre, tarde às vezes, eis que leva tempo para a poeira cair e o tumulto e a
gritaria,seja em torno dos muros de Tróia, seja na realidade hodierna, em que
tais muralhas revestem formatos diversos, que na aparência enganam, mas na
realidade pecam por abrir-se à análise e desmontar as desculpas de turno.
Se por meios confessáveis, ou não - e
a coalizão que derrotou Hillary teve como força imantadora a temível pujança da
velha direita, que abomina o novo e
o generoso na esquerda, pelas perigosas possibilidades de barrar o poder do
egoismo e de seu avatar, o chamado conservadorismo, no comando da política.
Se Trump, pelas suas posturas pode
lembrar um bufão, engana-se muito quem menospreza os seus planos e projetos.
Vejam amigos todos, meus ilustres
passageiros desse etéreo bonde que leva anúncios do passado, como as
louvaminhas do rhum creosotado, como o grande Donald Trump abomina tudo (ou
quase tudo) que do estrangeiro venha.
Os seus projetos de legislação para
imigrantes e assemelhados - que ele pelo visto detesta - muito cedo se
assinalaram pelos próprios erros e preconceitos, merecendo ser jogados à poeira
dos ínvios caminhos. E também a contrario
sensu a que nos lembrássemos que há
justiça neste mundo, vasto mundo, e de seus dignos representantes os há ainda
muitos e valerosos na terra de Tio Sam.
Agora, mais uma vez se desvela o
preconceito desse presidente, republicano e não de arribação, de poucas luzes
talvez mas concentradas, e dispondo de pilhas de boa potência, adquiridas em
grandes lojas.
Das cortinas que cercam as estranhas
disposições de Mr Trump, não é que principiem a abrir-se? A sua renovada investida contra os temíveis
imigrantes nos ajuda em desvelar um falso mistério.
Por que tanta mofina prevenção contra
essas hordas pacíficas do presente, que buscam na terra supostamente aberta e
generosa da América do Norte a perspectiva e a sorte que lhes negam o futuro
nos seus torrões natais?
Pois não é que se verifica que as
repetidas negativas de Mr Trump enquanto a imigração diga respeito, respondem a
um comando da direita, daquela empedernida, que como único distintivo porta a
cor da pele, como se fora bastante para garantir-lhe posses e futuro ? Por isso essa gente mofina teme qualquer
concorrência, mesmo a dos infelizes e perseguidos da Terra!
Com tal atitude de empedernido e
sórdido egoismo negam a postura de seus antepassados, que vieram para a América
do Norte tangidos pelos ventos da esperança e da oportunidade, que a Velha
Europa, pelo visto, lhes negava.
Como inglório procurador dos
expoentes do egoismo e de mais sentimentos que por tão hediondos em geral são
acobertados pelos panos do silêncio - que é a estranha homenagem prestada pela
inveja à inteligência e à cultura - não é que Mr Trump se erija em triste
monumento ao atraso e às pulsões inconfessáveis. Ele conseguiu eleger-se -
pelas proezas de Mr Comey e sabe-se lá quem mais - para ser o representante da
gente que se abraça no preconceito e nas pulsões inconfessáveis como a própria
modesta chama a mostrar-lhe um caminho que lá dentro deles sabe não merece
trilhar, seja à custa da mesquinharia,
do preconceito e da podridão de alma.
E esta a América (do Norte) que
brilhou na mente de George Washington e do punhado de pioneiros que cresceram à
sombra desse grande fanal da Humanidade?
( Fontes: The New York
Times, Washington Post, Homero e Carlos Drummond de Andrade )
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