Ler mestre Mario Vargas Llosa é sempre oportuno e se o tema de seu artigo da
semana -
A Venezuela Agoniza - não é agradável, ele apresenta versão séria, sem
exageros, em que a própria atenção se volta para o Povo Venezuelano, que é o
grande sofredor nessa antes Tragi-comédia,
e atualmente cada vez mais tragédia,
levada pelas forças da Corrupção e do desenfreado autoritarismo, que são
a triste marca do regime pós-chavista (pois nem Chávez, com todas as suas loucuras,
iria tão longe e tão baixo quanto o seu dito "discípulo" Nicolás Maduro).
Diante de nada trepida esse regime por
ser baixo e indigno. A Odebrecht - que já se marcara tristemente no Brasil
lulista em seu doce aconchego na corrupção - ora continua nesse triste
caminhar, como indicam as notícias do reino de dom Maduro. Com a camisa de
Nessus ela adentra o pântano.
Infelizmente, quando Venezuela e Colômbia
eram os únicos fanais da democracia na América Latina, não se firmou naquela terra forte consciência
democrática.
Lentamente, a frouxidão nos costumes
e na res publica foram invadindo as
aras dos palácios, até que no governo de CAP
- Carlos Andrés Pérez - a insatisfação da população deu o fermento necessário
para tentativa de golpe militar. Foi na
década de noventa, e o tenente-Coronel Hugo Chávez pensou que, na longa lista
dos liberticidas, a porta do palácio de
Miraflores estaria a seu alcance, pois, como, de hábito, o estadista CAP andava em partes estrangeiras.
Mas esse putsch falharia, eis que, mesmo na ausência do irrequieto CAP, houve espírito militar legalista
que se recusou a repetir ali a pútrida estória dos cuartelazos. Recordo-me de
estar na bela Guatemala, quando soube que meu colega embaixador, que ali
representava a Venezuela, mostrara pela voz alteada o estado de espírito de um
que se acreditara livre das passadas aventuras castrenses, o quanto o
desestabilizara aquela inopinada tentativa de golpe.
A presença militar que, de
sólito, tantas vezes interrompe a democracia - ou a sua aparência - nos séculos
pós-independência da América Latina -
marcara o Império do Brasil, seja com o Primeiro Reinado, tão
tempestuoso quanto o seu jovem titular, seja o Segundo Reinado, quando não se
daria a Dom Pedro II o honroso fim que fizera altamente por merecer, após as muitas décadas - depois de
sua maioridade à brasileira, com o Quero
Já! - que o levariam ao quase limiar dos cinquenta anos de serviço ao
Império Constitucional - brutalmente interrompidos com a cavalgada e o ritual levantar
do quépi, tão típico do subdesenvolvimento de América do Sul, e tristemente
merecedora da melancólica observação de político portenho, que contemplara de
longe o fim da democracia republicana, na América Latina.
Ao imperador-cidadão, versado em
línguas e livros, homem justo e democrata, que aguentaria os excessos de imprensa com recaídas pasquinescas, se
acordaria de madrugada, no palácio da Quinta da Boa Vista, para que de imediato,e
a desoras, como se fora um réprobo
qualquer, partisse, e quem o fazia era oficial de baixa hierarquia, pois para
os vencidos - e ali tinham curso as palavras de Breno, vae victis![1],
sem qualquer respeito o escorraçam da terra onde de Leopoldina nascera e
dessarte pensavam diminuí-lo - e desse
modo vil lhe determinaram que do torrão natal partisse, como se fora alguém a
quem desejavam ocultar, por simbolizar legalidade e democracia, duas características que nos
fariam muita falta, ao se dar pronta partida ao triste fenômeno do
subdesenvolvimento de America Latina
- aquele dos pronunciamientos e dos
golpes militares.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, Mario Vargas Llosa )
[1]
O rei gaulês Breno assim se expressa (Ai dos vencidos!) quando os cidadãos da
jovem Roma reclamam das condições a que o invasor os submete. E para enfatizar
- e explicitar - a ordem,ele joga na balança a própria espada, que, na verdade,
constitui a razão e o suporte de sua atitude...
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