quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Cabe ao Congresso cair na real

                         

      Em últimas propostas feitas pelos senhores congressistas, se tem a impressão de que vivam em outro país. Alçar proposta de fundo público de financiamento eleitoral com custo de R$ 3.6 bilhões, é dar prova de, no mínimo, abismal  falta de senso de realidade quanto às finanças públicas, a par de carência acentuada de bom senso, máxime no que tange aos limites aceitáveis  do orçamento.
       Como referido em blogs desta semana, a capacidade do orçamento público está sendo levada a limites não mais suportáveis, a ponto de acarre-tar drásticos cortes em atividades de alto interesse público, como as da defesa nacional. A situação quase falimentar de nossas forças foi descrita com os necessários detalhes no blog de segunda feira, catorze de agosto corrente, em que retrata o drástico corte nas verbas discricionárias das FFAA brasileiras (44,5%!), indo para um irresponsável R$ 9,7 bilhões.
        A História está cheia de países que, no passado[1], julgaram possível economizar com as verbas relativas às suas dotações militares. No momento presente, dada a dinheirama que é gasta com a multiplicação partidária - o que o eleitor pode ver na chamada propaganda política gratúita em programas obrigatórios, acintosamente colocados pelo legislador no horário de maior audiência - aquele reservado ao noticiário, que costuma ser o de maior público - se dá, por conta da húbris do estamento político aos anúncios de partidos em geral desconhecidos, e que são o triste resultado da decisão do Supremo contra a cláusula de barreira.
          Está mais do que hora que o Supremo confirme - o que muitos de seus membros já assinalaram - o pesado erro ao retirar os limites ao número de partidos no Brasil.  Na Alemanha, o partido que não obtém 5% do voto nacional perde a sua representação no Congresso.  Tal ocorre amiúde com o F.D.P. (Frei Deutsche Partei[2]) que costuma ser fiel aliado da CDU (União Cristã Democrática), que é o partido hoje majoritário que sustenta o governo de Frau Angela Merkel.
           Quando tal ocorre, o FDP tende a reagir, regressando nas próximas eleições (o prazo se não me engano é quadrienal), e entrementes a CDU tem que buscar outro parceiro - ou uma grande coalizão com a SPD (Social Partei Deutslands[3]), ou com algum outro partido menor.
             Para evitar essa sopa política de legendas partidárias - todas elas ganham subsídios e, portanto, tem um custo para a União - o Congresso deveria tratar de repropor nova legislação, estabelecendo limites para os diversos partidos, de forma a impedir que haja explosão de legendas (todas elas dispõem de subsídio orçamentário) e que na verdade nada significam politicamente.
              Além de participar das notórias legendas de aluguel, essas associações (que não passam de frentes sem qualquer significação eleitoral) não refletem, na verdade, as pétalas da flor ideológica, como romântica e erradamente (como hoje eles próprios reconhecem) a sua mítica amplitude ideológica, mas na triste realidade, mais um jeitinho no país deles de tirar vantagem da Viúva (no caso, a designação chistosa do Tesouro Público).
                Seria, pois, de todo interesse - tanto público, quanto nacional - que esse festival político seja encerrado, e venha a ser substituído por um número restrito (pelo bom senso e a Lei) de partidos que realmente representem ideológicamente o Brasil. Para tanto, eles não podem continuar a ser o que hoje são - letras que não tem correspondência na realidade, e de que muitos tomam incômoda ciência quando das eleições presidenciais, em que comparecem também grêmios políticos que na verdade só representam os respectivos "donos",  que são aqueles que, a cada quadriênio, surgem na telinha proclamando uma ambição presidencial - e reivindicando fotos com os principais candidatos - i.e., aqueles que tem uma chance real de virar presidente - num teatro, que de tão ridículo nos dá uma dor no pescoço[4], eis que tais senhores - que carregam as chamadas legendas de aluguel - tem chance que beira o zero em virar presidente...
                  É bom lembrar, por fim, que um dos maiores especialistas em reforma política do país, o Ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, reforça o coro contra a aprovação de um fundo público de financiamento eleitoral com um custo de R$ 3,6 bilhões (!). "Em lugar do financiamento, é preciso pensar no barateamento das eleições", disse Barroso à Coluna do Estadão.
         
( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )



[1] A antiga Polônia é um exemplo, e por isso foi vítima de partilhas pelos fortes vizinhos (então Rússia, Prússia e Aústria-Hungria);
[2] Partido Alemão Livre.
[3] Partido Socialista Alemão
[4] aquela dor sentida por Lord Altricham, quando ouvia a então jovem rainha discursar...

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