Recordo-me do primeiro filme que vi de
Jerry Lewis. Na época, fazia dupla com Dean Martin. No entanto, a sua qualidade
cênica era tal que breve a parceria iria desaparecer. As gargalhadas da assistência
são impensáveis hoje.
A inviabilidade de trabalhar
conjuntamente com o grande cômico logo levaria à dissolução do par, porque a
presença cômica de Jerry era tal que o seu parceiro, fosse ele quem fosse,
ficava ofuscado pelo gênio cômico e a sua descomunal presença na tela.
Seria o mesmo de tentar formar uma
dupla com Carlitos. Quando a qualidade
e, por que não dizer, o gênio cômico de um dos parceiros é fora de série, qualquer dupla fica inviabilizada. Como o segundo como que desaparece, a
manutenção da parceria se torna, pelo desequilíbrio, inviável.
Por isso, Dean Martin teve de pedir
as contas. Não dava para contracenar com esse gênio da comédia que era Jerry
Lewis.
Assim, enquanto o sucesso de Jerry
Lewis continuou estrondoso, Dean Martin
que fazia o straight man iria seguir outro caminho.
Há outro aspecto desse grande,
genial mesmo, cômico que merece ser apontado. Apesar de sua grande capacidade
cômica, de sua genialidade mesmo, Jerry
Lewis nunca recebeu, nos Estados Unidos, a atenção e o respeito que lhe foram
prodigados na Europa e, em particular, na França.
Nos Estados Unidos, ele foi
considerado como alguém muito engraçado, mas jamais se lembraram dele para um
Oscar. Ao invés, na França ele recebia uma atenção bem diversa, aquela
reservada aos gênios da comédia. Os famosos Cahiers du Cinéma dedicaram vários estudos sobre o seu talento
cômico e a maneira com que ele se assinalava.
Já nos EUA, não o levaram nunca
verdadeiramente à sério. Alias, Jerry era americano, mas houve um outro grande
cômico que tampouco recebeu da Meca do cinema a accolade que fazia por merecer tantos nos filmes mudos, quanto muito
mais tarde nos falados.
O leitor já deve estar
adivinhando que me refiro a Charlie Chaplin,
que apesar de ser o maior gênio da telona, autor de várias obras primas do cinema, jamais mereceu um Oscar da
Academia, pois não considero que o seu gênio tenha recebido a atenção que
merecia pelo Oscar-consolação, que, em fim de vida, a tal Academia lhe concedeu por conjunto de obra.
O próprio Jerry Lewis, que
morreu com 91 anos de idade, sofrendo inclusive de males advindos da sua
dedicação ao próprio gênero de comédia, sequer teve o refresco de um Oscar por
conjunto de obra cômica, que foi grande e longa.
Terá sido muito pelo seu
estilo de representação, com quedas e cambalhotas que Jerry contraíu a enfermidade que acabaria por
tirar-lhe a graça, eis que só assim, com a morte é que esse outro gênio
da comédia desapareceria de vez.
( Fontes: Cahiers du
Cinema; Cinema Caruso (no Posto 6), Tevê Globo )
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