domingo, 20 de agosto de 2017

Morre Jerry Lewis, gênio cômico

                                    
         Recordo-me do primeiro filme que vi de Jerry Lewis. Na época, fazia dupla com Dean Martin. No entanto, a sua qualidade cênica era tal que breve a parceria iria desaparecer. As gargalhadas da assistência são impensáveis hoje.
         A inviabilidade de trabalhar conjuntamente com o grande cômico logo levaria à dissolução do par, porque a presença cômica de Jerry era tal que o seu parceiro, fosse ele quem fosse, ficava ofuscado pelo gênio cômico e a sua descomunal presença na tela.
          Seria o mesmo de tentar formar uma dupla com Carlitos.  Quando a qualidade e, por que não dizer, o gênio cômico de um dos parceiros é fora de série,  qualquer dupla fica inviabilizada.  Como o segundo como que desaparece, a manutenção da parceria se torna, pelo desequilíbrio, inviável.
          Por isso, Dean Martin teve de pedir as contas. Não dava para contracenar com esse gênio da comédia que era Jerry Lewis.
           Assim, enquanto o sucesso de Jerry Lewis continuou estrondoso,  Dean Martin que fazia o straight man iria seguir outro caminho.
           Há outro aspecto desse grande, genial mesmo, cômico que merece ser apontado. Apesar de sua grande capacidade cômica, de sua genialidade mesmo,  Jerry Lewis nunca recebeu, nos Estados Unidos, a atenção e o respeito que lhe foram prodigados na Europa e, em particular, na França.
             Nos Estados Unidos, ele foi considerado como alguém muito engraçado, mas jamais se lembraram dele para um Oscar. Ao invés, na França ele recebia uma atenção bem diversa, aquela reservada aos gênios da comédia. Os famosos Cahiers du Cinéma  dedicaram vários estudos sobre o seu talento cômico e a maneira com que ele se assinalava.
             Já nos EUA, não o levaram nunca verdadeiramente à sério. Alias, Jerry era americano, mas houve um outro grande cômico que tampouco recebeu da Meca do cinema a accolade que fazia por merecer tantos nos filmes mudos, quanto muito mais tarde nos falados.
                  O leitor já deve estar adivinhando que me refiro a Charlie Chaplin, que apesar de ser o maior gênio da telona,  autor de várias obras primas do cinema, jamais mereceu um Oscar da Academia, pois não considero que o seu gênio tenha recebido a atenção que merecia pelo Oscar-consolação, que, em fim de vida, a tal Academia lhe concedeu por conjunto de obra.
                 O próprio Jerry Lewis, que morreu com 91 anos de idade, sofrendo inclusive de males advindos da sua dedicação ao próprio gênero de comédia, sequer teve o refresco de um Oscar por conjunto de obra cômica, que foi grande e longa.
                  Terá sido muito pelo seu estilo de representação, com quedas e cambalhotas que  Jerry contraíu a enfermidade que acabaria por tirar-lhe a graça, eis que só assim, com a morte é que esse outro gênio da comédia desapareceria de vez.
         

( Fontes: Cahiers du Cinema; Cinema Caruso (no Posto 6), Tevê Globo )

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