quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Luísa Ortega acusa

                    

         Convidada pelo Procurador-Geral, Rodrigo Janot,  a procuradora-geral  da Venezuela Luisa Ortega Díaz, destituída de seu cargo pela Constituinte - que não passa de instrumento da ditadura de Nicolas Maduro - acusou o presidente venezuelano e seus aliados políticos  Diosdado Cabello e Jorge Rodriguez de integrarem esquema de recebimento de propinas de multinacionais de infraestrutura e petróleo.
         Conforme prometera, em Bogotá, antes de viajar para o Brasil, a senhora Ortega deu detalhes sobre o envolvimento de chavistas. Afirmou, outrossim, que encaminhará as provas aos M.P. de Brasil, Colômbia, Mexico, Espanha e Estados Unidos, eis que tudo indica que na Venezuela não haverá investigação.
         O dia da Procuradora-geral em Brasília foi intenso, e nas entrevistas que se seguiram, ela sustentou que o presidente Maduro mantém, em nome de terceiros, uma empresa mexicana de distribuição de alimentos, com contratos para distribuir cestas básicas na Venezuela.  Ortega ainda ligou Diosdado Cabello, talvez o nome mais forte do governo, com a exceção de Maduro, a propinas da Construtora Odebrecht. Nesse sentido, a Procuradora disse haver encontrado  um depósito de US$ 100 milhões em favor de Alfredo e Jesus Cabello, primos de Diosdado, por intermédio da empresa espanhola TSE Arietis.
          Assinale-se que é a primeira vez que tal valor é mencionado, e ele não tem relação com os US$ 98 milhões que a empreiteira declarou ao Departamento de Justiça americano haver pago em propinas na Venezuela.
          A Procuradora-geral era ligada ao Presidente Hugo Chávez, e ela rompeu com Maduro. Na verdade, diante das denúncias com que norteava a própria atuação - a partir do endurecimento político de Maduro e de sua tomada do Tribunal Supremo de Justiça - Ortega passou a ter uma conduta política e da Procuradoria-Geral à medida que se afastava de Maduro. Com a farsa da Constituinte, não houve mais condições  de qualquer autonomia. Nesse contexto, ao preparar-se para abandonar Caracas e a Venezuela, ela fez cópias autenticadas de denúncias contra autoridades venezuelanas.
             "Essas provas eu tenho e vou cedê-las a alguns países para que processem Nicolás Maduro, Diosdado Cabello e Jorge Rodriguez, e todos os que lucraram com essa situação."
                Participando, a convite da presidência, como parte da comissão brasileira  na reunião dos Ministérios Públicos do Mercosul, Ortega disse que há situação de impunidade  no país. "Na Venezuela ocorreu a morte do direito. Aquilo que ocorre lá pode permear toda a região."
                Ao ensejo, Luísa Ortega aproveitou para defender-se  da acusação feita por Diosdado Cabello de que teria participado  de um esquema de desvio de US$ 6 milhões para um banco nas Bahamas - que foi, aliás, um dos argumentos para a sua destituição."Esse banco não existe. Como pode ter havido transferência para instituição que não funciona?"E acrescentou: "O direito penal aplicado na Venezuela é o da perseguição a adversários." 
                 Segundo assinalou a Procuradora,  o valor agregado das obras paralisadas e com suspeita de corrupção no país chega a US$ 300 bilhões.
                  Sabia-se que a residência da Procuradora fora assaltada por agentes policiais. Segundo asseverou, até os bens mais singelos foram levados.  Consoante disse: "Isso ocorreu para impedir a investigação de casos de corrupção nos quais tenho provas, especialmente sobre a Odebrecht, que compromete altos funcionários públicos, como o presidente da República."
                     Partindo da premissa   de que as autoridades de outros países vão empenhar-se "para que se investigue, em virtude do princípio da jurisdição universal. A comunidade internacional tem de assumir esses casos."
                    As acusações da Procuradora-Geral são relevante, eis que o rumo tomado pelos eventos na Venezuela, e o controle das rendas do Estado, por uma verdadeira quadrilha, "compreende-se que não haja espaço para dissidência política  na Venezuela, nem investigações de casos de narcotráfico, terrorismo, crime organizado e corrupção."
                      Criticada pelo chavismo por ter guardado as denúncias durante os dez anos em que ocupou o cargo, a ex-Procuradora afirmou que se opôs ao governo Maduro quando ficaram claras as violações aos direitos humanos. Nesse sentido, Ortega observou que 37 presos políticos são mantidos no cárcere, mesmo depois de a Justiça determinar-lhe a soltura.
                       Segundo disse, o seu processo de destituição pela Assembleia Constituinte levou apenas 32 segundos (sic) e acusou seu sucessor Tarek William Saab, de envolvimento em corrupção.
                        A procuradora reportou-se à circunstância de que recebeu convite de asilo político da Colômbia. Ainda não se decidiu sobre a resposta.  Questionada sobre se apoiaria intervenção militar na Venezuela, respondeu pela negativa: "não quero que meu país sofra mais. Uma intervenção militar traz traumas e isso seria um trauma maior".

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )


     

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