quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Brincando com fogo ?

          

        É difícil determinar  se  o  largo, exultante sorriso reflete todas os matizes no que tange à reação do ditador norte-coreano Kim Jong-un. Cercado por aparentes fantoches de altíssimo escalão, quanto mais próximos e visíveis pelo jovem, nédio ditador, o leitor dificilmente imaginará que tudo na foto programada seja espontâneo,  mas todos, pela idade, terão incontestável juízo, mesmo que estejam submetidos àquela senhora tensão daqueles que 'gozam' da terrível oportunidade de vivenciar os grandes momentos  do Senhor absoluto da Coreia do Norte.
         Por isso, voltarão para casa consumidos pela tensão e o discutível ensejo de privarem das grandes ocasiões desse jovem autocrata. Pelo rosto nédio,  em forma de lua cheia, e os olhos transformados em seteiras medievais,  quem ousaria não exultar diante daquela proeza histórica, toda ela decerto saída da poderosa mente do magno amo, exultante depois de ter apagado no vasto quadro negro da respectiva mente, todas as humilhações - reais e também imaginárias - que este grande senhor dos exércitos (norte-coreanos) frui agora no plano de um prazer extremo - que ouso definir na faixa das façanhas sexuais - que o carrega para níveis que o comum dos mortais jamais terá experimentado.
           E o que diz essa verdadeira lua-cheia, ainda sem crateras nem as cicatrizes de nossa velha Selene - que nos contempla na sua agressiva beatitude, e nos pergunta,  no seu entusiasmo que sequer, da sua beatífica altura, admitiria qualquer cotejo ou comparação com façanhas de toda a índole - do ganho na loteria multimilionária  a outro jackpot de incontável fortuna ? Pelas minhas andanças diplomáticas, e pela Itália em particular, dado o abençoado castigo que me deram os chefes da Casa[1]de passar oito anos (com a família!) nella città eterna, Roma,  eu me atreveria a descrever o rosto beatífico  do Kim com a expressão  "e chi se ne frega?" (quem se importa com isso?)  Para mim, essa expressão quase dialetal de velho romano do borgo (o bairro que abraça o Vaticano) é quase o retrato da alegria juvenil desse grande, enorme líder, até pouco quase desconhecido, e hoje objeto de ingentes tentativas  de entendê-lo.
           E porque me atrevo a descrevê-lo com essa frase romana, que carrega toda a ironia do morador do borgo, aquele ur-bairro aonde se esconde a auto-ironia do romano, que, depois de contemplar a empáfia  do império - o cume do então universo - vivenciou os séculos da Roma dos Pontifices romanos e mais tarde a glória meio fajuta de Mussolini, e enfim, na volta ao borgo, o velho ceticismo de quem viu muitas coisas naquele bairro pobre, e que vê os grandes desse mundo con il distacco della povertà (com o afastamento da pobreza).
             Assim, agora as agências correm atrás do rubicundo senhor, enquanto o antes esquecido líder norte-coreano exulta. Ele, a dizer verdade, não tem nem noção de quanto tempo de glória lhe é concedido. E por isso, ele e sua curriola, exultam a bandeiras despregadas... e, por isso,
                                                            chi se ne frega?   




[1] É assim que os diplomatas de carreira se referem à alta chefia do Itamaraty.

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