Uma das razões pela qual leio a coluna
de Míriam Leitão está na sua coluna de hoje "Crime e escolha".
Concordo com o que escreveu, de forma franca e irrespondível. No Brasil, e mais
talvez do que no de ontem, faz bem ler a sua coluna, sempre pertinente, e
muitas vezes, não suscetível de qualquer contestação - se se está de boa fé -
como diante da exposição, concisa mas ao extremo pertinente, e por conseguinte
justa, da tragédia de Mariana.
Essa tragédia, na verdade, copia outros
desastres, da natureza ou não, que assolaram a nossa terra. E sobretudo na
maneira lenta e burocrática com que é respondida. Disse no meu comentário de ontem, mas de forma incompleta, que a resposta atual
me recordava situações anteriores, quando no caminho da mais alta instância,
ações similares naufragavam em instância intermédia.
Há perguntas irrespondíveis - na situação
presente - na coluna de Miriam Leitão: "Imagine se por um atraso na
suspensão de uma escuta for anulada a ação criminal sobre o maior desastre
ambiental do Brasil e com vítimas fatais? Que informação estaremos
passando? A de que empresas
irresponsáveis podem continuar fazendo o que fazem contra a vida humana e a
integridade do meio ambiente."
E mais adiante, como fecho
irrespondível à sua peroração pela Justiça: "Se o Brasil não punir os
responsáveis pelo desastre de Mariana e ainda fizer um código de mineração
que proteja as empresas, e não o seu Povo, é porque escolheu repetir a tragédia
de Mariana. É uma escolha. A pior delas."
Ao tomarmos conhecimento pelos
jornais de ontem do andamento - ou melhor, da involução - do processo da
tragédia de Mariana, a reação foi de
raiva e de reprovação. Ainda bem que essa força, pela Justiça, que é a de
Miriam Leitão vem colocar os pontos nos i, e completar o que está implícito nas
longas descrições do itinerário jurídico dessa tragédia ambiental, mas também muito
humana. As grandes empresas e seus competentes advogados fazem a sua parte, mas Justiça é e deve ser
cega para as aparências e as mostras de grande competência jurídica.
A verdade, no entanto, não pode
ser a vítima deste mega-processo. Não se pode, com a areia de sofisticadas argumentações
juridicistas, esquecer ou fazer
esquecer que houve vítimas, gente humilde, a que sequer se avisou com uma
rudimentar que seja sirene.
Seria diverso o procedimento se
a jusante surgissem mansões de veraneio
de algum rico aparentado ou não do consórcio das mineradoras.
Já os ponteiros da História não
são tão maleáveis como nos álacres tempos de outrora. A Justiça é para todos e não mais é suposta
curvar-se diante de Mamona.
(
Fonte: Miriam Leitão (O Globo) )
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