quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Miriam Leitão

          

        Uma das razões pela qual leio a coluna de Míriam Leitão está na sua coluna de hoje "Crime e escolha". Concordo com o que escreveu, de forma franca e irrespondível. No Brasil, e mais talvez do que no de ontem, faz bem ler a sua coluna, sempre pertinente, e muitas vezes, não suscetível de qualquer contestação - se se está de boa fé - como diante da exposição, concisa mas ao extremo pertinente, e por conseguinte justa, da tragédia de Mariana.
        Essa tragédia, na verdade, copia outros desastres, da natureza ou não, que assolaram a nossa terra. E sobretudo na maneira lenta e burocrática com que é respondida.  Disse no meu comentário de ontem,  mas de forma incompleta, que a resposta atual me recordava situações anteriores, quando no caminho da mais alta instância, ações similares naufragavam em instância intermédia.
         Há perguntas irrespondíveis - na situação presente - na coluna de Miriam Leitão: "Imagine se por um atraso na suspensão de uma escuta for anulada a ação criminal sobre o maior desastre ambiental do Brasil e com vítimas fatais? Que informação estaremos passando?  A de que empresas irresponsáveis podem continuar fazendo o que fazem contra a vida humana e a integridade do meio ambiente."
         E mais adiante, como fecho irrespondível à sua peroração pela Justiça: "Se o Brasil não punir os responsáveis pelo desastre de Mariana e ainda fizer um código de mineração que proteja as empresas, e não o seu Povo, é porque escolheu repetir a tragédia de Mariana. É uma escolha. A pior delas."
          Ao tomarmos conhecimento pelos jornais de ontem do andamento - ou melhor, da involução - do processo da tragédia de Mariana,  a reação foi de raiva e de reprovação. Ainda bem que essa força, pela Justiça, que é a de Miriam Leitão vem colocar os pontos nos i, e completar o que está implícito nas longas descrições do itinerário jurídico dessa tragédia ambiental, mas também muito humana. As grandes empresas e seus competentes advogados  fazem a sua parte, mas Justiça é e deve ser cega para as aparências e as mostras de grande competência jurídica.
              A verdade, no entanto, não pode ser a vítima deste mega-processo. Não se pode, com a areia de sofisticadas argumentações juridicistas,  esquecer ou fazer esquecer que houve vítimas, gente humilde, a que sequer se avisou com uma rudimentar que seja sirene.
               Seria diverso o procedimento se a jusante surgissem  mansões de veraneio de algum rico aparentado ou não do consórcio das mineradoras.
               Já os ponteiros da História não são tão maleáveis como nos álacres tempos de outrora.  A Justiça é para todos e não mais é suposta curvar-se diante de Mamona.



( Fonte: Miriam Leitão (O Globo)  )      

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