Muito se enganam as instâncias
diretoras do Estado do Rio de Janeiro, se se deixam embalar nessa leda canção de aconchego, que pensam
poder exorcizar as sérias ameaças que pendem sobre essa mui Leal Cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
Até de maravilhosa já a chamaram, mas jamais tivera à sua frente um governo que
não governa, Governador que não lidera,
e um Secretário de Segurança que nos faz lembrar com saudade de quem se chama
Mariano Beltrame, e que depois de gestão bem-sucedida viu o que imaginara seria
o futuro do Estado transformar-se em um pesadelo, em que todos os planos da
própria administração como que esmaeceram e desapareceram, fenômeno que sói
ocorrer em pesadelos, mas que, no presente, por um kafkiano capricho, o que se
pensava pudesse ser o futuro, se
transformou em realidade ao revés, em que se estigmatiza a força da ordem, e se
permite que as realizações do passado se transformem em pesadelos, em imagens
deformadas de perdidas ilusões, com a desejada transformação da favela em bairro citadino.
Tudo o que se disse, se clamou e se
proclamou naquela cerimônia que pretendia simbolizar o futuro do convívio entre
o morro e a planície - e para tanto chamaram as Forças Armadas, e não faltando
o entusiasmo das grandes missões, aquelas que pensam construir um futuro mais
justo e mais harmônico - o que assistimos na verdade estava nas imagens
pressagas dos bandos de foras-da-lei a que, sem molestar, como se fora grupos
de vadios e de malandros, se permitiu partirem às carreiras, levando o que podiam sobraçar, e
em todo tipo de veículo, da caminhonete até a velha carroça, e tudo ladeira
abaixo, levantando a poeira da fuga desabrida, como se ela fosse a do
esquecimento. Julgava-se proscrever
aquela gente como se fosse um bando de moleques, que tomariam modos e melhor
comportamento alhures.
Toda a irresponsabilidade do projeto
se escreveu nas areias daquela picada. Se alguém acaso pensasse que nunca mais
veria aqueles magotes de gente fora-da-lei - e este pensamento perpassou a
consciência de muitos - por que, de repente, tudo nos aparecia demasiado fácil,como aos espectadores que
aquele fim da cerimônia - que congregava as três forças militares - surgia como
um encerramento às carreiras, de afogadilho, que contrariava a grande mensagem
que as altas autoridades davam a impressão de querer transmitir à população
carioca.
Vamos pacificar as favelas,
assim como estamos cuidando do Alemão. Tudo em clima de festa, com muita
alegria e regozijo. De repente, e não só nos bairros do conjunto do Alemão, mas
toda a esperança e o entusiasmo que nascera com a favela integrada na Cidade
grande, como se iniciara no Morro de Santa Marta, e se espalhara, como uma
mancha de esperança e de paz, em muitos
bairros, vizinhos de favelas, que ora passavam a comunidades com lei, como, v.g.
no Pavão-Pavãozinho, em que com a UPP cessaram os tiroteios e a insegurança -
que se sente mas não se vê - nas ruas da cidade grande que são vizinhas, e que,
como grandes espelhos, refletem fielmente o clima que lá em cima prevalece,
como se verificou na paz que baixou na Saint Romain, na Sá Ferreira, e em
tantos outros quarteirões de súbito revividos, sob o impulso da perspectiva
enfim de tempos melhores, de paz, de silêncio citadino no morro e nos
quarteirões a que o asfalto visita.
Cariocas que somos, por
nascimento ou adoção, não diferimos demasiado das gentes de outras cidades e
outras terras. Saudamos a paz quando ela existe - e ela perdurou por um bom
tempo. No entanto, pouco a pouco, se foi
desmanchando a ilusão da paz. As UPPs começaram a não corresponder às
necessidades dos moradores das favelas. Porque não basta mudar o nome de uma
localidade - chamá-la de comunidade, por exemplo - para que tudo mude.
O desaparecimento e morte
de Amarildo não aconteceram por acaso. O plano da urbanização das favelas
acabaria como tantos outros projetos. Em plano. Em idéia. Será que temos medo da ideia? Será que as
comunidades não querem viver melhor?
Nada mais longe da realidade do que responder tais perguntas pela
afirmativa. Pois o ser humano privilegia a paz e a justiça. Quando uma das duas
capenga, os dias da ilusão estão contados.
Mas
agora uma crise ainda mais alta se alevanta. Se se anunciasse este plano
maldito de exterminar uma cooperação, de esvaziar um ideal e um projeto, quem
ouvisse por vez primeira esse tresloucado projeto sequer acreditaria que tal
desastre pudesse ocorrer.
Pois agora, a Polícia
Militar sofre um projeto de esvaziamento físico, que meses atrás seria visto
com ceticismo e aquele espanto que se reserva aos desenvolvimentos inesperados
e impossíveis.
O que sucede agora no Rio de
Janeiro? Cala-se sobre o que não pode
ser calado, assiste-se sem dizer palavra um projeto sem nome, cruel e bárbaro. Querem exterminar uma corporação que é a
nossa Polícia Militar do Rio de Janeiro, que existe desde o tempo da vinda do
Rei de Portugal ao Rio colônia, que logo
se transformaria no Reino do Brasil.
A Polícia Militar do Rio de
Janeiro, a PM é o apoio da gente honesta do Rio de Janeiro. Se um plano
demencial está em movimento para liquidar aos poucos os PMs, o Governo do Rio
de Janeiro, e em primeira plana o seu Governador, não se pode esconder por trás
de frases vazias. À insolente ousadia de um plano bandido, não pode ficar sem
resposta, por trás de frases que não mais correspondem à situação de crise que
vive a Polícia Militar do Rio de Janeiro.
( Fontes: Rede Globo, O Globo )
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