domingo, 27 de agosto de 2017

O drama da PM e do Rio é um só

  
        Muito se enganam as instâncias diretoras do Estado do Rio de Janeiro, se se deixam embalar  nessa leda canção de aconchego, que pensam poder exorcizar as sérias ameaças que pendem sobre essa mui Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
         Até de maravilhosa já a chamaram,  mas jamais tivera à sua frente um governo que não governa,  Governador que não lidera, e um Secretário de Segurança que nos faz lembrar com saudade de quem se chama Mariano Beltrame, e que depois de gestão bem-sucedida viu o que imaginara seria o futuro do Estado transformar-se em um pesadelo, em que todos os planos da própria administração como que esmaeceram e desapareceram, fenômeno que sói ocorrer em pesadelos, mas que, no presente, por um kafkiano capricho, o que se pensava pudesse ser o futuro,  se transformou em realidade ao revés, em que se estigmatiza a força da ordem, e se permite que as realizações do passado se transformem em pesadelos, em imagens deformadas de perdidas ilusões, com a desejada transformação da favela em   bairro citadino.
            Tudo o que se disse, se clamou e se proclamou naquela cerimônia que pretendia simbolizar o futuro do convívio entre o morro e a planície - e para tanto chamaram as Forças Armadas, e não faltando o entusiasmo das grandes missões, aquelas que pensam construir um futuro mais justo e mais harmônico - o que assistimos na verdade estava nas imagens pressagas dos bandos de foras-da-lei a que, sem molestar, como se fora grupos de vadios e de malandros, se permitiu partirem  às carreiras, levando o que podiam sobraçar, e em todo tipo de veículo, da caminhonete até a velha carroça, e tudo ladeira abaixo, levantando a poeira da fuga desabrida, como se ela fosse a do esquecimento.  Julgava-se proscrever aquela gente como se fosse um bando de moleques, que tomariam modos e melhor comportamento alhures.
            Toda a irresponsabilidade do projeto se escreveu nas areias daquela picada. Se alguém acaso pensasse que nunca mais veria aqueles magotes de gente fora-da-lei - e este pensamento perpassou a consciência de muitos - por que, de repente, tudo nos aparecia  demasiado fácil,como aos espectadores que aquele fim da cerimônia - que congregava as três forças militares - surgia como um encerramento às carreiras, de afogadilho, que contrariava a grande mensagem que as altas autoridades davam a impressão de querer transmitir à população carioca.
               Vamos pacificar as favelas, assim como estamos cuidando do Alemão. Tudo em clima de festa, com muita alegria e regozijo. De repente, e não só nos bairros do conjunto do Alemão, mas toda a esperança e o entusiasmo que nascera com a favela integrada na Cidade grande, como se iniciara no Morro de Santa Marta, e se espalhara, como uma mancha de esperança e de paz,  em muitos bairros, vizinhos de favelas, que ora passavam a comunidades com lei, como, v.g. no Pavão-Pavãozinho, em que com a UPP cessaram os tiroteios e a insegurança - que se sente mas não se vê - nas ruas da cidade grande que são vizinhas, e que, como grandes espelhos, refletem fielmente o clima que lá em cima prevalece, como se verificou na paz que baixou na Saint Romain, na Sá Ferreira, e em tantos outros quarteirões de súbito revividos, sob o impulso da perspectiva enfim de tempos melhores, de paz, de silêncio citadino no morro e nos quarteirões a que o asfalto visita.
                 Cariocas que somos, por nascimento ou adoção, não diferimos demasiado das gentes de outras cidades e outras terras. Saudamos a paz quando ela existe - e ela perdurou por um bom tempo. No entanto,  pouco a pouco, se foi desmanchando a ilusão da paz. As UPPs começaram a não corresponder às necessidades dos moradores das favelas. Porque não basta mudar o nome de uma localidade - chamá-la de comunidade, por exemplo - para que tudo mude.
                     O desaparecimento e morte de Amarildo não aconteceram por acaso. O plano da urbanização das favelas acabaria como tantos outros projetos. Em plano. Em idéia.  Será que temos medo da ideia? Será que as comunidades não querem viver melhor?  Nada mais longe da realidade do que responder tais perguntas pela afirmativa. Pois o ser humano privilegia a paz e a justiça. Quando uma das duas capenga, os dias da ilusão estão contados.
                   Mas agora uma crise ainda mais alta se alevanta. Se se anunciasse este plano maldito de exterminar uma cooperação, de esvaziar um ideal e um projeto, quem ouvisse por vez primeira esse tresloucado projeto sequer acreditaria que tal desastre pudesse ocorrer.
                    Pois agora, a Polícia Militar sofre um projeto de esvaziamento físico, que meses atrás seria visto com ceticismo e aquele espanto que se reserva aos desenvolvimentos inesperados e impossíveis.
                   O que sucede agora no Rio de Janeiro?  Cala-se sobre o que não pode ser calado, assiste-se sem dizer palavra um projeto sem nome, cruel e bárbaro.  Querem exterminar uma corporação que é a nossa Polícia Militar do Rio de Janeiro, que existe desde o tempo da vinda do Rei de Portugal ao Rio colônia, que  logo se transformaria no Reino do Brasil.
                    A Polícia Militar do Rio de Janeiro, a PM é o apoio da gente honesta do Rio de Janeiro. Se um plano demencial está em movimento para liquidar aos poucos os PMs, o Governo do Rio de Janeiro, e em primeira plana o seu Governador, não se pode esconder por trás de frases vazias. À insolente ousadia de um plano bandido, não pode ficar sem resposta, por trás de frases que não mais correspondem à situação de crise que vive a Polícia Militar do Rio de Janeiro.     

                      

( Fontes:  Rede Globo,  O  Globo )

Nenhum comentário: