Todos
os anos e todos os presidentes estadunidenses terão presença, queiram ou não,
nos furacões - agora, Harvey - e nas tempestades tropicais, em que tais
flagelos naturais costumam transformar-se.
Este,
como tantos outros, veio das águas do Golfo do México, e mais adiante, golpeou
o sul dos Estados Unidos, Houston, e sabe-se lá o quê.
Mas
essa dúvida pode ser do leitor - ou do autor dessas linhas - mas não o será
nunca dos infelizes que demoram no próprio caminho, tão cruel quanto
tempestuoso, dessas literais explosões na atmosfera, cujo surgimento é
previsível, como igualmente o seu roteiro de desgraça e destruição.
Haverá vítimas nesses flagelos que continuem a pensar que os furacões e
as tempestades naturais - quando por fatores vários, vão perdendo a maldita
força - serão caprichos de cruel divindade, como Baal, na terra dos filisteus,
que se comprazia na carne fresca de jovens vítimas?
Crentes,
oportunistas, ignorantes ou cínicos, os haverá sempre. Mas nos tempos que correm,
por mais estranhas que sejam as mensagens que recebamos de um sistema obsoleto -
que nos legou a vanguarda dos fins do século dezoito [1]
- será inadmissível que se continue a
crer que esses violentos fenômenos naturais do nada surjam, para infligirem nos
desgraçados que no seu caminho se encontrem divinos castigos.
Coube agora aos Estados Unidos um presidente que é negacionista, em
termos da teoria do aquecimento climático. Talvez no futuro se logre não mais intuir, mas saber
dos pormenores, que, como salteadores de grande caminho, lograram alterar a
vontade soberana de um Povo.
Se
a transformação foi oportunista e superficial,
como nesses torve-linhos que, na lenta, penosa trilha dos carroções, de súbito os colhiam, vindos sabe-se
lá de onde, só Deus sabe. Mas tanta atroz concomitância, de repente surgida, hoje é destilada pelo
vagaroso repensar que tantos mistérios faz desaparecer, uma vez terminado o
turbilhão da hora ruim e dos perversos ventos.
Como uma força da natureza, que sobre a boa gente despenca, a tudo
levando pela frente, fica sempre mais difícil acreditar na boa fé desses
denegadores, que se refugiam nas crenças de antanho e em curvar-se, servil mas
também oportunisticamente, nesse Bom Deus que lança, como expressão de brutal,
mítico poder todas aquelas forças que os
povos antigos acreditavam provir de divindades, com Zeus e seus irados raios, e
Bóreas, e seus ventos.
O tardo, mas firme caminho do homem nos tem mostrado muitas coisas. As
chamadas forças naturais podem ser controladas. Só os ignaros e a sua versão
piorada - aquela dos cínicos oportunistas - querem transformar o clima e o
aquecimento natural como fatores fora de controle.
Hoje o avanço da ciência é tal que a denegação do fator climático foi
empurrada para os ignaros pela própria natureza, e para os cínicos que se refugiam em
crendices e na cômoda, estúpida
negativa, para atribuir às forças malignas do além-fenômeno que são
simples pela própria natureza, e que correspondem apenas a uma conjunção
infeliz de fatores.
É um acinte que em pleno século XXI nos venham com ridículo negacionismo que, ou são criaturas da ignorância e do atraso, ou cômodos
biombos, que apenas existem nas mentes
doentias de os que,ou são avestruzes que enterram a cabeça na areia, ou cínicos
maus-gestores de Mãe Natureza, que Papai do Céu criou, e que segundo eles - ou
por profunda ignorância ou por portentosa má-fé - é melhor não mexer, e deixar
que tragédias aconteçam, porque segundo
o velho maktub tudo está escrito e é
melhor não mexer.
Que em pleno século XXI alguém professe tais teorias, pode até
entender-se. Fica, no entanto, mais
difícil engolir esses personagens, se eles se propõem pisar nas sagradas tábuas
do pódio da função política e passarem
pelo crivo da opinião pública. Havia na Itália, no tempo do fascismo, uma
virtual impossibilidade: alguém poderia
ser fascista e inteligente, mas essa conjunção invalidaria que fosse honesto. O mesmo se pode declarar de
alguém que seja negacionista em termos de clima. A ciência do clima já
progrediu o bastante para que alguém, de boa fé, se atreva a tratar do
ambientalismo como ser fora uma empulhação.
Tanto o Alasca, quanto a
Sibéria são terra do permafrost. Por
força do aquecimento climático - que está acabando com a Groenlândia,
derretendo a Antártida e tornando a ligação marítima entre a Europa e a China continental um fluxo factível por
todo o ano - o efeito estufa está
produzindo horrores. O subsolo congelado da Sibéria e do Alasca contém no seu permafrost o gás metano, que é tóxico. Como o calor natural agora o está descongelando não se sabe quais serão as consequências
dessa radical mudança climática, mas decerto elas não serão boazinhas.
(Fontes: The New York Times, Prof. (in memoriam)
Hilgard O.Sternberg )
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