quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Rússia e EUA: cortes nas missões

                              

          Para quem estivesse desinformado sobre como avaliar as reações respectivas nos cortes de pessoal diplomático  da Federação Russa e dos Estados Unidos da América, e além disso ignorasse a importância respectiva na política mundial,  e somente dispusesse dos indicadores das medidas e contra-medidas, não haveria qualquer dúvida de que os EUA seriam,  para tais observadores, a potência menor  e a Federação Russa a nação mais forte, aparecendo como intimidadora, avultando sobre a fraca reação estadunidense.
           O Embaixador Michael A. McFaul[1], referindo-se ao entrevero, diz notadamente: a expulsão de 755 funcionários tem impacto muito maior em nossas relações diplomáticas com a Rússia, do que a ação de resposta tem nas operações russas nos Estados Unidos.        
             A diferença é gritante, e se diria própria de potência menor, diante da ordem de Vladimir Putir de retirada  dos tais 755 funcioná-rios americanos  de seu pessoal em Moscou. A resposta estadunidense é daquelas que dá uma dor no pescoço dos diplomatas americanos, eis  que manda Moscou fechar o Consulado em São Francisco e dois anexos diplomáticos, em Washington e New York.
            Mas quem parece controlar a iniciativa não dá a impressão de estar satisfeito com a débil resposta americana. Gospodin Lavrov, que é o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Kremlin, deplorou a escalada (sic) de tensão nas relações bilaterais e, não satisfeito, disse ainda que o Governo russo estudará a medida antes de decidir  sobre como irá responder.
            Sem embargo, o clima de apaziguamento - a palavra em inglês é appeasement e  me parece desnecessário recordar o que esse vocábulo traz à superfície em termos de política internacional.
            Mas as diferenças nas respostas das duas potências não param aí. Enquanto Vladimir Putin anunciou o corte ao vivo, em horário de ponta na tevê russa, o Presidente Trump preferiu delegar a resposta ao Secretário de Estado Tillerson, cabendo a explicação da medida a um funcionário de nível médio no Departamento de Estado.
              Como se deveria explicar, no entanto, a postura do Presidente Trump, quando perguntado sobre a ação russa de reduzir o pessoal americano na missão em Moscou?
              Trump chegou a expressar a gratidão (sic) ao invés de irritação (anger) para com o Sr. Putin, quando perguntado sobre a ação russa de reduzir o pessoal diplomático americano na embaixada em Moscou.
              Se interpretada à risca, não é decerto página das mais edificantes para a imagem americana: "Quero agradecer (a Putin), porque estamos tentando reduzir a folha de pagamento, e na medida em que isso me diz respeito, estou muito agradecido de que ele haja retirado um número grande de pessoas, porque a nossa folha de pagameneto ficou menor".
               Pelo exagero na deferência, mais parece tentativa de ironia, ou até mesmo de sarcasmo, de parte do Presidente Trump, ao apresentar dessa forma faceciosa o corte determinado pelo ukase[2] de Putin. De toda maneira, o presidente americano anda em terreno perigoso, ao debochar do trabalho dos quadros diplomáticos americanos, num enfoque de resposta muito diverso da tardia reação de Obama, que castigara Putin pelo inaudito êxito em influenciar as eleições estadunidenses.
               Não me parece demasiado reportar, como já referi alhures, que Barack Obama deixara de intervir no processo eleitoral americano, quando ainda seria possível revertê-lo em favor da candidata Hillary Clinton.
                Mas isso seria chorar sobre leite derramado, quando por razões ainda não de todo avaliadas - como o assinalou artigo da revista New Yorker - Obama preferiu manter-se à parte, em termos de uma ajuda mais incisiva para Hillary. São temas que a História - essa velha senhora que só costuma entrar em capítulo quando não só as paixões, senão as motivações se tornaram mais afastadas, mas também menos determinantes para o geral interesse - tende a olhar com o enfado que só a distância confere...

( Fontes:  New Yorker, The New York Times )



[1] Serviu como embaixador em Moscou na Administração Obama.
[2] decreto, ordem imperial.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Brincando com fogo ?

          

        É difícil determinar  se  o  largo, exultante sorriso reflete todas os matizes no que tange à reação do ditador norte-coreano Kim Jong-un. Cercado por aparentes fantoches de altíssimo escalão, quanto mais próximos e visíveis pelo jovem, nédio ditador, o leitor dificilmente imaginará que tudo na foto programada seja espontâneo,  mas todos, pela idade, terão incontestável juízo, mesmo que estejam submetidos àquela senhora tensão daqueles que 'gozam' da terrível oportunidade de vivenciar os grandes momentos  do Senhor absoluto da Coreia do Norte.
         Por isso, voltarão para casa consumidos pela tensão e o discutível ensejo de privarem das grandes ocasiões desse jovem autocrata. Pelo rosto nédio,  em forma de lua cheia, e os olhos transformados em seteiras medievais,  quem ousaria não exultar diante daquela proeza histórica, toda ela decerto saída da poderosa mente do magno amo, exultante depois de ter apagado no vasto quadro negro da respectiva mente, todas as humilhações - reais e também imaginárias - que este grande senhor dos exércitos (norte-coreanos) frui agora no plano de um prazer extremo - que ouso definir na faixa das façanhas sexuais - que o carrega para níveis que o comum dos mortais jamais terá experimentado.
           E o que diz essa verdadeira lua-cheia, ainda sem crateras nem as cicatrizes de nossa velha Selene - que nos contempla na sua agressiva beatitude, e nos pergunta,  no seu entusiasmo que sequer, da sua beatífica altura, admitiria qualquer cotejo ou comparação com façanhas de toda a índole - do ganho na loteria multimilionária  a outro jackpot de incontável fortuna ? Pelas minhas andanças diplomáticas, e pela Itália em particular, dado o abençoado castigo que me deram os chefes da Casa[1]de passar oito anos (com a família!) nella città eterna, Roma,  eu me atreveria a descrever o rosto beatífico  do Kim com a expressão  "e chi se ne frega?" (quem se importa com isso?)  Para mim, essa expressão quase dialetal de velho romano do borgo (o bairro que abraça o Vaticano) é quase o retrato da alegria juvenil desse grande, enorme líder, até pouco quase desconhecido, e hoje objeto de ingentes tentativas  de entendê-lo.
           E porque me atrevo a descrevê-lo com essa frase romana, que carrega toda a ironia do morador do borgo, aquele ur-bairro aonde se esconde a auto-ironia do romano, que, depois de contemplar a empáfia  do império - o cume do então universo - vivenciou os séculos da Roma dos Pontifices romanos e mais tarde a glória meio fajuta de Mussolini, e enfim, na volta ao borgo, o velho ceticismo de quem viu muitas coisas naquele bairro pobre, e que vê os grandes desse mundo con il distacco della povertà (com o afastamento da pobreza).
             Assim, agora as agências correm atrás do rubicundo senhor, enquanto o antes esquecido líder norte-coreano exulta. Ele, a dizer verdade, não tem nem noção de quanto tempo de glória lhe é concedido. E por isso, ele e sua curriola, exultam a bandeiras despregadas... e, por isso,
                                                            chi se ne frega?   




[1] É assim que os diplomatas de carreira se referem à alta chefia do Itamaraty.

Colcha de Retalhos E 31

                                 

Outro deficit record

         O Governo Temer, por uma série de razões,  tem incorrido em uma série de déficits,  nem todos contraídos por sua alta recreação. Em julho, o déficit  de R$ 20,1 bilhões é de longe o pior de nossa  história contábil.  Ele o é tanto para o mês, quanto para  o acumulado do ano (R$ 76,2 bilhões).
          Para dar motivos sumários, alta nas despesas com Previdência e Pessoal, e queda na receita são explicações  para o rombo._


Os ciber ataques e suas consequências

          No racket cibernético, não faltam ciber ataques no mundo. Eles são praticados por muitos países. O próprio Estados Unidos deles se valeu para tentar reduzir o incremento no nível da capacidade nuclear de Teerã, com os exitosos 'worms' (vermes)

           Também os Estados Unidos têm sofrido ataques, notadamente de Beijing e de Moscou.Neste último, parece complexo destrinchar se as incursões provêm da máfia cibernética ou de orgão oficioso, controlado pelo Kremlin.

              No entanto, o ataque mais danoso teria sido a incursão  realizada contra agência estatal estadunidense, encarregada do registro dos especialistas no serviço público americano. Após sofrer essa verdadeira razzia (saqueio)  cibernética, a então chefe da agência solicitou audiência do presidente Obama para inteirá-lo do mega-furto, e, ao cabo, terá apresentado o respectivo pedido de exoneração dessa agência estatal. A iniciativa da alta funcionária se deveu à circunstância agravante  de que o incursor obtivera através desse exitoso ataque todos os dados  relativos aos funcionários atuantes nessa área. Não ficou claro se o bilhete azul foi assumido espontaneamente, ou induzido pelo Presidente estadunidense, Barack H. Obama.


Ciberataques de Pyongyang

           Reporter da Folha logrou entrevistar-se  com fugitivo norte-coreano. Ele fugira para a China em 2004 e de lá, para a Coreia do Sul. Apesar de passados treze anos de sua escapada, ele se nega a dar detalhes sobre a vinda da mulher e da filha para o Sul, eis que os familiares de sua esposa ainda vivem na Coreia do Norte.
            Este fugitivo da Coréia do Norte, Kim Heung-kwang, teme sobretudo os ciber ataques de Pyongyang.  Há muitas suspeitas acerca de envolvimento do regime norte-coreano no mega ciber ataque de maio de 2017, quando cerca de 230 mil computadores em 150 países  foram alvo de um ransonware,  que é um software do mal, eis que bloqueia  informações e exige dinheiro para destravá-las (resgatá-las)  A crer nas informações de Kim, esse tipo de "operação"  renderia US$ 3 bilhões por ano à Coreia do Norte.  O resgate costuma ser pago na moeda virtual bitcoin (cujo valor nesta semana equivale a US$ 4.600).



( Fonte:Folha de S. Paulo )

Que direitos humanos para Maduro e seu bando?



          A par do cinismo e da corrupção do regime de Nicolás Maduro,  a repressão na Venezuela nada tem de original.  Como de sólito, ela atua  para sufocar a oposição, e tudo faz para 'dissuadir' e, portanto, frear as manifestações de rua.
           Para tanto, o torpe regime de Maduro alterna vários modos, inclusive o de disseminar o medo - ao pensar que se torna  mais forte   aplicando cega e indiscriminada violência sob a direção da imprevisível perversidade.
           Dentro dessa vetusta tática do terror, não há nada de novo, a par do acréscimo da incrementada tortura, e o viés do imprevisível  na repressão.
            Mas a besta acuada pode ficar ainda mais perigosa, e as suas reações crescem na relação direta da respectiva incapacidade de reativar a economia, i.e., os meios de afastar a crise generalizada. Aí está, e não é de hoje, o apelo aos chamados 'coletivos', vale dizer,  armar a mala vita, dentro da conscientização de que esses inimigos da coletividade são pela própria natureza seus amigos...
            Como, porém, reativar a economia, se a corrupção é besta que devora os recursos que um regime não-bandido colocaria em empresas e fundos rentáveis? Não é por feitiço dos inimigos da pátria que as prateleiras de farmácias e supermercados estão vazias. A corrupção é besta incontrolável e tudo costuma devorar.  Por isso, não sobram meios para realimentar a economia e torná-la de novos autossustentável. Além disso, a via do mal é artéria de mão única, que restringe e, até mesmo sufoca, a economia, pela falta de recursos e a ação das pressões econômicas dos governos que se propõem adentrar pelo caminho da esperança, vale dizer, sufocar a besta do regime Maduro, a que a própria corrupção sinaliza a inelutável perdição.
               A adoção da violência - que passa a ser letal - é a resposta tresloucada do regime Maduro, que deseja evitar a irrefragável condenação das manifestações de rua - que ameaçam viralizar-se nas cidades e nos grandes centros da Venezuela. Quanto mais cruel a repressão, maior é o ódio que provoca no Povo venezuelano, que vê um bando cínico e corrupto  apoderar-se da violência do Estado policial, para através do morticínio indiscriminado tentar intimidar os manifestantes que, malgrado conscientes da podridão do regime Maduro, e, por conseguinte, de sua falta de escrúpulos, e por isso razão mais alta se alevanta, eis que, não obstante o compreensível receio,  decide embrenhar nas ínvias manifestações públicas, que podem trazer mais baixas nas fileiras desses soldados da república e da democracia.
                  Quanto mais se acentue a rejeição que o Povo lhe vota, o regime réprobo do ignorantão e corrupto Nicolás Maduro mais e mais se adentra nas areias movediças de sua inglória luta contra a Nação Venezuelana.
                 Uma minoria, capitaneada por bandidos como Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, e todas as ratazanas que proliferam no convés quando os porões do transatlântico começam a fazer água, não há de fazer recuar o Povo, assim como aquele Exército livre do suborno e da praga do narcotráfico, para afinal cortar o falso nó górdio da repressão e da vil tática do medo.
                    Até hoje, por mais que a união dos tiranos e de sua súcia de corruptos se empenhe em empolgar o poder em quantas terras possa dominar, a experiência mostra da força de Democracia e Liberdade. A intimidação é faca de dois gumes, eis que leva a situações em que não há outra saída senão de estentórico não à corrupção, e a todos os males que dela decorrem, porque, por mais grosso tentem os tiranos falar e intimidar o Povo,  a Liberdade há de repontar, eis que o mal leva consigo o veneno homicida que acabará por vitimá-lo, na estéril charneca  que costuma criar. Dessarte, sem dar-se conta, ele não concede outra opção ao Povo senão o levante geral e o ataque contra o Palácio do Tirano corrupto, que à medida que passem as horas e os dias fica mais isolado, enquanto os ventos da solidão que lhe antecedem a invasão e o que mais possa esperar quem se acreditava Senhor dos Exércitos,  e dentro em pouco não será mais que  tirano, a esperar o próprio inexorável destino, como aos demais transfugas que pensavam integrar a triste quadrilha, que, cercada pelo Nada, aguarda nervosa e impotente a visita iminente do Povo Soberano da Venezuela.
                       É estranho paradoxo este que torna tão temível regime como o do infame Maduro, quando na verdade ele é a minoria da minoria. Se o Povo se conscientiza da própria indômita força, não são apenas os dias da ditadura de Maduro que estão contados. É a Liberdade que, ao cabo, começa a raiar por toda a parte, enquanto vão caindo, um a um, os fortins da repressão.
                      E eis que a fértil, generosa terra da Venezuela volta ao Povo Soberano, e não à canalha da falsa constituinte de Delcy Rodriguez e do lugar-tenente do moribundo chavismo, Diosdado Cabello, assim como de Nicolás Maduro e da própria malta, que mancha o nome imortal do Libertador da América hispânica.



( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Ortega, a corajosa Procuradora

                              

         Não é fácil o caminho da valente ex-Procuradora-Geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, cujo périplo recente lhe mostra a coragem e a pertinácia, entre outras qualidades.
          Chegada à Costa Rica, ela vai desfolhando a sua rosa com espinhos e denúncias. Diz ela que tem provas de episódio em que o Presidente Nicolás Maduro desviou  entre US$ 8 milhões e US$ 10 milhões, em dinheiro vivo, saído do Fisco para repassá-los a uma empresa.
           De acordo com Ortega, para a 'milionária trama de corrupção' ele utilizou como "fachada a empresa venezuelana Contextus Comunicação Corporativa", de Monika Ortigosa, uma parente de um membro da Constituinte. Ortega disse ter entregue provas  deste e de outros casos a promotores americanos.
            Por motivos de mui compreensível segurança, a ex-Procuradora, uma vez chegada ontem à Costa Rica, não revelou a sua agenda de atividades no país. Acusou o chavismo de  contratar matadores de aluguel para assassiná-la, por causa de suas denúncias de casos de corrupção no governo Maduro.
              "Venho especificamente para denunciar à  Procuradoria da Costa Rica e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que estou sendo perseguida e o governo contratou capangas para acabar com minha vida", disse ela em San José. "O mesmo acontece com Procuradores aqui na Costa Rica".
                 Dentre as acusações que fez em Brasília - e que já foram reportadas pelo blog - Ortega detalhou acusações contra o número dois do chavismo, o "deputado constituinte"  Diosdado Cabello. A esse propósito, a  Procuradora-Geral declarou que o caso de corrupção envolvendo Cabello e a Odebrecht ultrapassa os cem milhões de dólares.
                    Consoante declarou Luisa Ortega Díaz, o seu escopo é lançar uma "cruzada continental" para denunciar o chavismo. "Não é possível fazer Justiça na Venezuela, principalmente em casos de direitos humanos e corrupção".



( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Do incômodo à ameaça

                    

        A Coreia do Norte - este não é o seu título oficial  - continua decerto um país pobre, com boa parte da sua população vivendo no limiar da miséria, e a sua diferença de padrão de vida é tão marcada em relação à Coreia da Sul,  que o governo de Pyongyang busca em geral escamotear tal circunstância.
         Não há duvida se os régulos da Coreia do Norte tivessem um objetivo mais modesto e mais terra à terra, a situação do próprio sofrido povo não apareceria tão mal  no quadro existencial das nações do Extremo Oriente.
          A própria China parecerá um eldorado em termos de comércio e de consumismo, embora ainda existam bolsões de pobreza no Eldorado chinês, sempre se cotejada com a Coréia do Norte.
          Na estranha monarquia de Pyongyang,  o atual soberano Kim Jong-un tem incômoda presença, sobretudo para Washington, mas também para Seul. Isto ele já o demonstrou em excesso, a ponto de que empalidece a obnóxia presença de seus antecessores - na linha real encetada pelo pater-familias Kim Il-Sung, que por causa da IIa Guerra Mundial instalou-se na Coréia, graças aos préstimos de Joseph Stalin. Depois de sobreviver à guerra da Coreia em que, com a ajuda da China Comunista e seus 'voluntários' firmou-se o poder da família Kim na parte setentrional da península.
             A República Popular da China, por força dos grandes cometimentos em defesa da Coréia do Norte - como no citado conflito com os Estados Unidos - se marcou pelo seu apoio ao regime de Pyongyang, além de constituir uma área de especial atenção para os gerarcas do Império do Meio. Existia como que um interesse especial por aquele atrasado país, máxime pelo fato de ser regido pelas normas marxistas-leninistas. A maior parte dos gerarcas chineses tinha por princípio visitar aquela nação que a RPC se esforçava em ajudar, por laços ideológicos de que não se pode excluir algum sentimentalismo. Nesse quadro, está a visita do então Primeiro Ministro Zhao Ziyang  à Coreia do Norte. Após uma série de cargos importantes e sendo próximo do líder Deng Xiaoping, Zhao teve de visitar aquele país aliado da China. No entanto, essa viagem teve o condão de afastá-lo de Beijing em momento chave da história recente chinesa, quando surgira na praça de Tiananmen o movimento dos estudantes pró-democracia
             A ala conservadora do regime, encabeçada por Li Peng, influenciaria Deng Xiaoping  para escrever editorial no principal jornal do Partido, estigmatizando o movimento na Praça, em uma linguagem que se especula teria sido evitada por Zhao. Este, no entanto, estava longe na Coréia do Norte...
                Essa ausência de Zhao em momento chave da história chinesa pode explicar muito de o que ocorreu depois. Mas esse pormenor é igualmente relevante porque ele descerra a cortina sobre os estranhos caprichos da História. Se Zhao ficasse em Beijing, o grupo de Li Peng teria acaso a possibilidade de fazer com que o ancião Deng usasse a linguagem do artigo, o que afastou as lideranças estudantis e mais envenenou o ambiente. Tudo como Li Peng e seus aliados desejavam, dentro da velha receita de quanto pior melhor...
                 Escrevo tais observações porque sinto que o sistema de prevenção das armas nucleares tem na Coreia do Norte um dos seus fracassos determinantes. Conter será sempre mais difícil do que difundir, como a trajetória de Pyongyang o mostra hoje de maneira irrecusável.
                  Nessa involução na política de contenção das armas nucleares, muitos fatores terão operado para tornar possível o que hoje se assiste em matéria de desagregação das defesas institucionais dessa terrivel arma.
                    Que o hoje pacífico Japão vire expectador  do cruzeiro de um míssil que sobrevoou o país no que se pode definir como  exercício para o prazer do atual soberano da Coréia do Norte, é uma questão que, pesa-me dizê-lo, torna precárias as avaliações tradicionais tanto da segurança, quanto daqueles em condições de lidar com ela.
                     É sempre tarefa árida e pouco promissora investir contra os erros do passado, sobretudo quando os fatos consumados nos cercam e nos contemplam com um esgar que pode parecer sorriso, mas não o é.
                      Qual será a próxima brincadeira de Kim Jong-un?  



(Fontes: O Estado de S. Paulo;  Prisoner of the State, by Zhao Ziyang)

Sanções americanas contra Maduro

                     

        Na sexta-feira,  25 de agosto corrente, o Governo Trump fechou as portas para a Venezuela e a petroleira PDVSA captarem novos recursos no mercado financeiro americano, no momento em que o governo Maduro enfrenta o risco crescente de não conseguir honrar os pagamentos da respectiva dívida.
       As sanções são as mais graves aplicadas pela Casa Branca até agora no novo governo Trump. São também as primeiras que atingem setores específicos da economia venezuelana e não apenas,como as anteriores, a pessoas com altos cargos no governo de Nicolás Maduro.
        Nesse sentido, a ordem executiva do Presidente Donald Trump proíbe empresas ou pessoas fisicas  com base nos EUA de comprar novos bônus emitidos seja pela Venezuela, seja pelo ente petrolífero PDVSA. Essas medidas não afetam os papéis já lançados no mercado internacional pelo país, e a estatal, negociados  no mercado secundário de títulos nem novos bônus de curto prazo.
          Malgrado o agravamento da crise econômica e da profunda recessão em que o país caribenho está mergulhado, Maduro vem priorizando o pagamento em dia da dívida soberana, e com isso evitou um default, mas às custas de brutal redução no volume das importações. O desabastecimento da economia venezuelana é consequência direta dessa medida, em que o ditador privilegia a precária situação financeira, sobre o abastecimento de víveres e remédios à Venezuela.
             No entanto, tal torna mais séria a piora na situação das reservas cambiais - que caíram para menos de US$ 10 bilhões em julho (o mais baixo patamar em vinte anos).
              O calendário financeiro não dá, contudo, refrigério para o governo do ditador Maduro. Entre outubro e novembro próximos, Caracas terá de honrar vencimentos no montante de US$ 3,5 bilhões. Já em 2016, vencem pagamentos no montante de US$ 9,6 bilhões.
              Tais medidas visam a pressionar Maduro a restaurar a ordem democrática. Como muitos outros países, também Washington se opôs à eleição - de resto fraudulenta - da tal Assembleia Constituinte, que representa golpe  contra a Assembléia Legislativa, eleita democraticamente em 2015 e com maioria da Oposição.  Tais são as premissas que condicionaram a reação da Casa Branca, e por isso um dia depois da eleição fraudulenta, a 31 de julho, da Assembléia Constituinte, foram aplicadas ulteriores sanções pelo governo estadunidense.
                Preferindo bater no elo mais fraco,  Maduro responsabilizou Julio Borges, presidente da Assembleia Nacional, pelas sanções. Nesse sentido, e imitando processos fascistóides,  o ditador "pediu" à Assembleia Nacional Constituinte e ao Tribunal Superior de Justiça, dois leais servos do regime autoritário chavista, que abram processos por "traição à pátria" contra esses "opositores".
                 No seu estilo bombástico, o demagogo Maduro afirmou: "As medidas ilegais anunciadas pelo Presidente Trump violam o direito internacional e a Carta das Nações Unidas",  em cadeia de rádio e tv.  Consoante o ditador, o objetivo dos EUA é forçar a Venezuela a dar um calote na dívida externa. Tais sanções, segundo a Casa Branca, existem "para negar à Ditadura de Maduro uma fonte vital de financiamento para manter seu poder ilegítimo."
                  "Na tentativa de se preservar, a ditadura de Maduro recompensa e enriquece autoridades governamentais e do aparato de segurança, por meio do acúmulo de pesada dívida".  São palavras de integrante do governo,  pronunciadas sob a condição de não ser identificado.
                    Segundo declaram assessores de Trump,  haverá escalada de sanções, caso Maduro não atenda exigências feitas pelos EUA e outros países da região, entre os quais o Brasil:  libertação de presos políticos, respeito à Assembleia Nacional, fim da repressão aos opositores e eleições livres.
                      As sanções proíbem ainda a compra de ações emitidas por entes estatais venezuelanos e a remessa de lucros e dividendos  ao país pela refinaria Citgo, localizada no Texas e controlada pela PDVSA. Também foi proibida a compra de dois bônus detidos exclusivamente por entidades localizadas na Venezuela. O escopo é evitar que os papéis sejam usados para contornar as medidas acima referidas.
                        Por sua vez, a Casa Branca descartou nesta semana a possibilidade de lançar operação militar contra a Venezuela "no futuro próximo". "Avaliamos ampla gama de opções. Qualquer decisão será tomada em acordo com nossos parceiros na região. Nenhuma ação militar está proposta no futuro próximo, reiterou o general McMaster, assessor de Segurança Nacional do Presidente Trump. "Nunca antes tínhamos estado tão em sintonia com nossos sócios na América Latina", sublinhou o general, ao reportar-se à recente viagem do Vice-Presidente Mike Pence, que, como se sabe, incluíu Colômbia, Argentina, Chile e Panamá, mas por motivos que podem ser presumidos mas não explicitados, o Brasil.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Colcha de Retalhos E 30

                              

Morte de um ciclista

     O empresário Hélio Crespo, de 40 anos, enquanto treinava ciclismo na Praia da Reserva foi atropelado por um Corolla preto, que trafegava em alta velocidade.
     O motorista, cuja identidade é por enquanto desconhecida, fugiu sem prestar qualquer socorro, e com a roda traseira da bicicleta presa ao para-choque do Corolla.
      O empresário chegou a ser socorrido por uma ambulância dos bombeiros, que voltava de outra ocorrência. Hélio Crespo, no entanto, não resistiu aos ferimentos e morreu ao ser atendido no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.
        Estão sendo empreendidas investigações para determinar a identidade do criminoso. 

Entrevista do Ministro Luiz Fux

          Em declarações ao jornal O Globo, o Ministro Luiz Fux, do STF, e que a partir de fevereiro de 2018 será o próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, acusa o Congresso de tentar enfraquecer o Judiciário em reação à  Lava-Jato. Com isso repete o que foi feito na Itália, para anular os efeitos da Operação Mãos Limpas. Sobre reforma política, defende a volta do financiamento de campanha por empresas, se não forem contratadas pelo governo após a eleição.
            Opinião sobre o Distritão Misto.
             Esse distritaão misto é de uma indecência a toda prova, porque ele é destinado a manter a reeleição de quem já está lá. Transforma uma eleição proporcional em majoritária, tira as vozes das minorias e acaba mantendo um status quo absolutamente indesejável.
             Quais as medidas mais graves que o Congresso tomou até agora?   
             Em primeiro lugar, transformar as propostas contra a corrupção em lei de abuso de autoridade, para tentar criar uma ameaça legal à atuação dos juízes. Em segundo lugar, é completamente fora da reforma política  fixar prazo de mandato para os juízes de tribunais superiores. Entendo que seja uma estratégia para enfraquecer o Poder Judiciário. Essas mudanças são para tirar o foco do que se está efetivamente apurando,  que é a corrupção.


( Fonte: O Globo )

Falsas acusações contra o Juiz Moro



      O advogado Rodrigo Tacla Duran, que atuou para a Odebrecht, fez acusações contra o Juiz Sérgio Moro.
       Segundo o referido advogado, o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Júnior, amigo do juiz, teria intermediado negociações paralelas dele com a força-tarefa da Lava Jato. Nesse sentido, e sempre segundo o dito advogado, Zucolotto, que é padrinho de casamento do juiz Moro, teria proposto facilidade a ele em  um acordo de delação premiada.
        Desmentido de Moro. A propósito, o Juiz Sérgio Moro afirma que o relato "é absolutamente falso".
         De acordo com o magistrado "nenhum dos membros do M.P.F. da Força Tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato".
          Moro, a propósito, acrescenta: "O advogado Carlos Zucolotto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me."
           Assinale-se que Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa pelo M.P.F.  Duran tentou fazer delação premiada, mas as negociações fracassaram. Duran teve a prisão decretada por Moro, e chegou a ser detido na Espanha. Conseguiu, no entanto, liberar-se, e o Brasil lhe pediu a extradição. A Espanha negou, por causa da dupla nacionalidade do acusado.
            A força-tarefa da Lava-Jato   em Curitiba, através de nota, criticou a reportagem e disse que "Duran tenta desesperadamente atacar aqueles que o investigam, processam e julgam, no intuito de afastar o seu caso das autoridades que atuam na Lava-Jato." Além disso, os procuradores afirmam que a reportagem (da Folha) reproduz o relato fantasioso do advogado, sem  qualquer constatação de veracidade. Segundo os Procuradores, Moro não participou de qualquer fase do acordo de colaboração premiada.


( Fonte: Folha de S. Paulo )

Dos Furacões e seus secretos Amigos

                              

        A violência da investida do furacão Harvey parece ainda mais ameaçadora, mesmo se formalmente rebaixada para a categoria de tempestade tropical.
        As lembranças do inferno criado pelo furacão Katrina, em 2005, que literalmente afundara a Administração de George W. Bush, através de um misto de falta de sensibilidade e de incompetência na intervenção, não se repetem por ora no Texas, malgrado seja grande, gigantesco mesmo, o desafio colocado por mais este mega-fenômeno.
        Houston pode ser a quarta cidade em tamanho nos Estados Unidos, mas a sua topografia em planas extensões funciona às vezes como diabólico inimigo natural, que inviabiliza qualquer socorro motorizado que não seja por barco, eis que a força do temporal ultrapassa a humana imaginação e tende a evocar o mítico dilúvio.
         A calamidade das águas torrenciais, que torna as grandes e largas avenidas e a rede de ruas, como ulterior desafio, seja para a fuga - impossível sobre quatro rodas, seja pelo conjunto de desastrosos isolamentos, em que estouram redes de esgoto e sistemas de escoamento pluvial, pois enfrenta-se uma batalha, na verdade sucessão de ataques que vão inchando sempre,e se confundem no inferno de torrenciais correntezas, que semelham cairem do céu, como avatar de dilúvios espalhados pela ajuda de inerte planície na mega-cidade.
           A pressão é tal que o inaudito desafio provoca, que a capacidade da megalópolis resistir se torna, na essência, a esmagadora dúvida de que os equipamentos existentes, quaisquer que sejam os respectivos materiais, ao invés de solução passam a integrar o labirinto de estranhas ameaças, que, ao parecer, não é que caiam do céu, mas se apresentam como inextricável complexo das forças naturais, que, debochada e afrontosamente, se servem das humanas construções e das artificiais esplanadas como cínicas, homicidas reservas de potências antes ignotas porque dormentes e, de súbito, se lançam em torvelinho de poderes nunca antes imaginados, em que se conjugam, crescem, carregam e espantosamente recrudescem as atávicas forças de mãe-natureza.
              De que adianta que a torpe investida a todos intimide - ali, na tenebrosa  planície  onde céus e terras parecem juntar-se - e a figura do dilúvio semelhe fora do lugar, pois nesse avatar do inferno líquido e caudaloso não há embarcações ou, se existem, como chegar a elas, no torvelinho das caudais e das torrentes, que do nada parecem sair, e que ameaçam a cada momento transformar as atônitas, trêmulas, aterradas vítimas em pasto de forças antes ignotas - e de que muitos cretinos ainda ousem contestar ?
               Os que duvidaram, e que pensaram que as grandes descobertas eram  impossíveis, pois no além-mar esperavam os atrevidos navegantes súbitos abismos que engolfariam as naves para sempre. Incrédulos e negacionistas são criaturas perenes da Humanidade, fontes de atraso e do ramerrame do imortal cotidiano.
                A diferença para o bando cretinóide dos atuais denegadores do clima é que - seja por má-fé, seja por mentes pequenas que não ousam sair do espaço tacanho da própria mediocridade, ou por fim, devido à incurável burrice - pela respectiva atitude, eles podem, como o demonstra a Administração Trump, representar ameaça adicional à sobrevivência da Humanidade, ou estúpido estímulo para tornar a existência dos demais cada vez menos aprazível - seja pelas tempestades naturais que se amiúdam, seja pelos mares que vão engolindo as terras baixas, seja pelas médias de temperatura, que derretem o permafrost e trazem gases poluentes como o tóxico metano para atmosfera, ou derretem os polos e elevam os níveis dos mares, engolindo as praias, empurrando a Humanidade para existência cada vez mais desconfortável e perigosa?
                    Ora direis que os furacões sempre existiram. Que são flagelos que cruzam os mares do Setentrião e do Caribe, nas quenturas do hemisfério norte, e como Átila chicoteiam e matam os desgraçados que estão na sua trilha maldita. Os locais ainda não olvidaram as vergastadas do trêfego Sandy, que arrasou terras vizinhas do Mar do Norte, nos estados de New Jersey e New York.    
                  Que grandes experiências essa gente da lavra de Trump e de todos os mais que o ainda incompreensível fenômeno de seu incongruente triunfo e a derrota da primeira mulher, que lá chegaria não fosse sabe-se lá o quê que aprontara aquele esforçado, dedicado e, sem embargo, encantadoramente estúpido exército do Armagedão formado por série de grandes fenômenos naturais, que a civilização poluente do petróleo jamais entendeu quão cataclísmico tal flagelo poderia ser para ela própria, e todos os mais, que seja, por faltos de compreensão e inteligência, permitiram que tantas desgraças viessem a ocorrer, infortúnios esses que eles não podem entender, tementes a Deus que são, ou pelo menos, dizem ser... 
                    Em termos de furacões e desgraças grandes, as aldravas das portas, por robustas que sejam, jamais lhes impedirão a passagem, em que como as bíblicas forças do Apocalipse trazem o esqueleto que a todos faz tremer, assim como miséria, destruição, e, uma vez mais, nossa senhora morte, cantada pelos aztecas e outros povos por ela enfeitiçados. Mas façam tento, meninas e meninos, que não é seu pai que está chegando, mas  esses malditos vendavais, que  não param de crescer, com forças que se pensaria saíssem das entranhas do mal. Se os deuses nos deram a dúbia dádiva da desmemória, seria bom não olvidar que os dias e as sazões podem passar, mas nunca esse estival castigo. E ele sempre mais forte, quanto mais o alimentares, devastando matas, amazônicas ou não, queimando combustíveis fósseis, e pondo em movimento a maravilhosa pujança de u'a grande, comemorativa fogueira, que nos leve para longe o oxigênio, que a vida se obstina em trazer para o homo sapiens, enquanto para perto, muito perto, que venha a magnífica coalizão dos poluentes gases!     


(Nota. Com os meus agradecimentos a Carlos Drummond de Andrade.)

domingo, 27 de agosto de 2017

Perigos das ligações hidroviárias

                     
         Por semana, 4,5 mil viagens intermunicipais são realizadas no Brasil por meio de embarcações (pesquisa Ligações Rodoviárias e Hidroviárias 2016 - IBGE, julho de 2017).
         Se esse total se apequena diante das 4,7 milhões de partidas realizadas por transporte rodoviário no Brasil, mas é preciso notar que pelas particularidas regionais, as viagens de barco respondem por 98% do transporte ocorrido na Região Norte.
          Em termos de letalidade, 1289 morreram, entre 2006 e 2015, em acidentes com embarcações.

          Na Bahia - onde ocorreu o naufrágio de 24 de agosto, com 18 mortos, o trecho entre Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, e a capital baiana é a ligação marítima mais movimentada. São 539 partidas semanais, quase oitenta por dia. Em segundo lugar, está  a conexão entre Salvador e Itaparica, na mesma ilha, com 228 partidas.
          Segundo arquiteto naval do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, conexões como essas acima são as que tem melhor infraestrutura do País. Consoante Carlos Padovezi, as embarcações são melhores e há fiscalização. Os erros aí ocorrem mais por avaliação incorreta sobre as condições do mar, do que por questões relativas à infraestrutura.
           No estado da Bahia, 37 pessoas morreram em acidentes com embarcações nos últimos dez anos, segundo o Min. da Saúde.  Em 2015, houve seis casos.

            Na Região Norte encontra-se situação muito diferente da realidade na Bahia. Padovezi afirma que "no Norte, especialmente no Amazonas, a situação é crítica. E não há nenhuma melhora desde que acompanho o assunto, há três décadas.
              Esta gravidade está relacionada com uma série de fatores, incluindo o fato de que os rios locais serem a única conexão entre uma série de municípios e a grande extensão da área que precisa ser fiscalizada pelas autoridades. "Há ainda a questão da renda. A população não tem recursos para financiar viagens em transportes caros."
             Para que se tenha ideia, o estudo do IBGE diz que 426 partidas semanais, feitas por diferentes barcos e empresas, entre as cidades de Belém e Barcarena, ambas no Pará. Para comparar, entre São Paulo e Ribeirão Preto, há 416 partidas semanais. "Como a população não tem como bancar viagens em embarcações maiores, é comum que os donos das embarcações prefiram ocupá-las com cargas, eis que é possível cobrar um pouco mais dos donos. Mas isso deixa a qualidade de transporte ainda mais precária. A população aceita porque não tem outra opção. Ou entra no barco superlotado, ou espera nos dias para embarcar no próximo", assevera o arquiteto naval.


Fiscalização.  Para uma embarcação circular, de acordo com as normas brasileiras, a primeira providência será conseguir a liberação da Marinha. Trata-se do setor das Forças Armadas que se responsabiliza por averiguar a segurança das embarcações e determinar, v.g.,  a lotação máxima de cada barco. Depois, para fazer a operação comercial, o dono do veículo precisa credenciar-se nas agências estaduais para fazer viagens no interior de cada Estado ou com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para os casos de viagens interestaduais. As agências ainda se ocupam de observar a parte documental dos barcos, mas é a Marinha que fiscaliza as regras de segurança.  


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

O drama da PM e do Rio é um só

  
        Muito se enganam as instâncias diretoras do Estado do Rio de Janeiro, se se deixam embalar  nessa leda canção de aconchego, que pensam poder exorcizar as sérias ameaças que pendem sobre essa mui Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
         Até de maravilhosa já a chamaram,  mas jamais tivera à sua frente um governo que não governa,  Governador que não lidera, e um Secretário de Segurança que nos faz lembrar com saudade de quem se chama Mariano Beltrame, e que depois de gestão bem-sucedida viu o que imaginara seria o futuro do Estado transformar-se em um pesadelo, em que todos os planos da própria administração como que esmaeceram e desapareceram, fenômeno que sói ocorrer em pesadelos, mas que, no presente, por um kafkiano capricho, o que se pensava pudesse ser o futuro,  se transformou em realidade ao revés, em que se estigmatiza a força da ordem, e se permite que as realizações do passado se transformem em pesadelos, em imagens deformadas de perdidas ilusões, com a desejada transformação da favela em   bairro citadino.
            Tudo o que se disse, se clamou e se proclamou naquela cerimônia que pretendia simbolizar o futuro do convívio entre o morro e a planície - e para tanto chamaram as Forças Armadas, e não faltando o entusiasmo das grandes missões, aquelas que pensam construir um futuro mais justo e mais harmônico - o que assistimos na verdade estava nas imagens pressagas dos bandos de foras-da-lei a que, sem molestar, como se fora grupos de vadios e de malandros, se permitiu partirem  às carreiras, levando o que podiam sobraçar, e em todo tipo de veículo, da caminhonete até a velha carroça, e tudo ladeira abaixo, levantando a poeira da fuga desabrida, como se ela fosse a do esquecimento.  Julgava-se proscrever aquela gente como se fosse um bando de moleques, que tomariam modos e melhor comportamento alhures.
            Toda a irresponsabilidade do projeto se escreveu nas areias daquela picada. Se alguém acaso pensasse que nunca mais veria aqueles magotes de gente fora-da-lei - e este pensamento perpassou a consciência de muitos - por que, de repente, tudo nos aparecia  demasiado fácil,como aos espectadores que aquele fim da cerimônia - que congregava as três forças militares - surgia como um encerramento às carreiras, de afogadilho, que contrariava a grande mensagem que as altas autoridades davam a impressão de querer transmitir à população carioca.
               Vamos pacificar as favelas, assim como estamos cuidando do Alemão. Tudo em clima de festa, com muita alegria e regozijo. De repente, e não só nos bairros do conjunto do Alemão, mas toda a esperança e o entusiasmo que nascera com a favela integrada na Cidade grande, como se iniciara no Morro de Santa Marta, e se espalhara, como uma mancha de esperança e de paz,  em muitos bairros, vizinhos de favelas, que ora passavam a comunidades com lei, como, v.g. no Pavão-Pavãozinho, em que com a UPP cessaram os tiroteios e a insegurança - que se sente mas não se vê - nas ruas da cidade grande que são vizinhas, e que, como grandes espelhos, refletem fielmente o clima que lá em cima prevalece, como se verificou na paz que baixou na Saint Romain, na Sá Ferreira, e em tantos outros quarteirões de súbito revividos, sob o impulso da perspectiva enfim de tempos melhores, de paz, de silêncio citadino no morro e nos quarteirões a que o asfalto visita.
                 Cariocas que somos, por nascimento ou adoção, não diferimos demasiado das gentes de outras cidades e outras terras. Saudamos a paz quando ela existe - e ela perdurou por um bom tempo. No entanto,  pouco a pouco, se foi desmanchando a ilusão da paz. As UPPs começaram a não corresponder às necessidades dos moradores das favelas. Porque não basta mudar o nome de uma localidade - chamá-la de comunidade, por exemplo - para que tudo mude.
                     O desaparecimento e morte de Amarildo não aconteceram por acaso. O plano da urbanização das favelas acabaria como tantos outros projetos. Em plano. Em idéia.  Será que temos medo da ideia? Será que as comunidades não querem viver melhor?  Nada mais longe da realidade do que responder tais perguntas pela afirmativa. Pois o ser humano privilegia a paz e a justiça. Quando uma das duas capenga, os dias da ilusão estão contados.
                   Mas agora uma crise ainda mais alta se alevanta. Se se anunciasse este plano maldito de exterminar uma cooperação, de esvaziar um ideal e um projeto, quem ouvisse por vez primeira esse tresloucado projeto sequer acreditaria que tal desastre pudesse ocorrer.
                    Pois agora, a Polícia Militar sofre um projeto de esvaziamento físico, que meses atrás seria visto com ceticismo e aquele espanto que se reserva aos desenvolvimentos inesperados e impossíveis.
                   O que sucede agora no Rio de Janeiro?  Cala-se sobre o que não pode ser calado, assiste-se sem dizer palavra um projeto sem nome, cruel e bárbaro.  Querem exterminar uma corporação que é a nossa Polícia Militar do Rio de Janeiro, que existe desde o tempo da vinda do Rei de Portugal ao Rio colônia, que  logo se transformaria no Reino do Brasil.
                    A Polícia Militar do Rio de Janeiro, a PM é o apoio da gente honesta do Rio de Janeiro. Se um plano demencial está em movimento para liquidar aos poucos os PMs, o Governo do Rio de Janeiro, e em primeira plana o seu Governador, não se pode esconder por trás de frases vazias. À insolente ousadia de um plano bandido, não pode ficar sem resposta, por trás de frases que não mais correspondem à situação de crise que vive a Polícia Militar do Rio de Janeiro.     

                      

( Fontes:  Rede Globo,  O  Globo )

A Venezuela agoniza

                              

        Ler mestre Mario Vargas Llosa é sempre oportuno e se o tema de seu artigo da semana  -  A Venezuela Agoniza - não é agradável, ele apresenta versão séria, sem exageros, em que a própria atenção se volta para o Povo Venezuelano, que é o grande sofredor nessa antes Tragi-comédia,  e atualmente cada vez mais tragédia,  levada pelas forças da Corrupção e do desenfreado autoritarismo, que são a triste marca do regime pós-chavista (pois nem Chávez, com todas as suas loucuras, iria tão longe e tão baixo quanto o seu dito "discípulo" Nicolás Maduro).
         Diante de nada trepida esse regime por ser baixo e indigno. A Odebrecht - que já se marcara tristemente no Brasil lulista em seu doce aconchego na corrupção - ora continua nesse triste caminhar, como indicam as notícias do reino de dom Maduro. Com a camisa de Nessus ela adentra o pântano.
           Infelizmente, quando Venezuela e Colômbia eram os únicos fanais da democracia na América Latina,  não se firmou naquela terra forte consciência democrática.
           Lentamente, a frouxidão nos costumes e na res publica foram invadindo as aras dos palácios, até que no governo de CAP - Carlos Andrés Pérez - a insatisfação da população deu o fermento necessário para tentativa de golpe militar.  Foi na década de noventa, e o tenente-Coronel Hugo Chávez pensou que, na longa lista dos liberticidas,  a porta do palácio de Miraflores estaria a seu alcance, pois, como, de hábito, o estadista CAP andava em partes estrangeiras.
              Mas esse putsch falharia, eis que, mesmo na ausência do irrequieto CAP, houve espírito militar legalista que se recusou a repetir ali a pútrida estória dos cuartelazos. Recordo-me  de estar na bela Guatemala, quando soube que meu colega embaixador, que ali representava a Venezuela, mostrara pela voz alteada o estado de espírito de um que se acreditara livre das passadas aventuras castrenses, o quanto o desestabilizara aquela inopinada tentativa de golpe.
                 A presença militar que, de sólito, tantas vezes interrompe a democracia - ou a sua aparência - nos séculos pós-independência da América Latina -  marcara o Império do Brasil, seja com o Primeiro Reinado, tão tempestuoso quanto o seu jovem titular, seja o Segundo Reinado, quando não se daria a Dom Pedro II o honroso fim que fizera altamente por  merecer, após as muitas décadas - depois de sua maioridade à brasileira, com o Quero Já! - que o levariam ao quase limiar dos cinquenta anos de serviço ao Império Constitucional - brutalmente interrompidos com a cavalgada e o ritual levantar do quépi, tão típico do subdesenvolvimento de América do Sul, e tristemente merecedora da melancólica observação de político portenho, que contemplara de longe o fim da democracia republicana, na América Latina.
                    Ao imperador-cidadão, versado em línguas e livros, homem justo e democrata, que aguentaria os excessos de  imprensa com recaídas pasquinescas, se acordaria de madrugada, no palácio da Quinta da Boa Vista, para que de imediato,e  a desoras, como se fora um réprobo qualquer, partisse, e quem o fazia era oficial de baixa hierarquia, pois para os vencidos - e ali tinham curso as palavras de Breno, vae victis![1], sem qualquer respeito o escorraçam da terra onde de Leopoldina nascera e dessarte pensavam  diminuí-lo - e desse modo vil lhe determinaram que do torrão natal partisse, como se fora alguém a quem desejavam ocultar, por simbolizar legalidade e  democracia, duas características que nos fariam muita falta, ao se dar pronta partida ao triste fenômeno do subdesenvolvimento de America Latina - aquele dos pronunciamientos e dos golpes militares.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, Mario Vargas Llosa )



[1] O rei gaulês Breno assim se expressa (Ai dos vencidos­!) quando os cidadãos da jovem Roma reclamam das condições a que o invasor os submete. E para enfatizar - e explicitar - a ordem,ele joga na balança a própria espada, que, na verdade, constitui a razão e o suporte de sua atitude...

O IPSOS e os grandes na Vida Pública

                                         
       
         O juiz Sérgio Moro tem 55% de aprovação (a mais alta avaliação positiva)  e 37% de desaprovação. Somente o Ministro Joaquim Barbosa  congrega, como Moro, aprovação maior que a desaprovação (47% de aprovação  e 36% de desaprovação). 

      Atravessamos um momento de descrença relativa da Opinião Pública no que tange aos grandes personagens que por ela circulam.

          Cabe a maior rejeição ao Presidente Michel Temer, com 93% de desaprovação, e só 3% de aprovação.

           Seguem Aécio Neves, Senador, com 91% de rejeição  e 3% de aprovação;
          Gilmar Mendes,  ministro do STF, com 67% de rejeição, e 3% de aprovação;
           Lula da Silva, com 66% de rejeição, e 32% de aprovação;
           Rodrigo Janot, Procurador-Geral , com 52% de rejeição, 22% de aprovação;
    
           João Dória, prefeito de São Paulo, com 52% de rejeição, e 19% de aprovação; 
            Edson Fachin, ministro do STF, com 51% de rejeição e 11% de aprovação;
             Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, com 47% de aprovação e  36% de rejeição
             Cármen Lúcia, com 47% de rejeição e 22% de aprovação
             Luciano Huck, com  44%  de aprovação e 42% de rejeição.



( Fonte:  O Estado de S. Paulo )