quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O Fracasso da Segurança no Rio

                              
           
           Ainda que pareça difícil, a segurança no Rio de Janeiro vem piorando acentuadamente nesses dois últimos anos, por mais que se pense  que tampouco nos anos anteriores  ela haja estado a contento.
            O último momento em que luziu a esperança para o carioca foi na célebre retomada do Alemão, um ato organizado pelo governo Sérgio Cabral, com a participação das Forças Armadas e a enorme euforia do sofrido povo carioca, que pensara encontrar naquela cerimônia uma espécie de grande abertura de um novo tempo, com a perspectiva da paz entre o morro e a cidade.
              Tínhamos então um senhor secretário de segurança, homem correto e íntegro, Mariano Beltrame, que infundia à população confiança pela sua seriedade e conhecimento do mister.
               Já me reportei ao tema mais de uma vez, e peço, por conseguinte, ao leitor que releve se vier a repisá-lo. Não é minha intenção, porém, eis que o interesse está em frisar na capacidade da população acreditar e apoiar um projeto factível e abrangente, ao invés de uma operação midiática. Então, pela existência de um plano de segurança, e sobretudo pelo respeito de que Beltrame, pela sua honestidade e competência  fruía,  luziu um instante em que a gente carioca julgou oportuna e realizável a empresa.
             Se o cometimento iria malograr,  não se pode atribuí-lo  ao pessoal intermediário que, sob a direção de Beltrame, pôs mãos à obra. Até a mídia, inclusive a TV Globo terá acreditado acerca da factibilidade de as duas metades da cidade conviverem pacificamente, dentro da imagem evocada pelo cronista Zuenir Ventura.
            No entanto, mais este plano viria a falhar, passados uns dois ou três anos (as ilusões costumam durar, sobretudo se ansiadas pelo povo carioca).
            Hoje, o governo do Rio de Janeiro está, além de quebrado, desmoralizado. Beltrame já se foi faz muito, depois de empenhar-se por aquele sonho a que outros não trouxeram o mesmo brio e aporte.
           Algumas coisas nós residentes na antiga Cidade Maravilhosa ainda acreditamos como possíveis e realizáveis. Não é impossível restabelecer a ordem no Rio de Janeiro, por mais dificultoso que isso nos pareça.  Não será, porém, através de jogadas de efeito - gimmicks para os nossos irmãos americanos - que conquistaremos a Paz. Esqueçam - e nisso ouço o próprio parecer do Ministro da Segurança, Raul Jungmann, e dos generais - as intervenções cirúrgicas das Forças Armadas. Elas simplesmente não resolvem. Serão sempre tópicas e podem inclusive acarretar para o seu efetivo eventual contaminação por influência do tráfico. Assim, ao invés de resolver um problema citadino, se comprometeria a soldadesca federal.
               Será necessária a limpeza da Polícia Militar e da Polícia Civil. A corrupção tem de ser combatida. Não há confessionário que lhe dê solução. Quando a falha é grande, os remédios têm de sê-lo igualmente. Se a imagem do governador Pezão é de uma atroz infelicidade - os p.ms. não morrem como galinhas, mas como gente, e como seres humanos eles têm de ser respeitados e valorizados. Se não há perdão para a corrupção - e a limpeza da corporação carece de ser feita em todos os níveis - aqueles que se empenham na sua perigosa labuta diária carecem de ser levados a sério.
               Não é só no plano humano que esta campanha tem de ser feita.  Ela deve ser igualmente realizada no nível de armamento.  Neste ponto, a PM pode contar com ajuda eventual de atividades de inteligência, sobremodo na localização das armas e das munições no Rio de Janeiro. Esse tipo de armamento tem de ser retirado do tráfico e dos bandidos, em operações não só pontuais, mas que perdurem. Mas esse armamento - que inferniza a vida das corporações militares e, também eventualmente, das Forças Armadas carece de ser ou destruído (quando de valor menor) ou enviado para fora do Estado, em depósitos seguros, a serem utilizados pelas Forças Armadas ou por corporações similares à PM carioca, em outros estados, de preferência afastados da terra carioca.  Nesse ponto, se o armazenamento não oferece segurança, é preferivel inutilizar o armamento.
                 Tenha-se presente que será necessário, imprescindível mesmo, colocar no Rio de Janeiro pessoal de comando que inspire confiança no carioca.  Há gente honesta, jovem e competente.  Para a longa caminhada - e esta é de provocar inveja em andarilhos! - não basta só o primeiro passo.  Há muitos pela frente. São indispensáveis firmeza,  seriedade,   coragem e  honestidade. Basta uma dessas faltar, para pôr tudo a perder.

(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo

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