Ainda que pareça difícil, a
segurança no Rio de Janeiro vem piorando acentuadamente nesses dois últimos
anos, por mais que se pense que tampouco
nos anos anteriores ela haja estado a
contento.
O último momento em que luziu a esperança
para o carioca foi na célebre retomada do Alemão, um ato organizado pelo
governo Sérgio Cabral, com a participação das Forças Armadas e a enorme
euforia do sofrido povo carioca, que pensara encontrar naquela cerimônia uma
espécie de grande abertura de um novo tempo, com a perspectiva da paz entre o morro
e a cidade.
Tínhamos então um senhor secretário
de segurança, homem correto e íntegro, Mariano Beltrame, que infundia à
população confiança pela sua seriedade e conhecimento do mister.
Já me reportei ao tema mais de
uma vez, e peço, por conseguinte, ao leitor que releve se vier a repisá-lo. Não
é minha intenção, porém, eis que o interesse está em frisar na capacidade da
população acreditar e apoiar um projeto factível e abrangente, ao invés de uma
operação midiática. Então, pela existência de um plano de segurança, e sobretudo
pelo respeito de que Beltrame, pela sua honestidade e competência fruía,
luziu um instante em que a gente carioca julgou oportuna e realizável a
empresa.
Se o cometimento iria
malograr, não se pode atribuí-lo ao pessoal intermediário que, sob a direção
de Beltrame, pôs mãos à obra. Até a mídia, inclusive a TV Globo terá acreditado
acerca da factibilidade de as duas metades da cidade conviverem pacificamente,
dentro da imagem evocada pelo cronista Zuenir Ventura.
No entanto, mais este plano viria a
falhar, passados uns dois ou três anos (as ilusões costumam durar, sobretudo se
ansiadas pelo povo carioca).
Hoje, o governo do Rio de Janeiro
está, além de quebrado, desmoralizado. Beltrame já se foi faz muito, depois de
empenhar-se por aquele sonho a que outros não trouxeram o mesmo brio e aporte.
Algumas coisas nós residentes na
antiga Cidade Maravilhosa ainda acreditamos como possíveis e realizáveis. Não é
impossível restabelecer a ordem no Rio de Janeiro, por mais dificultoso que
isso nos pareça. Não será, porém,
através de jogadas de efeito - gimmicks
para os nossos irmãos americanos - que conquistaremos a Paz. Esqueçam - e nisso
ouço o próprio parecer do Ministro da Segurança, Raul Jungmann, e dos generais
- as intervenções cirúrgicas das Forças Armadas. Elas simplesmente não resolvem.
Serão sempre tópicas e podem inclusive acarretar para o seu efetivo eventual contaminação por influência do tráfico.
Assim, ao invés de resolver um problema citadino, se comprometeria a soldadesca
federal.
Será necessária a limpeza da
Polícia Militar e da Polícia Civil. A corrupção tem de ser combatida. Não há
confessionário que lhe dê solução. Quando a falha é grande, os remédios têm de
sê-lo igualmente. Se a imagem do governador Pezão é de uma atroz infelicidade -
os p.ms. não morrem como galinhas, mas como gente, e como seres humanos eles têm
de ser respeitados e valorizados. Se não há perdão para a corrupção - e a
limpeza da corporação carece de ser feita em todos os níveis - aqueles que se
empenham na sua perigosa labuta diária carecem de ser levados a sério.
Não é só no plano humano que
esta campanha tem de ser feita. Ela deve
ser igualmente realizada no nível de armamento.
Neste ponto, a PM pode contar com ajuda eventual de atividades de
inteligência, sobremodo na localização das armas e das munições no Rio de
Janeiro. Esse tipo de armamento tem de ser retirado do tráfico e dos bandidos,
em operações não só pontuais, mas que perdurem. Mas esse armamento - que
inferniza a vida das corporações militares e, também eventualmente, das Forças
Armadas carece de ser ou destruído (quando de valor menor) ou enviado para fora
do Estado, em depósitos seguros, a serem utilizados pelas Forças Armadas ou por
corporações similares à PM carioca, em outros estados, de preferência afastados
da terra carioca. Nesse ponto, se o
armazenamento não oferece segurança, é preferivel inutilizar o armamento.
Tenha-se presente que será necessário, imprescindível mesmo, colocar no
Rio de Janeiro pessoal de comando que inspire confiança no carioca. Há gente honesta, jovem e competente. Para a longa caminhada - e esta é de provocar
inveja em andarilhos! - não basta só o primeiro passo. Há muitos pela frente. São indispensáveis firmeza,
seriedade, coragem e honestidade. Basta uma dessas faltar, para pôr
tudo a perder.
(Fontes: O Globo, Folha de S.
Paulo, Estado de S. Paulo
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