A pergunta, caro
leitor do blog, não é retórica. A situação geral naquele país da América do
Sul está entre o caótico, o quase anárquico, e todas as demais consequências da
hiperinflação, em termos sociais, alimentares, sanitários e médicos.
Em
outras palavras, as carências - se me
relevam o contrassenso - pululam, a ponto de desenhar-se para a população,
tanto civil, quanto militar, um estado de coisas fora de controle. Essa situação de anomia no país vizinho -
não há regras nem condições confiáveis para atendimento médico, v.g. - tem
constrangido militares, tanto de alta, quanto de média patente, a
desrespeitarem regras básica na movimentação castrense, porque na bagunça
reinante na terra de Nicolás Maduro essa é a única solução, se se quer atender
a um sentido básico no ser humano: o instinto da sobrevivência.
Assim,
na tarde de domingo, 21 de maio de 2017, o general de brigada do Exército
venezuelano Silvano José Torres Oñates, de 46 anos atravessa a fronteira de seu
país rumo à capital de Roraima, Boa Vista, sem informar oficialmente às
autoridades militares brasileiras, e sem se identificar como integrante das
F.A. do país vizinho. Sua discrição tem um motivo forte: como membro da cúpula
militar que apóia o presidente Maduro, ele vinha ao Brasil em busca de
atendimento médico, após sofrer fratura no fêmur.
Prontuários de atendimentos realizados no principal hospital de Boa
Vista revelam um fluxo de militares venezuelanos em busca de socorro, sem que o
Comando do Exército seja previamente informado. E não por acaso tal
movimentação chamou a atenção do serviço de inteligência do Exército
brasileiro.
O
caso de Oñates - e de pelo menos outros três militares venezuelanos - revela
que até integrantes de alta patente do país vizinho estão ingressando em
território brasileiro para obter socorro médico de urgência em casos como
fraturas, meningite e até extração de um osso de galinha preso à garganta.
Como
assinalado no início do artigo, a Venezuela vive gravíssima crise
econômico-financeira, que tem muitas
causas, a começar com o desgoverno chavista (a inflação começa a agravar-se em
fins da administração de Hugo Chávez, na
fase terminal da enfermidade do câncer o desgoverno tende a agravar-se). Desde a "eleição" de Nicolás
Maduro, surgiu um condicionamento optimal
para a aceleração inflacionária, já existente em níveis preocupantes sub Hugo Chávez. A inépcia de Maduro e de sua
"equipe", só tendeu a agravar a situação econômico-financeira, que
agora se acha fora de qualquer controle. As crises nunca vem sozinhas. A
Venezuela é, na prática, um país de monocultura, valendo-se do petróleo de ótima qualidade extraído
pelo ente estatal PDVSA como fonte de divisas.
Contribuíu ainda mais para agravar a situação financeira, a queda no
preço do petróleo, decorrente de causas externas no âmbito petrolífero, de que
a Venezuela só colheu os efeitos negativos.
Despencando a balança de pagamentos - dados os menores recursos das
exportações petrolíferas e a falta de reservas em moeda forte, consequentes da
profligação nas contas externas, e a falta de reservas estratégicas em
divisas, esta consequência direta da
megalomania de Hugo Chávez Frias, que chegou a montar uma espécie de OEA
chavista, além de subvencionar as aquisições de petróleo venezuelano
pelos países pobres à sua volta (Cuba,
Nicarágua, etc.), o que acelerou a queda nos fundos venezuelanos.
Sem moeda forte para pagar as contas externas, e os calotes se sucedendo, aí estão em grandes linhas as causas humanas e estruturais da situação, se não criada, exacerbada (pela
própria ineficácia e falta de capacidade gestora da Administração (?)
Maduro).
Consoante a reportagem de O Globo, duas
horas depois do general de brigada Oñates dar entrada no Hospital Geral de Roraima (HGR), o capitão do 513º Batalhão de Infantaria da
Selva, Jairo José Lotero Mendoza chegou
ao hospital. Por vezos militares, procuraram
tanto o general, quanto o Capitão dar informações enganosas sobre a
causa dos traumas.
O Exército Brasileiro verificou que os dois se acidentaram na explosão
de morteiro, durante exercício militar
no município de Santa Elena de Uairén, a 80 km da fronteira
brasileira. É de notar-se que essa cidade conta com hospital e aeroporto, e
está a cerca de 231 km de Boavista.
Ambos os militares foram submetidos a cirurgias. O general Oñates deixou o Brasil no dia 29,
após ter alta. Militares brasileiros o
acompanharam até o aeroporto de Boa Vista, de onde partiu para Caracas. Por sua
vez, o capitão Lotero Mendoza retornou à Venezuela, no dia 26, sendo acompanhado até a fronteira.
Cinco meses depois desses atendimentos de urgência, soldados venezuelanos também vieram, sem
informar às autoridades, e sem declinar da sua condição militar. Já no dia dezoito de outubro de 2017, deu
entrada no hospital de Roraima o soldado
Luis Fernando Guiana Maraima.
Estava ele engasgado havia um dia
com um osso de frango na garganta e com febre. Neste caso, o Exército brasileiro só foi
informado da sua presença por telefone, após realizado o atendimento de urgência.
Após os cuidados médicos, foi ele acompanhado até o território da
Venezuela.
Sete dias depois, houve um caso mais grave: o soldado Edgar Jesus Losano
Flores, de vinte anos, deu entrada no HGR. Ao contrário dos anteriores, ele foi
encaminhado por médicos venezuelanos do Instituto de Saúde Pública do Estado de
Bolívar, no município de Ciudad Bolívar, a 700 km de Santa Elena. De acordo com o Exército Brasileiro, o
soldado passou pelos postos de saúde de
Santa Elena e Paracaima, até chegar ao Hospital Geral de Roraima. O diagnóstico confirmou a suspeita de meningite, mas Edgar Jesus não resistiu à doença e morreu catorze dias depois.
O Globo tentou contato com a
embaixada da Venezuela, por telefone, na quinta-feira, mas ninguém
respondeu. Encaminhado e-mail, e sem resposta, a reportagem foi
até a embaixada, quando foi informada que a responsável pelas Comunicações estava de férias (!). Apesar de a funcionária
haver informado o e-mail para
encaminhar a demanda, até o presente ela não foi respondida.
(
Fonte: O
Globo )
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