A consulta popular no Equador mostra
clara vitória do presidente Lenin Moreno
e, sobretudo, a pesada derrota do ex-presidente Rafael Correa, que pensara, ao
empenhar-se pela eleição de Moreno, em ter em Quito alguém que cuidasse da casa
enquanto ele estivesse repousando no exterior.
O ex-mestre escola, que editara leis
pesadas para a imprensa e perseguira a liberdade de crítica do poder, veio a
ser derrotado pelo eleitorado de forma muito mais pronta e pesada de o que
pensariam seus eventuais aliados.
A derrota do correismo, se lhe soa um
dobre sobre as perspectivas no futuro, é outro aviso importante para aqueles
integrantes de uma esquerda pronta à censura da imprensa e às leis mordaça.
A par disso, na América do Sul há dois
outros fortins do esquerdismo autoritário, i.e., Evo Morales, que prefere desconhecer a advertência de sua derrota
no referendo sobre a reeleição, e o sucessor de Hugo Chávez, que se converteu em verdadeiro flagelo da Venezuela, a
que me referi amplamente no blog de
ontem, i.e. Nicolás Maduro.
Os chamados "homens fortes"
sentem particular dificuldade em
preparar sucessores. Este é o caso de
Evo Morales, que resolve contrariar o
sentir popular, contrário à reeleição, e
bancar nos 30% de eleitores que ainda lhe parecem dar apoio incondicional.
Quanto a Nicolás Maduro, apenas os
cortesãos e a quadrilha dos chavistas, em processo de serem engolidos pelo
inferno em que aquele transformou a antes próspera Venezuela, podem ainda aferrar-se ao que resta do
chavismo.
Nem as lentes de
Monsieur Pangloss lograriam discernir
algo de positivo nos horizontes de regimes que pensaram ter o futuro pela frente. Agora, faces cansadas perscrutam,
temerosas, as cavalhadas que, com traços
trêmulos, riscam entre cruéis e cruentos, nos volúveis redemoinhos das nuvens de poeira, aquelas mesmo que tanto às vistas
ofendem, e, não obstante o
angustiado desconforto, ainda intentam,
malgrado injetadas, e até purulentas, entrever
o que parece reservar-lhes esse
desgraçado turbilhão, de chofre saído não se sabe bem de onde. Costuma ser
assim o desfecho dos longos regimes, e sobretudo os que empilham, miséria sobre
miséria, no que pensam seja o ledo passar dos dias sem história. Quantas
desgraças e injustiças, quantas febres terçãs que a gente pobre na botica não
encontrará poção alguma que ponha fim a tanto padecer. Se os ricos esquecem - e
mais ainda os vis governantes que se prevalecem de um poder indigno, nascido
das sombras e a elas destinado pelo sentir conjunto de um ódio mastigado
devagar, na irada e teimosa espera que de uma greta infernal irrompam malditos turbilhões, de repente saídos não se sabe bem ao certo, mas será sempre de os
que aguardam, com a paciência curtida em alguma greta infernal, pôr as mãos suarentas e calosas, na hora suprema da
vingança por demasiado tempo engolida.
O Tirano e toda a súcia de os que
lhe vivem ao redor, fartando-se do que lhes abre a mesa do poder, não pensa, sequer medita, da hora terrivel que
preparam eles, essa plebe para Ele ignara e abjeta, para o encontro marcado com
as próprias maldades, ganâncias vis e toda sorte de menosprezo pela gente
pequena. Por mais bem guardado que seja o Palácio, nesta hora ele estará aberto
para que o Povo possa enfim regalar-se com seus prazeres em geral simples, mas
amiúde terminais quando se rasgam as cortinas e a maldade pura, o egoísmo sem
peias, a própria humana estupidez diante de toda a insensibilidade do passado,
e de o que produz o brutal, ignóbil mesmo, contraste entre a opulência crua e
nua, e a subexistência, tão sofrida quanto humilhada daqueles que ofendera e
espezinhara mesmo sem sequer conhecer.
(Fontes:Folha
de S.Paulo,O Estado de S.Paulo,Voltaire,Fernando Sabino )
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