terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Suprema Corte Republicana


                              
        Por quase meio-século, a Suprema Corte americana tem maioria de juízes republicanos. Essa predominância do GOP no topo do ramo judicial tem tido reflexos que podem ser considerados desastrosos para a sociedade estadunidense.
         A influência desse Supremo republicano tem pesado bastante sobre a sociedade americana. Até houve oportunidade em que esse Supremo contribuíu para interromper o processamento dos votos no estado da Flórida, e através dessa estranha e fora das regras resolução, com mão pesada e parcial, determinou a suspensão da contagem manual dos votos naquele estado sulino.
          Ao sustar a recontagem, por primeira vez na História, o Supremo interveio diretamente no resultado de uma eleição. Lenta, mas seguramente tudo indicava que se se desse o necessário espaço horário para tal recontagem, o candidato democrata Albert V. Gore prevaleceria sobre George W. Bush, republicano.
          Mas a Suprema Corte, devidamente persuadida por hábil advogado e político republicano, muito próximo da família Bush, preferiu, com a mão pesada da injustiça, interromper o gradual, lento, na aparência terminável processo de recontagem.  Por primeira vez, na história estadunidense, para sua vergonha, a Corte, com maioria republicana, determinou a suspensão da recontagem na Flórida, e com a brutal sutileza de um  paralelepípedo, jogado na ritual, mas muito real balança da Justiça, determina que o perdedor, no caso o candidato republicano, será o ganhador da eleição na Flórida, e, por conseguinte, completará o número de votos necessários para o triunfo no Colégio Eleitoral. Na verdade, a Corte suspendeu o relógio, para que a vantagem popular do candidato do GOP, que desaparecia lenta mas seguramente, ficasse congelada no tempo, para justificar o resultado abusivo.
           Não vejo, por conseguinte, muita diferença no procedimento desleal e ilegal do Senador Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, que se negou a sequer considerar para avaliação pelo Senado a indicação pelo Presidente Barack Obama  de Juiz brilhante e experiente, como é o Juiz Merrick Garland, membro veterano de Corte Federal de Apelações, para ocupar na Suprema Corte a cadeira do Ministro Antonin Scalia.
            Durante um ano - foi o tempo em que ficou vaga a cadeira de Scalia - de forma desleal e contrária ao espírito das leis, o líder da maioria republicana marcou o próprio arbítrio, que privilegiava a retenção por todos os meios - mesmo que fossem contrários ao bom senso e ao sentir da sociedade americana, pois o Senado foi privilegiado para decidir sobre quem ocupa a Suprema Corte, por se tratar do grupo presumivelmente mais informado e também, pela idade, com presumível atenção ao Direito e às questões do bom senso, que devem ser despojadas da paixão que sói prevalecer em assembleias mais jovens, e por conseguinte com tendências mais voluntariosas e menos conformes ao bom senso que se espera venha com a idade e a razão.
              Contra o espírito da Lei, e com o ânimo turbado pelo partidismo cego,  o líder da maioria Mitch McConnell mostrou não diferir  de algum chefe de vereança de comunidade qualquer,  não revelando sensibilidade para o que deva ser o espírito das Leis, e a sua relevância, porque ao respeitá-las alguém mostra não ser um animal ou pobre indivíduo cego pela paixão, seja de um clube, seja de um bairro, mas nunca de país como os Estados Unidos da América.  Como terão visto os Pais da Pátria o penoso procedimento  de alguém que, por mais que se esforce, parecerá sempre diminuto, pequeno mesmo em uma galeria  pela qual os visitantes sóem passar depressa, ao não divisarem ninguém que mereça o respeito que só o Espírito das Leis e a homenagem aos Maiores que a escreveram, fazem por merecer.

( Fontes: Montesquieu, De l'Esprit des Lois;  Barack Obama; The New York Times )

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