domingo, 4 de fevereiro de 2018

Nixon e Trump

                                                   
      Nunca os sobrenomes presidenciais de Nixon e Trump apareceram tão amiúde nos jornais. E, decerto, não é por acaso.
      Desaconselhado por assessores, Trump continua a pensar na destituição do subsecretário de Justiça, Rod Rosenstein. Fora ele quem nomeara o Procurador Especial, Robert Mueller. Como ele se recusa a exonerar Mueller, Trump precisaria encontrar alguém que se prestasse a tal serviço.
      De uma estranha forma, o panorama hodierno parece condizente à reedição do Massacre de Sábado à noite, que acabou muito mal para todos os envolvidos.
       A grande lição do Massacre de Sábado está em que um presidente não pode demitir para tentar sair de uma crise. Foi o que aprendeu Richard Nixon, apesar de ser muito mais esperto do que o atual presidente.
      Como se assinala, a despeito das maquinações desesperadas de Nixon, a crise terminou sem que o Presidente lograsse o próprio objetivo. Apesar de Trump investir contra o FBI, o seu atual diretor, Christopher Ray  está mais comprometido com os princípios do Direito. Ao prestar juramento, há quatro meses, ele jurou perante uma plateia de agentes federais que defenderia a Constituição e seguiria a Lei.
      É possível que os redatores da Constituição tenham previsto tempos difíceis e tempestuosos como os presentes.  Mas terão imaginado o surgimento de alguém como Trump, que Tim Weiner considera mais semelhante ao demencial Rei George da Inglaterra, do que   personalidades como Madison ou Jefferson ? Dada a relatividade humana, seria previsível que nem todos os presidentes fossem esclarecidos, mas semelha difícil que imaginassem o surgimento  de alguém tão perturbado que fosse capaz de, em situação como a presente,  de colocar a lealdade pessoal acima da Lei.
       O fato de que Trump pense na destituição de Mueller há meses,  seu gesto para livrar-se do Conselheiro Especial continuará a ser tão desesperado, quanto vão, e irá fatalmente provocar a crise constitucional de que já foi oportunamente alertado. Se insistir em agir fora da lei como o seu comportamento faz crer, estará provocando situação em que não pode sair vencedor. E ao cometer tal insensatez, estará decretando o seu próprio fim como presidente constitucional dos Estados Unidos.


( Fonte: O Estado de S. Paulo e The New York Times ).       

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