Ao ver a foto do Secretário de Estado
de Donald Trump, Rex Tillerson cessaram as minhas dúvidas sobre o acerto de
escolha do atual chefe da diplomacia americana.
O antigo especialista em petróleo vai agora
tratar da profissão dos punhos de renda. Esse termo se aplica aos diplomatas de
antanho, e os distingue de outros commis
d'État, como são os militares.
As notícias que se tem do Departamento
de Estado (State Department), o nome que tradicionalmente se atribui nos Estados Unidos
ao Ministério das Relações Exteriores não são, no entanto, boas.
A carreira diplomática atravessa
séria crise por causa da visão - ou, melhor, falta de visão - do presidente
Donald Trump que, além de não ser um intelectual, não tem especial pendor pela
diplomacia. Exemplos disso se acham na maneira no limite do grosseiro com que
tratou Angela Merkel, que é, por
assim dizer, a decana dos governantes no Ocidente.
A despeito da categoria da Merkel, a
sua última viagem a Washington foi um desastre. O esquizóide Trump a evitou
metade do tempo, chegando ao extremo de sequer cumprimentá-la (não lhe apertou a mão, como é a prática
usual). Tampouco demonstrou maior desejo
de estreitar a relação, agindo seja como um energúmeno (como se a Merkel
estivesse forçando uma relação, quando na verdade deveria ser uma reunião para
tratar de assuntos do interesse dos dois países, ou de Europa e Estados
Unidos).
Lembrei-me dessa maneira esquizóide com que
Trump fingindo ignorá-la (na verdade, talvez, tendo medo dela e de sua
experiência) lidaria com a personagem da Chanceler alemã, e logo me acudiu a
idéia de que ele Trump e Berlusconi,
hoje infelizmente aposentado, se entenderiam muito melhor, porque o
esperto italiano sabia tratar com qualquer um, até mesmo um tipo como Trump. Mas Trump breve reconfirmaria qual é o seu
real nível intelectual. Pois não é que
se deu muito bem - até ficaram de mãozinhas dadas - com a coitada da Theresa May! Trump confirmou
que abomina mulheres como a Chanceler alemã, entendida demais. Ele prefere o
tipo caseiro da Theresa May...
Agora, voltando à dura realidade do
governo Trump. Ao olhar para a cara
pouco expressiva, entre o pesado e o marmóreo
de Rex Tilllerson, de uma coisa tive a certeza. O atual Secretário de
Estado não deve entender muito de relações internacionais (como a sua
antecessora no State Department), mas pelo menos é um bom
representante de Trump, com a sua expressão truculenta, própria de um expert em petróleo e pouco mais.
Aliás, a crise no Departamento de
Estado é reflexo de uma dupla negação: os diplomatas americanos tanto de
carreira, quanto fora dela - refiro-me aos embaixadores - estão atravessando
uma seriissima crise, causada pela negação de Trump diante da diplomacia, de
seus estudos e suas sutilezas. Muitos
diplomatas sênior se estão afastando da carreira de Talleyrand, pelo total
desinteresse de Trump pelas relações externas. Essa dinâmica boçalidade vem
afastando os melhores do State, e vão
bater em outras portas da atividade civil.
Assim, ao contemplar o retrato de
Mr Tillerson, com suas certezas e o jeito truculento, vi que Mr Trump tem uma
espécie de alter ego em Foggy Botton (Fundo enevoado), que é um
dos apelidos do Departamento de Estado. E não pude deixar de sentir comiseração
dos meus chèrs collègues americanos, a quem o destino fez esta peça cruel.
E até entendi porque Mr Tillerson
não vai visitar o Brasil. Esta é a terceira viagem oficial da "era"
Trump à América Latina. E até hoje o
Brasil não é incluido no roteiro da viagem. Será porque o Itamaraty é demasiado
esperto?
Pensando bem, creio até que os representantes
de Trump tem razão... Diplomacia com essa gente é perda de tempo...
(Fonte: The New Yorker)
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