Votado em junho de 2016, o brexit
registrou maioria de 52% x 48 %. A consulta
surgiu de forma irresponsável, admitida por um Primeiro Ministro do Partido
Conservador. Pela inépcia da escolha, que teria tido o objetivo de 'queimar' uma
outra questão que o então Primeiro Ministro David Cameron achara oportuno que
fosse afastada pela consulta do brexit, que no seu entender seria também
rejeitada pelo eleitorado inglês.
O emprego de um remédio tão radical que
se provou ilusório pôs a nu a falta de visão política do então chefe do partido
Conservador. A inesperada vitória do brexit
forçou a renúncia do Primeiro Ministro, diante da falta de discernimento
que conduzira a uma das maiores confusões na velha Álbion.
A geração anterior de políticos
conservadores, muitos deles já falecidos, viu com enorme consternação o
resultado do referendo, mal escolhido, mal convocado e que representava a
irresponsável negação da vocação européia do Reino Unido, pela qual a geração
anterior de políticos conservadores e trabalhistas se empenhara com denodo e
persistência, enfrentando e, por final, vencendo a negativa do general
de Gaulle, então presidente da França - e pronunciada em uma de suas
famosas conferências de imprensa no Palácio do Elysée.
Somente depois do desaparecimento do
estadista francês, foi possível à
liderança britânica pleitear e conseguir o ingresso da Inglaterra no mercado
comum europeu.
Continuam a existir condições
válidas para superar o brexit, o que
necessitará um outro referendo. Há um apoio de até 60% da população inglesa à realização de um novo referendo,
que anulasse o bréxit e refizesse a
ligação com a União Europeia.
Nesse sentido, os organizadores do
Grupo de Coordenação de Base (GCG, segundo a sigla inglesa) contam desfazer
esse passo para trás na história inglesa e retomar os laços com a Europa. No
entanto, ao levantar velhas potestades, o que constituía já uma união de
décadas, de repente se viu lacerada. Aberta a jaula, será muito mais difícil convencer o leão inglês a voltar a
Bruxelas. Cervantes, na sua obra prima "Don Quixote de la Mancha",
entre os seus numerosos episódios, nos descreve uma das desarrazoadas
exigências do engenhoso fidalgo, quando topando com carroça que transportava
uma jaula com um leão, forçou quem era responsável pela condução, a abrir a jaula, pois Don
Quixote assim o exigia.
O responsável pelo transporte desse
feroz animal tudo fez para demovê-lo de seu propósito, mas Don Quixote não
cedeu.
Afinal, lamentando-se pelo que
iria acontecer, o vigia concordou em
abrir a jaula. O leão então levantou-se e foi até à grade escancarada. Em
lentos movimentos a fera farejou o aberto espaço da jaula, olhou em torno, e,
em seguida, voltou ao seu lugar no espaço até então cerrado.
Quem sabe se os eleitores ingleses
também não o prefiram, como o Leão de
Cervantes, o espaço seguro da carroça, ao invés da insegurança de uma situação
nova e tão pouco previsível?
(Fonte:
Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.)
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