domingo, 18 de fevereiro de 2018

O brexit pode ser desfeito ?


                    

      Votado em junho de 2016, o brexit registrou maioria de 52% x 48 %. A consulta surgiu de forma irresponsável, admitida por um Primeiro Ministro do Partido Conservador. Pela inépcia da escolha, que teria tido o objetivo de 'queimar' uma outra questão que o então Primeiro Ministro David Cameron achara oportuno que fosse afastada pela consulta do brexit, que no seu entender seria também rejeitada pelo eleitorado inglês.
        O emprego de um remédio tão radical que se provou ilusório pôs a nu a falta de visão política do então chefe do partido Conservador. A inesperada vitória do brexit forçou a renúncia do Primeiro Ministro, diante da falta de discernimento que conduzira a uma das maiores confusões na velha Álbion.
         A geração anterior de políticos conservadores, muitos deles já falecidos, viu com enorme consternação o resultado do referendo, mal escolhido, mal convocado e que representava a irresponsável negação da vocação européia do Reino Unido, pela qual a geração anterior de políticos conservadores e trabalhistas se empenhara com denodo e persistência, enfrentando e, por final, vencendo a negativa do general de Gaulle, então presidente da França - e pronunciada em uma de suas famosas conferências de imprensa no Palácio do Elysée.
           Somente depois do desaparecimento do estadista francês,  foi possível à liderança britânica pleitear e conseguir o ingresso da Inglaterra no mercado comum europeu.
           Continuam a existir condições válidas para superar o brexit, o que necessitará um outro referendo. Há um apoio de até 60% da população  inglesa à realização de um novo referendo, que anulasse o bréxit e refizesse a ligação com a União Europeia.
           Nesse sentido, os organizadores do Grupo de Coordenação de Base (GCG, segundo a sigla inglesa) contam desfazer esse passo para trás na história inglesa e retomar os laços com a Europa. No entanto, ao levantar velhas potestades, o que constituía já uma união de décadas, de repente se viu lacerada. Aberta a jaula, será muito mais difícil convencer o leão inglês a voltar a Bruxelas. Cervantes, na sua obra prima "Don Quixote de la Mancha", entre os seus numerosos episódios, nos descreve uma das desarrazoadas exigências do engenhoso fidalgo, quando topando com carroça que transportava uma jaula com um leão, forçou quem era responsável  pela condução, a abrir a jaula, pois Don Quixote assim o exigia.
            O responsável pelo transporte desse feroz animal tudo fez para demovê-lo de seu propósito, mas Don Quixote não cedeu.
             Afinal, lamentando-se pelo que iria acontecer,  o vigia concordou em abrir a jaula. O leão então levantou-se e foi até à grade escancarada. Em lentos movimentos a fera farejou o aberto espaço da jaula, olhou em torno, e, em seguida, voltou ao seu lugar no espaço até então cerrado.
              Quem sabe se os eleitores ingleses também  não o prefiram, como o Leão de Cervantes, o espaço seguro da carroça, ao invés da insegurança de uma situação nova e tão pouco previsível?

(Fonte: Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.)  

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