Gostaria de pedir a atenção do leitor
para o precioso artigo de Roberto Pompeu de Toledo, na VEJA
de catorze de fevereiro de 2018, sob o título Kay e Niomar.
É excelente a descrição de Pompeu de
Toledo sobre a trajetória de duas mulheres de valor e de muita coragem. Ambas
estão ligadas a dois grandes jornais, The Washington Post e O
Correio da Manhã.
A diferença entre os
dois jornais é que O Correio da Manhã
era o maior jornal do Rio de Janeiro, capital da República, enquanto o Washington
Post só ganharia realce nacional com o episódio dos Pentagon Papers, que Pompeu de Toledo menciona em seu artigo.
O que determinou a sorte de uma e outra -
Katharine
Graham, no Washington Post, e Niomar Moniz Sodré, no Correio da
Manhã - se deveu ao reconhecimento pela Corte Suprema americana do acerto na
publicação dos Pentagon Papers pelo
Washington Post, e à peripeteia sofrida
pelo Correio da Manhã, com o golpe
militar de 31 de março de 1964, que não só derrubou o presidente
Jango Goulart, mas abriu um período
de trevas na democracia brasileira.
Enquanto uma recebia os cumprimentos pela corajosa publicação dos Pentagon Papers, para a destemida Niomar
sobrou a cassação dos direitos políticos, a prisão em um enxovia de Bangu,
"reservada a ladras e prostitutas", segundo relatou Ruy Castro, que trabalhava na época no
que restava do Correio da Manhã.
Em
outras palavras, enquanto Kay vivia em uma democracia e na maior potência
mundial, Niomar enfrentou a reviravolta, com a ditadura
militar, o estrangulamento pelo respectivo governo, e diante do abandono dos anunciantes, arrendou o Correio a grupo de empreiteiros, que na
mão deles morreu, em 1974. A sua última edição, com oito páginas, teve a
tiragem de três mil exemplares.
Depois dos dias de glória de Paulo
Bittencourt, o destino dos dois jornais,
e das respectivas viúvas, é, na verdade, o reflexo das diferentes condições de
um país subdesenvolvido e frágil democracia, e de outro, uma outra
realidade, que reflete a pujança do desenvolvimento
e o respeito pela democracia. Se as personalidades dessas duas grandes mulheres
têm traços similares, a realidade política e econômica em que viviam se
apresenta brutalmente diversa.
(Fonte:
Roberto Pompeu de Toledo, Kay e Niomar,
na Veja, de 14.II.2018)
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