sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Kay e Niomar


                                       

      Gostaria de pedir a atenção do leitor para o precioso artigo de Roberto Pompeu de Toledo, na VEJA de catorze de fevereiro de 2018, sob o título Kay e Niomar.
      É excelente a descrição de Pompeu de Toledo sobre a trajetória de duas mulheres de valor e de muita coragem. Ambas estão ligadas a dois grandes jornais, The Washington Post e O Correio da Manhã.
     A diferença entre os dois jornais é que O Correio da Manhã era o maior jornal do Rio de Janeiro, capital da República, enquanto o Washington Post só ganharia realce nacional com o episódio dos Pentagon Papers,  que Pompeu de Toledo menciona em seu artigo.
      O que determinou a sorte de uma e outra - Katharine Graham, no Washington Post, e Niomar Moniz Sodré, no Correio da Manhã - se deveu ao reconhecimento pela Corte Suprema americana do acerto na publicação dos Pentagon Papers pelo Washington Post, e à peripeteia  sofrida pelo Correio da Manhã,  com o golpe militar de 31 de março de 1964, que não só derrubou  o presidente Jango Goulart, mas abriu um período de trevas na democracia brasileira.  Enquanto uma recebia os cumprimentos pela corajosa publicação dos Pentagon Papers, para a destemida Niomar sobrou a cassação dos direitos políticos, a prisão em um enxovia de Bangu, "reservada a ladras e prostitutas", segundo relatou Ruy Castro, que trabalhava na época no que restava do Correio da Manhã.
      Em outras palavras, enquanto Kay vivia em uma democracia e na maior potência mundial,  Niomar  enfrentou a reviravolta, com a ditadura militar, o estrangulamento pelo respectivo governo, e diante do abandono  dos anunciantes, arrendou o Correio a grupo de empreiteiros,  que  na mão deles morreu, em 1974. A sua última edição, com oito páginas, teve a tiragem de três mil exemplares.
         Depois dos dias de glória de Paulo Bittencourt,  o destino dos dois jornais, e das respectivas viúvas, é, na verdade, o reflexo das diferentes condições de um país subdesenvolvido e frágil democracia, e de outro, uma outra realidade,  que reflete a pujança do desenvolvimento e o respeito pela democracia. Se as personalidades dessas duas grandes mulheres têm traços similares, a realidade política e econômica em que viviam se apresenta brutalmente diversa.

(Fonte: Roberto Pompeu de Toledo, Kay e Niomar, na Veja, de 14.II.2018)

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