segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A Velhice de Brasília


                    

        Inaugurada pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 21 de abril de 1960, depois de três anos de construção, Brasília tem hoje 57 anos de existência funcional, e está bem a caminho de completar 58 anos bem vividos.
        Embora não tenha participado da inauguração, estive em Brasília não muito depois, durante o governo do Presidente João Goulart, quando da visita do Marechal Tito, presidente da então Iugoslávia, em setembro de 1963.
       Brasília ainda tinha muito poucos hotéis, e nos hospedamos talvez no primeiro hotel de Brasília.  Próximo do Palácio do Alvorada, desenhado como quase tudo o mais por Oscar Niemeyer, recordo-me que tinha os elevadores no centro do prédio, e quem estivesse lá hospedado, teria que percorrer o interminável corredor, que conectava a todos os quartos do andar.
        Tinha-se a impressão de que além da poeira, a Novacap ainda era uma cidade a ser preenchida pelo comércio e as construções do Plano Piloto. Quase todo o comércio se agarrava à W-3, e o que  ouvíamos ao adentrar qualquer loja era que o artigo procurado "está em falta".
        Mais tarde, lá viveria os meus primeiros anos de casado,  já com filhos pequenos. Isso, no entanto, fica para depois dos quatro anos transcorridos no Rio, em princípios de carreira, e fazendo tempo para a primeira saída em caráter permanente, o que,  segundo a usança se realizava no porto do Rio de Janeiro. Lá do alto da amurada do Giulio Cesare, vi delineados os meus maiores, com a minha avó materna apoiada pelas filhas - minha mãe e minhas tias - para dar-me o que pensava fosse um provisório adeus.
           Nesse tempo, já quase me esquecera daquela aventura brasílica. Era fevereiro de 1964, ano que não sabíamos ainda fatídico, não só na família, mas também no país.
          O que me lembro daqueles tempos pioneiros da Novacap foi o escasso diálogo entre o velho Marechal e o presidente Jango Goulart. Tito e sua visita de certa forma imantavam os conflitos in fieri naquele agitado Brasil pré-revolucionário. Sentia-se que os dois chefes de Estado tinham muito pouco a conversar. Jango talvez pensasse nas confusões com os governadores - tanto Carlos Lacerda (Rio de Janeiro), quanto Adhemar de Barros (São Paulo) não queriam saber da visita daquele comunista aos respectivos Estados.  Daí, talvez o desconforto de Jango, que parecia não ter muito o que dizer.   
          Lá fora,  a Brasília de então nos circundava. Os carros ainda eram poucos,  pedestres perdidos na poeira, o vazio por toda parte, o provisório muito presente, de cidade a permear os prédios públicos, pouco, muito pouco a declarar. Ao pensá-la grande, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, teriam eles que pacientar, para que o povo surgisse e depois chegassem as pessoas, e gritassem presente!  

Nenhum comentário: