O último caso de
maioria no sufrágio popular ser oposta ao resultado dado pelo colégio eleitoral
foi no ano 2000. Mas ele não é um caso típico da vantagem no colégio eleitoral
não corresponder - como é o exemplo neste ano de 2016 - ao que ocorreu em
2000. Por isso, essa eleição entre o
democrata Albert Gore e o republicano George Bush não pode ser usada como
exemplo, porque na verdade o que houve foi um esbulho eleitoral. A grande
eleitora foi a Corte Suprema que acolheu recurso do candidato republicano para
que interrompesse a apuração na Flórida, supostamente, segundo foi alegado,
porque ela estava tardando demasiado.
A Corte Suprema, por maioria de
cinco contra quatro - ou de indicados republicanos que se achavam em maioria de
um voto contra os indicados democratas - decidiu primo interromper a apuração na Flórida, e secondo, pelo voto nu e cru dos juízes republicanos decretar a
vitória do candidato republicano contra o democrata.
Este último, que era o
vice-presidente de Bill Clinton, preferiu não questionar a decisão da Corte,
embora dois fatores trabalhassem em seu favor. Gore teve maioria de cerca de
quinhentos mil votos a seu favor no voto popular. Além disso, como de resto o
demonstrava a lenta apuração dos votos na Flórida, a tendência era clara de que
a maioria naquele estado seria também a seu favor, o que lhe garantiria o
triunfo também no Colégio Eleitoral.
No entanto, Albert Gore preferiu
não contestar a estranha votação na Corte Suprema, quando concedeu a maioria de cinco votos contra
quatro, constituída de votantes republicanos, como autorizada legalmente a
cortar a disputa, tanto interrompendo a contagem na Flórida (que avançava no
sentido de ocasionar uma vitória do democrata Gore não só no voto popular, mas
também naquele do colégio eleitoral).
O desconforto, no entanto, cresce
nos Estados Unidos. Vamos admitir o presidente Donald Trump como eleito pelo
colégio eleitoral, enquanto em termos de votos numéricos, a diferença de
Hillary Clinton sobre o magnata
hoteleiro seria não mais de quinhentos mil, mas de um milhão de votos.
Com diferença tão pronunciada em
termos de votos concretos da totalidade nacional - enquanto ao vitorioso não se
oferece batatas, mas o cômputo do colégio eleitoral, cuja data de criação
remonta ao século XVIII - começam a colocar-se dúvidas sobre o real fundamento
de se decidir um resultado eleitoral por uma construção artificial, e não pela
soma de todos os cidadãos e cidadãs que votaram na última terça-feira, dia oito
de novembro, dando uma maioria de cerca de um milhão de votos à candidata do
Partido Democrata.
Não se desconhece o objetivo
primórdio do Colégio Eleitoral assegurando uma maioria de estados fosse
artificialmente construída para garantir, naqueles tempos de difíceis
comunicações em um largo território, a necessária manutenção da unidade
nacional.
No entanto, no século XXI,
essa fragilidade dificilmente poderia ser objeto de discussão. Entrementes,
resta o fato de cerca de um milhão de americanos julgaram Hillary Clinton como
a candidata mais adequada e com mais condições de assumir a direção da Nação
americana. É um dado concreto contra uma abstração, o colégio eleitoral. É uma
criação antiga, que só por datar do
século XVIII, tal não lhe confere a certeza absoluta de que corresponda à
maioria dos cidadãos americanos. Por que, por mais que alce a bandeira do
Colégio Eleitoral, restará o fato inegável que em relação a Trump Hillary
Clinton teve a maioria de pelo menos um milhão de americanos.
Não é pouco, para que seja,
não obstante o seu lado da balança pese mais, continue a ser declarada a
perdedora.
A vitória de Hillary por um
milhão de votos a elegeria em qualquer canto da terra, mas como se vê, não é
julgada bastante nos Estados Unidos da América.
Continua a ser um critério justo deixar que uma abstração tenha mais
força cogente do que tal respeitável vantagem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário