Na entrevista da 2ª
Feira, gostei do tom e da
franqueza - quando possível - do Ministro Luís Roberto Barroso.
Com relação a tópicos da entrevista, há
pontos a elogiar, outros a ressaltar, e alguns, a calar.
Folha: "Esse
país que o senhor preconiza pode conviver, por exemplo, com um juiz que divulga
conversas privadas, como fez Sergio Moro com as da família de Lula, quando a
lei diz que devem ser destruídas?"
Ministro Barroso: "Eu
não comento casos concretos. Mas, falando genericamente, vazamentos de
conversas privadas não associadas à investigação são reprováveis."
Folha: "Em algum
momento limites legais estão sendo rompidos?"
Ministro Barroso:
"Não, não tenho esse sentimento, não tenho. A minha percepção é a de
que não há um Estado policial e sim um
Estado democrático de direito querendo mudar seu patamar ético e civilizatório,
com todas as dores que isso traz."
A
questão talvez mais importante está na resposta do Ministro Barroso à pergunta da Folha sobre se há operação
abafa no ar: "Eu acho que não. Mas a quantidade de interesses
que foram revolvidos (pela Lava-Jato) faz com que isso seja uma possibilidade.
É preciso estar atento. Uma das sensações que me entristecem no Brasil é a gente ser menos do que pode ser. Se andarmos
na direção certa, nós viveremos uma ascensão mundial inexorável."
Folha: "O senhor defende o fim do foro privilegiado?
Ministro Barroso: "Eu falo sobre isso há mais de dez
anos. Quem deve ter foro no Supremo? Os chefes de Poder e talvez os ministros
do Supremo, e mais ninguém.
" Aí você tem duas
possibilidades: ou todas as autoridades passam a ser julgadas pelo foro que
julgaria qualquer cidadão comum, ou talvez elas precisem de algum grau de
proteção institucional.
" O parlamentar, o político em
geral é um homem sujeito a paixões e ódios. Portanto, no seu foro de origem, na
sua comarca, ele pode ser protegido ou pode ser perseguido.
"Se criássemos um juízo de primeiro grau especializado, em
Brasília, ele poderia ter uma isenção. E daria uma certa unidade ao
modelo."
Folha: A
comarca de um ex-presidente é o Brasil inteiro. Lula foi à ONU dizer que não
está tendo um julgamento justo no país.
Ministro Barroso: "Eu
não posso comentar."
Folha: Ele pode eventualmente sofrer perseguição
?
Ministro Barroso: "Tenho muitas opiniões, mas eu vivo um
momento em que não posso compartilhá-las todas. Peço que entendam a minha situação.
"Agora, eu não acho que
corrupção possa ser carimbada, a corrupção do PT, a do PSDB, a dos que eu gosto
mais, a dos que eu gosto menos. A corrupção é um mal em si, venha de onde vier,
e não deve ser politizada.
"A lógica da Justiça não
pode ser a do amigo ou inimigo.
" Há de a do certo ou errado, justo ou
injusto, legítimo ou ilegítimo.
"Quem se dispõe a participar
desse movimento do Estado democrático de direito, justo, tem que se despir de
suas convicções e preferências políticas. Aprendi a fazer isso aqui e,
honestamente, procuro viver assim."
( Fonte: Folha de S. Paulo - Entrevista da 2ª )
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