Costumam ficar juntos os pássaros com
as mesmas penas. Fenômenos similares tendem a repetir-se em países afligidos
por males semelhantes.
O mecanismo do Brexit é ora comparado à última eleição americana. São grandes
movimentos telúricos em que a razão conta pouco.
Guardado na algibeira de um político
de sinuosa mediocridade, que pensara utilizar esse referendo sobre o destino do
Reino Unido como se fora coisa de somenos, para valer-lhe em jogada intrapartidária.
Teve a estupidez recompensada com juros e correção monetária por um eleitorado
disparatado, que sequer atinava com a relevância da decisão, a que acorreu
apressado, pensando mais nas consequências triviais e imediatas do gesto, mais
ou menos na linha do aut-aut de político
conservador, que chegou a escrever dois artigos sobre o tema, um pró e o outro
contra, sem dar-se conta da esquizofrenia envolvida.
Já nos Estados Unidos, em pouco mais
de uma dezena de anos, por segunda vez o arcano colégio eleitoral joga para a
presidência candidato com menos votos do que a paradoxal perdedora.
Por ser mais capaz e preparada, por
haver desempenhado cargo público importante (e ser por isso sanhudamente
castigada pela união dos eleitores, que, amargos, lhe ressentem o brilhantismo,
o preparo e o singular domínio da máquina político-administrativo ) se vê
derrotada por alguém sem experiência na
máquina de governo, sendo por isso abraçado pela silenciosa maioria que
prefere o demagogo.
É a segunda vez que tal ocorre no
século XXI. Ao invés de sacrado pelo povo, então se preferiu o favorito da
maioria republicana na Corte Suprema, e para tanto se interrompeu um processo
judicial de aferição de votos para, às carreiras, nomear não aquele que detinha
a maioria do voto popular, mas sim o republicano com bons padrinhos. E por
primeira vez se ungiu presidente alguém minoritário no voto popular.
Desta feita, o procedimento, ainda
que diverso, se assemelha àquele, pois em último caso se favorece quem tem
menos votos.
Coloca-se na Casa Branca quem
já deu múltiplos sinais que para tanto não semelha estar preparado.
Apesar de manifestamente sem as
melhores condições para assumir a presidência,
Donald Trump, é guindado pelo voto silencioso de maioria que tem
vergonha de declinar o próprio sufrágio.
É o filho do mutismo das
minorias de ressentidos, todos unidos sob o manto do silêncio da urna de
votação, em que despejam mais raiva, desconforto e preconceito do que certezas
e visões de esperança de um mundo mais justo.
( Fontes:
O Globo, Folha de S. Paulo )
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