quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O triunfo da estupidez

                      

         Costumam ficar juntos os pássaros com as mesmas penas. Fenômenos similares tendem a repetir-se em países afligidos por males semelhantes.
          O mecanismo do Brexit é ora comparado à última eleição americana. São grandes movimentos telúricos em que a razão conta pouco.
          Guardado na algibeira de um político de sinuosa mediocridade, que pensara utilizar esse referendo sobre o destino do Reino Unido como se fora coisa de somenos, para valer-lhe em jogada intrapartidária. Teve a estupidez recompensada com juros e correção monetária por um eleitorado disparatado, que sequer atinava com a relevância da decisão, a que acorreu apressado, pensando mais nas consequências triviais e imediatas do gesto, mais ou menos na linha do aut-aut de  político conservador, que chegou a escrever dois artigos sobre o tema, um pró e o outro contra, sem dar-se conta da esquizofrenia envolvida.
           Já nos Estados Unidos, em pouco mais de uma dezena de anos, por segunda vez o arcano colégio eleitoral joga para a presidência candidato com menos votos do que a paradoxal perdedora.
            Por ser mais capaz e preparada, por haver desempenhado cargo público importante (e ser por isso sanhudamente castigada pela união dos eleitores, que, amargos, lhe ressentem o brilhantismo, o preparo e o singular domínio da máquina político-administrativo ) se vê derrotada por alguém sem  experiência na máquina de governo, sendo por isso abraçado pela silenciosa maioria que prefere o demagogo.
             É a segunda vez que tal ocorre no século XXI. Ao invés de sacrado pelo povo, então se preferiu o favorito da maioria republicana na Corte Suprema, e para tanto se interrompeu um processo judicial de aferição de votos para, às carreiras, nomear não aquele que detinha a maioria do voto popular, mas sim o republicano com bons padrinhos. E por primeira vez se ungiu presidente alguém minoritário no voto popular.
             Desta feita, o procedimento, ainda que diverso, se assemelha àquele, pois em último caso se favorece quem tem menos votos.
                Coloca-se na Casa Branca quem já deu múltiplos sinais que para tanto não semelha estar preparado.
                Apesar de manifestamente sem as melhores condições para assumir a presidência,  Donald Trump, é guindado pelo voto silencioso de  maioria que tem vergonha de declinar o próprio sufrágio.
                É o filho do mutismo das minorias de ressentidos, todos unidos sob o manto do silêncio da urna de votação, em que despejam mais raiva, desconforto e preconceito do que certezas e visões de esperança de um mundo mais justo.


(  Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: