O presidente-eleito
Donald Trump afirmou em entrevista ao
programa 60 minutos, da CBS, que
após assumir a Casa Branca pretende deportar de imediato até três milhões de
imigrantes com antecedentes criminais - ou ainda prendê-los.
O 'método' a ser empregado pelo
governo Trump é o seguinte: "o que a gente vai fazer é pegar essa gente
que é criminosa, e tem antecedentes criminais, membros de gangues, traficantes,
que são muitas destas pessoas, provavelmente dois milhões, podendo até ser três milhões, vamos tirá-los do país ou vamos
prendê-los".
Por sua vez, o presidente da Câmara
dos Representantes, o republicano Paul Ryan - julgado fundamental na agenda de
Trump no Congresso, tentou amenizar a promessa de ação imediata do presidente-eleito.
É de notar-se que essa reiteração
pelo Presidente-eleito da ameaça da campanha foi ao ar de forma na prática
concomitante com os protestos de rua - pelo quinto dia consecutivo - que
voltaram a ser realizados - um dos quais convocado pelos próprios imigrantes -
contra a eleição do bilionário republicano para a Presidência dos Estados
Unidos.
Contudo, há uma lixiviação
considerável das promessas de Trump
durante a campanha. Então, o republicano declarara que iria deportar "os
cerca de onze milhões de imigrantes"
- consoante estimativa das autoridades, que hoje vivem em solo americano de
forma ilegal, hispânicos na sua maior
parte.
Como se poderia qualificar o
processo utilizado pelo candidato e depois pelo Presidente-eleito, quanto à
determinação do número de pessoas a serem expulsas do país? Onze milhões (campanha); até três milhões (deportação imediata daqueles com
antecedentes criminais, com total provável de dois milhões).
Há uma inegável dança de números. Se depois
da vitória,´esses números emagrecem, existe evidente constrangimento com os
efeitos da promessa do candidato, ora eleito.
O Speaker Paul Ryan, que preside a Câmara de Representantes, tentou amenizar
a alegada promessa de ação imediata do Presidente-eleito: "Não estamos planejando uma força-tarefa para
deportação. Trump não está planejando isso."
Há várias
questões aqui que carecem de ser esclarecidas. Dada a brutalidade dos números
envolvidos, essa ação não será indolor, nem tópica. Ela envolverá muito
sofrimento, causado não só pela sensação de injustiça que a drástica medida
provocará - e não se poderá fingir que não haverá consequências traumáticas,
que irão até a autodecisões extremas.
Se o novo Governo americano
pretende agir com tal brutalidade - deportar seja dois milhões, seja três
milhões de pessoas humanas - vários e
inelutáveis problemas sócio-políticos se colocam desde já.
Admitido - para facilitar a
discussão - que o Governo Trump pretenda tratar de forma cirúrgica e com a
rapidez possível o processo de expulsão,
é importante ter em mente as variáveis de uma ação que vai atingir todo
o território dos Estados Unidos da América, dado o seu escopo de extirpar os
supostos indesejáveis para fins de deportação.
Quero crer que as autoridades
governamentais da nova Administração Trump terão presente todas as questões
envolvidas pela movimentação forçada de um número tão grande de pessoas.
Se o Speaker da Câmara de Representantes nos diz que tanto o Presidente
Trump, quanto o novo Governo "não estamos planejando uma força-tarefa para
deportação", semelha de todo
interesse conhecer qual será o processo a ser implementado. Pois não creio que Mr Paul Ryan esteja
cogitando de procedimentos cruéis e inusuais, como seria eventual caça a
feiticeiras e mesmo feiticeiros, para eventualmente determinar quais fariam
supostamente jus a tão pesada penalidade.
Por outro lado, é preciso não
esquecer que medidas drásticas podem ter consequências igualmente negativas e
não me reporto só à posição das comunidades-alvo. Ao retirar pela força esta
comunidade de estrangeiros se estará atingindo igualmente às comunidades
americanas, pois grande parte desses alienígenas exercem trabalhos na economia americana,
seja nos pequenos, médios e grandes núcleos demográficos. A América muito
cresceu por força do aporte das comunidades estrangeiras. Ver as listas
demográficas desse Povo é uma viagem através de muitos sobrenomes, que, por
força da própria permanência e do respectivo trabalho, se tornaram designações que
se nos afiguram qual transcrição do sonho americano e da crescente presença do
estrangeiro - seja ele um fugitivo político, um deslocado econômico, ou até
mesmo vítima de perseguições a estrangeiros - que de forma conspícua agrega o
seu quociente de trabalho e de cooperação à grande Nação americana.
O crescimento sócio-econômico
e a riqueza demográfica dos Estados Unidos da América resultam dessas grandes
ondas de migração que não pouco contribuíram para a riqueza econômica e
industrial, a cultura e a abertura de novas áreas do conhecimento desse belo projeto
conjunto do espírito humano, que é a transposição para a realidade de todos os
dias do grande sonho de todos os americanos que o tornaram possível, de modo a
transformar os Estados Unidos da América na Terra da Liberdade. Não a viram em
vão os imigrantes, tangidos pela pobreza ou intolerância religiosa ou social,
os amantes do governo do Povo, pelo Povo e para o Povo, vale dizer a liberdade
política e ideológica, a famosa Estátua da Liberdade, que foi doada ao Povo
Americano por grande e generosa Nação.
Tenha-se presente,
por fim, que se o aporte do Estrangeiro, venha ele de onde vier, deva respeitar
as leis e os costumes da grande Nação Americana, Ela tampouco pode esquecer a
contribuição dada por tantas comunidades para o desenvolvimento e, porque não
dizê-lo, para o progresso continuado dos Estados Unidos. Não há movimento mais
difícil e penoso do que separar-se do próprio torrão natal. Se anima aos
imigrantes o desejo de uma vida melhor, eles em sua enorme maioria o fazem com a
mesma disposição que animara a tantos outros que adentraram os Estados Unidos
da América tangidos por pobreza, perseguição política e mesmo racial, na
certeza de que aqui encontrariam o espaço em que pudessem se liberar do álgido
abraço da miséria ou daquele sufocante da intolerância nos vários nomes de que
se revestem opressão e repressão.
( Fontes: Declaração dos Direitos Humanos, Constituição dos Estados
Unidos da América )
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