quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ataque frontal à Lava-Jato

                              

        Na noite de ontem para hoje, trinta de novembro de 2016, o Congresso mostrou a sua face, desfigurando a Operação Lava-Jato e as suas bases jurídicas.  Não há nenhum exagero em considerar as emendas aprovadas pela Câmara na noite de terça para quarta-feira, como o golpe mais forte dado pela Legislatura à Lava-Jato e a toda sua ingente luta contra a corrupção.
         A proposta desfigurada passou com apoio de 313 deputados e 132 votos contrários.
          Para a Presidente do Supremo, Carmen Lúcia, o texto aprovado vai contra a independência do Judiciário.
           O Presidente do Senado, Renan Calheiros, que tem cerca  de onze processos contra ele no Supremo, disse que a proposta original só seria defensável no fascismo. Visivelmente animado com os ventos da Câmara Baixa, Renan  aduziu que foro privilegiado é questão complexa...
           A reação do Judiciário foi bastante forte. Os promotores da Força-Tarefa da Lava-Jato ameaçam renunciar se o Congresso Nacional aprovar o pacote anti-corrupção desfigurado ontem à noite.
           Como se encaixa à maravilha na votação da Câmara de ontem terça-feira, 29 de novembro, o autor do emendão - que desfigurou o pacote proposto - é investigado pela Lava-Jato. Com efeito, o líder do PDT - que é o autor desse pacote sinistro - Weverton Rocha (MA) é investigado pelo Supremo em pelo menos dois inquéritos sobre crimes contra a Administração Pública. Está envolvido em peculato e corrupção - desvio de verbas no Ministério do Trabalho, mediante a contratação ilegal de ONGs. Também Weverton é acusado de crime contra a Lei de Licitações, ao chefiar a Secretaria do Esporte, no Estado do Maranhão.
           Outra 'inovação' do pacote de Weverton é a de estender a faculdade de acusar por crime de responsabilidade por disposição legal de que o eventual acusado processe penalmente os investigadores. O escopo da medida é claro: intimidar os procuradores da República e os demais empenhados no combate ao crime em todas as suas facetas.
                Ainda é cedo para assinalar responsabilidades nesse súbito recrudescimento contra a Lava-Jato.  
                 O desafio contra a ordem legal e sobretudo contra a Lava-Jato é bastante ousado, e se não respondido à altura, contribuirá para a alegria de muitos corruptos. Ainda existe muita permissividade, inclusive com implicados em série de crimes ainda atuantes e o que é pior,agora estimulados por essa abertura de cancelas.
                  De qualquer forma, tem-se perdido muito tempo em discussões nugatórias, enquanto personagens com respeitável ficha penal permanecem ao largo, sem que o Supremo dê o exemplo.
                  Não se pode permitir que o processo seja utilizado como meio para estorvar o pronunciamento e a condenação de aqueles com a responsabilidade já caracterizada.
                  Por outro lado, a Sociedade Civil deve manifestar-se com a necessária urgência para que esse pacote contra a Lava-Jato seja questionado e debatido pelo Povo Brasileiro, para que a ação da Justiça através da Lava-Jato não seja estorvada pelos interesses inconfessáveis, e que o procedimento de recuperação ética de nossa sociedade possa continuar.

                  Os meliantes e seus representantes costumam apodar de fascista a Lei penal que busca pôr termo a que continuem a vicejar normas                              que favorecem o crime em todas as suas formas, inclusive no arremedo de normas penais que seriam desvirtuadas para acobertar a intimidação das instâncias jurídico-penais, e assim propiciar a uma sinistra inversão de papéis na esfera da Justiça, em que se outorgaria aos criminosos a faculdade de tentar amedrontar e até mesmo intimidar as autoridades cujo munus precípuo é o combate em todas as suas formas.

( Fonte: site de O Globo  )

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