sábado, 12 de novembro de 2016

Peripécias de Pimentel, Governador de Minas

                   

       Em função da chamada Operação Acrônimo, que se destina tão só a questões ligadas ao governador das Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), coube a Sua Excelência por disposição especial do Superior Tribunal de Justiça, que, para ser iniciada, a ação precisaria de aval dos deputados estaduais.
        A outra opção, que o Superior Tribunal de Justiça optou por não conhecer, seria aquela de ocupar-se diretamente da questão.
        Diante do contexto da Lava-Jato, é de surpreender que o governador petista das Minas Gerais tenha logrado obter tal atenção do dito Superior Tribunal de Justiça.
         Como seria de esperar, em sessão tumultuada (com mais de cinco horas de duração) a CCJ da Assembléia Legislativa de Minas Gerais  negou ontem a abertura de ação penal no STJ contra o Governador do Estado, Fernando Pimentel (PT), que é investigado no contexto da Operação Acrônimo da Polícia Federal.
         Antes mesmo de a votação encerrar-se, a oposição anunciou que acionaria a Justiça nesta segunda-feira, catorze de novembro, com mandado de segurança  para ter acesso à parte da denúncia contra o petista não colocada à disposição dos deputados pelo comando da assembleia, sob o pretexto de estar sob segredo de justiça.
          Como estão na situação, os petistas defendem como podem o governador acusado na Operação Acrônimo. Por sua vez, o deputado estadual Bonifácio Mourão (PSDB), integrante da Comissão na Assembleia, afirmou: "Vamos recorrer à Justiça, porque temos de ir atrás dos nossos direitos".
           Durante a sessão da Assembléia, houve bate-boca entre o relator do parecer, Rogério Correia (PT) e deputados da Oposição.
            Para o relator, dentro de uma posição formalista, quer que a Operação Acrônimo seja anulada pela Justiça, por supostas irregularidades na condução da dita Operação.  Assim, para o defensor do governador, na avaliação do dito Rogério Correia  (o que está também de acordo, pasmem,   com a defesa de Pimentel) a Operação Acrônimo deveria ser anulada (sic) pela Justiça, eis que um dos procedimentos errados na avaliação do dito Correia estaria na coleta de provas durante a apreensão do avião em que estava o empresário  Benedito Rodrigues de Oliveira, o Bené, em outubro de 2014.
             Nas investigações o empresário foi apontado como operador do Governador. É de assinalar-se que a defesa de Pimentel se volta para acusações formalistas, alegando que no dito avião foram apreendidos celulares e equipamentos eletrônicos sem mandado judicial.
             É de notar-se que a denúncia contra o Governador  se originou de delação premiada da parte do dito Bené. Por sua vez, o governador Pimentel é acusado de irregularidades no período em que foi Ministro do Desenvolvimento no governo de Dilma Rousseff.
             A Operação Acrônimo, da Polícia Federal, visa a investigar e, em consequência, enquadrar dentro do eventual descumprimento da Lei por parte do Governador petista das Minas Gerais, Fernando Pimentel. Essa Operação não tem decerto o impacto (e a força) nacional que tem a Operação Lava-Jato.
               No entanto, a coleta de provas é bastante ampla, assim como há muitas suspicácias quanto à eventual responsabilidade penal do Governador das Minas Gerais.  Se alguma coisa nos ensinou a Operação Lava-Jato e o Juiz Sérgio Moro, está na atenção que deve ser dada às operações policiais, assim como as confissões dos delatores premiados, desde que com a sustentação de provas sólidas, o que parece ser o caso.
               Por outro lado, há uma segunda denúncia contra Fernando Pimentel. A Procuradoria-Geral da República apresentou ao Superior Tribunal de Justiça a segunda denúncia por corrupção contra o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Desta feita, ele é acusado de receber propinas, por meio de intermediários, do herdeiro e ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, também denunciado , em troca de facilitar empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras na Argentina e em Moçambique. O caso foi investigado na Operação Acrônimo.
               A PGR sustenta que a Odebrecht teria oferecido R$ 15 milhões para que Pimentel viabilizasse, entre 2012 e 2014, a aprovação de demandas de interesse da empreiteira na Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Além do empresário e do atual Governador, mais quatro pessoas estão entre os acusados.
               É de assinalar-se que Pimentel, próximo de Dilma Rousseff, comandava na época o Ministério do Desenvolvimento, pasta à qual o BNDES está subordinado, e além disso presidia a Câmara, instituição que estabelece as diretrizes para as políticas de financiamento a prazo, bem como para as coberturas de risco das operações, inclusive as relativas aos seguros de crédito.
               Não parece ser o caso de citar as numerosas senhas "manteiga", "manga" e "alface"  que entre outros alimentos  estavam entre os códigos secretos  para liberar as propinas, entregues em hotéis.  Os recursos teriam sido usados  para financiar a campanha do então ministro ao Palácio Tiradentes, em 2014. Detalhes pormenorizados desse suposto esquema foram revelados pelo empresário Benedito Rodrigues de Oliveira, o Bené, apontado pela Polícia Federal como "operador". Ele firmou um acordo de colaboração premiada  com o MPF.
                   A Procuradoria Geral da República pede que Pimentel e Bené sejam condenados por corrupção passiva. Atribui o mesmo crime a Serrano e a Medeiros. A Odebrecht e a Nogueira é imputado o crime de corrupção ativa. 
                    A peça enviada ao Superior Tribunal de Justiça pede que a denúncia seja recebida sem autorização prévia da Assembleia Legislativa de Minas. À primeira vista, a situação do Governador Fernando Pimentel estaria favorecida, eis que a Corte já entendeu que esse rito deve ser seguido ao tratar da primeira acusação formal da Acrônimo contra o governador.
                    No entanto, o Superior Tribunal de Justiça deveria ter presente 'primo a circunstância de que concedendo esse privilégio ao Governador Pimentel, sendo petista a maioria na Assembléia, estaria concedendo a Pimentel a mesma possibilidade que a Assembleia não conhecesse da acusação, o que diante das inúmeras provas colhidas pela Operação tenderá a chocar a opinião pública, por ser o escopo principal do procedimento a consecução da Justiça, o que não ocorrerá se a Assembleia não conceder uma vez mais a autorização.
                       Há muitas acusações contra o Governador Pimentel. A Procuradoria Geral da República pede, por isso, que Pimentel e Bené sejam condenados por corrupção passiva. E atribui o mesmo crime a Medeiros e Serrano.  Por outro lado, à Odebrecht e a Nogueira, é imputado o crime de corrupção ativa.
                      Seguindo o exemplo maior da Lava-Jato, é importante que também a nossa segunda mais importante instância judicante evite - e, em especial, no caso presente, conforme já comprovado no procedimento anterior - barrar, de acordo com disposições formais, o que a muitos pode parecer com a concessão de privilégios casuístas que poderiam ser interpretados como criar óbices ao caminho da realização plena da justiça, mesmo que não seja esta a intenção da colenda Corte de Justiça.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )


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