quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Kelly prevalece sobre Jared...


                             
         Apesar de todas as mostras de prestígio de genro e conselheiro do Presidente, Jared Kushner teve de acomodar-se com autorizações de ler despachos de temas não tão secretos e ultrassensíveis, a que se aferrara durante mais de ano.

           Para cuidar da confidencialidade e mesmo da ultra-secretividade de certos temas, o Chefe de Gabinete John Kelly, depois de muita resistência de Jared e consequentes pedidos ao Presidente, não obstante, acabou por prevalecer.  

           O domínio da informação é dos perks (vantagens, em tradução livre), pelos quais mais se batalha nos redutos do Poder, e, por isso, na Casa Branca, a despeito do acesso do genro Jared ao escritório oval (que é o presidencial) Donald Trump acabou preferindo não desprestigiar o seu Chefe de Gabinete, quando os dois assessores bateram de frente, e Trump achou melhor ficar, nesse caso, com a hierarquia, ao invés de arranjar um problema prestigiando além da prudência o marido da própria filha...

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

Maduro precisa ser derrubado


                    

      O afastamento da realidade não é um detalhe eventual ou circunstancial. Que governo como o de Nicolás Maduro venha a posar de democrata, através da formalização da respectiva candidatura à reeleição no Conselho Nacional Eleitoral é mais do que um escândalo jurídico e político.  Tampouco é original em que apresente três candidatos amestrados como supostos rivais na campanha: são o "dissidente" Henri Falcon, o pastor  Javier Bertucci  e Reinaldo Quijada, chavista afastado do Governo. 
            Os ditos "chavistas", na verdade a corja de Maduro que proibiu todo e qualquer candidato com carisma e consequente possibilidade de prevalecer, em pleito honesto e não o embuste que o regime Maduro quer instrumentalizar para fingir-se de democrata, tudo isso constitui um acinte e desrespeito ao Povo da Venezuela, de que muitos de seus habitantes vêm tomando a estrada do exílio por necessidade vital.
            Na minha carreira diplomática vivi alguns anos no México, no qual o PRI dispunha de três dóceis partidos que se prestavam ao teatro de fingir concorrerem contra o grêmio oficial, de onde saía o chamado tapado, que era o candidato do PRI já ungido na prática antecipadamente como o próximo presidente de México.
             Na verdade, a atual Venezuela é cruel caricatura de  ditadura corrupta e incompetente, que está condenando milhares e milhares de pessoas, seja a emigrarem para os países vizinhos - como é o caso de Brasil e Colômbia -, mas também fecha os olhos quando seus generais, oficiais e soldados são forçados a recorrerem aos hospitais de nossa terra, para terem  tratamento de urgência que a latrodemocracia venezuelana de hoje não mais está em condições médicas e farmacológicas de realizar nos antigos, hoje despojados hospitais venezuelanos.
              Bem sei que se as Nações Unidas fossem determinar que os seus países-membros  sejam democracias, surgiria sério problema quanto ao número de países representados. No entanto, mesmo em tais condições, o que Maduro está realizando se trata de um crime de lesa-humanidade contra a sua própria gente.
              Dá-me engulhos, portanto, que esse bestial arremedo de democracia seja acatado ainda por países, diante do inusitado delito que o ditador Nicolás Maduro irá encenar, malgrado todas as ações, na realidade crimes que está praticando contra seu povo, condenado à fome e à consequente miséria, nessa  mortandade lenta e sádica que  um país sem remédios, com hospitais imprestáveis,  e as decorrentes condições de falta de qualquer  higiene para que esses infelizes, já depauperados e sem a medicação necessária (sem falar da subnutrição de país devastado pela hiperinflação) tentem arrastar-se aos países vizinhos, em busca de comida e de remédios.
              Por muito menos, o México, apesar das tentativas de reformadores de última hora, não pôde conservar o corrupto regime do  PRI (partido republicano institucional), e aquela falsa democracia para inglês ver não tardaria a ser sucedida por um novo ambiente e  nova atmosfera.
                Parece-me estranho que líderes como Zapatero possam se prestar a esta encenação. Gostaria de ler na imprensa hodierna que tal apoio não corresponde à verdade.   Nada que ajude Maduro - seja pela presença e a aparência de que, de alguma forma, se está dando ares de respeitabilidade democrática a um tirano que não se peja a coonestar com a própria presença o desastre ético e humano da Venezuela hodierna - tudo isso deve ser evitado e da forma mais pronta e cabal possível.
                Que carrascos como Nicolás Maduro e toda sua quadrilha sejam isolados e banidos.  As vítimas desse pútrido regime exigem punição,  e o quanto antes  melhor, para que esse Povo sofrido se livre dos pulhas que se vestem de branco, e se apropriam de o que não lhes pertence.

( Fontes:  O Estado de S. Paulo;  Shakespeare )             

Segovia demitido da chefia da P.F.


                        

          Verificada a insustentabilidade de sua permanência na chefia da P.F., o novo Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann demitiu Fernando Segovia das funções de diretor-geral da Polícia Federal.
            A causa da brevidade de sua permanência na chefia da Polícia Federal está por conta de polêmicas em que se envolveu quando no exercício do cargo, que determinaram a demissão  nas funções de   Fernando Segovia enquanto chefe da P.F.. A causa principal do afastamento foi haver indicado em entrevista a tendência pelo arquivamento de inquérito contra Michel Temer relacionado ao decreto dos Portos.
            Anteriormente, Segovia declarara que uma só mala não era prova suficiente de crime de corrupção (sobre a ação que flagrara o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures com R$ 500 mil).
              Segovia será substituído pelo delegado Rogério Galloro, que já foi o número dois da corporação. Segundo consta, Segovia deve exercer as funções de adido da Polícia Federal nos Estados Unidos.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )                  

Corrupção na P.M.


                           

          Não é de hoje que jornais noticiem, e o povo comente, sobre  corrupção na Polícia Militar do Rio de Janeiro.  Essa corrupção, de resto, não é idiossincrasia da corporação carioca, eis que em outros estados ela também é assinalada, como em São Paulo, e no Rio Grande do Sul, onde a tropa é chamada de Brigada Militar.

        Em tal sentido, o Estado de S. Paulo noticia hoje, com chamada de primeira página, que o General Walter Braga Netto "planeja apertar o cerco a oficiais da Polícia Militar responsáveis por batalhões que têm casos identificados de corrupção policial ou altos índices de criminalidade.

         E a nota de primeira página, assim se conclui: "Tenentes-coronéis da PM poderão ser trocados se não entregarem resultados esperados pelo comandante militar do Leste."


 ( Fonte: O Estado de S. Paulo )      

Retrocesso institucional ?


                              
        O jornal "Estado de S. Paulo" considerou a nomeação de um militar para o Ministério da Defesa um evidente e inegável retrocesso institucional.
          Com a saída de Raul Jungmann para o recém-criado Ministério da Segurança Pública, o Presidente Temer optou por nomear o general Joaquim Silva e Luna para a chefia do Ministério da Defesa.
          A nomeação de um general para o cargo da Defesa não é apenas fato inédito. Desde a criação da pasta durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, todos os ministros da Defesa foram civis.

          E assim o Estado conclui a parte inicial do editorial: "A nomeação de um militar é um evidente retrocesso institucional."

          O jornal, de resto, esclarece que não há nada de pessoal nas restrições: "Por óbvio o problema não reside na pessoa do general Luna, um homem de bem e de reconhecida competência."
          A propósito do problema levantado pelo Presidente Temer, Fernando Henrique assinalou "Governos, sobretudo quando não são fortes, apelam aos militares."


( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

PGR rescinde delação de Wesley Batista


         

      A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, informou o Supremo Tribunal Federal sobre a sua decisão de rescindir os acordos de colaboração premiada do empresário Wesley Batista, acionista do Grupo J&F e do executivo da empresa, Francisco de Assis e Silva.
      O documento foi entregue ontem ao relator do caso no Supremo, ministro Edson Fachin, que ainda vai decidir se homologará a rescisão.
       Segundo a Procuradoria-Geral da República, mesmo com o rompimento do acordo, as provas obtidas a partir da delação continuarão válidas.
       Na manifestação, Raquel afirma que, no momento do fechamento dos acordos, Wesley e Assis não informaram ao MPF fatos ilícitos, como a prestação de serviços ao grupo empresarial pelo então procurador da República Marcello Miller.  Segundo o documento, o ato configura corrupção ativa por meio da "cooptação de funcionário público, mediante vantagem indevida" para praticar ato em seu favor.
        Caso Fachin concorde com a rescisão do acordo, os dois executivos  ficam sujeitos a responder a ações penais neste caso.
        Em setembro, o então PGR Rodrigo Janot, rescindiu o acordo de colaboração firmado por Joesley Batista, irmão de Wesley, e pelo ex-diretor do Grupo J&F Ricardo Saud, sob a alegação de que os dois também omitiram fatos criminosos relevantes, descumprindo o acordo.
       Já no caso de Wesley, a decisão da PGR Raquel considerou indícios da prática de crime quando o empresário já se encontrava na condição de colaborador.
       Mensagens. Na Operação Lama Asfáltica, a Polícia Federal identificou no celular de Wesley um grupo de WhatsApp do qual faziam parte Joesley, Assis, Saud, Miller e Fernanda Tórtima, então advogada da JBS. As mensagens trocadas no grupo indicaram, segundo investigações, que Marcello Miller era considerado peça importante na condução dos acordos de colaboração premiada, antes mesmo de se desligar do Ministério Público, e que os participantes sabiam que ele ainda era procurador. 


( Fonte:   O Estado de S. Paulo )

A Suprema Corte Republicana


                              
        Por quase meio-século, a Suprema Corte americana tem maioria de juízes republicanos. Essa predominância do GOP no topo do ramo judicial tem tido reflexos que podem ser considerados desastrosos para a sociedade estadunidense.
         A influência desse Supremo republicano tem pesado bastante sobre a sociedade americana. Até houve oportunidade em que esse Supremo contribuíu para interromper o processamento dos votos no estado da Flórida, e através dessa estranha e fora das regras resolução, com mão pesada e parcial, determinou a suspensão da contagem manual dos votos naquele estado sulino.
          Ao sustar a recontagem, por primeira vez na História, o Supremo interveio diretamente no resultado de uma eleição. Lenta, mas seguramente tudo indicava que se se desse o necessário espaço horário para tal recontagem, o candidato democrata Albert V. Gore prevaleceria sobre George W. Bush, republicano.
          Mas a Suprema Corte, devidamente persuadida por hábil advogado e político republicano, muito próximo da família Bush, preferiu, com a mão pesada da injustiça, interromper o gradual, lento, na aparência terminável processo de recontagem.  Por primeira vez, na história estadunidense, para sua vergonha, a Corte, com maioria republicana, determinou a suspensão da recontagem na Flórida, e com a brutal sutileza de um  paralelepípedo, jogado na ritual, mas muito real balança da Justiça, determina que o perdedor, no caso o candidato republicano, será o ganhador da eleição na Flórida, e, por conseguinte, completará o número de votos necessários para o triunfo no Colégio Eleitoral. Na verdade, a Corte suspendeu o relógio, para que a vantagem popular do candidato do GOP, que desaparecia lenta mas seguramente, ficasse congelada no tempo, para justificar o resultado abusivo.
           Não vejo, por conseguinte, muita diferença no procedimento desleal e ilegal do Senador Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, que se negou a sequer considerar para avaliação pelo Senado a indicação pelo Presidente Barack Obama  de Juiz brilhante e experiente, como é o Juiz Merrick Garland, membro veterano de Corte Federal de Apelações, para ocupar na Suprema Corte a cadeira do Ministro Antonin Scalia.
            Durante um ano - foi o tempo em que ficou vaga a cadeira de Scalia - de forma desleal e contrária ao espírito das leis, o líder da maioria republicana marcou o próprio arbítrio, que privilegiava a retenção por todos os meios - mesmo que fossem contrários ao bom senso e ao sentir da sociedade americana, pois o Senado foi privilegiado para decidir sobre quem ocupa a Suprema Corte, por se tratar do grupo presumivelmente mais informado e também, pela idade, com presumível atenção ao Direito e às questões do bom senso, que devem ser despojadas da paixão que sói prevalecer em assembleias mais jovens, e por conseguinte com tendências mais voluntariosas e menos conformes ao bom senso que se espera venha com a idade e a razão.
              Contra o espírito da Lei, e com o ânimo turbado pelo partidismo cego,  o líder da maioria Mitch McConnell mostrou não diferir  de algum chefe de vereança de comunidade qualquer,  não revelando sensibilidade para o que deva ser o espírito das Leis, e a sua relevância, porque ao respeitá-las alguém mostra não ser um animal ou pobre indivíduo cego pela paixão, seja de um clube, seja de um bairro, mas nunca de país como os Estados Unidos da América.  Como terão visto os Pais da Pátria o penoso procedimento  de alguém que, por mais que se esforce, parecerá sempre diminuto, pequeno mesmo em uma galeria  pela qual os visitantes sóem passar depressa, ao não divisarem ninguém que mereça o respeito que só o Espírito das Leis e a homenagem aos Maiores que a escreveram, fazem por merecer.

( Fontes: Montesquieu, De l'Esprit des Lois;  Barack Obama; The New York Times )

Temer coloca militar na Defesa


                                   
          Quebrando com tradição vigente desde a criação da Pasta da Defesa, em 1999, o Presidente Michel Temer colocou, por primeira vez, um militar no comando do Ministério da Defesa.
           Talvez para contornar estranhezas, o porta-voz do Planalto, Alexandre Parola, terá anunciado que o general assume a pasta interinamente, ainda que, segundo o Estadão apurou, a intenção presidencial seria de mantê-lo no posto até o fim de seu mandato.
          O escolhido é o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna. Ele vai substituir o civil Raul Jungmann para o recém-criado Ministério Extraordinário da Segurança Jurídica (Temer parece ter um fraco por ministérios extraordinários).

           Também nesse sentido, a escolha do general Silva e Luna foi defendida pelo Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen. Ele já era uma espécie  de "braço direito" de Jungmann, como Secretário-Geral da Defesa. "O nome disse é continuidade. Decidiu-se pela continuidade e por quem proximidade com o Ministro da Segurança Pública, para alinhar os esforços, facilitando todas as ligações e contatos para as ações de segurança que vão continuar acontecendo daqui para a frente. Só isso", disse Etchegoyen.

              Sem embargo, na Marinha e na Aeronáutica há ressalvas em relação à situação. A avaliação de alguns oficiais é de que o ideal seria tanto o Ministro, quanto o cargo de secretário-geral serem ocupados por civis. Estes mesmos oficiais lembram que a escolha traz de volta a discussão que existia no antigo Estado Maior das Forças Armadas (Emfa), órgão que precedeu o Ministério da Defesa,em que integrantes do Exército tiveram protagonismo em relação a representantes de outras forças.
                 Velhas rivalidades, portanto, no seio das Forças Armadas podem ser reacesas por aprendizes no assunto, como seria o caso de Temer, quanto a virtual reexumação do antigo EMFA, e dos ciúmes que despertava o natural protagonismo do Exército (por ser a maior delas) em relação às demais Forças, e à conveniência de, para tanto, chamarem civis para que tratassem de tais questões.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

A colheita podre da Copa do Mundo


                         

        Continua o desfile de superfaturamenos na Copa do Mundo. Apesar da bazófia de Jérome Valcke, representante do então corrupto diretor-presidente da FIFA, Joseph Blatter - aquele que prometia pontapés em traseiros de infratores - investigações da Polícia Federal  indicam repasses ilícitos de oitenta e dois milhões de reais a Jaques Wagner, na época governador da Bahia.
         Dado o deplorável desfile das dadivosas distribuições, e a empáfia do suiço gestor da bandalheira, o disperdicio para os cobres públicos e a gula dos  então governadores - não vos esqueceis, entre muitos, do ávido Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, e de tantos outros que encheram os cofres com os elefantes brancos da Copa, sob o pretexto dos jogos daquele certamen maldito, o dos 7 X 1 em Belzonte, como Henrique Eduardo Alves, em Natal, no Rio Grande do Norte, Cuiabá  no Mato Grosso, Manaus no Amazonas, e agora Jaques Wagner na Bahia.
            A PF cumpriu, ontem, mandados de busca e apreensão em sete endereços em Salvador, ligados a Wagner e a dois supostos intermediários da propina - o atual Secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, e o empresário Carlos Daltro, ambos ex-funcionários da OAS.
             Segundo noticia A Folha, o Tribunal Regional Federal da Bahia negou pedido de prisão temporária dos três citados acima (Wagner, Dauster e Daltro).
              O ex-governador da Bahia é havido como alternativa do PT para as eleições de outubro p.f., caso o ex-Presidente Lula, condenado em 2ª instância, não possa concorrer.
               A propósito, Wagner nega recebimento de recursos ilícitos, tendo afirmado que não houve sobrepreço na obra de reconstrução do estádio da Fonte Nova.

(Fonte: Folha de S. Paulo )   

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Fragmenta-se a guerra na Síria


                                

     Já está longe o horizonte do levante na Síria tendente a derrubar o regime de Bashar al-Assad. Saído das passeatas ainda pacíficas contra o regime, este mesmo se encarregou de empurrar a juventude e as forças progressistas para a rebelião, a princípio contestadora, mas ainda sem uso da força, até que o próprio ditador Bashar, através de repressão desapiedada, tornaria inviável qualquer recurso com ênfase de  Paz.
       Não me proponho replicar aqui a longa, tortuosa e heróica luta do povo sírio pela liberdade, contra o poder dos Assad. Hoje a guerra na Síria é um monstro irreconhecível, ao cabo de tantas fases que foram por ela geradas.
        No seu momento presente, que tudo indica será o derradeiro, não mais está em questão a derrubada do tirano.  Bashar al-Assad engoliu o próprio orgulho e mesmo as preferências soberanas, para tornar-se, após sua peregrinação ao Kremlin, um poder subordinado ao Presidente Vladimir Putin. Ao aceitar a suserania russa, o ditador alauíta evitou - pelo menos por ora - o espectro do Tribunal Penal Internacional.
          Na suposta fase terminal dessa guerra, trata-se para Bashar de afastar de um bairro de Damasco a resistência dos sírios livres. A despeito do grande número de sírios opositores do regime de Bashar, naquele extenso bairro,  a força aérea russa tem participado dos intensos bombardeios - juntamente com os parcos aviões do tirano sírio - no que é uma cínica operação de eliminação  de o que resta de oposição ao ditador al-Assad.
           Os curdos - que são aliados dos americanos no conflito - têm enfrentado outras batalhas, causadas pela operação "Ramo de Oliveira", movida por Erdogan, o que mostra que o ditador turco tem um cínico humor que se casa à maravilha com o que vem realizando no que tange à intelectualidade de seu país. Preocupa, outrossim, aos curdos que Afrin, a região por eles dominada na Síria, sofra forte ataque dos contingentes turcos. Em tais refregas, têm eles de adotar decisões difíceis, eis que a própria sobrevivência  está em jogo. Consterna, de resto, que Mr Trump permita que os turcos de Erdogan ataquem os curdos, logo estes que são fundamentais na estratégia de exorcizar, derrotar e suprimir a antiga ameaça do Estado Islâmico, que hoje parece em retirada em todas as poucas latitudes que ainda lhe restavam na Síria e no parco território restante do Oriente Médio.  
             
( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Xi Jinping se eterniza no poder


                         

        Os líderes chineses anteriores tinham dois mandatos de quatro anos, e com tal limitação temporal se buscou dar menos poder aos ocupantes do executivo, a partir de Deng Xiaoping.
         Quando assumiu, Xi Jinping teve quatro anos para o primeiro mandato,  mas agora o Partido Comunista Chinês propôs o fim do limite de uma reeleição para o presidente e o vice no país. Com isso, se pavimenta o caminho  para que o líder  Xi permaneça de forma indefinida no comando do país.
          O que se buscara com a barreira anterior de apenas uma reeleição, ora desaparece do horizonte. Na falta de um limite, a tendência para a ditadura sem contrapesos desaparece,  como se caracteriza o longo período do poder de Mao Zedong. Esse caráter absoluto de um mando que não tem outro limite temporal que o da morte reforça a tendência autoritária do Chefe Supremo, e o longo arco do regime maoista é prova disso.  
             Desde a respectiva assunção inicial,  Xi se assinalou por um poder que era bastante superior ao de seus antecessores imediatos. Como em todo regime com tal caráter tendente ao fortalecimento da autoridade,  é grande a potencialidade de que o executivo se reforce, máxime em uma sociedade caracterizada pela força intrínseca do mandante.
              Sem o contrapeso da democracia, mesmo em forma incipiente, a tendência  para o absolutismo aumenta, e com ele a falta marcante dos controles da opinião pública que em tais ambientes não tem a influência positiva que em geral ela exerce  em forma crescente, à medida que diminui o espaço da livre opinião e debate. O engessamento da autoridade a afasta da saudável poluição democrática, e torna a atmosfera cada vez mais sufocante em termos  do livre debate das ideias.
                A longa supremacia de Mao Zedong e o crescente enrijecimento  do próprio regime - e não é a toa que Xi devota a Mao grande admiração - tenderá à sufocação de tudo o que é novo e, em especial, a todos os matizes da liberdade, cuja criatividade passa a ser propriedade exclusiva do poder supremo. Se está garantida, pelas peculiaridades do consequente inexorável retrocesso, a queda ulterior deste regime,  infelizes serão aqueles que se vêem constrangidos a seguir, com passos lentíssimos, a própria decadência, dada a sufocante atmosfera, de que o longo estirão de mando do ídolo de Xi - Mao Zedong - constitui a acabrunhante projeção, de um porvir que literalmente rouba aos jovens e menos jovens o livre espaço da esperança.

 ( Fonte: Folha de S.Paulo )

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Trump, o nervosinho


                    

        Cria um certo vácuo na posição do Estados Unidos. Em certos temas, o presidente Donald Trump evita atitudes que possam ser interpretadas como ataques à Rússia.
         Outro dia um comentarista se referia a esta omissão do presidente americano, a qual - quer ele queira ou não - transmitem a impressão de que algo está faltando do lado estadunidense. Presume-se que o presidente deva falar apoiando esta ou aquela posição americana, mas, dada tal peculiaridade de Trump - refiro-me à sua posição de amizade com o presidente russo, Vladimir Putin, bem como com a própria Rússia, percebe-se essa reserva de parte de Trump.
          O caso do memorandum democrata - que havia sido bloqueado por Trump - foi por fim liberado para o público.  Esse documento democrata refuta, ponto por ponto, a tentativa republicana de sabotar a tentativa pelos aliados de Trump de atrapalhar as investigações do Congresso e do Conselheiro Especial sobre a interferência da Rússia na eleição presidencial de 2016 e a sua possível coordenação com a campanha de Trump.
           Assim, o memorandum democrata implica em vigorosa negativa à descrição pelo Presidente do inquérito sobre a Rússia como uma "caça às bruxas" sendo realizada por chefes parciais do FBI e do Departamento de Justiça.
            A novel animosidade para com o FBI de parte de republicanos que seguem uma linha ostensiva de apoio à Lei e à Ordem repontou na semana passada na Conferência dedicada à ação política conservadora, em que oradores como Wayne LaPierre, o chefe da NRA (a notória Associação Nacional de Armas) disse que o memorandum recentemente divulgado mostrava que os Democratas estão empenhados em ação de acobertamento, e que se estava "combinando  com partes do governo" para levá-la adiante.
             O memorando democrata foi submetido a uma revisão de vários dias por altos funcionários de implementação da Lei, depois que o Presidente determinou o bloqueio de sua divulgação imediata há duas semanas atrás, com o Conselheiro da Casa Branca advertindo que o documento em tela "contém numerosos trechos considerados como confidenciais e passagens especialmente delicadas".  Na tarde de sábado, depois de semanas de disputas acerca de cortes, o Departamento  devolveu o documento para o Comitê a fim de que ele o tornasse público.
              A divulgação do memo era esperada como a última rajada, pelos menos até agora, em uma luta partidária áspera sobre a vigilância que acarretou rachas profundas em um Comitê de Inteligência antes tido como de atmosfera bipartidária.
               Há uma extrema sensibilidade de parte republicana com respeito à suposta atuação contrária de parlamentares democratas. O representante Adam B. Schiff, o mais importante democrata no Comitê disse no sábado que o memorandum democrata deveria "acalmar" as afirmações republica-nas de que não se agira bem com o antigo assistente de Trump, Carter Page,  no processo  da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira (FISA)
                 Schiff afirmou em declaração oficial que "nossa extensa  revisão do documento FISA e três revistas subsequentes não levantaram nenhuma prova de comportamento ilegal, não-ético e não profissional dos agentes de implementação da Lei, e ao invés revelaram que tanto o F.B.I. quanto o Departamento de Justiça procederam a extensas mostras de forma a justificar as quatro requisições".  
                    Tanto republicanos, quanto o Presidente Trump continuaram alterados. Em comportamento caracterizado por agitação e nervosismo, Trump pareceu estar insinuando que um alto funcionário do Departamento de Justiça deveria examinar com mais cuidado o suposto comportamento fraudulento dos democratas. Embora ele não o tenha mencionado nominalmente, ficou a impressão de que o Presidente se referia a Jeff Sessions, o Procurador-Geral.
                     Toda a discussão, sobretudo as exaltadas reações dos personagens republicanos, com Trump como chefe de fila, relembram a expressão de Shakespeare much ado about nothing, i.e, muito barulho por nada.


( Fonte: The New York Times )

Renasce Berlusconi !


                                  

       Será a Vênus de Botticelli, degli  Uffizi ?  Não é a busca da beleza dos bons tempos, da juventude que leva alguém a fazer uma operação plástica ? Mas há um limite para tudo, até mesmo para querer de volta a aparência da juventude.

        Vendo a foto do  Cavalieri, pergunto-me o que leva Berlusconi a tanto sacrifício. Porque contemplá-lo, mesmo em fotografia, já constitui uma implícita homenagem ao cirurgião plástico que se engaja nesse trabalho impossível que é trazer-lhe senão a juventude, pelo menos a sua máscara.
         Voltar a ser relevante na política italiana, que influência terá? Diante do malogro de Matteo Renzi, ex-primeiro ministro,  Berlusconi se tem apresentado como uma espécie de "avô da Itália", o sábio moderado capaz de liderar o país em momento de grande divisão.

           O que parecia impossível, vira realidade. Para o empresário, proprietário do maior grupo privado de comunicação na Itália, com poderosas emissoras de TV do seu lado, a situação presente representa a incrível mudança  em quadro político e jurídico havido até muito pouco tempo atrás como irreversível.
            Se ele não pode ter de volta a juventude,  talvez na sua imitação ele possa ter a ilusão do exercício de um poder que ora não lhe parece assim tão distante.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )   

Desastre Humano na Venezuela


                                         

        A renda proporcionada pelo petróleo na Venezuela, gerida através do ente petrolífero - que é a PDVSA - a partir de Hugo Chávez passa a ter a famigerada destinação política desse recurso que constitui a parte do leão nos recursos estatais, recursos esses que são em grande parte desviados da PDVSA para fins de toda sorte, a maior parte escusa. Se durante a fase de Hugo Chávez ainda exista a utilização da riqueza desse recurso, para fins de interesse da Nação e de seu Povo, com o passar do tempo cresce a ênfase em posições de poder da Venezuela, que utiliza as possibilidades da riqueza do ouro negro, e tampouco excluir-se possa a corrupção nua e crua, já com o advento de Nicolás Maduro e sua quadrilha, os usos escusos do petróleo extraído pela PDVSA passam a prevalecer sobre todos os demais, assumindo a nova administração o caráter desenfreado de uma rapina do principal bem de exportação nacional.    
          Dessarte, se, durante o período de mando de Hugo Chávez, ainda subsista algum interesse em valer-se do ouro negro como recurso político, através de colocação desse bem a preços preferenciais (notadamente Cuba e, secundariamente, Nicarágua), com o advento do nefasto governo de Nicolás Maduro, se o subsídio não é de todo abandonado, a vertente criminal do tráfico do ouro negro passa a ter brutal preponderância.
           Assim, entra em cena a estranha figura de Tarek El-Aissami, vice-presidente da Venezuela, por artes não se sabe de quem, mas com muita influência no tráfico de drogas. Foi por isso, que em fevereiro de 2017 o Departamento do Tesouro americano congelou os ativos desse venezuelano, senhor Tarek El-Aissami, por ter tido um "papel significativo no tráfico internacional de drogas". Por outro lado, "centenas de milhões em ativos" associados a laranjas foram descobertos e congelados nos Estados Unidos.
            Ainda não está esclarecido de onde saíu essa patibular figura, de que documentos apontam como Sua Excelência El Aissami, que também foi ministro do Interior e da Justiça, "facilitou" o embarque de drogas para o exterior. O processo incluía até controle sobre aviões que deixavam bases aéreas venezuelanas. Este senhor El Aissami é acusado ainda de ser dono de partes de carregamentos de mais de uma tonelada de drogas que saíam da Venezuela para o México e os EUA.
             Mas não pára aí a "contribuição" dessa figura, provavelmente de origem árabe, que enriqueceria o plantel da Venezuela chavista. Segundo a investigação, esse ativismo teria ocorrido em "múltiplas ocasiões". El Aissami teria ainda recebido suborno por ter ajudado a embarcar drogas do traficante Walid Makled García, além de auxiliar na coordenação das rotas de narcóticos  para os cartéis do México e Colômbia.
               Vários órgãos do governo americano estudam, de forma conjunta,  quais sanções poderiam ser adotadas contra o governo de Nicolás Maduro, antes das eleições de abril p.f.   As investigações seriam usadas para indicar o rumo das medidas a serem tomadas e contra quais funcionários do regime.
                 Nesse contexto, deve-se ter presente que Diosdado Cabello é outro elemento do alto escalão chavista sobre quem recaem amiúde suspicácias de ligação à mala vita e ao cartel de drogas, tendo sido inclusive contemplado nas sanções da União Europeia contra o regime de Maduro.
                 O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, tem percorrido diversos países para tentar estabelecer um acordo para impor sanções contra dois setores na Venezuela, que são chave para que se controle as transações criminosas naquele país: petróleo e finanças. Para Almagro, apenas fechando a possibilidade de lavagem de dinheiro no setor de energia que "o regime poderá ser colocado de joelhos."
                 Numa reunião realizada em Genebra, na corrente semana, Almagro indicou que não vale a pena aplicar sanções econômicas e financeiras enquanto laranjas ou parentes de integrantes do governo  movimentarem recursos no exterior. "Precisamos ir atrás dos testas de ferro dessa corrupção", disse o uruguaio, lembrando do caso de mulheres de dirigentes que passaram a comprar mansões na Espanha nos últimos meses.  
                  Outro personagem nesse dúbio elenco do chavismo, tanto sub Chávez, quanto no esquema de Maduro, é o ex-presidente da petrolífera PDVSA Rafael Ramírez (e, portanto, hoje  um miliardário) e, em seguida, embaixador da Venezuela nas Nações Unidas. Ele é acusado de ter feito parte de esquema de corrupção com subornos, em troca de contratos com empresas. Homem forte no governo de Hugo Chávez, passou a ser investigado pelo governo de Nicolás Maduro, pelo desvio de US$ 4 bilhões, entre 2009 e 2017 na citada PDVSA.
                 Ramírez também é alvo da Justiça americana. Nesse sentido, a empresa Natural Resources acusa o ex-aliado do governo chavista de cobrar propinas para autorizar qualquer tipo de negócio dentro da aludida estatal. Dessarte, a empresa assinala que em 2012 fora chamada a pagar US$ 10 milhões a um intermediário  na Flórida. O dinheiro se destinaria ao próprio Ramírez, que também foi Ministro do Petróleo da Venezuela.
                 A Harvest havia fechado uma joint venture com a PDVSA e queria vender sua participação na estatal de Caracas. A empresa alega que estava sendo obrigada a pagar suborno. Ramírez nega qualquer irregularidade e denuncia "perseguição política", eis que tem sido alvo do Ministério Público da Venezuela.
                  Os americanos conseguiram abandonar o projeto com a PDVSA só quando Ramírez deixou a estatal, em 2016. Mas a empresa Harvest acredita que a venda ocorreu por US$ 470 milhões, menos de o que poderia ter sido obtido em 2012 ou 2013.
                   Em um dos documentos do Tesouro americano, se verifica que "instituições financeiras têm alertado suas suspeitas sobre transações relacionadas com a corrupção na Venezuela, incluindo contratos governamentais". "O governo venezuelano parece usar o controle sobre grande parte da economia para gerar riqueza significativa para seus representantes e para os executivos de estatais, suas famílias e seus parceiros."
                     Por fim, chama a atenção dos investigadores nos Estados Unidos o envolvimento da cúpula das Forças Armadas em esquemas ilícitos. Desde janeiro, os americanos apuram o envolvimento de quatro militares venezuelanos em corrupção. Dentre esses, ressalta o papel do general Rodolfo Clemente Marco Torres, que ocupou o cargo de governador de Aragua, foi diretor da PDVSA, presidente do Banco da Venezuela e Ministro de Alimentos.  A acusação contra ele é a de ter estabelecido negócios ilícitos na importação de alimentos. Como de hábito, não terá sido possível localizá-lo para "comentar tal acusação".
                     Como se verifica pelas descrições acima, no que tange às relações desvirtuadas entre a PDVSA e demais entidades governamentais venezuelanas,  e os altos funcionários, eventuais imigrantes como Tarek el-Aissami,  elas são tisnadas pela mais desbragada corrupção, que já era patrocinada no período introduzido pelo carismático tenente-coronel Hugo Chávez Frias  (que entrou na política na forma tornada comum em América Latina, seja através de uma tentativa de golpe militar, quando o Presidente venezuelano civil, Carlos Andrés Pérez,   se achava ausente, em uma de suas múltiplas viagens ao exterior - em 12 de fevereiro de 2012).  Com esse ingresso à bruta na política, depois de uma prisão breve, estava preparada para decolar a trajetória política do militar Hugo Chávez, que conseguiria eleger-se, diante da manifesta degringolada do poder civil na Venezuela - que fora há relativamente pouco tempo - um dos dois fanais da democracia civil na América do Sul, então sob regime castrense em grande extensão. O resto da estória é demasiado conhecido, com a democracia venezuelana - também de modo conjunto - a ser erodida pelo autoritarismo chavista, malgrado as penas constitucionais do instituto do recall - que Chávez, seja escrito para sua honra - cumpriria à risca, coisa que o sucessor Maduro iria contornar na forma consueta e canalha.
                     O dilúvio ético e político do chavismo se acentua com a discutível vitória de Nicolás Maduro (ajudado, segundo declarou) por um peculiar passarinho (faltou dizer que seria o espírito de seu pai político Hugo Chávez...) sobre Henrique Capriles. Para que tal não pudesse repetir-se, isto é, a ameaça de que Capriles lograsse vencer na próxima, Maduro mandou que a dócil Justiça chavista inventasse algum pretexto para proibir-lhe qualquer candidatura futura.
                       Como se há de verificar pela penosa leitura de tantas negociatas e tratativas escusas do chavismo, dificilmente a derrubada do regime corrupto chavista, instituído por Nicolás Maduro, será .como parecer querer a OEA de Almagro por uma auto-imolação aplicada pelo neo-chavista.
                        Tampouco me parece eficaz que o Secretário-Geral da OEA, o uruguaio Almagro, busque  derrubar o regime corrupto como o de Maduro, ao tentar um método suasório de auto-correção. Semelha muito pouco provável que o regime chavista se emende por própria iniciativa, ou por adesão a eventuais métodos que venha a ser convencido a aplicar. A má-fé preside às opções do chavismo. Mas mesmo nesse patético estado de coisas em que o regime maduro-chavista se deixou manifestamente enlear, o seu comportamente pregresso e a maneira com que provocou uma série de cruéis pragas similares às bíblicas, com que tortura e mata lenta, mas seguramente uma população inteira que se vê forçada ao pior castigo que aplicar-se possa a um povo, antes saudável e com recursos similares aos países vizinhos, qual seja o auto-exílio, a que é tangido pelas pragas não do Egito, mas de Maduro, que hoje incluem a fome, a carência de recursos médicos, as doenças oportunistas que daí surgem, e toda a coorte dos males da hiper-inflação, que em termos inegáveis lhes foram aplicados com a crueldade extrema de quem seja pela desonestidade - ao desviar os recursos do melhor petróleo do planeta para o próprio auto-enriquecimento, seja pela olímpica indiferença de abandonar uma Nação à miséria da hiper-inflação e ao deserto de todo tipo de recurso médico, e de todo tipo de medicação, que somente lhes será acessível, se tomarem a estrada do exílio para os países vizinhos.
                 Maduro foi longe demais, na própria incapacidade, na sua improvidência,  e na maneira com que, seja por ignorância da arte de governar, seja por manifesta incompetência veio a criar essa situação insustentável, tanto no plano do bem-estar individual, quanto no respeito ao ser humano, ao aplicar a seus co-nacionais um tratamento que não é compatível nem a animais, quanto menos para os filhos de uma Nação antes próspera e saudável.
                  Por isso, nem a ele se pode presumir condições de governar um povo, nem àqueles que o cercam, vivendo em ambiente egoísta e verdadeiramente maldito, ao criarem no entorno dos próprios palácios o artificialismo dos campos de concentração, em que sedulamente se preparava, nas câmaras de gás a morte de um povo, que ministravam com o afinco maldito dos carrascos algozes muito bem nutridos.   


(Fontes: O Estado de S. Paulo e demais informações sobre o desastre do regime de Maduro na Venezuela )

sábado, 24 de fevereiro de 2018

A Grande Coalizão virou miragem?


                    

        Timothy Garton Ash, que escreve igualmente em The New York Review,  nos proporciona uma visão que, além de estimulante e provocante, nos mostra diversas opções plausíveis no enigma colocado pela torturada elaboração da Grande Coalizão.

         É sabido que a grande pedra no caminho desta refeita Grande Coalizão (entre a CDU, de centro-direita e a SPD, de centro esquerda, com a participação do partido aliado bávaro da CDU, i.e. a CSU), está no próprio partido social-democrata (SPD), que está claramente insatisfeito com mais uma reedição dessa coalizão,  que deixou no líder Martin Schulz um travo amargo, ao ser ofuscado na sua imediata versão anterior pela própria Chanceler Angela Merkel.        

         Segundo assinala Garton Ash, esse 'casamento' entre CDU e SPD tem sido muito pouco satisfatório para os sociais democratas e, máxime para o seu líder  Martin Schulz, que não tem decerto o brilho de outros sociais-democratas no passado, e que tende, por conseguinte, a sofrer pelas condições dessa 'união' com a CDU e notadamente a Merkel.

          Consoante insinua Timothy G. Ash, uma das soluções seria que o grande conselho dos filiados da SPD rejeitasse a Grande Coalizão, o que faria toda a complexa negociação voltar à estaca zero. Surgiria, então, a hipótese de um governo minoritário da CDU, com o apoio da CSU, que é, como disse acima, a irmã siamesa dos Cristãos Democratas Alemães. Para TGA, seria opção válida, que não estaria sendo testada por primeira vez, e que teria condições de sustentar-se. Tudo isso, é claro, iria requerer a prova dos fatos, e nem sempre as teorias mais plausíveis conseguem passar pelos obstáculos que na Antiguidade Clássica Scylla e Charibdis forneciam as metáforas da dificuldade extrema.  Os desafios colocados por essa união de parceiros tão díspares em valor e capacidade já são formidáveis.

           A política alemã, no entanto, apresenta outro fator cuja gravidade não me parece seja lícito subestimar. Tratar-se-ia do crescimento do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), registrado por pesquisa muito recente (16%), enquanto os sociais-democratas tem 15,5%. Não se pode brigar com os números na política,  mas tampouco é animador para o jogo das alianças no tabuleiro alemão, que os sucessores dos nazistas na RFA tenham superado um partido de larga tradição e implantação democrática como a SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha).

           Infelizmente, as atuais condições levaram a que um grêmio de extrema direita possa ter crescido tanto. A par disso, torna-se muito difícil montar um governo com maioria sólida, se nas peças do tabuleiro cerca de 16% não são utilizáveis para um gabinete democrático.

            Até o momento, a França pôde exorcizar  o Front National, assumido por Marine Le Pen, em sucessão ao próprio pai. Tal é factível por eleições em dois turnos, por voto majoritário (ao invés do proporcional ) que, no segundo turno, tendem a favorecer as opções mais em consonância com a tendência predominante no quadro nacional.

            É cedo para dramatizar a súbita mudança no quadro germânico, mas viabilizar governos parlamentares através do voto proporcional tende a ser muito mais complicado, mesmo com a cláusula dos 5%, sem a qual o partido não entra no Bundestag , o que é um problema recorrente para os liberais democratas (Frei Deutsche Partei), que, em passado não tão recente participaram de muitos gabinetes sob Konrad Adenauer e Ludwig Erhard, esse último muito festejado, mas sem a mesma têmpera  do Velho (der Alte) Adenauer.  

              A Merkel, de certa forma, e involuntariamente, criou condições para o crescimento dos neo-nazistas da A.f.D., ao abrir as fronteiras para o ingresso maciço de mais de um milhão de imigrantes, vindos do drama - que ainda persiste, máxime pelo apoio interessado que concedeu Putin ao ditador Bashar al-Assad, em troca de preciosas bases, tanto em terra, quanto nas águas quentes do Mediterrâneo oriental, e que ainda motiva o desastre na Síria, com a carta branca que vem dando ao ditador sírio alauíta. Foi mais ou menos na época do menino de três anos, Alan Kurdi,  cuja foto, em que parece dormir, comoveu o público europeu e quem sabe o mundo ocidental, por epitomizar a tragédia da grande migração tangida pelo tirano sírio, que até hoje sobrevive politicamente graças à mão poderosa de gospodin Vladimir Putin, hoje presidente de todas as Rússias.

           Explica-se o grande gesto da Merkel, mas o ingresso maciço de mais de um milhão de refugiados terá sido demasiado para um país das dimensões da atual Alemanha. O egoismo de tantos líderes ocidentais, como o do atual líder da Hungria, Viktor Orbán, de centro-direita, e mais para o centro, as portas meio-cerradas para o acesso dos infelizes desta grande migração forçada, tornam explicável, mas não aceitável, que o processo de imigração tenha exigido tantos sacrifícios em tão poucos países, pelo egoismo da maioria, que quer os estrangeiros à distância, de que o atual presidente estadunidense Donald John Trump, constitui a triste epítome, e o mais saliente exemplo.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, Timothy Garton Ash, The New York Review of Books )