domingo, 9 de abril de 2017

Revisitando a Primavera Árabe

                               
            
            No livro de Giuseppe Tomasi, Principe di Lampedusa  "Il Gattopardo", um personagem nos diz a seguinte frase "É preciso que tudo mude, para que tudo continue a ser o mesmo".
       O mundo árabe pode reivindicar a pertinência desse princípio.  Ver o ditador militar do Egito, general Abdul Khalid al-Sisi ser homenageado em jantar na Casa Branca pelo Presidente Donald J. Trump, mostra de certo modo o quanto o regime militar faz parte da história do Egito a partir da queda do Rei Faruk, em meados do século XX.
       E, sem embargo, na chamada Primavera Árabe, o ditador Hosni Mubarak havia sido derrubado pelas multidões na Praça Tahrir, ele mesmo que assumira o poder quando Anuar al-Sadat, em primeiro uniforme, seria abatido, durante desfile militar sob os disparos de militante da Irmandade Muçulmana.

       O único país em que a Primavera continua a perdurar é a Tunísia. Da antiga Cartago saíria a grande e libertária vaga que muitos confundiram com a presença da democracia no mundo árabe. Quando o verdureiro Mohamed Bouazize ateia fogo às pobres vestes, já é grande a comoção provocada por tal suicídio. Terá sido a injustiça própria da situação, a indiferença das autoridades, o que provocara comoção na sua aldeia, a ponto de, enfim despertas pelo terror crescente, eis que o levam  para a capital, onde será visitado já agonizante no hospital,  em tardia homenagem, pelo próprio Presidente Zine el-Abdine.
         Mas o gesto extremo do verdureiro, que por não lograr resolver o seu problema, na realidade tão simples quanto a própria situação de extrema miséria, tocou estranha corda na sensibilidade popular, e a revolta sentida por Mohamed Bouazize viria com a força das longas esperas a ser abraçada pela gente simples da Tunísia. Em 4 de janeiro de 2011, Mohamed Bouazize morre e o corrupto ditador tunisino cai a catorze de janeiro.  O caminho do exílio e o da morte se abre, em vagas sucessivas, enquanto aquela peculiar primavera se espraia pelos carunchosos troncos das ditaduras do mundo árabe, passando da Líbia do major Khadafi ao Egito do general Hosni Mubarak, e dali, sob o fremente tremor de tantos regimes como o Iemen, o Bahrein e, mais ao norte, a Terra da Passagem da Síria, sob a férula de outro homem forte, Bashar al-Assad.

         De todos os movimentos dessa grande vaga de insatisfação coletiva, que procurou trazer a democracia para o mundo árabe, essa estranha primavera lançou tenras raízes apenas na Tunísia, apertada que está entre a Argélia, de Abdelaziz Bouteflika, e o Marrocos, do rei Mohamed VI.
         O mundo árabe continua terra de contrastes, ódios e preconceitos. Com a entrada em cena do novo Presidente Donald John Trump, o mundo passa a viver sob uma suposta doutrina que fez chover Tomahawks na base síria de onde partira o bárbaro bombardeio de gás sarin, que matara e atingira gravemente  multidão de sírios, penalizados pelo único crime de viverem em área rebelde.

         Gospodin Vladimir Putin recebeu também o seu castigo, depois de todo o hacking e demais movimentos vedados pela lei internacional, durante as últimas eleições, com o intúito de pôr no poder quem pensara lhe fosse favorecer no futuro. Por ora o feitiço parece haver saído contra o feiticeiro...
           Diante da cortesia do "amigo" Trump, que gentilmente lhe dá conhecimento prévio da operação que desencadeia contra o ditador Bashar, o autócrata Putin, com a face marcada pelas plásticas e o apreço extremo que tem por si próprio, só poderá haver resmoneado que poderia haver consequências negativas da iniciativa de quem acreditara haver colocado no poder para exprimir no futuro gratidão e atos condizentes com tal postura.

           Quem sabe essa iniciativa de Putin - pensar colocar algum fantoche no comando da Superpotência - pode parecer-lhe agora atitude de suma imprudência. De que vale a nova de ser o primeiro a saber, se mostra claramente que desatou tolamente forças as quais não tinha condições de controlar ?



( Fontes: Giuseppe de Lampedusa, The New York Times, O  Globo ) 

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