Segundo o Estadão, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça,
Senador Edison Lobão (PMDB-MA) marcou a votação do projeto que atualiza a
"lei do abuso de autoridade" para a próxima 4ªfeira.
Nesse sentido, o correligionário do
ex-presidente José Sarney mostra surpreendente energia. Pois Sua Excelência
afirma que não vai admitir "obstrução, nem nenhum outro tipo de chicana
regimental" para adiar a apreciação do texto.
Assinale-se que, ontem, quarta-feira,
dezenove de abril, a leitura do dito relatório consumiu mais de duas horas. De
acordo com as previsões, o relator da proposta, Senador Roberto Requião
(PMDB-PR) rejeitou o projeto de autoria do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL),
apresentando substitutivo baseado na proposta alternativa do Procurador-Geral
da República, Rodrigo Janot, mas com diversas alterações.
Desde fins de março, havia acordo
informal para que a votação do texto ocorresse ontem. Tal não se confirmou,
porque diversos senadores pediram vista - e sob o argumento de que Requião fizera
modificações no texto do Ministério Público, eles solicitaram mais tempo para
analisar o caso.
É conhecido o expediente de pedir
vista de um processo: em geral, ou se quer ganhar tempo, engavetar o projeto
ou, no caso em tela, tendo presente que Requião fez modificações no texto do
Ministério Público.
Dadas as conotações deste projeto - de
quem o primeiro corifeu foi o Senador Renan Calheiros - qualquer modificação a
ser introduzida no projeto do Ministério Público só pode ser vista com muita
atenção e até mesmo eventual suspeição.
Os favoráveis ao projeto inicial
participam do grupo interessado em criar dificuldades para a Operação Lava-Jato. A iniciativa partiu,
como se sabe, do Senador Renan Calheiros. Não são as considerações a serem
feitas a respeito. Por algum tempo, esse projeto esteve na esfera do Senador
das Alagoas. Surgiram depois simpatizantes, como o Sen. Requião.
É interessante como os partidários
desse projeto sobre o abuso da autoridade a ele acorreram com entusiasmo. Em
geral, podem ser opositores da Operação Lava-Jato.
São como água e azeite: não se misturam.
Será também interessante notar o
quanto os motiva no seu empenho a possibilidade de inflar as velas desse
estranho barco do "abuso de autoridade".
Há cláusulas nesse estranho
projeto que dão a impressão de servirem como empecilhos para o exercício da
magistratura. É que esse projeto de lei arma o réu de uma defesa inesperada. Dá
ao réu a possibilidade de atacar o magistrado por pontos à sua retaguarda,
questionando o que se encontra sob exame, constituindo assim uma potencial
causa que fragilize a autoridade do juiz, que pode, de repente, ver-se atacada ad personam, como se numa reviravolta os
papéis semelhassem trocados.
A meu ver, este projeto de lei
- se porventura aprovado e sancionado - faz com que a magistratura brasileira
se veja, de repente, colocada em posição estranha e desconfortável. Em termos
militares, diria que é ver exposta a própria retaguarda ao lançar-se ao ataque.
Há muitos institutos que permanecem estranhamente em nossa lei,
como aquele do desacato. Ele recebe muitas críticas, a começar da Corte de São
José, pelo seu escopo retrógrado, que concede à autoridade - qualquer
autoridade - um poder excessivo, e é por isso que a Corte interamericana de
Direitos Humanos vem solicitando ao Brasil que o regule de forma consentânea
com o direito humanitário, e não entregando o particular a uma vis que reside unicamente na autoridade
coatora. O instituto do desacato tem sido objeto de grandes e merecidas
críticas, e, não obstante, ele continua de pé, porque há autoridades que muito
prezam esse direito quase absoluto que esse alegado instituto legal lhes
fornece.
Com o Ministério Público,
partilho as suas inquietudes quanto aos eventuais descaminhos desse estranho
projeto sobre o abuso da autoridade. Por outro lado, ao ver exposta a posição
do Brasil até hoje sobre o instituto do desacato, e os ouvidos de mercador que
no Brasil se fazem às observações da Corte dos Direitos Humanos, quer-me
parecer que ao invés de atacar supostos abusos de autoridade segundo o projeto
ora em exame no Senado Federal, lucraríamos muito mais deixando a Lava-Jato seguir seu rumo pela
restauração do respeito em nossa terra ao patrimônio nacional, aplicadas aos
eventuais responsáveis as penas que lhes cabem pelo desrespeito do Patrimônio
Público.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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